sexta-feira, 31 de agosto de 2018

A VIDA NOS MOSTRANDO QUEM SOMOS[1]




Adriana Machado

Engraçado como a vida funciona. A todo tempo, ela nos traz experiências que nos fazem reagir.
Essa reação pode ser intensa ou não, segundo o quão profundo tal experiência nos atinge. Mas, o que é ser atingido por ela? Fácil. Quais foram as circunstâncias que mais marcaram vocês? Sei que a maioria está pensando naquelas que foram extremamente negativas, mas não são somente elas que nos impressionam. Quem não se lembra do colo amoroso de nossas mães? Quem não se lembra do sorriso de um amigo ao nosso lado? Ou da voz de nossos amores ao telefone? Quem não se lembra, simplesmente, de um dia de chuva onde brincamos nela e, encharcados e felizes, voltamos para casa?
Todos esses momentos nos marcaram por um motivo muito pessoal, mas que podemos generalizar afirmando que, em cada um deles, algo foi aprendido. Por exemplo, que podemos agir com carinho quando alguém precisar de nós; que podemos fazer diferença na vida de alguém pelo simples fato de estarmos presentes ou nos fazermos presentes; que, na simplicidade do que a vida nos oferece, podemos ser felizes...
Para cada uma dessas experiências, há um grande aprendizado que pode ser absorvido por nós, se estivermos atentos a ele. Quanto mais abertos aos ensinamentos existentes nas entrelinhas das experiências ofertadas mais rápido nos damos condições de subirmos nos degraus de nossa escala evolutiva.
Mas, o ponto crucial é que cada uma dessas circunstâncias nos trarão o olhar mais cristalino de quem estamos hoje! As nossas reações são um reflexo da pessoa que ainda somos, bem como da pessoa que queremos nos tornar. Cada experiência coloca à prova o nosso ser interno que está atento a tudo ao seu redor e que reage imediatamente ao ser estimulado. Não é difícil vocês entenderem o que eu quero dizer. Vamos lembrar de uma situação corriqueira que acontece com um amigo e que ele sempre se indigna ou se revolta. Você, que está fora das consequências daquela experiência, dá a ele os melhores conselhos, dizendo que ele precisa ter mais paciência, por exemplo. Mas, você não percebe que, em algumas situações corriqueiras da sua existência, você age da mesma maneira, sem ter paciência para aguardar os melhores resultados. Situações diferentes, mas semelhantes na postura, que nos mostram que já temos conhecimento de como agir, mas que ainda estamos absorvendo os detalhes importantes para melhor aplicá-los no nosso viver.
A vida nos traz as melhores experiências, aquelas que nos impulsionam a nos mostrar sem máscaras. Assim, podemos nos dar a chance de perceber o que precisamos ainda aprimorar em nosso ser, fazendo diferente a partir desta percepção.
Fato é que ela (a vida), ao nos colocar à prova, está nos dizendo que já portamos algum entendimento que só precisa ser aprimorado, passo a passo, em direção às verdades perfeitas e imutáveis que nos regem.
Quem a vida nos mostra que somos? Seres em evolução que, pelos percalços de nossa ignorância, não desejamos nos enxergar. A sabedoria divina, no entanto, nos levará a nos depararmos com as experiências que nos farão reagir como realmente somos e, não havendo mais o véu que tentamos sustentar, só teremos uma postura a seguir: aprimorarmo-nos para um melhor viver.

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

A IRONIA E A VERDADE[1]



Emmanuel

Nas grandes horas, nunca falta a ironia, em derredor dos servidores da Verdade Eterna. E, para confortar os seus seguidores, suportou-a Jesus, heroicamente, no extremo testemunho. Amara a todas as criaturas de seu caminho, com igual devotamento, servira-as, indistintamente, entregando-lhes os bens de Deus, sem retribuição, exemplificara a simplicidade fiel e multiplicara os beneficiários de todos os matizes, em torno de seu coração por onde passasse. Desdobrava-se-lhe o Apostolado Divino, sem vantagens materiais e sem interesses inferiores, mas os homens arraigados à Terra não lhe toleraram as revelações do Céu. Porque não podiam destruir-lhe a verdade, entregaram-no à justiça do mundo e, tão logo organizado o processo infamante, a ironia rondou o Senhor até a crucificação.
Trouxera o Evangelho Libertador à Humanidade e recebeu a calúnia e a perseguição.
Ele, que ouvia a Voz Suprema, foi preso por varapaus.
Distribuíra benefícios para todos os séculos, contudo, foi segregado num cárcere.
Vestira as almas de esperança e paz, no entanto, impuseram-lhe a túnica do escárnio.
Ensinara sublimes lições de renúncia e humildade e foi submetido a perturbadores interrogatórios pelos acusadores sem consciência.
Rompera as algemas da ignorância, entretanto, foi coagido a aceitar a cruz.
Coroou a fronte dos semelhantes com a luz da libertação espiritual, todavia, foi coroado de espinhos ingratos.
Oferecera carícias aos sofredores e desamparados do mundo, recebendo açoites e bofetadas.
Fundara o Reino do Amor Universal e obrigaram-no a empunhar uma cana à guisa de cetro.
Ensinou a ordem entre os homens pela perfeita fidelidade ao Supremo Senhor e o boato lhe pôs na boca expressões que nunca pronunciou.
Abrira na Terra a fonte das Águas Vivas, entretanto, deram-lhe vinagre quando tinha sede.
Ele que amara a simplicidade, a religião e o respeito, foi crucificado seminu, sob o cuspo da perversidade, entre dois ladrões.
Jesus, porém, sentindo embora a ironia que o cercava, não reclamou, nem feriu a ninguém, não comprometeu os companheiros, nem exigiu a consideração de seus deveres. Compreendeu a ignorância dos homens, rogou para eles o perdão do Pai e dirigiu-se a outros trabalhos, no seu divino serviço à Humanidade.
Nenhum servidor fiel do bem, portanto, escapará ao assédio da ironia. É preciso, porém, recordar o Mestre, evitar o escândalo, pedir ao Supremo Pai pelos escarnecedores infelizes e continuar trabalhando com o Senhor, dentro da mesma confiança do primeiro dia.



