sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Lições políticas aos espíritas[1]



Marco Milani


As últimas eleições brasileiras contribuíram para a constatação de algo muito relevante ao movimento espírita: não se deve confundir propostas doutrinárias com preferências políticas. Enquanto cidadãos, temos o direito e a obrigação de participarmos dos debates e escolhas dos gestores públicos, mas em momento algum, devido ao fato de um eleitor também ser espírita, que suas opções representarão o Espiritismo!
Verificamos no período pré-eleitoral a manifestação, em redes sociais ou em outros ambientes, de pessoas com certa evidência no movimento espírita, tais como palestrantes e dirigentes, posicionando-se a favor deste ou daquele candidato. Ora, quem se manifestou não foi o representante espírita, mas o cidadão. As divergências de opiniões apenas demonstraram que não há homogeneidade de preferências partidárias e isso é esperado em um contexto democrático com indivíduos que se encontram em diferentes níveis de maturidade moral e intelectual.
Ao menos, esse fato serve para justificar aos adeptos mais afoitos o porquê de ser incompatível a criação de um partido espírita. A polarização política não deveria desagregar ou gerar indisposições entre os espíritas, pois o que nos une não é uma sigla partidária, mas são os conhecimentos sobre a realidade espiritual e os ideais de caridade e fé raciocinada.
Certamente, diante das responsabilidades assumidas nesta encarnação, desejamos realizar o melhor em prol de nós mesmos e do próximo. Assim, quando acreditamos que o caminho mais adequado a ser trilhado para a construção de uma sociedade melhor segue uma determinada direção, é natural mobilizarmos força e vontade para a realização de nossas expectativas e interesses. A passividade não é uma característica do espírita consciente.
É a atuação coerente com os princípios e valores que acreditamos que proporcionará a consciência tranquila e colaborará para o nosso próprio desenvolvimento. A lei de causa e efeito é natural, logo, tudo o que fizermos ou deixarmos de fazer refletirá em nosso processo evolutivo e não podemos compactuar com situações que colidam com o que consideramos ético e correto. Igualmente, devemos exercitar o respeito e contribuir com quem pensa diferente, mas sem nos omitirmos diante do que supomos estar em erro.
Estamos em um país carente por cidadãos e mandatários éticos e, independentemente das cores partidárias, cabe a nós o bom combate, começando por nós mesmos. Contribuamos para o Brasil que gostaríamos de viver. Afinal, quem pode afirmar que nossa próxima reencarnação não será novamente aqui?




[1] Texto publicado no jornal Correio Fraterno, ano 47, nº 460, dez/14, p.13.

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