quinta-feira, 22 de março de 2018

MORTE E DESENCARNAÇÃO – Fenômenos nem sempre simultâneos[1]



F.Altamir da Cunha

Normalmente damos às palavras morrer e desencarnar o mesmo significado – fenômeno através do qual o Espírito retorna ao mundo espiritual.
No entanto, com mais rigor, podemos dizer que morte é o fenômeno biológico que acontece com a paralisação permanente dos órgãos vitais; e desencarnação, porém, é a libertação total do Espírito dos laços magnéticos que o prendem ao corpo físico.
Com base nesta diferença conceitual também podemos afirmar que morte e desencarnação nem sempre acontecem simultaneamente, pois existe entre ambas um intervalo de tempo que varia de alguns minutos a vários dias.
Talvez o leitor menos afeito à literatura espírita considere estranha tal afirmação, e isso nos convida ao necessário esclarecimento.
A mente é instrumento poderoso, e através do pensamento ela imprime no perispírito (corpo fluídico) marcas profundas ou superficiais, em forma de dependências maiores ou menores, que não serão extintas de imediato com o fenômeno da morte.
Se a morte não interrompe de imediato as impressões que o Espírito fixou em si mesmo, também não é de imediato que os laços que prendem o Espírito ao corpo se desfazem; daí a desencarnação não ser imediata à morte biológica.
“Impressões longamente fixadas, e sensações vividas com sofreguidão, assinalam profundamente os tecidos sutis do perispírito, impondo necessidades e dependências que a morte não logra de imediato interromper[2]”.
Quando consideramos as diferenças naturais resultantes do nível de evolução entre dois Espíritos, havemos de convir que, mesmo que a morte aconteça de forma idêntica e no mesmo instante para ambos, o tempo exigido para o processo desencarnatório poderá variar de minutos até meses ou anos.
André Luiz no livro “Ação e Reação” relata a desencarnação de 14 pessoas em um acidente de aviação, o que nos oportuniza sérias reflexões sobre o assunto:
Oito dos desencarnados no acidente jaziam em posição de choque, algemados aos corpos mutilados ou não; quatro gemiam, jungidos aos próprios restos, e dois deles, não obstante ainda enfaixados às formas rígidas, gritavam desesperados, em crises de inconsciência.

Atentemos neste exemplo, para o fato de que a causa e o instante da morte foram os mesmos para todos, no entanto, o despertamento foi diferente.
A lição a respeito dessa diferença entre morte e desencarnação torna-se mais surpreendente, neste caso estudado, quando André Luiz narra sobre o requerimento comovedor de um ancião desencarnado, rogando à mansão a remessa de uma equipe adestrada para a remoção de seis das catorze entidades desencarnadas no acidente.
A pergunta do leitor poderá surgir de imediato, como fez Hilário, companheiro de André Luiz, a respeito do motivo de auxílio para a remoção de seis desencarnados, quando na verdade eles eram catorze.
A resposta dada por Druso, orientador espiritual, como veremos a seguir, apenas confirma o que já falamos no início deste artigo: morrer (biologicamente) não é a mesma coisa que desencarnar (libertar-se do corpo). De certa forma, morrer é fácil, pois bastam uma parada cardíaca ou uma parada respiratória prolongadas para que, em alguns instantes, a vítima morra. No entanto, diferente do que muitos possam imaginar, a desencarnação requer mais ou menos tempo, de acordo com as conquistas interiores de cada um.
Respondeu Druso:
No momento serão retirados da carne tão-somente aqueles cuja vida interior lhes outorga a imediata liberação. Quanto aos outros, cuja situação presente não lhes favorece o afastamento rápido da armadura física, permanecerão ligados, por mais tempo, aos despojos que lhes dizem respeito[3]”.

Quanto mais, por própria deliberação, nos escravizamos às fortes impressões dos sentidos através dos vícios e apegos à matéria, mais tempo gastaremos para esgotar as energias acumuladas no nosso perispírito. Quanto mais nos submetemos às disciplinas do Espírito, com equilíbrio e sublimação, mais facilidades conquistaremos para nos libertarmos da carne, quando surpreendidos pelo fenômeno da morte.




[2] Temas da Vida e da Morte, FEB − Manoel Philomeno de Miranda / Divaldo Pereira.
[3] Ação e Reação, FEB, André Luiz/F. Cândido Xavier, p. 243.

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