Claude Bernard foi médico e
fisiologista. O historiador da ciência I. Bernard Cohen da Universidade de
Harvard denominou-o "um dos maiores homens de ciência de todos os
tempos". É considerado o “pai” da moderna fisiologia experimental.
Ele nasceu em 12 de julho de
1813, em uma fazenda em Saint-Julien, no departamento de Rhône (França) e que
hoje abriga o Musée Claude Bernard, estabelecido pela Mérieux Foudation.
Faleceu em 10 de fevereiro de 1878, Paris, França. Filho de Jean-François Bernard,
modesto vinicultor, em terras de Beaujolais, e Jeanne Saunier. Foi casado com Marie
Françoise Bernard (de 1845 a 1870) com quem teve duas filhas Marie-Claude
Bernard e Jeanne-Henriette Bernard.
Em 1830 ele mudou-se para Paris
para continuar seus estudos, obtendo seu diploma de bacharelado (correspondente
ao colegial), e em seguida iniciando o estudo de Medicina em 1835. Ele
graduou-se em 1843, aos trinta anos de idade, tendo trabalhado com o famoso
fisiologista François Magendie, catedrático do Collège de France.
Os primeiros trabalhos mais
importantes de Claude Bernard foram em fisiologia da digestão, particularmente
sobre o papel do pâncreas exócrino, do suco gástrico e dos intestinos. O estudo
do metabolismo também foi um dos seus principais campos de pesquisa, tendo
Bernard contribuído poderosamente para a compreensão do mecanismo da
glicogênese no fígado. Bernard também recebeu crédito por mais duas importantes
realizações científicas: a descoberta do fenômeno de vasodilatação e
vasoconstrição e seu controle pelos nervos vasomotores, e o estudo do efeito do
curare no sistema neuromuscular. Além dessas, Bernard também fez outras
contribuições importantes para as neurociências, tais como o estudo de nervos
sensoriais, da corda timpânica e do líquido cefalorraquidiano. Dez anos após
graduar-se em medicina, ele obteve de forma brilhante o título de doutor em
ciências, com seus estudos sobre a fisiologia do fígado.
Este importante nome da medicina
moderna defendia que a matéria tinha que ser estudada cientificamente. Avanços
na ciência ocorreram nesta época, mas o método científico surgiu apenas no
século XIX com Bernard, o qual juntamente com o seu mentor François Megandie
aprendeu a fazer vivissecção[1]·. Alguns
anos depois, em 1876, houve um movimento na Inglaterra contra a vivissecção,
levando à primeira lei a colocar limites à prática.
Claude Bernard foi o responsável
por uma descoberta revolucionária quanto ao entendimento dos princípios
fundamentais da vida orgânica, o qual continua válido até hoje. É o conceito de
homeostase, ou da estabilidade controlada do ambiente interno, composto pelas
células e tecidos. Ele propôs que a "fixidez do ambiente interno é a
condição para a vida livre", e explicou que:
O corpo vivo, embora necessite do ambiente que o circunda,
é, apesar disso, relativamente independente do mesmo. Esta independência do
organismo com relação ao seu ambiente externo deriva do fato de que, nos seres
vivos, os tecidos são, de fato, removidos das influências externas diretas, e
são protegidos por um verdadeiro ambiente interno, que é constituído,
particularmente, pelos fluidos que circulam no corpo.
Na segunda metade do século, a
visão que as células eram os blocos de construção fundamentais da estrutura e
função do organismo era relativamente nova, e era proposta por cientistas como
o patologista Rudolf Virchow, e os neuroanatomistas Camilo Golgi e Ramon y
Cajal. Claude Bernard adicionou a isso o componente do pensamento fisiológico,
completando a doutrina celular. As prolificas investigações experimentais de
Claude Bernard também foram responsáveis pela descoberta da correlação entre a
atividade nervosa e o controle do meio interno através do metabolismo, da
circulação e da respiração, introduzindo, desta forma, o conceito
revolucionário (para a época) das alças de controle por retroalimentação, ou de
como certos sistemas fisiológicos funcionam como dispositivos homeostáticos.
