Maria Ribeiro
Como homens os Espíritos assumem
um ou outro gênero com o propósito de aprimorarem-se nas diversas experiências
que ambos oferecem. Não tendo sexo conforme compreendemos, os Espíritos não se
prendem a uma forma para suas aquisições intelecto-morais, pois se reencarnam
segundo as provas que devem suportar[2].
Já em Léon Denis, na obra
intitulada “O problema do ser do destino e da dor”, é possível comprovar que o
assunto foi muito mal compreendido. No capítulo XIII da segunda parte, o autor
assim se expõe:
Quanto à escolha do
sexo, é também a alma que, de antemão, resolve. Pode até variá-lo de uma
encarnação para outra por um ato de sua vontade criadora, modificando as
condições orgânicas do perispírito. Certos pensadores admitem que a alternação
dos sexos é necessária para adquirir virtudes mais especiais, dizem eles, a
cada uma das metades do gênero humano; por exemplo, no homem, a vontade, a
firmeza, a coragem; na mulher, a ternura, a paciência, a pureza.
Cremos de
preferência, de acordo com os nossos Guias, que a mudança de sexo, sempre
possível para o Espírito, é, em princípio, inútil e perigosa. Os Espíritos
elevados reprovam-na.
Ninguém em sã consciência pode
admitir que Espíritos mais elevados do que aqueles que estiveram com Kardec na
Codificação, possam se prestar a dar instruções tão particulares e tão
contraditórias num espaço curto de tempo, com o falso intuito de colaborar com
a Doutrina ou complementá-la.
Nascido homem ou mulher, o
objetivo do Espírito deverá ser alcançado por meio de seus esforços pessoais,
embora seja sabido que os Amigos Espirituais estão sempre a suscitá-lo para o
bom caminho, concorrendo com as influenciações dos Espíritos ainda
desconhecedores do bem somadas às resistências do próprio indivíduo.
Uma criatura devidamente educada
nas bases espíritas se encontra mais preparada para enfrentar as lutas que
virão, se sentirá mais forte para resistir às más inclinações, e às influências
maléficas exteriores. Quando, porém, se fala da necessidade de se introduzir o
assunto sobre sexo nas evangelizações, principalmente na infanto-juvenil,
sente-se que o tabu ainda persiste. Ou seja, não se fala de sexo nas Casas
Espíritas, porque parece que as pessoas acham que vai haver algum tipo de
estímulo. E aí as crianças e os jovens continuam obtendo informações a respeito
com os velhos e danosos métodos de antigamente; ou então guardam temerosos,
suas dúvidas e anseios. Sexo ainda é confundido com condutas menos dignas, e
veja-se bem nas Casas Espíritas, sendo o Espiritismo o que há de mais moderno.
Há obras que abordam o tema, mas
o problema é que os coordenadores de estudos se sentem tímidos ou incapazes de
abordá-lo e conduzi-lo. Já os pais também não encontram subsídios nos estudos
para tratar com naturalidade o assunto com os filhos. E seria o caso de se
perguntar, se esses pais têm consciência da grave empreitada que o assunto
representa, por isso devem procurar, por si mesmos, informações corretas, ou
seja, desprovidas de qualquer preconceito remanescente do falso-moralismo, para
que se posicionem de maneira adequada. Seja como for, as Casas Espíritas não
podem se excluir da obrigação que lhes está reservada, e deixar a
responsabilidade somente aos pais e/ou às escolas.
A situação é de imensa
gravidade, pois as crianças e jovens espíritas também estão sujeitos aos mesmos
dilemas, traumas, transtornos que as não espíritas. Como explicar, por exemplo,
a masturbação entre crianças que ainda nada sabem sobre sexo? Deve-se proceder
conforme diz a Psicologia comum que proíbe a proibição a fim de não se causar
problemas maiores no futuro?
É sabido que em alguns casos, a
masturbação para a criança não tem a mesma significação que tem para o adulto.
Mas, se os próprios adultos não tiveram, como ainda não têm o que se poderia
chamar de “educação sexual”, como querer que eduquem sexualmente seus filhos?
Nos estudos e palestras muito
raramente um ou outro se arrisca a tocar no assunto muito superficialmente, tão
superficialmente que não desperta o desejo de ninguém com um questionamento para
que se ponha o tema em discussão.
A sexualidade humana não pode
ficar restringida somente às características físicas do indivíduo, pois se
situa muito além dos órgãos genitais. Também o sexo não pode ser visto apenas
como o contato dos genitais e manobras de corpos. Sexo é também uma forma dos
seres se expressarem, seja consigo mesmo, seja com o outro. A liberação sexual
foi o que deu início ao sexo sem responsabilidades: surgiram os contraceptivos
e com isto o controle da procriação; assim a perspectiva da sexualidade passou
a ser outra: a atividade sexual ganhou uma roupagem totalmente nova, porque um
indivíduo pode perfeitamente fazer sexo com outra pessoa sem assumi-la, não há
compromisso, e assim as pessoas se veem não como pessoas, como sujeito, mas
apenas como objeto.
Tratar sobre a questão envolve,
não o ato em si, pois que este está na natureza dos seres, mas toda a esfera em
que o ato sexual se contextualiza: o sexo biológico; o aparecimento das
características sexuais secundárias; os problemas cromossômicos que interferem
na aparência do indivíduo, como hermafroditismo e outras síndromes; a
masturbação; os diversos transtornos sexuais; a ejaculação precoce; o orgasmo;
o planejamento familiar; o uso de preservativos e/ou contraceptivos; o aborto;
as doenças sexualmente transmissíveis; o namoro; a menopausa e andropausa; a
sexualidade na terceira idade; o tal do “ficar” etc. Conscientizar que se devem
respeitar homossexuais e prostitutas, por exemplo, é disciplina da educação
sexual.
O preconceito sobre o sexo não
tem razão de ser, visto dimanar da Criação Divina. Classificá-lo com predicados
inferiores é afirmar que Deus é inferior, imperfeito, feio, sujo, que tem que
ficar escondido. O emprego que os homens lhe dão é sórdido, mas porque os
homens são sórdidos, e conseguem embrutecer qualquer sentimento ou qualquer
conceito quando dele tomam posse.
É preciso que se criem meios de
abordar tais questões nas evangelizações, diminuindo a timidez dos
coordenadores, e aumentando-lhes a capacidade cognitiva desta matéria, com o
propósito de se formarem adultos mais conscientes, mais responsáveis, mais
comprometidos com a causa espírita.
[2] O Livro dos
Espíritos - questões 200 a 202 .
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