[1] Coletâneas do Além – Espíritos Diversos / psicografado por Francisco C. Xavier

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

CURA E ESPIRITUALIDADE[1]



Marlene Nobre


O paradigma médico-espírita estabelece, do mesmo modo que o taoísta, que o indivíduo é responsável por sua saúde, enfatizando que "toda medicina honesta é serviço de amor, atividade de socorro justo; mas o trabalho de cura é peculiar a cada espírito” [2]. Daí a ênfase ao Autoencontro e ao encorajamento à saúde.
Os vícios da mente - ódio, cólera, inveja, intolerância etc. ‒ são derivados do orgulho e do egoísmo e geram atitudes destrutivas, que produzem e sustentam desequilíbrios mais ou menos graves nos envoltórios sutis, gerando, em consequência, enfermidades no corpo físico.
A mente perturbada não consegue o equilíbrio, sobretudo, de sua imunidade orgânica, o que é fundamental para o acesso à saúde. E a perturbação acentua-se com a falta de conformação perante as provas retificadoras.
Por isso mesmo, o paradigma médico-espírita afirma que, nem sempre, uma única existência corporal é suficiente para a restauração dos centros perispiríticos lesados, considerando cada encarnação como uma "estação de cura", uma possibilidade de purificação.
Nesse paradigma, o Médico por excelência é Jesus que "deixou no mundo o padrão da cura para o Reino de Deus. Ele proporcionava socorro ao corpo e ministrava fé à alma” [3]. Inúmeras vezes, o Senhor Jesus afirmou: "A tua fé te curou", indicando o caminho para a cura verdadeira, aquela em que a sanidade não somente atinge o corpo físico, mas também opera a retificação dos núcleos psíquicos, corrigindo distorções existentes nos corpos espirituais.
Olhando um pouco para o passado recente, percebe-se que a Medicina da Alma começou a esboçar-se nos anos 50, ganhou espaço nos 70 e firmou-se nos 90.
Em 1970, Herbert Benson iniciou seus estudos sobre mentalização ou técnica de meditação na Harvard Medical School, apoiado por seu diretor e criticado pela maioria dos colegas, mas não se abalou. Como resultado de suas pesquisas, publicou, nessa mesma década, o livro “A Resposta do Relaxamento”, explicando a técnica que utiliza no tratamento de doentes hipertensos e portadores de outras afecções, na qual emprega meditação e respiração combinadas.
Desde então, vem auxiliando colegas, inconformados com o modelo materialista reducionista, favorecendo-os com a formação na área de pós-graduação em Medicina e Espiritualidade. Em 1996, lançou seu livro mais recente, “Medicina Espiritual” (publicado em colaboração com Marg Stark), no qual afirma com convicção: "... em meus 30 anos de prática da medicina nenhuma força curativa é mais impressionante ou mais universalmente acessível do que o poder do indivíduo de cuidar de si e de se curar”. E acentua: "Os anelos da alma ‒ a fé, a esperança e o amor ‒ são eternos, inclinações naturais que o pensamento ocidental moderno reprimiu, mas jamais subjugou” [4].
Richard Friedman, PhD, companheiro de Benson no Mind/ Body Medical Institute da Escola de Medicina de Harvard e do Beth Israel Deconess Medical Center, foi também responsável pela abertura de caminhos para o estudo científico da relação entre crença e cura, valendo-se dos mais confiáveis métodos de avaliação de pesquisa. Falecido, repentinamente, em 17 de agosto de 1997, a ele foi dedicado o livro “Scientific Research on Spirituality and Health”, publicado pelo National Institute for Healthcare Research ‒ fruto de painéis realizados por cerca de 70 profissionais, Friedman entre eles, sendo a maioria médicos e psicólogos, preocupados com a pesquisa científica em Espiritualidade e Saúde. Lê-se, nesta obra, publicada em outubro de 1997, que "o uso contemporâneo do termo Espiritualidade separado da religião tem uma história surpreendentemente curta": surgiu na década de 90, como fruto de "conhecimento humano e eventos histórico-culturais". As religiões ‒ em sua maioria – obedecem a padrões rígidos, são "formalmente estruturadas", podendo, de certa forma, inibir o potencial humano; já o termo espiritual é reservado ao lado mais elevado e sublime da vida, cultivado pelas pessoas, independentemente de pertencerem ou não a uma dada religião[5]·.
Outra equipe importante é a do Dr. William R. Miller, professor de Psicologia e Psiquiatria da Universidade do Novo México, PhD em Clínica Psicológica pela Universidade de Oregon, e Diretor de Pesquisa do UNMs - Centro de Alcoolismo e Abuso de Substância Química.
Em seu livro, “Integrating Spirituality into Treatment”, Miller e seus colegas abordam temas importantes como Treinamento Profissional em Espiritualidade.




[1] A Alma da Matéria, Marlene Nobre - FE Editora Jornalística Ltda.
[2] Os Mensageiros, André Luiz, psicografado por Francisco C. Xavier, p. 74.
[3] Medicina Espiritual, Herbert Benson e Marg Stark, cap. l.
[4] Ver Scientific Research on Spirituality and Health, discussão quanto ao termo Espiritualidade.
[5] Ver Entre a Terra e o Céu, André Luiz, psicografado por Francisco C. Xavier, cap. 27.

terça-feira, 28 de agosto de 2018

MEDICINA HOMEOPÁTICA[1]

(Sociedade Espírita de Paris, 13 de março de 1863 – Médium: Sra. Costel)