Esse conceito deu origem, cem anos depois à cibernética, ou à ciência dos
sistemas de controle.
Bernard foi um vigoroso paladino
na necessidade da abordagem experimental rigorosa baseada em um estrito
casamento entre a fisiologia e as leis subjacentes da física e da química que
estavam sendo descobertas em uma velocidade prodigiosa na época. Ele também era
considerado excelente com relação ao método, e foi um grande inventor de
técnicas e aparelhos novos em fisiologia. Seu mais importante livro,
"Introdução ao Estudo da Medicina Experimental", publicado em 1865,
foi enormemente influente por muitas e muitas décadas a seguir.
Em virtude de suas descobertas e
de sua influência na ciência e na medicina francesas, Claude Bernard tornou-se,
ainda em vida, um dos mais premiados cientistas de seu país, lado a lado com
gigantes como o seu amigo e contemporâneo Louis Pasteur. Em 1854 ele foi eleito
membro da Academia Francesa de Ciências e catedrático de Fisiologia Geral da
Faculdade de Ciências da Sorbonne. No ano seguinte, ele foi indicado para o
cargo de professor titular de medicina no famoso Collège de France. Entre 1861
e 1865, ele foi sucessivamente nomeado para a Academia Francesa de Medicina,
para a Academia Francesa, para a Legião de Honra (primeiro como cavaleiro,
depois como comandante), e finalmente, foi eleito senador vitalício do império,
em 1869. A Academia de Ciências deu a Claude Bernard o Grand Prix de
Physiologie nos anos de 1849, 1851 e 1853, em honra às suas três maiores
descobertas.
Em 1864, o imperador Napoleão
III mandou construir um laboratório para Bernard no museu de História Natural,
na França. Após o seu falecimento, devido a sua grande importância, foi
homenageado com uma estátua na sua cidade natal, Saint Julien, construída por
Reymond Couvègnes, em 1893, e uma universidade recebeu seu nome: Université
Claude Bernard.
O destaque de Claude Bernard,
portanto, deve-se à sua forma de pensar que não basta observar um fato, é
preciso estudá-lo sob as condições controladas de um laboratório. Segundo suas
palavras “... o laboratório é o templo da ciência da medicina”.
Claude Bernard foi, por diversas
vezes, mencionado nos trabalhos dos grandes cientistas e pesquisadores, do
século XIX, que se dedicaram a fenomenologia espírita.
Para melhor terminar o presente
artigo, cito as seguintes palavras do ilustre fisiologista citado por Gabriel
Delanne em seu livro o “Espiritismo perante a Ciência”, 1ª. parte, II capítulo,
O Materialismo Positivista:
A matéria, qualquer que seja, é sempre destituída de
espontaneidade e nada provoca; só faz exprimir por suas propriedades a ideia de
quem criou a máquina que funciona. De sorte que a matéria organizada do
cérebro, que manifesta fenômenos de sensibilidade e de inteligência próprios ao
ser vivo, não tem, do pensamento e dos fenômenos que ela manifesta, mais consciência
do que a matéria bruta teria de uma máquina inerte, de um relógio, por exemplo,
que não possui consciência dos movimentos que manifesta ou da hora que indica;
assim, também, os caracteres de impressão e o papel não têm consciência das
ideias que reproduzem. Assegurar que o cérebro segrega o pensamento, será o
mesmo dizer que o relógio segrega a hora ou a ideia do tempo.
É preciso não supor que foi a matéria quem criou a lei de
ordem e de sucessão; seria isso cair no erro grosseiro dos materialistas.
Fontes:
DELANNE, Gabriel, O Espiritismo perante a Ciência, 1ª.
parte, II capítulo.
[1]
Dissecação anatômica ou qualquer operação congênere feita em pessoa ou animal
vivo para estudo de algum fenômeno fisiológico.
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