Edvaldo Kulcheski
Sono é um estado em que cessam
as atividades físicas motoras e sensoriais. Dormimos um terço de nossas vidas e
o sono, além das propriedades restauradoras da organização física, concede-nos
possibilidades de enriquecimento espiritual através das experiências
vivenciadas enquanto dormimos.
Sonho é a lembrança dos fatos, dos
acontecimentos ocorridos durante o sono. Os sonhos, em sua generalidade, não
representam, como muitos pensam, uma fantasia das nossas almas.
A ciência e o
espiritismo
A ciência oficial, analisando tão somente os
aspectos fisiológicos das atividades oníricas (relativo aos sonhos) ainda não
conseguiu conceituar com clareza e objetividade o sono e o sonho.
Sem considerar a emancipação da alma; sem
conhecer as propriedades e funções do perispírito, fica, realmente, difícil
explicar a variedade das manifestações que ocorrem durante o repouso do corpo
físico. Freud, o precursor dos estudos mais avançados nesta área, julgava que
os instintos, quando reprimidos, tendem a se manifestar e uma destas
manifestações seria através dos sonhos. Allan Kardec, através da codificação
espírita, principalmente em O Livro dos
Espíritos, cap. VIII - questões 400 a 455, analisou a emancipação da alma e
os sonhos em seus aspectos fisiológicos e espirituais.
Allan Kardec tece comentários muito
importantes acerca dos sonhos: o sono liberta parcialmente a alma do corpo; o
espírito jamais está inativo, têm a lembrança do passado e, às vezes, a
previsão do futuro; adquire maior liberdade de ação delimitada pelo grau de
exteriorização; podemos entrar em contato com outros espíritos encarnados ou
desencarnados; enquanto dormem, algumas pessoas procuram espíritos que lhes são
superiores (estudam, trabalham, recebem orientações, pedem conselhos); outras
pessoas procuram os espíritos inferiores com os quais irão aos lugares com que
se afinizam.
Sonhos comuns
São aqueles que refletem nossas
vivências diárias. Envolvimento e dominação de imagens e pensamentos que
perturbam nosso mundo psíquico.
O espírito, desligando-se parcialmente do
corpo, se vê envolvido pela onda de imagens e pensamentos, de sua própria
mente, das que lhe são afins e do mundo exterior, uma vez que vivemos e nos
movimentamos num turbilhão de energias e ondas vibrando sem cessar.
Nos sonhos comuns, quase não há exteriorização
perispiritual. São muito frequentes dada a nossa condição espiritual. Puramente
cerebral, simples repercussão de nossas disposições físicas ou de nossas
preocupações morais. É também o reflexo de impressões e imagens arquivadas no
cérebro durante a vigília (vivências ocorridas durante o dia, quando
acordados).
Nos sonhos comuns, o espírito flutua na
atmosfera sem se afastar muito do corpo; mergulha, por assim dizer, no oceano
de pensamentos e imagens que povoam a sua memória, trazendo impressões
confusas, tem estranhas visões e inexplicáveis sonhos.
Sonhos reflexivos
Há maior exteriorização que nos sonhos comuns.
Por reflexivos, categorizamos os
sonhos, em que a alma, abandonando o corpo físico, registra as impressões e
imagens arquivadas no subconsciente, inconsciente e superconsciente e plasmadas
na organização perispiritual. Tal registro é possível de ser feito em virtude
da modificação vibratória, que põe o espírito em relação com fatos e paisagens
remotos, desta e de outras existências.
Ocorrências de séculos e
milênios gravam-se indelevelmente em nossa memória, estratificando-se em
camadas superpostas. A modificação vibratória, determinada pela liberdade de
que passa a gozar o espírito, no sono, o faz entrar em relação com
acontecimentos e cenas de eras distantes, vindos à tona em forma de sonho.
Mentores espirituais poderão
revivenciar acontecimentos de outras vidas, cujas lembranças nos tragam
esclarecimentos, lições ou advertências.
Poderão os espíritos inferiores
motivarem estas recordações com a finalidade de nos perseguirem, amedrontar,
desanimar ou humilhar, desviando-nos dos objetivos benéficos da existência
atual.