Minha filha, venho dar um ensinamento médico aos espíritas. Aqui a Astronomia e a Filosofia têm eloquentes intérpretes; a moral conta tantos escritores quantos médiuns. Por que a Medicina, em seu lado prático e fisiológico, seria negligenciada? Fui o criador da renovação médica, que hoje penetra até as fileiras dos sectários da antiga medicina. Ligados contra a homeopatia, por mais que lhe criassem diques sem número, por mais que lhe gritassem: “Não irás mais longe!”, a jovem medicina, triunfante, transpôs todos os obstáculos. O Espiritismo lhe será poderoso auxiliar; graças a ele, ela abandonará a tradição materialista que, durante tanto tempo, lhe retardou o desenvolvimento. O estudo médico está inteiramente ligado à pesquisa das causas e dos efeitos espiritualistas; ela disseca os corpos e deve, também, analisar a alma. Deixai, pois, um velho médico justificar os fins e o objetivo da doutrina que propagou, e que vê estranhamente desfigurada neste mundo pelos praticantes, e no Além por Espíritos ignorantes que usurpam o seu nome.
Gostaria que minha palavra ouvida tivesse o poder de corrigir os abusos que alteram a homeopatia, impedindo-a, assim, de ser tão útil quanto devia.
Se eu falasse num centro prático, onde os conselhos pudessem ser ouvidos com proveito, eu me levantaria contra a negligência de meus colegas terrestres, que desconhecem as leis primordiais do Organon, exagerando as doses e, sobretudo, não dando à trituração tão importante dos medicamentos, os cuidados que indiquei. Muitos esquecem que cem, e às vezes duzentos golpes, são absolutamente necessários à liberação do princípio médico apropriado a cada uma das plantas ou venenos que formam o nosso arsenal curador. Nenhum remédio é indiferente, nenhum medicamento é inofensivo; quando o diagnóstico mal observado o faz dar fora de propósito, ele desenvolve os germes da doença que era chamado a combater.
Mas eu me deixo arrastar por meu assunto e eis-me propenso a dar um curso de homeopatia a um auditório que não deve interessar-se por esta questão. Entretanto, não creio seja inútil iniciar os espíritas nos princípios fundamentais da ciência, a fim de os premunir contra as decepções que possam sofrer, quer da parte dos homens, quer mesmo da dos Espíritos.


Samuel Hahnemann


Observação – Esta observação foi motivada pela presença à sessão de um médico homeopata estrangeiro, que desejava a opinião de Hahnemann sobre o estado atual da ciência.
Faremos observar que ela foi dada através de uma jovem senhora que não fez estudos médicos, e à qual são estranhos, necessariamente, muitos termos especiais.




[1] Revista Espírita – Agosto/1863 – Allan Kardec

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

HUGUES FÉLICITÉ-ROBERT DE LAMENNAIS[1]



Nascido em uma família burguesa, em 19 de junho de 1782, em Saint-Malo, na França, foi brilhante escritor, tornando-se uma figura influente e controversa na história da Igreja francesa.
Com seu irmão Jean, concebeu a ideia de reviver o Catolicismo Romano como uma chave para a regeneração social. Chegaram a esboçar um programa de reforma em sua obra: “Reflexões do estado da Igreja...”, no ano de 1808.
Cinco anos mais tarde, no auge do conflito entre Napoleão e o Papado, os irmãos produziram uma defesa do Ultramontanismo (Doutrina e política dos católicos franceses que buscavam inspiração na Cúria Romana, defendendo a autoridade absoluta do Papa em matéria de fé e disciplina). Este livro valeu a Lamennais um conflito com o Imperador, ocasionando sua fuga para a Inglaterra, rapidamente, no ano de 1815.
Um ano depois, com seus 34 anos de idade, Lamennais retorna a Paris e é ordenado padre. Escritor fluente, político e filósofo, ele se esforçava para combinar a política liberal com o Catolicismo Romano, depois da Revolução Francesa. Por isso, já em 1817 publicou "Ensaios sobre a indiferença em matéria de religião considerada em suas relações com a ordem política e civil", além de uma tradução da "Imitação de Jesus Cristo". O Ensaio lhe valeu fama imediata.
Nele, Lamennais argumentava a respeito da necessidade da religião, baseando seus apelos na autoridade da tradição e a razão geral da Humanidade, em vez do individualismo do julgamento privado. Embora advogasse o Ultramontanismo na esfera religiosa, em suas crenças políticas era um liberal que advogava a separação do Estado da Igreja, a liberdade de consciência, educação e imprensa.
Depois da revolução de julho, em 1830, Lamennais, junto com Henri Lacordaire (Os expoentes da Codificação XVIII) e Charles de Montalembert, além de um grupo entusiástico de escritores do Catolicismo Romano Liberal, fundou o jornal "L'Avenir". Neste jornal diário, defendia Lamennais os princípios democráticos, a separação da Igreja do Estado, criando embaraços para si tanto com a hierarquia eclesiástica francesa quanto com o governo do rei Luís Felipe.
O Papa Gregório XVI desautorizou as opiniões de Lamennais na Encíclica Mirari vos, em agosto de 1831. A partir de então, Lamennais passa a atacar o Papado e as monarquias europeias, escrevendo o famoso poema "Palavras de um crente", condenado na Encíclica papal Singulari vos, em julho de 1834. O resultado foi a exclusão de Lamennais da Igreja.
Incansável, ele se devotou à causa do povo, colocando sua caneta a serviço do republicanismo e do socialismo. Escreveu trabalhos como "O Livro do Povo "(1838), "Os afazeres de Roma" e "Esboço de uma Filosofia". Chegou a ser condenado à prisão, mas,  já em 1848 foi eleito para a Assembleia Nacional, aposentando-se em 1851.
Por ocasião de sua morte, em Paris, em 27 de fevereiro de 1854, não desejando se reconciliar com a Igreja, foi sepultado em uma cova de indigente.
No Mundo Espiritual, não permaneceu ocioso, eis que em O Livro dos Espíritos, na pergunta de número 1009, se encontra uma mensagem de sua lavra, ilustrando a resposta. Nela, revela os traços da sua fé, concitando as criaturas a aproximar-se do bom pastor e do Pai Criador, combatendo com vigor a crença das penas eternas.
Na mensagem que assina em O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XI, item 15, ele se revela o ser compassivo, que conclama as criaturas a obedecer a voz do coração, oferecendo, se for necessário, a própria pela vida de um malfeitor.




sábado, 25 de agosto de 2018

Camelôs e Vendilhões Modernos na Encruzilhada do Movimento Espírita Brasileiro[1]




