quinta-feira, 16 de agosto de 2018

”Tenho ainda muito que vos dizer, mas não o podeis suportar agora” [1]


No tempo de Jesus, os homens não estavam à altura de compreender a verdade espiritual – O Mestre prometeu e, no momento oportuno, enviou ao mundo o Consolador – Como a história se repete.
“Jesus Cristo disse: Enviarei o Consolador. E ele já veio, mas o mundo ainda não o sabe!” Estas palavras foram proferidas por um dos mais notáveis escritores contemporâneos, sir Arthur Conan Doyle, na sessão de abertura do Congresso Espírita Internacional, realizado em Londres, de 7 a 12 de setembro de 1928.
O que é esse Consolador, prometido por Jesus? É aquele Espírito de esclarecimento e de justiça, que viria lembrar o que Jesus ensinara, completar o seu ensino e guiar o homem “à toda a verdade”.
E quem disse essas coisas a seu respeito, senão o próprio Mestre, como vemos em João, 14 e 16? Há quem afirme que Jesus ensinou tudo e nada deixou para outros ensinarem. Mas, quem pode ter autoridade para desmentir o Mestre, uma vez que foi ele mesmo quem afirmou:
Tenho ainda muito que vos dizer, mas não o podeis suportar agora; quando vier, porém, aquele Espírito de Verdade, ele vos guiará a toda a verdade. (João, 16:12-13).
Quem disse, pois, que não havia completado o seu ensino, foi o próprio Senhor. E fez mais, prometendo o Espírito de Verdade, para o completar. Os teólogos explicam, por várias maneiras, esta passagem, ajustando-as a seus diversos sistemas. Mas Kardec acentua, no capítulo sexto de O Evangelho segundo o Espiritismo, com simplicidade e clareza:
Se o Espírito de Verdade deve vir mais tarde, para ensinar todas as coisas, é que nem tudo foi dito por Jesus Cristo; e se vem recordar o que Ele disse, é porque isso foi esquecido ou mal compreendido.
Em João 16:12, a razão da vinda do Espírito da Verdade está bem esclarecida. Jesus afirma que os homens do seu tempo ainda não podiam suportar a verdade em sua plenitude. Isso é tão claro como a luz meridiana. E a história nos mostra que assim era, de fato, pois os homens acabaram misturando os ensinos de Jesus com religiões e filosofias pagãs, para construírem sistemas de cultos e de teologia que não foram ensinados pelo Mestre.
A Reforma Protestante foi um grande esforço para libertar o Cristianismo dos enxertos pagãos. E foi também o primeiro sinal do Espírito de Verdade, que viria logo mais, fora das igrejas e das organizações sacerdotais, exatamente como acontecera na vinda de Jesus, para lembrar aos homens a essência dos ensinos do Mestre e dar-lhes a explicação exata do processo da vida.
Compreende-se, assim, a expressão de Conan Doyle. O grande escritor lamentava a incompreensão da maioria dos homens, que repetem em nossos dias a mesma atitude dos judeus no tempo de Jesus. O Espírito de Verdade veio ao mundo na hora precisa. E é ainda Kardec quem melhor o esclarece, no seu livro A Gênese.
Porque foi necessário que os homens trabalhassem durante quase dois milênios, aprimorando seus conhecimentos e elevando o seu mental, para se tornarem capazes de o compreender. Quem ensina, pois, através do Espiritismo, não é Kardec, nem são os kardecistas, mas o Espírito de Verdade, entidade angélica, superior, enviada do Cristo, seguida por uma grande falange de Espíritos do Senhor. A promessa se cumpriu, e felizes os que têm olhos para ver a sua realização na terra!
O mais curioso, porém, em tudo isso, é que as acusações formuladas a Jesus, aos seus discípulos e à sua doutrina, por judeus, gregos e romanos, são repetidas hoje, por cristãos e não-cristãos, ao Espírito de Verdade e seus servidores. O Espiritismo é acusado, inclusive, de não possuir um sistema ético, quando esse sistema é o do próprio Cristo. A moral espírita não é outra senão a moral evangélica, como qualquer pessoa desapaixonada pode ver, na simples leitura de O Livro dos Espíritos e de O Evangelho segundo o Espiritismo. Os espíritas são acusados de bruxos, de feiticeiros, como os cristãos primitivos o foram. E nega-se a filosofia espírita, da mesma maneira por que os estoicos, os epicuristas e os céticos negavam a filosofia cristã, e os sacerdotes judeus e pagãos negavam valor filosófico a Jesus e aos seus seguidores.
Graças a Deus, os espíritas estão aprendendo a sua doutrina, penetrando mais a fundo na essência poderosa do Evangelho de Jesus, que os ajuda a se transformarem, e assim já não aceitam esses desafios antifraternos. Preferem manter-se firmes em seus princípios, confiantes na força da verdade, e responder às agressões com esclarecimentos. Não consideramos as interpretações evangélicas dos outros, as formas religiosas alheias, como simples formas de divertimento. Aprendemos, no Evangelho, a respeitar os sentimentos e as convicções dos demais. Aquele que nos ensinou o amor como base da vida espiritual, e nos mandou amar até os inimigos, não aprovaria, certamente, nossas agressões sectárias a irmãos de outras crenças.
Esta seção não tem finalidade polêmica. É uma porta aberta ao público leitor, para conhecimentos da doutrina espírita, como as seções católicas e protestantes o são, com referência às respectivas doutrinas. Mas, quando irmãos de outras crenças vêm bater, ansiosos e aflitos, à nossa porta, não podemos recusar-lhes a hospitalidade. Que Jesus nos ampare, a fim de não nos desviarmos, nunca, do nosso objetivo, que é revelar, a todos os que se interessam pela verdade, aquilo que o Espírito de Verdade nos Ensinou, através da doutrina consoladora do Espiritismo.




[1] O Mistério do Bem e do Mal – J. Herculano Pires

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