Geralmente os sonhos reflexivos
são imprecisos, desconexos, frequentemente interrompidos por cenas e paisagens
inteiramente estranhas, sem o mais elementar sentido de ordem e sequência.
Ao despertarmos, guardaremos
imprecisa recordação de tudo, especialmente da ausência de conexão nos
acontecimentos que, em forma de incompreensível sonho, estiverem em nossa vida
mental durante o sono.
Sonhos espíritas
Também chamados de viagem astral
ou espiritual; há mais ampla exteriorização do perispírito.
Leon Denis chama a estes sonhos
de etéreos ou profundos, por suas características de mais acentuada emancipação
da alma.
Durante a viagem astral, a alma,
desprendida do corpo, exerce atividade real e efetiva, encontrando-se com
parentes, amigos, instrutores e também com os inimigos desta e de outras
existências. Nas projeções temos que considerar a lei de afinidade.
Nossa condição espiritual, nosso
grau evolutivo, irá determinar a qualidade de nossos sonhos, as companhias
espirituais que iremos procurar, os ambientes nos quais permaneceremos enquanto
o nosso corpo repousa: o religioso buscará um templo; o viciado procurará os
antros de perdição; o abnegado do Bem irá ao encontro do sofrimento e da
lágrima, para assisti-los fraternalmente; o interessado em aproveitar bem a
encarnação irá de encontro a instrutores devotados e ouvirá deles conselhos,
esclarecimentos e instruções, que proporcionarão conforto, estímulos e
fortalecimento das esperanças.
Infelizmente, porém, a maioria
se vale de repouso noturno para sair à caça de emoções frívolas ou menos
dignas.
Ao despertarmos, conserva o
espírito impressões que raramente afetam o cérebro físico, em virtude de sua
impotência vibratória.
Fica em nós apenas uma espécie
vaga de pressentimento dos acontecimentos, situações e encontros vividos
durante o sono.
Recordação do sonho
O sonho é a lembrança do que o
espírito viu durante o sono, mas nem sempre nos lembramos daquilo que vimos ou
de tudo o que vimos. Isto porque não temos nossa alma em todo o seu
desenvolvimento.
Na questão 403, de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec
indaga :
“Por que não nos lembramos de
todos os sonhos? Nisso que chamas sono só tens o repouso do corpo, porque o
Espírito está sempre em movimento. No sono ele recobra um pouco de sua
liberdade e se comunica com os que lhe são caros seja neste ou noutro mundo.
Mas, como o corpo é de matéria
pesada e grosseira, dificilmente conserva as impressões recebidas pelo Espírito
durante o sono, mesmo porque o Espírito não as percebeu pelos órgãos do corpo”.
Mecanismo da
recordação
O registro pelo cérebro físico
do que aconteceu durante a emancipação da alma através do sono é possível
através da modificação vibratória. As diversas modificações vibratórias dos
fluidos é que formam os ambientes dimensionais de atuação do espírito.
Quanto maior for a velocidade
vibratória, mais sutil é o fluido.
Quanto mais lenta é a velocidade
vibratória, mais denso é o fluido. Este raciocínio explica aquela dúvida que
sempre ouvimos: Porque raramente lembro de meus sonhos? É por que não sonhei? A
resposta para está dúvida é a seguinte: As pessoas que não lembram dos sonhos é
porque os acontecimentos vividos ou lembrados durante o sono não foram
registrados no cérebro físico. Ficaram apenas registrado no cérebro do
perispírito.
Agora, quando recordamos dos
detalhes dos sonhos é porque tivemos predisposição cerebral para os registros.
O fato de não lembrarmos dos sonhos não significa que não tenhamos sonhado, ou
seja, vivemos uma vida no plano espiritual e apenas não recordamos.
Dessa oportunidade se valem
nossos amigos do espaço para dar-nos conselhos e sugestões úteis ao
desenvolvimento de nossa encarnação. Procuram afastar-nos do mal,
fortalecem-nos moralmente e apontam-nos a maneira certa de respeitarmos as Leis
Divinas.
