Joanna de Ângelis - abril/2018
A humildade é uma virtude de
difícil aquisição, por exigir esforço para superar-se os instintos que
predominam em a natureza humana, especialmente o da sobrevivência.
Ao materialismo devem-se muitos
males, entre os quais aqueles que defluem dos estímulos e aplicações
pedagógicas em favor do ego e das suas mazelas. Há uma preocupação ancestral
dedicada à formação do caráter que privilegia a força pessoal, o destaque, a independência,
o poder. Essa preocupação em torno dos falsos conceitos de que o homem não
chora, o forte prevalece, o vitorioso é aquele que soube resguardar-se,
distante dos problemas alheios, demonstra que esses são elementos perniciosos e
que se opõem à humildade.
Cuida-se de condicionar o
educando à presunção, ao orgulho das suas conquistas em detrimento da
fragilidade de que todos os seres são formados.
Uma insignificante picada de um
instrumento infectado interrompe uma vida esplendorosa e um ser triunfante.
Modesto mosquito transmite vírus
terríveis que devoram existências poderosas.
Bastaria ligeira reflexão para a
criatura humana dar-se conta da sua fraqueza ante as forças da Vida e os
fatores destrutivos que pululam em toda parte.
No sentido inverso, a grandeza
cósmica que o deslumbra, pode dar-lhe dimensão da sua pequenez, levando-o a
considerações profundas quanto ao significado existencial.
A humildade é virtude essencial
para uma jornada feliz na Terra. Mediante a sua presença, percebe-se quanto se
deve trabalhar o íntimo para aformosear-se as aspirações e avançar-se na
solidariedade como fundamental comportamento para o equilíbrio.
Analisando-se as conquistas
conseguidas pela ciência e tecnologia, ao invés da presunção ingênua, perceber
o infinito de possibilidades a conhecer e de enigmas a solucionar.
O deslumbramento inicial pode
levar o rei da criação, dito ser a criatura humana, a esse estado de orgulho
infantil que o ilude a respeito dos poderes que lhe estão ao alcance das mãos
para a glória e o prazer, sempre relativos, da sua breve caminhada entre o
berço e o túmulo.
A vã ilusão de potência e
domínio na mocidade e idade adulta dilui-se quando as energias diminuem na
velhice e nos períodos de enfermidade, confirmando-lhe a fragilidade acima de
toda e qualquer robustez.
A maioria dos Hércules e Vênus
do culto ao corpo, passado o período específico dos esportes e dos exercícios
exaustivos, da alimentação sob rígido controle, tomba nos graves problemas
cardiológicos e outros que o excesso de técnicas e de substâncias que
contribuem para a beleza exterior, que agora se transforma em degenerescência e
debilidade.
A experiência terrestre tem como
essencial a finalidade do autodescobrimento, do sentido de existir, do
desenvolvimento da inteligência e do Si profundo.
Utilizar-se das ocorrências para
aprimorar-se é o programa da Vida para todos.
Jesus, que é o protótipo da
perfeição e da beleza de que se tem notícia, apagou a Sua grandeza na humildade
para ensinar a vitória sobre as paixões inferiores.
Deu o exemplo máximo da Sua
elevação na última ceia quando, cingindo-se com uma toalha, lavou os pés dos
discípulos, demonstrando que sendo o Senhor fazia-se servo para todos.
Incompreendido por Pedro, que se
Lhe recusara, explicou-Lhe que se o não fizesse nada teria com Ele, e o
apóstolo emocionado entregou-se-Lhe em totalidade.
A grandeza do Seu gesto
demonstra a força moral, o Seu poder de servir, deixando a lição perene como
advertência e orientação.
Cuida de penetrar-te até às
nascentes do coração, para que a mosca azul da vaidade não pouse na tua
insignificância.
Busca a simplicidade e a compreensão
existenciais, tendo em vista que tudo mais é transitório e tem somente o valor
que lhe atribuis.
Faze-te acessível e atento para
aprender com os pobres de espírito a forma de enriquecer-te de humildade e de
paz.
Nunca disputes projeção e destaque,
recordando o ensinamento de Jesus, quando informou que os primeiros serão os
últimos e estes serão os primeiros.
Afeiçoa-te ao anonimato, não
deixando sinais do bem que faças, a fim de que não sejas exaltado, qual ocorre
com muitos fúteis e irresponsáveis, que são louvados e bajulados sem mérito
real.
Mas não penses que humildade é
menosprezo, desconsideração por si mesmo, subalternidade, escondendo conflitos
de inferioridade.
A verdadeira humildade permite o
autoconhecimento em torno dos valores que são legítimos no ser, sem os exaltar
nem se engrandecer, compreendendo o quanto ainda necessitas para atingir o
ideal, tendo o prazer de sacrificar-se pelo conseguir.
Muitos Espíritos reencarnaram-se
com nobres missões e falharam, porque se ensoberbeceram e se permitiram as
glórias terrenas que os frustraram, abandonando-os na etapa final da vida.
Recorda-te daqueles outros que
se apagaram na humildade, adotando o sacrifício e a abnegação, edificando o bem
em vidas incontáveis.
Bem-aventurados os humildes de
coração e ricos de amor, porque eles fruirão a plenitude.
Nenhum comentário:
Postar um comentário