segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

AMÁLIA DOMINGO SOLER[1]


 
 
Nascida a 10 de novembro de 1835, na cidade de Sevilha, Espanha, e desencarnada a 29 de abril de 1909, na cidade de Barcelona, Espanha.
Foi figura de grande destaque no seio do Espiritismo espanhol, tendo a sua fama ultrapassado mesmo as fronteiras da península ibérica, para atingir os países americanos de fala castelhana.
No Brasil ela tornou-se muito conhecida pela sua obra "As Memórias do Padre Germano", verdadeiro repositório de ensinamentos dos mais vivificantes.
Amália não nasceu num lar risonho e sua vida foi entrecortada de dores físicas e morais, entretanto, ela tudo suportou com estoicismo, pois somente os Espíritos fortes sabem vencer os obstáculos, compreendendo que as tribulações da vida terrena são imperativos da lei divina, impostos aos homens pelas suas transgressões cometidas em vidas pretéritas. As adversidades que ela deparou pelo caminho nunca constituíram entraves à sua persistente luta, no sentido de projetar os ensinamentos da Doutrina Espírita na Espanha do século passado. Através de sua luta conseguiu também elevar bem alto o conceito da mulher no campo da divulgação.
Com a idade de dez anos, começou a escrever; aos dezoito já dava à publicidade as suas poesias. No propósito de melhor poder difundir os seus escritos, transferiu-se para Madri. Na Capital espanhola trabalhou de forma tão intensa que ficou completamente cega.
Debalde procurou consolo no seio das religiões tradicionais.
Os dogmas não a satisfaziam. Os conceitos da vida no além-túmulo, apregoados por essas religiões, não preenchiam o imenso vácuo que existia em sua alma.
Um dia, porém, através do periódico "El Critério", editado pela Federação Espírita Espanhola, tomou conhecimento do Espiritismo. Dali por diante os seus escritos, que apenas expressavam amargura, passaram a constituir uma fonte de consolação.
Havia compreendido, afinal, que os sofrimentos experimentados nesta vida, são heranças de faltas cometidas em vidas pretéritas, e que, embora muitas pessoas tenham diante de si horizontes sombrios, devem-se compenetrar que Deus é pai de misericórdia e de amor, sempre pronto a conceder benesses de luz e dar sustentação às almas alquebrantadas. Passou, Amália, a compreender que o Evangelho de Jesus é, na realidade, uma fonte de água-viva que jorra para a vida eterna.
Os cognomes de "Poetisa das Violetas" e "Cantora do Espiritismo" lhe foram outorgados, pois o seu nome projetou-se de tal forma que ela se tornou, de direito e de fato, uma das mais apreciadas poetisas de seu tempo.
Animada de profunda fé em Jesus Cristo e nos benfeitores espirituais, conseguiu um dia recobrar a visão. Eis como ela relata esse importante acontecimento de sua vida. Bela manhã, estando em sua casa sentiu repentinamente doloroso e estranho fenômeno:
Pareceu-me, disse ela, que toda minha cabeça se tinha enchido de neve, tal o frio intenso que senti na mesma. Prestei atenção e acreditei ouvir esta breve palavra: LUZ... LUZ... LUZ... para a minha alma e para os meus olhos; gritei movida por inexplicável impressão LUZ necessito, meu Deus. E sem saber por que, chorei, não com amargura desconsolada, pelo contrário, aquelas lágrimas pareciam que davam vida. Sem dar conta do que fazia, encaminhei-me para um espelho, numa exclamação de júbilo e de assombro indescritível ao ver meus olhos perfeitamente abertos como há muito não os podia ver, pois que sempre os tinham com os párpados caídos, o que me impossibilitava de ver. Haveria chegado a hora da minha liberdade? Perguntei em alta voz; julgando que alguém pudesse me responder. Sim, murmurou uma voz longínqua. Louca de contentamento corri para o médico que me disse: Amália, graças a Deus, a partir de amanhã poderás trabalhar, porém, sem excessos.
Podemos afiançar que o trabalho de Amália Domingo Soler no campo da divulgação do Espiritismo, foi de relevante importância, tendo contribuído decididamente para que a Doutrina dos Espíritos passasse a desfrutar de enorme prestígio naquela nação.
Amália foi uma mulher singular. Era um exemplo vivo de firmeza, de fé e de amor, na defesa dos ideais que esposava.
Em novembro de 1878, desenvolveu ingente trabalho no sentido de rebater acusações que eram lançadas contra o Espiritismo pelo cura Manterola, na "A Gazeta de Catalunha". Nesse propósito ela escreveu uma série de cinquenta e dois artigos.
Luiz Llach, seu protetor e amigo, propôs-lhe editar uma revista que permitisse o desenvolvimento de um trabalho jornalístico.
Nessa época ela enviava colaborações para as publicações "El Critério", de Madri, e "El Buen Sentido", de Lérida.
Llach, no entanto, reclamou a sua colaboração em Barcelona, para onde ela se dirigiu carente de recursos e com a vista bastante fraca. Ali ela foi apresentada ao editor Torrents, que se prontificou a financiar uma revista dedicada à mulher espírita, sendo ela convidada a dirigi-la. Surgiu então o periódico "La Luz dei Porvenir", no dia 22 de maio de 1879, o qual teve a sua publicação suspensa após a publicação do terceiro número, por ordem das autoridades eclesiásticas, que nesse tempo exerciam o papel de policiamento das publicações religiosas. Estava-se a 5 de junho de 1879.
Essa atitude do clero católico não a intimidou e, no dia 22 de junho do mesmo ano, quando deveria aparecer o 4º número de "La Luz dei Porvenir", ela fez aparecer "O Eco da Verdade", no mesmo formato. Dessa nova publicação saíram quinzenalmente 26 números, até o dia 4 de dezembro, quando foi levantada a punição ao primeiro órgão, o qual voltou então a circular.
Em novembro de 1899 "La Luz dei Porvenir" começou a sofrer intermitencias em sua publicação, devido à grande crise que assolou a vida desse famoso periódico. Nem por isso ela esmoreceu e seus escritos eram enviados para o México, Cuba, Itália, Venezuela e Argentina, servindo de material para muitas e importantes publicações editadas naqueles países.
Até o instante de sua desencarnação, sua vida foi assolada por grandes dissabores. O decesso de Luiz Llach fez com que a responsabilidade pelo funcionamento da Sociedade “A Boa Nova”, pesasse sobre seus frágeis ombros, as convulsões políticas e sociais, que avassalavam sua pátria, incidiam sobre a débil economia com que sustentava sua querida revista. Logo em seguida desencarnou o seu grande colaborador Eudaldo Pagés y Comas — o médium das comunicações das "Memórias do Padre Germano" e do "Perdôo-te". Sentiu-se então desamparada, embora seu Espírito vibrante e amante do trabalho continuasse a manter acesa a chama do seu ideal, fazendo-o até que suas energias se esgotaram por completo, dificultando a manifestação externa de sua grande alma.
Suas produções ultrapassaram a casa de um milheiro e nisso reside a fama inigualável que ela conseguiu amealhar nos seus 73 anos de vida terrena.




[1] PERSONAGENS DO ESPIRITISMO - Antônio de Souza Lucena e Paulo Alves Godoy

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