Ao despertarmos, embora não
lembremos deles, ficam no fundo de nossa consciência, em forma de intuições,
como ideias inatas. Podemos dedicar os momentos de semi-libertos à execução de
tarefas espirituais, sob a direção de elevados mentores.
Acontece muitas vezes acordarmos
com uma deliciosa sensação de bem-estar, de contentamento e de alegria. Isto
acontece por termos sabido usar bem de nossa estada no mundo espiritual,
executando trabalhos de real valor. Contudo, não raras vezes despertamos
tristes e com uma espécie de ressentimento no fundo do nosso coração.
O motivo dessa tristeza sem
causa aparente é que, muitas vezes, nos são mostradas as provas e as expiações
que nos caberão na vida, as quais teremos de suportar, e conquanto sejamos
confortados por nossos benfeitores, não deixamos de nos entristecer e ficamos um
tanto apreensivos.
Há espíritos encarnados que, ao
penetrarem no mundo espiritual através do sono, entregam-se aos estudos de sua
predileção e por isso têm sempre ideias novas no campo de suas atividades
terrenas.
Outros valem-se da facilidade de
locomoção para realizarem viagens de observação, não só na Terra, mas também
nas esferas espirituais que lhe são vizinhas.
Assim como visitamos nossos
amigos encarnados, também podemos ir visitar nossos amigos desencarnados e com
eles passarmos momentos agradáveis enquanto nosso corpo físico repousa; disso
nos resulta grande conforto.
Estado de
Entorpecimento
São comuns os encarnados cujos
espíritos não se afastam do lado do corpo, enquanto este repousa; ficam junto
ao leito, como que adormecidos também.
É comum o sono favorecer o
encontro de inimigos para explicações recíprocas. Esses inimigos podem ser da
encarnação atual ou encarnações antigas. Os mentores espirituais procuram
aproximar os inimigos, a fim de induzi-los ao perdão mútuo. Extinguem-se assim
muitos ódios e grande número de inimigos se tornam amigos, o que lhes evitará
sofrimentos. É a maior e melhor percepção de que goza o espírito semi-liberto
pelo sono, facilita a extinção de ódios e a correção de situações desagradáveis
e por dolorosas vezes.
Os sonhos e a evolução
Considerável porcentagem de
encarnados, ao entregarem seu corpo físico ao repouso, continuam, sono adentro,
com suas preocupações materiais.
Não aproveitam a oportunidade
para se dedicarem um pouco à vida eterna do espírito. Estudam os negócios que
pretendem realizar, completamente alheios aos verdadeiros interesses de seus
espíritos; e nada veem e nada percebem do mundo espiritual no qual ingressam
por algumas horas.
Há encarnados que ao se verem
semi-libertos do corpo de carne pelo sono, procuram os lugares de vícios, com o
fito de darem expansão a suas paixões inferiores, na ânsia de satisfazerem seus
vícios e seu sensualismo. Outros se entregam mesmo ao crime, perturbando e
influenciando perniciosamente suas vítimas, tornando-se instrumentos de
perversidade.
No livro “Mecanismos da
Mediunidade”, psicografado por Chico Xavier, André Luiz nos diz que quanto mais
inferiorizado, mais dificuldade terá o homem em se emancipar espiritualmente.
Qual ocorre ao animal de
evolução superior, no homem de evolução positivamente inferior o desdobramento
da individualidade, por intermédio do sono, é quase que absoluto estágio de
mero refazimento físico.
No animal, o sonho é puro
reflexo das atividades fisiológicas e no homem primitivo, em que a onda mental
está em fase inicial de expansão, o sonho, por muito tempo, será
invariavelmente ação reflexa de seu próprio mundo consciencial e afetivo.
Há leis de afinidade que
respondem pelas aglutinações sócio-morais-intelectuais, reunindo os seres
conforme os padrões e valores. Estaremos, então, durante o repouso noturno, se
emancipados espiritualmente, vivenciando cenas e realizando tarefas afins.
Buscamos sempre, durante o sono,
companheiros que se afinam conosco e com os ideais que nos são peculiares.
