sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

O QUE A RAIVA FAZ CONOSCO?[1]


 

Adriana Machado
 

Pensando de cabeça fria, respondo a essa pergunta sobre a raiva com uma resposta muito simples: ela nos incomoda!
Mas, saindo de um momento de turbulência, eu descreveria que a raiva faz muito mais do que isso: ela nos devasta! Ela acaba com a nossa paz, com a nossa alegria, ela nos adoece e... Como é difícil voltar à serenidade anterior!
A raiva não é sentida à toa. Ela só aparece porque algo acontece. E esse algo, vindo de fora ou de dentro, atinge alguma coisa, no nosso mundo interior, que é muito importante para nós, mesmo que não saibamos o que tenha sido. Na maioria das vezes, ficamos com raiva sem conseguirmos identificar o que foi mexido em nós.
Mas, a raiva não é um sentimento natural nosso! Se alguém vive com raiva o tempo todo, algo está mais do que “errado”. Talvez, essa pessoa não esteja percebendo as suas emoções e age assim por acreditar que é um proceder que o ajudará a alcançar o seu objetivo (seja ele qual for). Exemplifico melhor: uma pessoa muito quieta sofre muito com as ações alheias. Então, em um determinado momento, ela reage com raiva e violentamente contra alguém e descobre nele a reação de respeito ou medo. Como ela somente conseguiu agir assim porque estava com raiva, em seu inconsciente, sempre buscará tal emoção para alcançar o seu intento. Então, por várias outras vezes, ela reagirá da mesma forma e gostando do que vê, não parará. Por um tempo, isso dará certo, mas, quando alguém começa a exagerar na raiva ou na violência, a reação natural daqueles que não se sintonizam com essas energias é se afastar. Enquanto, ela não perceber que as pessoas que valem a pena (para ela) estão se afastando, ela, possivelmente, continuará a agir no equívoco, porque foi a forma que percebeu dar certo.
A raiva se impregna em suas ações como uma doença altamente arrebatadora, ficando ali, manifestando os seus sintomas para quem quiser ver, inclusive o próprio raivoso que, no início, está cego para ela. Se ele a percebe, pode querer limitá-la ou extirpá-la, mas levará um tempo razoável para se descontaminar, porque ela fica encubada produzindo o efeito da insatisfação e da tristeza, da indignação e da impaciência. Tudo isso é devastador e viciante em nosso campo interno. Para nos descontaminarmos, para não cairmos realmente doentes em razão de a cultivarmos em nós, precisaremos da compreensão do que é viver com ela e as suas consequências.
Ainda assim, somos seres que desejamos a paz, porque a paz faz parte de nosso ser divino, mas em razão de nossa ignorância, ainda não compreendemos isso. Ainda, nos iludimos acreditando que o nosso orgulho é sábio e o usamos como conselheiro para as nossas próximas ações (pós-raiva) e aí fica tudo pior... Melhor responder a célebre frase do poeta maranhense, Ferreira Gullar: “Você quer ter razão ou ser feliz?”?  No momento do seu distúrbio, se você fizer essa pergunta para si, possivelmente, não agirá tão impulsivamente e se dará uma chance de evitar sofrimentos desnecessários. Quando entramos nestes embates, na maioria das vezes, o objeto da discussão não é tão relevante e sair vencedor não lhe trará nenhuma vantagem. Ou seja, é nada prático.
A raiva é uma consequência, uma reação, e o autor dela seremos somente nós mesmos. Sendo assim, a boa notícia é que podemos amenizá-la, podemos transmutá-la porque se fomos nós que a produzimos no nosso templo interior, somente nós, e tão somente nós, poderemos desconstrui-la. Essa é uma outra benesse da sabedoria divina atuando em nossa vida... Somos os únicos responsáveis pelo nosso bem-estar!
Raiva... Se ainda a temos, que a sintamos mais e mais levemente, abdicando do nosso orgulho e colocando como meta um resultado prático para as nossas ações: sermos felizes!


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