Jorge Hessen - jorgehessen@gmail.com

São intoleráveis os abjetos festivais de eventos “espíritas”, mormente grandiosos, inócuos e excludentes a exemplo de seminários, congressos, simpósios, encontros “fraternos”, quase sempre onerosos, soberbos, luxuosos, e constantemente destinados à elite “espírita” aquinhoada.
Nos tais eventos entronizam-se shows de oratória retumbantes (ocas de humildade), através de palestras (algumas plagiadas), desgastadas, repetidas e supérfluas. Porém os líderes espíritas atuais conservam-se sob a hipnose do “canto de sereia da fama ou da santificação”, sempre de olho na arrecadação dos recursos financeiros para desgastados programas sociais.
É óbvio que não estão no legítimo caminho do Cristo!... Ouço com insistência nos diversos centros que frequento sobre práticas consideradas estranhas e dispensáveis para a boa difusão do Espiritismo.
Frequentei várias instituições onde alguns divulgadores famosos são alcunhados (nos bastidores logicamente) de "camelôs ambulantes do Espiritismo", porque negociam e ofertam suas produções literárias (mediúnicas ou não), CD’s e DVD’s nos balcões de negócio preparados para que após suas “palestras espetacularizadas” sejam vendidos em “prol” do surrado assistencialismo “espírita” em que se vangloriam concretizar.
Tal modelo propagandista do “Espiritismo” que ganhou relevo após a desencarnação do Chico Xavier é, sem dúvida nenhuma, a deterioração da proposta dos princípios espíritas destinados a todos, ao alcance de todos.
Observemos a entrevista que o Chico Xavier concedeu ao Dr. Jarbas Leone Varanda e que foi publicada no jornal uberabense “O Triângulo Espírita”, de 20 de março de 1977, republicada no Livro “Encontro no Tempo”, organizado por Hércio M.C. Arantes e editado pela IDE em 1979. O amoroso Chico Xavier advertiu que
"é preciso fugir da tendência à ‘elitização’ no seio do movimento espírita (...) o Espiritismo veio para o povo. É indispensável que o estudemos junto com as massas mais humildes, social e intelectualmente falando, e delas nos aproximemos (...). Se não nos precavermos, daqui a pouco estaremos em nossas Casas Espíritas, apenas, falando e explicando o Evangelho de Cristo às pessoas laureadas por títulos acadêmicos ou intelectuais (...)”.
Lembro quando puliquei o artigo “INDUSTRIALIZAÇÃO DE EVENTOS ESPÍRITAS ‘GRANDIOSOS’” [2], o ex-reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora, e escritor espírita, José Passini, afirmou:
Seu artigo, Jorge Hessen, deveria ser eternizado em placa de bronze e distribuído às instituições espíritas. Você acertou em cheio no monstro que desgraçadamente cresce em nosso meio.
Certamente os Benfeitores espirituais, conscientes dos despautérios sobre a desprezível “ELITIZAÇÃO DO ESPIRITISMO” estejam nos alertando para um tempo de necessárias e urgentes mudanças.
É infame, muito deprimente mesmo! Não é fácil testemunhar esse nefasto cenário sem utilizar o brado da repulsa, através da voz (escrita) e sugerir mudanças. Sobre isso, faço a minha parte destemidamente e sem amarfanhar a própria consciência.
É urgentíssimo dar um basta à grave vocação elitista do movimento espírita brasileiro.
Em verdade, de duas, uma! Ou o Espiritismo chega à massa dos espíritos visíveis (encarnados), especialmente os “filhos do Calvário”, os deserdados, para justificar sua mensagem ou submergirá no fosso profundo da hipocrisia e não haverá mais razão e nem legitimidade divulgar o Evangelho através da Terceira Revelação.


sexta-feira, 24 de agosto de 2018

SEGREDO DOS INVEJÁVEIS[1]



Orson Peter Carrara

Imagine o que é ser invejável. Por outro lado, como é a estrutura de uma pessoa considerada invejável? E se ampliarmos a questão para famílias invejáveis? Qual o segredo delas? E como se relacionam os invejáveis?
Inveja é algo ridículo. Invejar posição ou bens alheios demonstra incapacidade de descobrir os próprios talentos, perdendo a chance de crescimento no tempo que se dedica ao desgosto com o bem ou a felicidade alheia. Ridículo, dispensável, verdadeira tolice.
Cada qual tem sua própria habilidade, sua própria capacidade, para não dizer várias, que deve ser movimentada no sentido do próprio crescimento. Porque ficar se ocupando e se martirizando com as conquistas alheias? É dessa tortura inútil que surgem as calúnias e tantos prejuízos nos relacionamentos que poderiam muito bem ser mais saudáveis.
Mas, o foco aqui é outro. Desejamos focar que todos podem transformar os desafios diários em verdadeiros e autênticos tesouros de crescimento. Pois afinal, a palavra invejável, por mais paradoxal que possa parecer, muda o sentido da inveja e torna-se apreciável até como estímulo e motivação.
A definição da palavra é: que merece ser invejado; apetecível; precioso. Sim, porque demonstra e traz alguém que se esforçou, que se dedicou, que conquistou e, portanto, merece ser exemplo para muitos outros.
Podemos começar dizendo que o invejável é alguém bem acordado para as oportunidades diárias que a vida oferece. É alguém com tenacidade, pois enquanto isso é sonho para muitos, é realidade para o invejável. Por outro lado, não se prende à culpa, não fica se comparando; liberta-se da necessidade de aprovação, ama e sabe ser amado, cresce com as inimizades; dribla a ansiedade, tem consciência da brevidade da vida e não perde tempo com tolices, não se rende à preguiça, está sempre se recriando, utiliza as adversidades a seu favor e tira os projetos do papel, tornando-os realidade.
Notem os leitores. São posturas de decisão, criatividade, iniciativa, trabalho, esforço.
Todas essas reflexões estão no belo livro de Lígia Guerra, editado pela Editora Gente, e que traz o título “O Segredo dos Invejáveis”. Lígia é psicóloga, reside em Curitiba, e sua sensibilidade pode ajudar muitas pessoas no foco psicológico que muitas vezes nos deixamos conduzir com pessimismo, medo ou tantas inseguranças. Lígia destaca, com exemplos marcantes, essa postura de superar obstáculos e prosseguir progredindo. Visite o site www.ligiaguerra.com e, quando puder pesquise pelo Google o vídeo “Lígia Guerra fala do desejo feminino de ser sempre certinha”. No youtube o leitor também encontra muitas reportagens e entrevistas com a citada autora.
Trazendo o assunto para a ótica espírita, a abrangência é notável, face a essa imperfeição moral gritante que é a inveja. Que faz sofrer, que gera angústias, que divide ou separa e destrói grupos e iniciativas.
Allan Kardec e os espíritos trouxeram o assunto com muita lucidez na Codificação e na Revista Espírita. Dada a quantidade de pesquisa que a palavra permite, sugiro ao leitor acessar o portal www.kardecpedia.com e digitar a palavra inveja. E terá vasto material de pesquisa e consulta. Aliás, o site é uma maravilha. Não deixe de visitar. É, digamos, “invejável”...

