Rogamos aos nossos leitores o
obséquio de se reportarem ao primeiro artigo que publicamos acerca desse
assunto [vide “Teoria das
Manifestações Físicas”, publicada neste blog em 02/05/2017]; sendo este a sua
continuação, seria pouco inteligível se não se tivesse em mente aquele começo.
As explicações que demos sobre
as manifestações físicas, como dissemos, fundam-se sobre a observação e a
dedução lógica dos fatos: concluímos de acordo com o que vimos. Agora, como se
operam, na matéria eterizada, as modificações que vão torná-la perceptível e
tangível? Deixemos, primeiro, que falem os Espíritos, a quem interrogamos a
respeito desse assunto, acrescentando depois os nossos próprios comentários. As
respostas seguintes foram dadas pelo Espírito São Luís; concordam com o que nos
havia sido dito anteriormente por outros Espíritos.
1. Como pode um Espírito
aparecer com a solidez de um corpo vivo?
– Ele combina uma parte do fluido universal com o fluido que o médium
libera, próprio a esse efeito. À sua vontade, esse fluído toma a forma que o
Espírito deseja; mas em geral a forma é impalpável.
2. Qual é a natureza desse
fluido?
– Fluido; está dito tudo.
3. Esse fluido é material?
– Semimaterial.
4. É esse fluido que compõe
o perispírito?
– Sim, é a ligação do Espírito à matéria.
5. É esse fluido que dá
vida, o princípio vital?
– Sempre ele; eu disse ligação.
6. Esse fluido é uma
emanação da Divindade?
– Não.
7. É uma criação da
Divindade?
– Sim, tudo é criado, exceto o próprio Deus.
8. O fluido universal tem
alguma relação com o fluido elétrico, do qual conhecemos os efeitos?
– Sim; é o seu elemento.
9. A substância etérea que
existe entre os planetas é o fluido universal em questão?
– Ele envolve os mundos: sem o princípio vital, nada viveria. Se um homem
se elevasse além do envoltório fluídico que circunda os globos, pereceria,
porquanto o princípio vital dele se retiraria, para juntar-se à massa. Esse
fluido vos anima; é ele que respirais.
10. Esse fluido é o mesmo em
todos os globos?
– É o mesmo princípio, mais ou menos eterizado, conforme a natureza dos
globos; o vosso é um dos mais materiais.
11. Desde que é esse fluido
que compõe o perispírito, estaria em uma espécie de condensação que, até certo
ponto, o aproxima da matéria?
– Até um certo ponto, sim, visto não ter suas propriedades; é mais ou
menos condensado, conforme os mundos.
12. São os Espíritos
solidificados que erguem uma mesa?
– Essa pergunta não levará ainda ao que desejais. Quando uma mesa se move
sob vossas mãos, o Espírito evocado por vosso Espírito vai haurir, do fluido
cósmico universal, aquilo com que haverá de animar essa mesa com uma vida
factícia. Os Espíritos que produzem tais efeitos são sempre Espíritos
inferiores, ainda não inteiramente desprendidos de seu fluido ou perispírito. Estando
assim preparada à sua vontade – à vontade dos Espíritos batedores – o Espírito
a atrai e a movimenta, sob a influência do seu próprio fluido, liberado por sua
vontade. Quando a massa que deseja levantar ou mover lhe é demasiado pesada,
chama em seu auxílio Espíritos que se acham nas mesmas condições que ele. Creio
que me expliquei com bastante clareza para fazer-me compreender.
13. Os Espíritos que ele
chama em seu auxílio são inferiores?
– Quase sempre são iguais; frequentemente vêm por si mesmos.
14. Compreendemos que os
Espíritos superiores não se ocupem de coisas que estão abaixo deles; mas
perguntamos, em virtude de serem desmaterializados, se teriam o poder de o
fazer, caso tivessem vontade?
– Têm a força moral, como os outros têm a força física; quando necessitam
desta última, servem-se dos que a possuem. Não se vos disse que eles se servem
dos Espíritos inferiores como o fazeis com os carregadores?
15. De onde vem o poder
especial do Sr. Home?
– De sua organização.
16. Que tem ela de
particular?
– Essa pergunta não está clara.
17. Perguntamos se se trata
de sua organização física ou moral.
– Eu disse organização.
18. Entre as pessoas
presentes há alguém que possa ter a mesma faculdade do Sr. Home?
– Têm-na em certo grau. Não foi um de vós que fez mover a mesa?
19. Quando uma pessoa faz
mover um objeto, é sempre pelo concurso de um Espírito estranho, ou a ação pode
provir somente do médium?
– Algumas vezes o Espírito do médium pode agir sozinho, porém, na maioria
das vezes, é com o auxílio dos Espíritos evocados; isso é fácil de reconhecer.
20. Como é que os Espíritos
aparecem com as roupas que usavam na Terra?
– Delas muitas vezes só têm a aparência. Aliás, quantos fenômenos sem solução
não tendes entre vós? Como pode o vento, que é impalpável, arrancar e quebrar
árvores, que são compostas de matéria sólida?
