segunda-feira, 15 de outubro de 2018

GEORGE VALE OWEN[1]


George Vale Owen com "Sir" Arthur Conan Doyle 

Um periodista inglês que, na década de 1920, se atrevesse a tratar temas espíritas devia possuir muita perspicácia e muita coragem, sustentadas por uma autoridade indiscutível.
Esse periodista foi Lord Northcliffe, que o fez publicando nada menos que os escritos recebidos mediunicamente pelo famoso médium britânico Rev. George Vale Owen. As publicações do "Correio Semanal", contendo tais escritos despertaram inusitado interesse, tanto na Inglaterra como em outros países, o que, aliás, redundou num ataque sistemático por parte das Igrejas, que movimentaram todos os seus recursos materiais com o objetivo de minorar os "catastróficos efeitos" que estavam produzindo em todas as camadas da sociedade os escritos de Vale Owen.
Quem era George Vale Owen, que deste modo alterava a calma natural de todos e produzia semelhante impacto nas arraigadas convicções religiosas do conservador povo britânico?
Vale Owen era um sacerdote, nascido em 26 de junho de 1869, Birmingham, Reino Unido, membro de poderosa ramificação religiosa que havia monopolizado o sentimento de religiosidade dos povos da Inglaterra e de outras nações. Nessa altura dos acontecimentos ele já estava trabalhando nas lides espíritas e havia-se integrado entre os homens de renome que deram grandes passos no sentido de implantar as ideias espíritas naquele país.
Os problemas relacionados com o Espírito, despertaram em Owen a intenção de fazer com que um novo conceito de Deus se tornasse acessível às criaturas humanas, conceito esse despojado de dogmas, de ritos, de fanatismo e de obscurantismo. Animado desse propósito foi buscar na carreira eclesiástica um meio mais rápido e eficiente de colocar-se em contato com as almas daqueles que desejavam encaminhar-se para uma vida melhor e mais segura, no além-túmulo.
Aconteceu a Vale Owen o que sucede geralmente com muitas pessoas dotadas de poderosa vocação: distanciou-se do roteiro palmilhado por sacerdotes sectaristas. O seu objetivo foi então o de procurar desesperadamente a verdade, o único caminho que conduz a Deus.
Owen conseguiu chegar ao sacerdócio solidamente alicerçado nos princípios filosóficos e científicos, os quais lhe propiciaram profunda perspicácia no sentido de adentrar o âmago de todas as questões que reclamam a atenção da mente humana.
Realizou seus primeiros estudos no famoso "Colégio da Rainha", passando em seguida ao Instituto Midland, onde atingiram os mais elevados graus os seus conhecimentos científicos e religiosos.
Ordenou-se sacerdote em Liverpool, quando tinha apenas 24 anos de idade, tendo sido designado para desempenhar o seu ministério no humilde curato de Seaford. Ele era um homem humilde, embora atrás dessa humildade cristã ocultasse uma fortaleza de ânimo e um Espírito sempre predisposto para a luta. Devido a essa humildade e apesar de sua sólida formação espiritual, jamais logrou alcançar um lugar proeminente no seio do clero ou qualquer projeção dentro de sua Igreja.
Os desígnios de Deus, no entanto, eram outros, e nos humildes curatos de Seaford, de Pairfields e de S. Mateus, bem como nos subúrbios de Liverpool e mais tarde nas cercanias de Oxford, dedicou-se com verdadeiro devotamento ao seu ministério, e quanto mais se sentia perto de Deus, mais ficava abalado em sua situação de sacerdote.
No propósito de buscar um contato mais íntimo com o mundo espiritual lembrou-se do "Batei e abrir-se-vos-á" dos ensinamentos evangélicos e, com isso viu desabrochar a sua mediunidade, graças à interferência de sua mãe, desencarnada em 1909, e que começou a dar suas primeiras manifestações em 1913.
A princípio ele relutou em aceitar a realidade dos fatos, dado o seu excessivo apego à verdade. Não tardou muito em ter as provas mais convincentes, o que fez com que se convertesse inteiramente ao Espiritismo.