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

O REPOUSO ENFRAQUECE[1]



Vania Mugnato de Vasconcelos

O ser humano, naturalmente, faz todo o possível para evitar as aflições da vida terrena, minimizando ou fazendo cessar as dificuldades, dores, privações materiais e sofrimentos morais.
Essa conduta é positiva, não é preciso, necessariamente, sofrer para algum dia, na vida futura, ser feliz, sendo uma ambição saudável e lícita o desejo de conquistar a felicidade durante a existência carnal.
Nosso planeta é difícil, há nele todo tipo de dificuldades, intempéries e comportamentos humanos que geram, em resposta, repercussões por vezes dolorosas, aumentando os desafios da existência. Por outro lado, espiritualmente, falando, a Terra integra a categoria dos mundos de expiações, exatamente porque as almas aqui encarnadas são aprendizes no roteiro da evolução, falhando e recebendo amargos resultados de suas ações equivocadas.
Assim, evitar dificuldades é algo que todos procuram. Há quem busque furtar-se a elas a qualquer preço e quem abra mão de satisfazer desejos importantes porque o esforço durante a jornada é maior do que a vontade de alcançar o objetivo máximo de suas existências.
Há quem prefira viver no comodismo ou ter pouquíssimos desafios por temerem enfrentar a batalha que precisariam para vencer e subirem ao podium da existência para erguer a taça de suas conquistas morais e materiais.
Escolha enganosa! Campeões suam muito para atingir seus objetivos! Vivem para buscar o melhor e suportam, corajosamente, o que não pode ser mudado, afinal nem tudo ocorre como desejamos.
Mesmo que se negue, ninguém se satisfaz, verdadeiramente, sem ter merecido o que recebeu e pouco valor se dá ao que se auferiu sem esforço. Mesmo que alguém pense que não se importa, a satisfação plena chega após a conquista e não há conquista sem coragem e luta.
“O militar que não é enviado à frente de batalha não fica satisfeito, porque o repouso no acampamento não lhe proporciona nenhuma promoção.” (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. V, item I).
Por mais atrativa que possa parecer a facilidade, o repouso nos enfraquece. Quem é testado nas dificuldades, descobre potenciais, desenvolve força, avança na vida material, intelectual, espiritual e moral. Será no dia que a morte nos pedir o corpo material que conheceremos nossa posição no mundo dos espíritos, resultado natural do quanto nos esforçamos.

terça-feira, 21 de agosto de 2018

MISTIFICAÇÕES[1]



Uma carta de Locarno contém a seguinte passagem:

...Para mim a dúvida seria impossível, pois tenho uma filha, que é excelente médium, e meu próprio filho escreve. Mas, ah! ele recebeu tão cruéis mistificações, que seu desânimo me contagiou um pouco, sem, contudo, abalar nossa crença tão pura e consoladora, não obstante os pesares que experimentamos quando nos vemos enganados por respostas decepcionantes. Por que, então, permite Deus que os bem-intencionados sejam assim enganados por aqueles que os deveriam esclarecer?...
Resposta – O mundo corpóreo, retornando ao mundo espírita pela morte, e o mundo espírita, fazendo o caminho inverso pela reencarnação, resulta que a população normal do espaço que circunda a Terra é composta de Espíritos provenientes da Humanidade terrestre. Sendo esta Humanidade uma das mais imperfeitas, não pode dar senão produtos imperfeitos, razão por que à sua volta pululam os Espíritos maus. Pela mesma razão, nos mundos mais adiantados, onde o bem reina sem limite, só há Espíritos bons. Admitindo isto, compreender-se-á que a intromissão, tão frequente, dos Espíritos maus nas relações mediúnicas é inerente à inferioridade do nosso globo; aqui se corre o risco de ser vítima dos Espíritos enganadores, como num país de ladrões o de ser roubado. Não se poderia perguntar, também, por que permite Deus que pessoas honestas sejam despojadas por larápios, vítimas da malevolência e alvo de toda sorte de misérias?
Perguntai antes por que estais na Terra, e vos será respondido que é porque não merecestes um lugar melhor, salvo os Espíritos que aqui estão em missão. É preciso, pois, sofrer-lhe as consequências e envidar esforços para dela sair o mais cedo possível. Enquanto isto, é necessário esforçar-se por se preservar das investidas dos Espíritos maus, o que só se consegue lhes fechando todas as brechas que lhes poderiam dar acesso em nossa alma, a eles se impondo pela superioridade moral, a coragem, a perseverança e uma fé inabalável na proteção de Deus e dos Espíritos bons, no futuro que é tudo, ao passo que o presente nada é. Mas como ninguém é perfeito na Terra, ninguém se pode vangloriar, sem orgulho, de estar ao abrigo de suas malícias de maneira absoluta. Sem dúvida a pureza de intenções é importante; é a rota que conduz à perfeição, mas não é a perfeição e, ainda, pode haver, no fundo da alma, algum velho fermento. Eis por que não há um só médium que não tenha sido mais ou menos enganado.
A simples razão nos diz que os Espíritos bons não podem fazer senão o bem, pois, do contrário, não seriam bons, e que o mal só pode vir dos Espíritos imperfeitos. Portanto, as mistificações só podem provir de Espíritos levianos ou mentirosos, que abusam da credulidade e, muitas vezes, exploram o orgulho, a vaidade ou outras paixões. Tais mistificações têm o objetivo de pôr à prova a perseverança, a firmeza na fé e exercitar o julgamento. Se os Espíritos bons as permitem em certas ocasiões, não é por impotência de sua parte, mas para nos deixar o mérito da luta. A experiência que se adquire à sua custa sendo mais proveitosa, se a coragem diminuir, é uma prova de fraqueza que nos deixa à mercê dos Espíritos maus. Os Espíritos bons velam por nós, assistem-nos e nos ajudam, mas sob a condição de nos ajudarmos a nós mesmos.
O homem está na Terra para a luta; precisa vencer para dela sair, senão fica nela.




