sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

BICO DE LUZ[1]



Richard Simonetti
 

Um homem transitava por estrada deserta, altas horas.
Noite escura, sem luar, estrelas apagadas... Seguia apreensivo.
Por ali ocorriam, não raro, assaltos... Percebeu que alguém o acompanhava.
– Olá! Quem vem aí? Perguntou assustado.
Não obteve resposta. Apressou‐se, no que foi imitado pelo perseguidor. Correu... O desconhecido também.
Apavorado, em desabalada carreira, tão rápido quanto suas pernas o permitiam, coração a galopar no peito, pulmões em brasa, passou diante de um bico de luz. Olhou para trás e, como por encanto, o medo desvaneceu‐se. Seu perseguidor era apenas um velho burro, acostumado a acompanhar andarilhos.
A história assemelha‐se ao que ocorre com a morte. A imortalidade é algo intuitivo na criatura humana. No entanto, muitos têm medo, porque desconhecem inteiramente o processo e o que os espera na espiritualidade.
As religiões, que deveriam preparar os fiéis para a vida além‐túmulo, conscientizando‐os da sobrevivência e descerrando a cortina que separa os dois mundos, pouco fazem nesse sentido, porquanto limitam‐se a incursões pelo terreno da fantasia.
O Espiritismo é o "bico de luz" que ilumina os caminhos misteriosos do retomo, afugentando temores irracionais e constrangimentos perturbadores. Com a Doutrina Espírita podemos encarar a morte com serenidade, preparando‐nos para enfrentá‐la. Isso é muito importante, fundamental mesmo, já que se trata da única certeza da existência humana: todos morreremos um dia!
A Terra é uma oficina de trabalho para os que desenvolvem atividades edificantes, em favor da própria renovação; um hospital para os que corrigem desajustes nascidos de viciações pretéritas; uma prisão, em expiação dolorosa, para os que resgatam débitos relacionados com crimes cometidos em existências anteriores; uma escola para os que já compreendem que a vida não é mero acidente biológico, nem a existência humana uma simples jornada recreativa; mas não é o nosso lar. Este está no plano espiritual, onde podemos viver em plenitude, sem as limitações impostas pelo corpo carnal.
Compreensível, pois, que nos preparemos, superando temores e dúvidas, inquietações e enganos, a fim de que, ao chegar nossa hora, estejamos habilitados a um retomo equilibrado e feliz.
O primeiro passo nesse sentido é o de tirar da morte o aspecto fúnebre, mórbido, temível, sobrenatural... Há condicionamentos milenares nesse sentido. Há pessoas que simplesmente recusam‐se a conceber o falecimento de um familiar ou o seu próprio.
Transferem o assunto para um futuro remoto.
Por isso se desajustam quando chega o tempo da separação.
“Onde está, ó morte, o teu aguilhão?" pergunta o apóstolo Paulo (I Coríntios, 15:55), a demonstrar que a fé supera os temores e angústias da grande transição. O Espiritismo nos oferece recursos para encarar a morte com idêntica fortaleza de ânimo, inspirados, igualmente, na fé. Uma fé que não é arroubo de emoção. Uma fé lógica, racional, consciente.
Uma fé inabalável de quem conhece e sabe o que o espera, esforçando‐se para que o espere o melhor.




[1] Quem tem medo da morte? – Richard Simonetti

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