Disse um poeta: “Nada é mais
belo que o verdadeiro; só o verdadeiro é agradável”.
Reconheci neste verso uma das
mais belas inspirações jamais dadas ao homem. O verdadeiro é a linha reta; é a
luz, cujo esplendor não precisa ser velado pelos homens justos, cujo espírito é
maravilhosamente predisposto a compreender seus imensos benefícios.
Por que, na nossa sociedade
atual, a luz custa tanto a ser percebida pela maioria dos homens? Por que o
ensino da verdade é cercado de tantos obstáculos? É que até agora a Humanidade
não fez progressos bastante marcados, desde a origem do Cristianismo.
Desde o Cristo, seus
ensinamentos tiveram de ser velados sob a forma de alegoria e de parábola e os
que tentaram propagar a verdade não foram mais ouvidos que seu divino Mestre; é
que a Humanidade devia progredir com sábia lentidão, para que sua marcha fosse
mais segura; é que necessitava de um longo noviciado, para tornar-se apta a se
conduzir por si mesma.
Mas tranquilizai-vos! O sol da
regeneração, há muito tempo na sua aurora, não tardará a espalhar sobre vós a
sua deslumbrante claridade; a verdadeira luz vos aparecerá e sua influência
benfeitora estender-se-á a todas as classes da sociedade.
Quantos, então, se surpreenderão
por não terem acolhido mais cedo esta verdade, que data da mais remota
antiguidade, e que um sentimento de orgulho lhes fez sempre caminhar ao lado
sem a ver!
Ao menos desta vez não tereis de
sofrer nenhum desses horríveis cataclismos, que parecem outras tantas balizas
destinadas a marcar, através dos séculos, a marca da verdadeira luz. Mais bem instruídos,
os homens compreenderão que as perturbações que deixam atrás de si uma esteira
de fogo e sangue não se enquadrariam hoje nos nossos costumes, abrandados pela
prática da caridade. Compreenderão, enfim, o alcance destas palavras sublimes,
outrora proferidas pelo Cristo: “Paz aos homens de boa vontade!”
Não haverá outra guerra senão a
que for feita às paixões más. Todos reunirão suas forças para expulsar o
Espírito do mal, cujo reino desastroso apenas deteve, por longo tempo, o
progresso da civilização. Todos se deterão no pensamento de que a verdadeira luz
é a única conquista legítima, a única que devem ambicionar, a única que os
poderá conduzir à felicidade.
À obra, pois, todos vós que
tendes a bandeira do progresso! Não temais empunhá-la alta e firme, para que de
todos os recantos do globo os homens possam acorrer e se acomodarem sob sua
égide. Pedi ao nosso Pai celeste a força e a energia que vos são indispensáveis
para esta grande obra; e, se aqui não puderdes gozar da felicidade de vê-la
realizada, que, ao menos, ao morrer, leveis a convicção de que vossa existência
foi útil a todos, e que a mais doce recompensa vos espera entre nós: a alegria
de ter cumprido vossa missão para a maior glória de Deus.
Allan
Kardec
[1] Revista
Espírita – Setembro/1863 – Allan Kardec
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