[1] Revista Espírita – Agosto/1863 – Allan Kardec

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

EUGÈNE OSTY[1]

1874 - 1938




Foi médico neurologista de fama internacional.

Vice-Presidente Honorário da Nacional Harry Laboratório de Pesquisas Psíquicas e Fundador e Diretor do IMI (Instituto de Metapsíquica Internacional) entre os anos de 1924-1938, sendo que atualmente ainda existente este Instituto em Paris. E foi o mais destacado pesquisador Psíquico da França de sua época.

Eugène Osty começou o seu interesse pela paranormalidade em 1909 quando uma cartomante lhe deu uma leitura incrivelmente precisa. No ano seguinte ele começou a sua investigação sobre o que ele chamou “Metapsiquica” e resumiu as suas pesquisas em 1913 na sua obra Lucidité et Intuition (Lucidez e Intuição). Em seu retorno da guerra, Gustave Geley convidou-o a participar do Comitê Gestor do IMI aonde colaborou ativamente com outros pesquisadores espíritas, incluindo o ilustre fisiologista Charles Richet e o astrônomo Camille Flammarion.

Com a morte de Gustave Geley que era seu amigo, Charles Richet lhe pediu para suceder como Diretor do IMI. Osty assim permanecerá até sua morte em 1938. Eugène Osty abandonou a sua carreira como médico, para se dedicar inteiramente ao IMI e ao estudo da psicologia aonde ele organiza e supervisiona as experiências, especialmente com Jean Guzik, em seguida, com o médium austríaco Rudi Schneider. Além disso, ele estabeleceu durante os anos de sessões espíritas com o médium Pascal Joan Fortuny Laplace.

Em seus trabalhos de pesquisas no campo experimental da fenomenologia espírita, ele declarou, em sua obra "La Connaissance Supranormale", o seguinte:

Impõe-se a evidência de que estamos diante de um foco dínamo-psíquico, donde emanam manifestações de ilimitado poder. Além do consciente, encontra-se a propriedade de transformar a matéria viva, de torná-la amorfa, de exteriorizá-la e de fazer dela novas formas vivas. Além do consciente, encontra-se a propriedade de perceber o imperceptível, de conhecer o ignorado.

Desconhecem-se, ainda, limitadamente, no fundo do ser humano, os atributos de que os filósofos ornaram o conceito divino - potência criadora, fora do tempo e do espaço. E ninguém está autorizado a presumir o que a investigação precisa, metódica, progressiva, poderá ainda descobrir.

Como se vê, o Dr. Osty foi um dos que mais se preocuparam com a pesquisa dos fenômenos espíritas abordando-os sob o aspecto puramente científico.

Publicações de Eugène Osty: Lucidité et Intuition (1913), Le Sens de la Vie humaine (1919), La Connaissance supranormale (1925), Les Pouvoirs Inconnus de l’Esprit sur la Matière (1932).

sábado, 18 de agosto de 2018

Unificação[1]




