Adriana Machado
Pensando de cabeça fria,
respondo a essa pergunta sobre a raiva com uma resposta muito simples: ela nos
incomoda!
Mas, saindo de um momento de
turbulência, eu descreveria que a raiva faz muito mais do que isso: ela nos
devasta! Ela acaba com a nossa paz, com a nossa alegria, ela nos adoece e... Como
é difícil voltar à serenidade anterior!
A raiva não é sentida à toa. Ela
só aparece porque algo acontece. E esse algo, vindo de fora ou de dentro,
atinge alguma coisa, no nosso mundo interior, que é muito importante para nós,
mesmo que não saibamos o que tenha sido. Na maioria das vezes, ficamos com
raiva sem conseguirmos identificar o que foi mexido em nós.
Mas, a raiva não é um sentimento
natural nosso! Se alguém vive com raiva o tempo todo, algo está mais do que
“errado”. Talvez, essa pessoa não esteja percebendo as suas emoções e age assim
por acreditar que é um proceder que o ajudará a alcançar o seu objetivo (seja
ele qual for). Exemplifico melhor: uma pessoa muito quieta sofre muito com as
ações alheias. Então, em um determinado momento, ela reage com raiva e
violentamente contra alguém e descobre nele a reação de respeito ou medo. Como
ela somente conseguiu agir assim porque estava com raiva, em seu inconsciente,
sempre buscará tal emoção para alcançar o seu intento. Então, por várias outras
vezes, ela reagirá da mesma forma e gostando do que vê, não parará. Por um
tempo, isso dará certo, mas, quando alguém começa a exagerar na raiva ou na
violência, a reação natural daqueles que não se sintonizam com essas energias é
se afastar. Enquanto, ela não perceber que as pessoas que valem a pena (para
ela) estão se afastando, ela, possivelmente, continuará a agir no equívoco,
porque foi a forma que percebeu dar certo.
A raiva se impregna em suas
ações como uma doença altamente arrebatadora, ficando ali, manifestando os seus
sintomas para quem quiser ver, inclusive o próprio raivoso que, no início, está
cego para ela. Se ele a percebe, pode querer limitá-la ou extirpá-la, mas
levará um tempo razoável para se descontaminar, porque ela fica encubada
produzindo o efeito da insatisfação e da tristeza, da indignação e da
impaciência. Tudo isso é devastador e viciante em nosso campo interno. Para nos
descontaminarmos, para não cairmos realmente doentes em razão de a cultivarmos
em nós, precisaremos da compreensão do que é viver com ela e as suas
consequências.
Ainda assim, somos seres que
desejamos a paz, porque a paz faz parte de nosso ser divino, mas em razão de
nossa ignorância, ainda não compreendemos isso. Ainda, nos iludimos acreditando
que o nosso orgulho é sábio e o usamos como conselheiro para as nossas próximas
ações (pós-raiva) e aí fica tudo pior... Melhor responder a célebre frase do
poeta maranhense, Ferreira Gullar: “Você quer ter razão ou ser feliz?”? No momento do seu distúrbio, se você fizer
essa pergunta para si, possivelmente, não agirá tão impulsivamente e se dará
uma chance de evitar sofrimentos desnecessários. Quando entramos nestes
embates, na maioria das vezes, o objeto da discussão não é tão relevante e sair
vencedor não lhe trará nenhuma vantagem. Ou seja, é nada prático.
A raiva é uma consequência, uma
reação, e o autor dela seremos somente nós mesmos. Sendo assim, a boa notícia é
que podemos amenizá-la, podemos transmutá-la porque se fomos nós que a
produzimos no nosso templo interior, somente nós, e tão somente nós, poderemos
desconstrui-la. Essa é uma outra benesse da sabedoria divina atuando em nossa
vida... Somos os únicos responsáveis pelo nosso bem-estar!
Raiva... Se ainda a temos, que a
sintamos mais e mais levemente, abdicando do nosso orgulho e colocando como meta
um resultado prático para as nossas ações: sermos felizes!
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