terça-feira, 16 de outubro de 2018

O LIVRE-ARBÍTRIO E A PRESCIÊNCIA DIVINA[1]

(Thionville, 5 de janeiro de 1863 – Médium: Dr. R...)

 

Há uma grande lei que domina todo o Universo: a lei do Progresso. É em virtude dessa lei que o homem, criatura essencialmente imperfeita, deve, como tudo quanto existe em nosso globo, percorrer todas as fases que o separam da perfeição.
Sem dúvida Deus sabe quanto tempo cada um levará para chegar ao fim; mas como todo progresso deve resultar de esforço tentado para realizá-lo, não haveria nenhum mérito se o homem não tivesse a liberdade de tomar este ou aquele caminho. Com efeito, o verdadeiro mérito não pode resultar senão de um trabalho operado pelo Espírito para vencer uma resistência mais ou menos considerável.
Como cada um ignora o número de existências consagradas ao seu adiantamento moral, ninguém pode prejulgar nesta grande questão, e é aí, sobretudo, que brilha de maneira admirável a infinita bondade de nosso Pai celeste que, nada obstante o livre-arbítrio que nos conferiu, semeou em nosso caminho postes indicadores que iluminam os desvios. É, pois, por um resquício de predominância de matéria que muitos homens se obstinam em ficar surdos às advertências que lhes chegam de todos os lados, preferindo gastar em prazeres enganadores e efêmeros uma vida que lhes fora concedida para o progresso de seu Espírito.
Não se poderia afirmar, sem blasfêmia, que Deus tenha querido a infelicidade de suas criaturas, já que os infelizes expiam sempre, tanto numa vida anterior mal empregada, quanto por sua recusa em seguir o bom caminho, quando este lhe era claramente indicado.
Assim, depende de cada um abreviar a prova que deve sofrer. Para isto, guias seguros, bastante numerosos, lhe são concedidos, para que seja inteiramente responsável por sua recusa de seguir seus conselhos; e ainda neste caso, existe um meio certo de abrandar uma punição merecida, dando sinais de sincero arrependimento e recorrendo à prece, que jamais deixa de ser atendida, quando feita com fervor. O livre-arbítrio, pois, existe realmente no homem, mas com um guia: a consciência.
Vós todos que tendes acesso ao grande foco da nova ciência, não negligencieis de vos penetrar das eloquentes verdades que ela vos revela, e dos admiráveis princípios que são a sua consequência; segui-os fielmente: é aí, sobretudo, que refulge o vosso livre-arbítrio.
Pensai, por um lado, nas consequências fatais que arrastareis para vós ao vos recusardes a seguir o bom caminho, bem como nas magníficas recompensas que vos aguardam, caso obedeçais às instruções dos Espíritos bons; é aí que luzirá, por sua vez, a presciência divina.
Os homens se esforçam inutilmente em buscar a verdade por todos os meios que julgam ter na Ciência; esta verdade que lhes parece escapar caminha sempre ao seu lado e os cegos não a percebem!
Espíritos sábios de todos os países, aos quais é dado levantar a ponta do véu, não negligencieis os meios que vos são oferecidos pela Providência! Provocai nossas manifestações; fazei que delas se aproveitem sobretudo vossos irmãos menos favorecidos que vós; inculcai em todos os preceitos que vos chegam do mundo espiritual, e tereis bem merecido, porque havereis contribuído em larga escala para a realização dos desígnios da Providência.


Espírito familiar




[1] Revista Espírita – Outubro/1863 – Allan Kardec

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