21. Que entendeis quando
afirmais que essas roupas têm apenas a sua aparência?
– Ao tocá-las nada se sente.
22. Se bem compreendemos o
que nos dissestes, o princípio vital reside no fluido universal; o Espírito
haure nesse fluido o envoltório semimaterial que constitui o seu perispírito, e
é por meio desse fluido que ele age sobre a matéria inerte. É isso mesmo?
– Sim;
isto é, ele anima a matéria com uma espécie de vida factícia; a matéria se
anima da vida animal. A mesa que se move sob vossas mãos vive e sofre como o
animal; obedece por si mesma ao ser inteligente. Não é ele que a dirige, como o
homem com um fardo; quando a mesa se ergue, não é o Espírito que a levanta, é a
mesa animada que obedece ao Espírito inteligente.
23. Desde que o fluido
universal é a fonte da vida, é, ao mesmo tempo, a fonte da inteligência?
– Não; o fluido anima somente a matéria. Essa teoria das manifestações
físicas oferece vários pontos de contato com a que demos, mas dela difere sob
certos aspectos. De uma e da outra ressalta um ponto capital: o fluido universal,
no qual reside o princípio da vida, é o agente principal dessas manifestações e
esse agente recebe sua impulsão do Espírito, quer seja encarnado ou errante.
Esse fluido condensado constitui o perispírito ou envoltório semimaterial do
Espírito. Quando encarnado, o perispírito está unido à matéria do corpo; no
estado de erraticidade, fica livre. Ora, duas questões se apresentam aqui: a da
aparição dos Espíritos e a do movimento imprimido aos corpos sólidos.
Em relação à primeira, diremos
que, no estado normal, a matéria eterizada do perispírito escapa à percepção
dos nossos órgãos; só a alma pode vê-la, quer em sonho, quer em estado sonambúlico
ou, até mesmo, semiadormecida; numa palavra, toda vez em que houver suspensão
total ou parcial da atividade dos sentidos. Quando o Espírito está encarnado, a substância do perispírito se acha
mais ou menos ligada intimamente à matéria do corpo, mais ou menos aderente, se
assim nos podemos exprimir.
Em algumas pessoas há uma
espécie de emanação desse fluido, em consequência de sua organização, e é isso
que constitui propriamente os médiuns de efeitos físicos. Emanando do corpo,
esse fluido se combina, segundo leis que nos são desconhecidas, com o fluido que
forma o envoltório semimaterial de um Espírito estranho. Disso resulta uma
modificação, uma espécie de reação molecular que lhe altera momentaneamente as
propriedades, a ponto de torná-lo visível e, em certos casos, tangível. Esse
efeito pode produzir-se com ou sem o concurso da vontade do médium; é isso que
distingue os médiuns naturais dos médiuns facultativos. A emissão do fluido pode
ser mais ou menos abundante: daí os médiuns mais ou menos potentes; e como tal
emissão não é permanente, fica explicada a intermitência daquele poder. Enfim,
se se levar em conta o grau de afinidade que pode existir entre o fluido do
médium e o de tal ou qual Espírito, conceber-se-á que sua ação possa exercer-se
sobre uns e não sobre outros.
Evidentemente, o que acabamos de
dizer também se aplica à força mediúnica, no que concerne ao movimento dos
corpos sólidos; resta saber como se opera esse movimento. Conforme as respostas
que relatamos acima, a questão se apresenta sob uma luz inteiramente nova;
assim, quando um objeto é posto em movimento, erguido ou lançado no ar, não é o
Espírito que o agarra, empurra e levanta, como o faríamos com a mão; ele, por
assim dizer, o satura com o seu fluido, combinando-o com o do médium, e o
objeto, assim momentaneamente vivificado, age como o faria um ser vivo, com a
diferença de que, não tendo vontade própria, segue a impulsão da vontade do
Espírito, tanto podendo essa vontade ser do Espírito do médium quanto de um
Espírito estranho e, algumas vezes, dos dois, agindo de comum acordo, conforme
sejam ou não simpáticos.
A simpatia ou antipatia que pode
existir entre os médiuns e os Espíritos que se ocupam desses efeitos materiais
explica por que nem todos são aptos a provocá-los.
Desde que o fluido vital,
emitido de alguma sorte pelo Espírito, dá uma vida factícia e momentânea aos
corpos inertes; desde que outra coisa não é o perispírito senão o próprio
fluido vital, segue-se que, quando encarnado, é o Espírito que dá vida ao corpo,
por intermédio de seu perispírito; fica-lhe unido enquanto a organização o
permite; quando se retira, o corpo morre. Agora, se em vez de uma mesa,
talhamos uma estátua em madeira, e se agirmos sobre ela como sobre a mesa,
teremos uma estátua que se movimentará, que baterá, que responderá por
movimentos e pancadas; numa palavra, uma estátua momentaneamente animada de uma
vida artificial. Quanta claridade lança essa teoria sobre uma multidão de
fenômenos até aqui inexplicados! Quantas alegorias e efeitos misteriosos ela
explica! É toda uma filosofia.
[1] Revista
Espírita – Junho/1858 – Allan Kardec
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