Procuraremos a companhia daqueles espíritos que estejam na mesma sintonia, para
realizações positivas, visando nosso progresso moral ou em atitudes negativas,
viciosas, junto àqueles que, ainda, se comprazem em atos ou reminiscências
degradantes, que nos perturbam e desequilibram a alma.
Parcialmente liberto pelo sono,
o Espírito segue na direção dos ambientes que lhe são agradáveis durante a
lucidez física ou onde gostaria de estar, caso lhe permitissem as
possibilidades normais.
Os sonhos espíritas, isto é, naqueles
que nos liberamos parcialmente do corpo e gozamos de maior liberdade, são os
retratos de nossa vivência diária e de nosso posicionamento espiritual.
Refletem de nossa realidade
interior, o que somos e o que pensamos.
O tipo de vida que levarmos durante
o dia determinará invariavelmente o tipo dos sonhos que a noite nos ofertará,
em resposta às nossas tendências. Dorme-se, portanto, como se vive, sendo-lhe
os sonhos o retrato emocional da sua vida moral e espiritual.
Análise dos sonhos
A análise dos sonhos pode nos
trazer informações valiosas para nosso autodescobrimento.
Devemos nos precaver contra as
interpretações pelas imagens e lembranças esparsas.
Há sempre um forte conteúdo
simbólico em nossas percepções psíquicas que, normalmente nos chegam acompanhadas
de emoções e sentimentos.
Se, ao despertarmos, nos
sentirmos envolvidos por emoções boas, agradáveis, vivenciamos uma experiência
positiva durante o sono físico. Ao contrário, se as emoções são negativas, nos
vinculamos certamente a situações e espíritos desequilibrados. Daí, a
necessidade de adequarmos nossas vidas aos preceitos do bem, vivenciando o
amor, o perdão, a abnegação, habituando-nos à prece e à meditação antes de
dormir, para nos ligarmos a valores bons e sintonia superior. Assim, teremos um
sono reparador e sonhos construtivos.
Prepara-se para bem dormir
Elizeu Rigonatti, no livro “Espiritismo
Aplicado” diz que, para termos um bom sono, que ajude o nosso espírito a
desprender-se com facilidade do corpo, é preciso que prestemos atenção no
seguinte: o mal e os vícios seguram o espírito preso à Terra.
Quem se entregar ao mal e aos
vícios durante o dia, embora o seu corpo durma à noite, seu espírito não terá
forças para subir e ficará perambulando por aqui, correndo o risco de ser
arrastado por outros espíritos viciosos e perversos. A excessiva preocupação
com os negócios materiais também dificulta o espírito a desprender-se da Terra.
A prática do bem e da virtude
nos levarão, através do sono, às colônias espirituais onde fruiremos a companhia
de mentores espirituais elevados; receberemos bom ânimo para a luta diária;
ouviremos lições enobrecedoras e poderemos nos dedicar a ótimos trabalhos.
Oremos ao deitar, mas
compreendamos que é de grande valia a maneira pela qual passamos o dia; cultivemos
bons pensamentos, falemos boas palavras e pratiquemos bons atos, evitando a
ira, rancor e ódio. E de manhã, ao retornarmos ao nosso veículo físico,
elevemos ao Senhor nossa prece de agradecimento pela noite que nos concedeu de
repouso ao nosso corpo e de liberdade ao nosso espírito.
Algumas considerações
No estado de vigília (quando
estamos acordados) as percepções se fazem com o concurso dos órgãos físicos; os
estímulos exteriores são selecionados pelos sentidos e transmitidos ao cérebro
pelas vias nervosas. No cérebro físico, são gravados para serem reproduzidos
pela memória biológica a cada evocação.
Quando dormimos cessam as
atividades físicas (exceto as autônomas), motoras e sensoriais. O espírito
liberto age e sua memória perispiritual registra os fatos sem que estes cheguem
ao cérebro físico; tudo é percebido diretamente pelo espírito. Por “adaptação
vibratória”, as percepções da alma poderão repercutir no cérebro físico; quando
lembramos, dizemos que sonhamos, mas na verdade sonhamos todo dia.
Muito bem explicado!
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