Richard Simonetti
Quando observamos, da praia, um
veleiro a afastar-se da costa, navegando mar adentro, impelido pela brisa
matinal, estamos diante de um espetáculo de beleza rara.
O barco, impulsionado pela força
dos ventos, vai ganhando o mar azul e nos parece cada vez menor.
Não demora muito e só podemos contemplar um
pequeno ponto branco na linha remota e indecisa, onde o mar e o céu se
encontram.
Quem observa o veleiro sumir na
linha do horizonte, certamente exclamará: “já se foi”.
Terá sumido? Evaporado?
Não, certamente. Apenas o
perdemos de vista.
O barco continua do mesmo
tamanho e com a mesma capacidade que tinha quando estava próximo de nós.
Continua tão capaz quanto antes de levar ao porto de destino as cargas
recebidas.
O veleiro não evaporou, apenas
não o podemos mais ver. Mas ele continua o mesmo. E talvez, no exato instante
em que alguém diz: já se foi, haverá outras vozes, mais além, a afirmar: “lá
vem o veleiro”.
Assim é a morte.
Quando o veleiro parte, levando
a preciosa carga de um amor que nos foi caro, e o vemos sumir na linha que
separa o visível do invisível dizemos: “já se foi”.
Terá sumido? Evaporado? Não,
certamente. Apenas o perdemos de vista. O ser que amamos continua o mesmo. Sua
capacidade mental não se perdeu. Suas conquistas seguem intactas, da mesma
forma que quando estava ao nosso lado.
Conserva o mesmo afeto que
nutria por nós. Nada se perde, a não ser o corpo físico de que não mais
necessita no outro lado.
E é assim que, no mesmo instante
em que dizemos: já se foi, no mais além, outro alguém dirá feliz: “já está
chegando”.
Chegou ao destino levando
consigo as aquisições feitas durante a viagem terrena.
A vida jamais se interrompe nem
oferece mudanças espetaculares, pois a natureza não dá saltos.
Cada um leva sua carga de vícios
e virtudes, de afetos e desafetos, até que se resolva por desfazer-se do que
julgar desnecessário. A vida é feita de partidas e chegadas. De idas e vindas.
Assim, o que para uns parece ser
a partida, para outros é a chegada.
Um dia partimos do mundo
espiritual na direção do mundo físico; noutro partimos daqui para o espiritual,
num constante ir e vir, como viajantes da imortalidade que somos todos nós.
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