Bezerra de Menezes

O serviço de Unificação em nossas fileiras é urgente, mas não apressado. Uma afirmativa parece destruir a outra. Mas não é assim. É urgente porque define o objetivo a que devemos todos visar; mas não apressado, porquanto não nos compete violentar consciência alguma.
Mantenhamos o propósito de irmanar, aproximar, confraternizar e compreender, e, se possível, estabeleçamos em cada lugar, onde o nome do Espiritismo apareça por legenda de luz, um grupo de estudo, ainda que reduzido, da Obra Kardequiana, à luz do Cristo de Deus.
Nós que nos empenhamos carinhosamente a todos os tipos de realização respeitável que os nossos princípios nos oferecem, não podemos esquecer o trabalho do raciocínio claro para que a vida se nos povoe de estradas menos sombrias. Comparemos a nossa Doutrina Redentora a uma cidade metropolitana, com todas as exigências de conforto e progresso, paz e ordem. Indispensável a diligência no pão e no vestuário, na moradia e na defesa de todos; entretanto, não se pode olvidar o problema da luz. A luz foi sempre uma preocupação do homem, desde a hora da furna primeira. Antes de tudo, o fogo obtido por atrito, a lareira doméstica, a tocha, os lumes vinculados às resinas, a candeia e, nos tempos modernos, a força elétrica transformada em clarão.
A Doutrina Espírita possui os seus aspectos essenciais em configuração tríplice. Que ninguém seja cerceado em seus anseios de construção e produção. Quem se afeiçoe à ciência que a cultive em sua dignidade, quem se devote à filosofia que lhe engrandeça os postulados e quem se consagre à religião que lhe divinize as aspirações, mas que a base kardequiana permaneça em tudo e todos, para que não venhamos a perder o equilíbrio sobre os alicerces e que se nos levanta a organização.
Nenhuma hostilidade recíproca, nenhum desapreço a quem quer que seja. Acontece, porém, que temos necessidade de preservar os fundamentos espíritas, honrá-los e sublimá-los, senão acabaremos estranhos uns aos outros, ou então cadaverizados em arregimentações que nos mutilarão os melhores anseios, convertendo-nos o movimento de libertação numa seita estanque, encarcerada em novas interpretações e teologias, que nos acomodariam nas conveniências do plano inferior e nos afastariam da Verdade.
Allan Kardec, nos estudos, nas cogitações, nas atividades, nas obras, a fim de que a nossa fé não faça hipnose, pela qual o domínio da sombra se estabelece sobre as mentes mais fracas, acorrentando-as a séculos de ilusão e sofrimento.
Libertação da palavra divina é desentranhar o ensinamento do Cristo de todos os cárceres a que foi algemado e, na atualidade, sem querer qualquer privilégio para nós, apenas o Espiritismo retém bastante força moral para se não prender a interesses subalternos e efetuar a recuperação da luz que se derramado verbo cristalino do Mestre, dessedentando e orientando as almas.
Seja Allan Kardec, não apenas crido ou sentido, apregoado ou manifestado, a nossa bandeira, mas suficientemente vivido, sofrido, chorado e realizado em nossas próprias vidas. Sem essa base é difícil forjar o caráter espírita-cristão que o mundo conturbado espera de nós pela unificação.
Ensinar, mas fazer; crer, mas estudar; aconselhar, mas exemplificar; reunir, mas alimentar.
Falamos em provações e sofrimentos, mas não dispomos de outros veículos para assegurar a vitória da verdade e do amor sobre a Terra. Ninguém edifica sem amor, ninguém ama sem lágrimas.
Somente aqui, na vida espiritual, vim aprender que a cruz de Cristo era uma estaca que Ele, o Mestre, fincava no chão para levantar o mundo novo. E para dizer-nos em todos os tempos que nada se faz de útil e bom sem sacrifícios, morreu nela. Espezinhado, batido, enterrou-a no solo, revelando-nos que esse é o nosso caminho - o caminho de quem constrói para Cima, de quem mira os continentes do Alto.
É indispensável manter o Espiritismo, qual foi entregue pelos Mensageiros Divinos a Allan Kardec, sem compromissos políticos, sem profissionalismo religioso, sem personalismos deprimentes, sem pruridos de conquista a poderes terrestres transitórios.
Respeito a todas as criaturas, apreço a todas as autoridades, devotamento ao bem comum e instrução do povo, em todas as direções, sobre as Verdades do espírito, imutáveis, eternas.
Nada que lembre castas, discriminações, evidências individuais injustificáveis, privilégios, imunidades, prioridades.
Amor de Jesus sobre todos, verdade de Kardec para todos.
Em cada templo, o mais forte deve ser escudo para o mais fraco, o mais esclarecido a luz para o menos esclarecido, e sempre e sempre seja o sofredor o mais protegido e o mais auxiliado, como entre os que menos sofram seja o maior aquele que se fizer o servidor de todos, conforme a observação do Mentor Divino.

Sigamos para a frente, buscando a inspiração do Senhor.  





[1] Mensagem recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, em reunião da Comunhão Espírita Cristã, em 20-4-1963, em Uberaba, MG. (Reformador - dez/1975)

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

A VERDADEIRA HONESTIDADE[1]



Richard Simonetti

José Brê faleceu em 1840. Dois anos depois, numa reunião mediúnica, em Bordéus, foi evocado por sua neta, em manifestação registrada no livro O Céu e o Inferno, de Allan Kardec. O diálogo entre ambos é um repositório marcante de ensinamentos que merecem nossa reflexão.

Caro avô, o senhor pode dizer-me como vos encontrais no mundo dos Espíritos e dar-me quaisquer pormenores úteis ao meu progresso?
– Tudo o que quiser, querida filha. Eu expio a minha descrença, porém grande é a bondade de Deus, que atende às circunstâncias. Sofro, mas não como poderias imaginar. É o desgosto de não ter melhor aproveitado o tempo aí na Terra.

Como não o empregou? Pois o senhor não viveu sempre honestamente?
– Sim, no juízo dos homens; mas há um abismo entre a honestidade perante os homens e a honestidade perante Deus.

O Espírito coloca o dedo na ferida, porquanto o grande problema no estágio em que nos encontramos é harmonizar a honestidade perante os homens com a honestidade perante Deus.
O rico empresário que explora seus funcionários, pagando-lhes salário irrisório para ampliar os lucros. O investidor que se vangloria de ter comprado imóvel por fração de seu valor, porque o proprietário estava com a corda no pescoço. O funcionário que aciona a empresa de onde foi demitido, reivindicando benefícios imerecidos. O médico que mantém o paciente terminal numa UTI, prolongando sua agonia para engordar sua remuneração. O governante que, para conquistar adesões, nomeia para cargos de confiança pessoas sem qualificação profissional…
Atuam todos estritamente dentro das leis humanas, mas infringem leis divinas, enquadrados em hipocrisia, um dos delitos mais veementemente condenados por Jesus.

Diz o Espírito:
Não é difícil ter epitáfio de honestidade perante os homens, pagando as contas em dia, não emitindo cheque sem fundos, não tendo o nome sujo na praça...

José Brê explica o que é não transgredir as leis divinas:
Honesto aos olhos de Deus será aquele que, possuído de abnegação e amor, consagre a existência ao bem, ao progresso dos semelhantes.

Aquele que, animado de um zelo sem limites, for ativo no cumprimento dos deveres materiais, ensinando e exemplificando aos outros o amor ao trabalho. Ativo nas boas ações sem esquecer a condição do servo ao qual o Senhor pedirá contas um dia do emprego do seu tempo. Ativo finalmente na prática do amor de Deus e do próximo.
Assim, o homem honesto, perante Deus, deve evitar cuidadosamente as palavras mordazes, veneno escondido nas flores, que destrói reputações e acabrunha o homem, muitas vezes cobrindo-o de ridículo.
O homem honesto, segundo Deus, deve ter sempre cerrado o coração a quaisquer germes de orgulho, de inveja, de ambição. Deve ser paciente e benévolo para com aqueles que o agredirem. Deve perdoar do fundo d’alma, sem esforços e sobretudo sem ostentação, a quem quer que o ofenda.

– Estou perdido! – espantava-se um amigo, após a leitura desse trecho da comunicação – Acabo de descobrir que sou extremamente desonesto no contexto das leis divinas.

