Richard Simonetti
Qualquer pessoa medianamente
informada conhece o complexo de Édipo, consagrado por Sigmund Freud
(1856-1939), como a tendência de se ligarem os filhos às suas mães, em oposição
aos pais.
Freud inspirou-se numa tragédia
grega: Édipo Rei, de Sófocles (495-406 a.C.). Édipo, segundo os oráculos,
mataria seu pai e se casaria com a mãe, o que efetivamente aconteceu, numa
fantasia recheada de lances dramáticos e mirabolantes, bem ao gosto da
mitologia grega.
A tese de Freud, porém, não
resiste aos fatos. Há filhos “vidrados” na figura paterna. Além disso, a
afinidade ou animosidade entre pais e filhos decorre muito mais de ligações
harmônicas ou conflituosas de vidas anteriores.
Se alguém reencontra no pai um
rival do passado, quando disputavam o amor de uma mulher, hoje possivelmente
ligada a ambos como mãe e esposa, enfrentará conflitos em seu relacionamento.
Em contrapartida, dar-se-á muito bem com o genitor que foi amigo ou familiar
ligado ao seu coração.
E há que se considerar o
comportamento. Se não cultivarmos valores elementares de convivência civilizada
– compreensão, atenção, respeito, tolerância, cooperação, solidariedade… –, os
melhores amigos do pretérito nos parecerão figadais inimigos a nos aborrecerem
no ambiente doméstico.
O aspecto mais interessante da
famosa obra teatral de Sófocles diz respeito à fatalidade.
É possível alguém nascer com a
trágica sina de matar o pai e casar com a mãe ou destinado a cometer
atrocidades? Negativo. Não há o determinismo para o mal. Ninguém reencarna para
ser suicida, alcoólatra, fumante, toxicômano, adúltero, traficante, ladrão,
assassino, terrorista…
Comportamentos dessa natureza
configuram um desatino. Jamais um destino!
Dirá o leitor amigo que o
oráculo não teria acertado o sinistro vaticínio, se não fosse esse o fado de
Édipo. Oportuno não esquecer, porém, que estamos diante de uma ficção, uma
história da carochinha para adultos.
Questionará você: e quanto aos
oráculos de hoje, representados por médiuns, pais de santo, cartomantes,
quiromantes, astrólogos e quejandos? Não antecipam, efetivamente, o futuro?
Consideremos, em princípio, que
eles falam de generalidades. Assim fica fácil. Se eu fizer dez previsões
superficiais sobre seu futuro, envolvendo saúde, negócios, vida afetiva,
família, viagens, pelo menos metade se cumprirá. Você ficará admirado de meus
poderes premonitórios, tão entusiasmado com os acertos que não reparará nos
desacertos.
E há um detalhe: se o “oráculo”
revela que terei um dia muito difícil, cheio de contratempos, e acredito
firmemente nisso, assim tenderá a acontecer. Estarei predisposto a encontrar
“chifre em cabeça de cavalo”.
Obviamente, há indivíduos
dotados de grande sensibilidade que podem “ler” em nosso psiquismo algo do que
nos espera.
Nele podem estar registrados
alguns compromissos que teríamos assumido ao reencarnar, conjugando família,
profissão, trabalho, ideal… Mesmo assim, não poderá fazer afirmações taxativas,
porquanto nem sempre cumprimos na Terra o que nos propusemos a realizar, no
Além.
Há, também, desajustes no
perispírito, nosso corpo espiritual, decorrentes de faltas desta existência ou
precedente, tendentes a se refletirem no corpo físico, dando origem a males
variados. Um sensitivo poderá identificá-los e nos falar a respeito. Não
obstante, esses males não são inevitáveis. É possível, com o empenho de
renovação e a prática do Bem, “depurar” o perispírito, favorecendo uma
existência saudável.
O ideal é viver o hoje,
procurando fazer o melhor, sem nos preocuparmos com o que virá. O futuro não
está escrito. Há apenas esboços. O “texto definitivo” está sendo grafado por
nossas ações.
Jesus sabiamente ensina, no
Sermão da Montanha, que a cada dia basta o seu labor. Cuidemos de buscar o
Reino de Deus em primeiro lugar, com o empenho do Bem, e tudo o mais, acentua o
Senhor, virá por acréscimo da misericórdia divina.
Fonte: Kardec Rio Preto
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