sexta-feira, 17 de agosto de 2018

A VERDADEIRA HONESTIDADE[1]



Richard Simonetti

José Brê faleceu em 1840. Dois anos depois, numa reunião mediúnica, em Bordéus, foi evocado por sua neta, em manifestação registrada no livro O Céu e o Inferno, de Allan Kardec. O diálogo entre ambos é um repositório marcante de ensinamentos que merecem nossa reflexão.

Caro avô, o senhor pode dizer-me como vos encontrais no mundo dos Espíritos e dar-me quaisquer pormenores úteis ao meu progresso?
– Tudo o que quiser, querida filha. Eu expio a minha descrença, porém grande é a bondade de Deus, que atende às circunstâncias. Sofro, mas não como poderias imaginar. É o desgosto de não ter melhor aproveitado o tempo aí na Terra.

Como não o empregou? Pois o senhor não viveu sempre honestamente?
– Sim, no juízo dos homens; mas há um abismo entre a honestidade perante os homens e a honestidade perante Deus.

O Espírito coloca o dedo na ferida, porquanto o grande problema no estágio em que nos encontramos é harmonizar a honestidade perante os homens com a honestidade perante Deus.
O rico empresário que explora seus funcionários, pagando-lhes salário irrisório para ampliar os lucros. O investidor que se vangloria de ter comprado imóvel por fração de seu valor, porque o proprietário estava com a corda no pescoço. O funcionário que aciona a empresa de onde foi demitido, reivindicando benefícios imerecidos. O médico que mantém o paciente terminal numa UTI, prolongando sua agonia para engordar sua remuneração. O governante que, para conquistar adesões, nomeia para cargos de confiança pessoas sem qualificação profissional…
Atuam todos estritamente dentro das leis humanas, mas infringem leis divinas, enquadrados em hipocrisia, um dos delitos mais veementemente condenados por Jesus.

Diz o Espírito:
Não é difícil ter epitáfio de honestidade perante os homens, pagando as contas em dia, não emitindo cheque sem fundos, não tendo o nome sujo na praça...

José Brê explica o que é não transgredir as leis divinas:
Honesto aos olhos de Deus será aquele que, possuído de abnegação e amor, consagre a existência ao bem, ao progresso dos semelhantes.

Aquele que, animado de um zelo sem limites, for ativo no cumprimento dos deveres materiais, ensinando e exemplificando aos outros o amor ao trabalho. Ativo nas boas ações sem esquecer a condição do servo ao qual o Senhor pedirá contas um dia do emprego do seu tempo. Ativo finalmente na prática do amor de Deus e do próximo.
Assim, o homem honesto, perante Deus, deve evitar cuidadosamente as palavras mordazes, veneno escondido nas flores, que destrói reputações e acabrunha o homem, muitas vezes cobrindo-o de ridículo.
O homem honesto, segundo Deus, deve ter sempre cerrado o coração a quaisquer germes de orgulho, de inveja, de ambição. Deve ser paciente e benévolo para com aqueles que o agredirem. Deve perdoar do fundo d’alma, sem esforços e sobretudo sem ostentação, a quem quer que o ofenda.

– Estou perdido! – espantava-se um amigo, após a leitura desse trecho da comunicação – Acabo de descobrir que sou extremamente desonesto no contexto das leis divinas.

Forçoso reconhecer, entretanto, que raros podem dizer que cumprem integralmente preceitos dessa natureza e, sobretudo, a regra áurea de Jesus, no exercício do amor.
José Brê tinha a seu favor o fato de desconhecer a vida espiritual, o que nos espera na grande transição, e o que é, legitimamente, ser honesto aos olhos de Deus.
Dessa vantagem não desfrutamos nós, espíritas, não desfrutará você, caro leitor, após ler essa mensagem tão significativa que anula para nós o benefício da ignorância.

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