sábado, 16 de dezembro de 2017

“Mediúnica” aberta ou fechada?[1]


 
Jorge Hessen - jorgehessen@gmail.com


Um leitor levanta um tema conveniente para elucidarmos. Descreve que frequenta várias casas com reuniões mediúnicas “abertas” (públicas). Acredita ser o modo correto. Embora com o passar dos anos tenha conhecido outras casas com as reuniões mediúnicas “fechadas” (privativas).
Em face dele ler muito e observar, analisar, colher opiniões, sobretudo, as que escrevemos para o Movimento Espírita Brasileiro, resolveu fazer a seguinte afirmativa: a quantidade de pessoas que passam a frequentar as casas espíritas após assistirem a comunicações do além “abertas” ao público é mais expressiva.
Obviamente, sob o imperium da racionalidade espírita, não podemos concordar com a afirmativa desse leitor. Embora reconhecemos que ocorrem montões de convites às pessoas recém-chegadas ao centro para assistirem e/ou frequentarem as reuniões mediúnicas, o que representa uma extraordinária leviandade. Aliás, é transformar o grupo mediúnico numa estranha sala de espetáculos de picadeiro espiritual.
As sessões mediúnicas devem merecer dos dirigentes espíritas uma maior atenção. Não se compreende, pois, que uma sessão mediúnica seja ela aberta a pessoas com pouca formação teórica do Espiritismo, ou a curiosos e ou a neófitos, contrariando as orientações dos Benfeitores. Allan Kardec abordou o tema quando respondeu aos leitores que lhe propunham abrisse ao público as sessões da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, medida com a qual não concordava em absoluto[2].
Kardec sugere, além disso, grupos pequenos, em face das potências mentais heterogêneas que há nos “grupões”. Uma reunião mediúnica “aberta ao público” é uma imponderação dispensável, porque tem acesso pessoas carregadas de anseios diversificados, que irão embaraçar, invariavelmente, o exercício espontâneo da mediunidade.
Os Instrutores do além afiançam que uma reunião mediúnica é um grave trabalho, que se desenvolve na estrutura perispirítica, e se a equipe é inábil, é compreensível que muitos embaraços psíquicos sucedam por negligência da mesma. Em face disso o intercâmbio com o além não deve ser aberto ao público, porque, conforme proferimos acima, transformaria numa arena circense com feição especulativa, exibicionista, destituída de intuito elevado, costumes tais que ferem mortalmente os postulados reveladores da Doutrina Espírita.
Mesmo nas reuniões mediúnicas privativas deve-se manter um número ideal de membros, não excedente a 20 pessoas, para que se evitem essas perturbações naturais nos grupamentos massivos. É óbvio que quaisquer argumentos utilizados para defender as reuniões mediúnicas "fechadas ao público", não isentam os grupos "fechados" das influências, pensamentos, desequilíbrios e desarmonias. Contudo isso é dificuldade moral do grupo e não da especificidade privativa da mesma. 
Não podemos e nem devemos esquecer que o Espírito de Verdade nos recomenda; "Espiritas, amai-vos uns aos outros, eis o primeiro ensinamento, instrui-vos eis o segundo” [3]. Este alerta nos conscientiza do tamanho da responsabilidade que nos pesa sobre os ombros. Grupos mediúnicos sérios fazem reuniões periódicas de avaliação das atividades e assim todos os integrantes da equipe possam se afinizar e conversarem, eliminando algum conflito doutrinários que possa haver entre si.
Ademais, para que não se abra espaço para a teatralização de “psicofonias” (quase sempre anímicas – “tipo Bezerra/Divaldo”) e “psicografias” em público, lembremos que não há médiuns especiais e ninguém é melhor que ninguém, devendo todos estarem abertos ao aprendizado permanente e seu devido aperfeiçoamento. Dizem que Divaldo recebe Bezerra em público e Chico psicografava em público. Sim, é verdade, mas será que temos novos Chico’s e Divaldo’s? Excetos os imitadores!
Ah! Para concluir nossos esclarecimentos recomendamos que se algum confrade quiser frequentar uma reunião mediúnica para ouvir e instruir-se (ao vivo) as supostas “mensagens do além”, trate de estudar as Obras codificada por Allan Kardec.



[2] KARDEC. Allan. Revista Espírita, maio 1861, pág. 140, Brasília: Ed Edicel, 2002.
[3] KARDEC. Allan O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. VI, item 5, RJ: Ed. FEB, 2002.

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