Jorge Hessen
O que uma pessoa tende a
valorizar mais: satisfação sexual, dinheiro, comida, álcool, amigos ou elogios?
“Pesquisadores avaliaram os desejos e gostos de alguns estudantes
universitários sobre uma série de desejos e gostos, e os resultados, para
surpresa dos estudiosos, indicaram que os voluntários dão mais valor a um
elogio ou uma avaliação positiva do que comer sua comida preferida,
satisfazer-se sexualmente, beber, receber o salário do mês e até encontrar um
melhor amigo[2]”.
Portanto, embora surpresos, os
pesquisadores confirmaram que o desejo de se “sentir valorizado”, através de
elogios, triunfa sobre qualquer outra situação prazerosa. Cremos que estamos
observando gerações em que uma parcela gigantesca de cidadãos é constituída de
adultos condescendentes, imaturos para os obstáculos, decepções e desafios da
vida, incapazes de lidar com conflitos e dotados de uma alucinante certeza de
que o mundo lhes deve algo, por isso, exigem ser adulados.
Não há dúvida de que a ausência
de palavras e frases motivadoras, cada vez mais incomuns nos ambientes
domésticos, prejudica a relação parental. Raramente observam-se muitos homens
estimulando com palavras edificantes suas mulheres e vice-versa, não se
constata regularmente chefes estimulando com sinceridade o trabalho de seus
subordinados, não é muito comum pais e filhos estimulando-se com palavras
afetuosas.
Óbvio que o bom profissional,
inobstante não almeje, valoriza uma palavra e estímulo; o bom filho gosta de
ser reconhecido; o bom pai ou a boa mãe exultam de ser avaliados positivamente;
o bom amigo, a boa dona de casa, a mulher que se cuida, o homem que se dedica,
enfim, vivemos numa sociedade em que um precisa do outro; é impossível um homem
viver sozinho, e as palavras motivadoras (que não podem resvalar para elogios)
são a oxigenação de ânimo na vida de qualquer pessoa.
Desde que adentramos nos portais
dos ensinos kardecianos, aprendemos que o elogio (ainda que bem-intencionado)
nos amolece e ilude. E nada existe de mais frágil que uma criatura iludida a
seu próprio respeito. É verdade, os Benfeitores nos advertem a fim de que não
percamos nossa independência construtiva a troco de considerações humanas
(bajulações), posto que a armadilha que pune o animal criminoso é igual à que
surpreende o canário negligente.
Até mesmo nos momentos de
agruras de alguém, “nas horas difíceis, em que vemos um companheiro
despenhar-se nas sombras interiores, não olvidemos que, para auxiliá-lo, é tão
desaconselhável a condenação, quanto o elogio [3]”. Sussurra a prudência cristã que nunca
cederíamos campo à vaidade se não vivêssemos reclamando o deletério coquetel da
lisonja ao nosso egocentrismo doentio.
Invariavelmente ficamos
submissos às injunções sociais quando buscamos aprovação (bajulações) dos
outros, “quando permanecemos na posição de permanentes escravos e pedintes do
aplauso hipócrita e do verniz, da lisonja, condicionando-nos a viver sem
usufruir de liberdade de consciência, submetendo-nos a ser manipulados pelos
juízos e opiniões alheias [4]”.
O elogio nos arremessa à
presunção, a afetação nos remete à vaidade. Nesse insofreável desejo de chamar
a atenção alheia, queremos ser aplaudidos e reverenciados perante os outros.
Atualmente adota-se assustadoramente o hábito dos dirigentes incautos de
elogiar e exaltar oradores em público. Essas pompas e grandiloquências,
observadas à volta de alguns oradores famosos, é bem a repetição dos faustos do
cristianismo sem o Cristo.
A rigor, se alguém vem a público
dizer que um orador é "maravilhoso", "fantástico", "brilhante",
"inesquecível", "insubstituível" e outras bajulices,
logicamente está elogiando e jamais estimulando ou motivando tal “homenageado”.
Por essas razões, importa
vigiarmos as próprias manifestações, não nos julgando indispensáveis e
preferindo a autocrítica ao autoelogio, recordando que o exemplo da humildade é
a maior força para a nossa transformação moral. “Toda presunção evidencia
afastamento do Evangelho [5]”.
É imprescindível não elogiar
(adular) as pessoas que estejam agindo de conformidade com as nossas
conveniências, para não lhes criar empecilhos à caminhada enobrecedora, embora
nos constitua dever prestar-lhes assistência e carinho para que mais se
agigante nas boas obras. O elogio (adulação) é peçonha em forma verbal. Por
essa razão, não esqueçamos que “ainda quando provenha de círculos
bem-intencionados, urge recusar o tóxico da lisonja, pois no rastro do orgulho,
segue a ruína [6]”.
[2] Disponível no site https://goo.gl/FhH7Mm
-
acessado em 24/03/2011.
[3] XAVIER, Francisco Cândido. Fonte Viva, ditado pelo
Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2000, Cap. 37.
[4] XAVIER, Francisco Cândido. Saudação do Natal – Mensagem
“Trilogia da vida”, ditado pelo Espírito Cornélio Pires, SP: Editora CEU, 1996.
[5] VIEIRA, Waldo. Conduta Espírita, ditado pelo Espírito
André Luiz, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1972, Cap. 18.
[6] idem, cap. 20.
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