Ademir Xavier
"Não pense que sofro outra espécie de angústia senão essa que me
vem de sua ternura torturada e de nossa família amorosa e inesquecível.
Se me lembrarem tranquilo, estarei seguro de mim.
Se me recordarem conformado, a resignação estará comigo.
Não julguem que vim para cá fora de tempo.
Hoje sei que o meu tempo terrestre era curto[2]".
Por coincidência, na semana da
ocorrência do desastre aéreo com o time da cidade de Chapecó, tive a
oportunidade de ler um texto psicografado por Chico Xavier em fevereiro de 1993[3]
que descreve as circunstâncias de um acidente aéreo ocorrido em junho de 1992.
Nessa carta, o Espírito Celso Maeda descreve seu último instante como encarnado
antes do acidente que culminou na queda - por colisão com o mar - da aeronave
Beech F 90-1 King Air, que carregava quatro ocupantes.
Os detalhes técnicos do
acidente, eu consegui encontrar na internet[4].
O avião havia partido do aeroporto de Itumbiara (GO) com destino a Blumenau
(SC), mas sua queda se deu no mar, na altura da cidade de Navegantes (SC). A
causa do acidente foi reconhecida como as péssimas condições meteorológicas, o
que está descrito em detalhes na carta enviada:
“Subimos céus acima ou tentamos
subir… Não era fácil raciocinar ante o perigo maior que se aproximava.
Tentou-se a elevação da máquina, mas o vento prosseguia implacável qual se
fosse um conjunto de forças maléficas interessadas em derrubar-nos”.
Não temos dúvidas quanto ao
desespero e apreensão que toma conta de todos os envolvidos nesses momentos:
“Estávamos à mercê dos
acontecimentos que o furacão nos impunha. O piloto e o companheiro que o
assessorava estavam pálidos, agravando-nos as dúvidas e o desconforto de que
nos sentíamos possuídos. Debalde procurávamos alguma nesga de céu azul. Achávamo-nos
como que trancados por dentro de uma nuvem que parecia guardar o vento furioso
que não encontrava uma saída a fim de expandir-se. Por dentro éramos a aflição
de quem não se eximiu da morte compulsória e por fora de nós vimos claramente
que um enorme banco de areia nos aguardava, asfixiando-nos a todos”.
E, finalmente, a descrição do
grande despertar:
“A água marinha encharcada de
areia nos penetrava os pulmões e quando me vi totalmente esmagado nada sabendo
de meu irmão e dos companheiros que nos guardavam a viagem, quando no auge do
meu desespero íntimo, vi que uma senhora caminhava naturalmente sobre as águas
e, ao abraçar-me, solicitou-me concentrar na fé em Deus e me disse: Meu filho, você está conosco. Sou a sua avó
Ai, que venho retira-lo da areia. Seu avô Tsunezaemon retirará seu irmão.
Haverá socorro para vocês todos. O piloto e o copiloto serão resguardados”.
Em acidentes desse tipo, quando
um grupo de pessoas acaba retornando mais cedo à vida real, é plenamente
natural que os que ficam sintam a fragilidade não só da vida humana, mas de
todas as perspectivas e planos que se faz ao se viver.
Se a vida humana (a presente) pode ser
considerada frágil - e de fato é porque existem leis materiais que determinam
de forma rigorosa seus limites - a condição de paternidade espiritual indica
outra coisa bem diferente. Nossa vida material é frágil porque ela não é a vida
verdadeira do Espírito, que não está sujeito a esses limites severos impostos
pela condição de materialidade, mas depende de laços facilmente rompidos com as
influências do ambiente. O instante da morte, em momento como esse se assemelha
a um novo despertar, a partir do qual novos planos e diretrizes serão feitos
pela alma imortal. Os que ficam, se não se prepararem, guardarão por muito
tempo as impressões da saudade, mas a verdade é que eles apenas partiram alguns
instantes antes de nós.
É nosso melhor conforto saber que não estaremos só num momento confuso.Que Deus nunca desampara seus filhos, que mesmo quem morreu em tragédias também teve proteção.
ResponderExcluirA morte deixou de ser algo natural entre nós aqui da terra, e as "catástrofes", são cheias de culpas alheias, menos ou jamais se pensa no resgate karmico dos ocupantes... O clima, o motor as falhas humanas! Poucos são os que deixam o acontecimento sobre os envolvidos! Somente neles estão toda responsabilidade.
ResponderExcluirQuando leio relatos como esse sempre me vem à mente as situações daqueles irmãos que jamais aceitaram a espiritualidade como algo divino, do bem. Reportam-na como algo diabólico, pois acreditam (principalmente os evangélicos) que ao morrerem ficarão suas almas em estado cataléptico até o momento do Juízo Final, quando Deus os julgarão e os absolverão ou os condenarão ao fogo eterno do inferno. Assim, quão confusos estarão ao se depararem com outra realidade logo após a morte física? Quanto tempo levarão para se libertarem de um estado, imagino eu, tão confuso e complexo? Pensarão eles ser objeto de escárnio nas mãos daquele diabo de que tanto seus pastores lhes falaram?
ResponderExcluir