Forçoso reconhecer, entretanto, que raros podem dizer que cumprem integralmente preceitos dessa natureza e, sobretudo, a regra áurea de Jesus, no exercício do amor.
José Brê tinha a seu favor o fato de desconhecer a vida espiritual, o que nos espera na grande transição, e o que é, legitimamente, ser honesto aos olhos de Deus.
Dessa vantagem não desfrutamos nós, espíritas, não desfrutará você, caro leitor, após ler essa mensagem tão significativa que anula para nós o benefício da ignorância.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

”Tenho ainda muito que vos dizer, mas não o podeis suportar agora” [1]


No tempo de Jesus, os homens não estavam à altura de compreender a verdade espiritual – O Mestre prometeu e, no momento oportuno, enviou ao mundo o Consolador – Como a história se repete.
“Jesus Cristo disse: Enviarei o Consolador. E ele já veio, mas o mundo ainda não o sabe!” Estas palavras foram proferidas por um dos mais notáveis escritores contemporâneos, sir Arthur Conan Doyle, na sessão de abertura do Congresso Espírita Internacional, realizado em Londres, de 7 a 12 de setembro de 1928.
O que é esse Consolador, prometido por Jesus? É aquele Espírito de esclarecimento e de justiça, que viria lembrar o que Jesus ensinara, completar o seu ensino e guiar o homem “à toda a verdade”.
E quem disse essas coisas a seu respeito, senão o próprio Mestre, como vemos em João, 14 e 16? Há quem afirme que Jesus ensinou tudo e nada deixou para outros ensinarem. Mas, quem pode ter autoridade para desmentir o Mestre, uma vez que foi ele mesmo quem afirmou:
Tenho ainda muito que vos dizer, mas não o podeis suportar agora; quando vier, porém, aquele Espírito de Verdade, ele vos guiará a toda a verdade. (João, 16:12-13).
Quem disse, pois, que não havia completado o seu ensino, foi o próprio Senhor. E fez mais, prometendo o Espírito de Verdade, para o completar. Os teólogos explicam, por várias maneiras, esta passagem, ajustando-as a seus diversos sistemas. Mas Kardec acentua, no capítulo sexto de O Evangelho segundo o Espiritismo, com simplicidade e clareza:
Se o Espírito de Verdade deve vir mais tarde, para ensinar todas as coisas, é que nem tudo foi dito por Jesus Cristo; e se vem recordar o que Ele disse, é porque isso foi esquecido ou mal compreendido.
Em João 16:12, a razão da vinda do Espírito da Verdade está bem esclarecida. Jesus afirma que os homens do seu tempo ainda não podiam suportar a verdade em sua plenitude. Isso é tão claro como a luz meridiana. E a história nos mostra que assim era, de fato, pois os homens acabaram misturando os ensinos de Jesus com religiões e filosofias pagãs, para construírem sistemas de cultos e de teologia que não foram ensinados pelo Mestre.
A Reforma Protestante foi um grande esforço para libertar o Cristianismo dos enxertos pagãos. E foi também o primeiro sinal do Espírito de Verdade, que viria logo mais, fora das igrejas e das organizações sacerdotais, exatamente como acontecera na vinda de Jesus, para lembrar aos homens a essência dos ensinos do Mestre e dar-lhes a explicação exata do processo da vida.
Compreende-se, assim, a expressão de Conan Doyle. O grande escritor lamentava a incompreensão da maioria dos homens, que repetem em nossos dias a mesma atitude dos judeus no tempo de Jesus. O Espírito de Verdade veio ao mundo na hora precisa. E é ainda Kardec quem melhor o esclarece, no seu livro A Gênese.
Porque foi necessário que os homens trabalhassem durante quase dois milênios, aprimorando seus conhecimentos e elevando o seu mental, para se tornarem capazes de o compreender. Quem ensina, pois, através do Espiritismo, não é Kardec, nem são os kardecistas, mas o Espírito de Verdade, entidade angélica, superior, enviada do Cristo, seguida por uma grande falange de Espíritos do Senhor. A promessa se cumpriu, e felizes os que têm olhos para ver a sua realização na terra!
O mais curioso, porém, em tudo isso, é que as acusações formuladas a Jesus, aos seus discípulos e à sua doutrina, por judeus, gregos e romanos, são repetidas hoje, por cristãos e não-cristãos, ao Espírito de Verdade e seus servidores. O Espiritismo é acusado, inclusive, de não possuir um sistema ético, quando esse sistema é o do próprio Cristo. A moral espírita não é outra senão a moral evangélica, como qualquer pessoa desapaixonada pode ver, na simples leitura de O Livro dos Espíritos e de O Evangelho segundo o Espiritismo. Os espíritas são acusados de bruxos, de feiticeiros, como os cristãos primitivos o foram. E nega-se a filosofia espírita, da mesma maneira por que os estoicos, os epicuristas e os céticos negavam a filosofia cristã, e os sacerdotes judeus e pagãos negavam valor filosófico a Jesus e aos seus seguidores.
Graças a Deus, os espíritas estão aprendendo a sua doutrina, penetrando mais a fundo na essência poderosa do Evangelho de Jesus, que os ajuda a se transformarem, e assim já não aceitam esses desafios antifraternos. Preferem manter-se firmes em seus princípios, confiantes na força da verdade, e responder às agressões com esclarecimentos. Não consideramos as interpretações evangélicas dos outros, as formas religiosas alheias, como simples formas de divertimento. Aprendemos, no Evangelho, a respeitar os sentimentos e as convicções dos demais. Aquele que nos ensinou o amor como base da vida espiritual, e nos mandou amar até os inimigos, não aprovaria, certamente, nossas agressões sectárias a irmãos de outras crenças.
Esta seção não tem finalidade polêmica. É uma porta aberta ao público leitor, para conhecimentos da doutrina espírita, como as seções católicas e protestantes o são, com referência às respectivas doutrinas. Mas, quando irmãos de outras crenças vêm bater, ansiosos e aflitos, à nossa porta, não podemos recusar-lhes a hospitalidade. Que Jesus nos ampare, a fim de não nos desviarmos, nunca, do nosso objetivo, que é revelar, a todos os que se interessam pela verdade, aquilo que o Espírito de Verdade nos Ensinou, através da doutrina consoladora do Espiritismo.




[1] O Mistério do Bem e do Mal – J. Herculano Pires