As mensagens recebidas foram condensadas em quatro livros. Nessa época começou a receber mensagens de um Espírito que se intitulava "Astriel" mensagens essas eivadas da mais profunda filosofia. Sua primeira obra, "Os baixos Campos do Céu" e, logo a seguir, "Os Altos Campos do Céu", tiveram notável repercussão. A fase seguinte foi a publicação do livro "Os Mistérios do Céu", inspirada por um Espírito que se subscrevia "Leader". Espírito esse que assumiu um controle único sobre todas as comunicações dadas posteriormente e cujo nome ele próprio mudou para "Ariel", formando o quarto e último livro "Os Batalhões do Céu".
Os prólogos das obras de Vale Owen foram elaborados por "Sir" Arthur Conan Doyle [vide biografia de “Sir” Arthur Conan Doyle neste blog, publicada em 08/01/2018), o genial criador de Sherlock Holmes, o que demonstra o elevado sentido das comunicações recebidas do plano espiritual. Num desses prólogos dizia o famoso escritor inglês: "Com que segurança se afirma que Deus fechou as fontes da inspiração há 2000 anos. Não é infinitamente mais razoável dizer-se que um Deus vivente continua demonstrando sua força vivente e que novas ajudas e novos conhecimentos continuam a ser por ele derramados para impulsionar a evolução dos homens?"
Lord Northcliffe tinha sérias e profundas inquietudes espiritualistas que em nenhum momento foram sufocadas por sua imensa fortuna material. Ele descobriu Vale Owen e por isso pôs sua fortuna e influência no afã de divulgar as obras do famoso médium, não receando jamais colocar em jogo o seu prestígio e a sua fortuna, na realização de uma obra que ele considerava extraordinária e mesmo absurda e atrevida para a época. Ele era um periodista de nervos fortes, de coração e de vocação, que jamais titubeou em publicar o que era atualidade e realidade, mesmo que isso viesse a redundar num abalo do seu prestígio de diretor de uma cadeia enorme de jornais diários.
Lord Northcliffe afirmou ainda, referindo-se a Owen: "Encontrei-me frente a um homem dotado de grande sinceridade e de uma convicção inabalável; era possuidor de grandes dotes espirituais e quando lhe ofereci grossa quantia em dinheiro para a publicação de suas obras, ele a recusou, solicitando apenas o suficiente para uma modesta publicação de seus livros".
Essas obras poderiam dar a Vale Owen imensa fortuna, dado o interesse que elas despertaram; poderiam ter dado ao médium facilidades para deixar o pobre quarto onde habitava em Oxford, podendo ainda, com esse dinheiro, aspirar a uma paróquia mais respeitável, entretanto, tudo foi recusado por ele e esse dinheiro foi investido por Lord Northcliffe em obras filantrópicas.
Os trabalhos do médium, publicados no "Correio Semanal", fizeram com que esse periódico atingisse tiragens surpreendentes. Suas obras são conhecidas na Inglaterra por "Escrituras de Owen". Sabe-se que a versão de seus livros para o vernáculo seria sob o título "A Vida Além do Véu".
O êxito colimado por ele no campo espírita acarretou-lhe a perda da sua paróquia, pois a ela teve que renunciar, perdendo a fonte de onde tirava o necessário para o seu sustento. Nesse evento ele proclamou: "Muitos são os que podem ser vigários de Oxford, porém não são muitos os que podem fazer o meu trabalho de propaganda".
Aos 53 anos de idade George Vale Owen iniciou sua tarefa de divulgação do Espiritismo. Dirigiu-se aos Estados Unidos da América onde ele já estava bem difundido, fazendo ali muitas prédicas, granjeando grande número de amigos e discípulos, tendo posteriormente regressado à Inglaterra, onde proferiu mais de 150 conferências, esgotando todos os seus recursos materiais e ficando quase na indigência.
"Sir" Arthur Conan Doyle, seu grande amigo, saiu em seu auxílio e encabeçou uma coleta com o nome de "Caixa de Vale Owen", que se encheu prontamente, porém o médium não fez dela qualquer uso.
Em 1931 foi acometido de grave enfermidade, porém, prosseguiu na tarefa de propaganda sem dar demonstrações das horríveis dores que o acometiam. No dia 9 de março desse mesmo ano veio a desencarnar.




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