Richard Simonetti
Um homem transitava por estrada
deserta, altas horas.
Noite escura, sem luar, estrelas
apagadas... Seguia apreensivo.
Por ali ocorriam, não raro,
assaltos... Percebeu que alguém o acompanhava.
– Olá! Quem vem aí? Perguntou
assustado.
Não obteve resposta.
Apressou‐se, no que foi imitado pelo perseguidor. Correu... O desconhecido
também.
Apavorado, em desabalada
carreira, tão rápido quanto suas pernas o permitiam, coração a galopar no
peito, pulmões em brasa, passou diante de um bico de luz. Olhou para trás e, como
por encanto, o medo desvaneceu‐se. Seu perseguidor era apenas um velho burro,
acostumado a acompanhar andarilhos.
A história assemelha‐se ao que
ocorre com a morte. A imortalidade é algo intuitivo na criatura humana. No
entanto, muitos têm medo, porque desconhecem inteiramente o processo e o que os
espera na espiritualidade.
As religiões, que deveriam
preparar os fiéis para a vida além‐túmulo, conscientizando‐os da sobrevivência
e descerrando a cortina que separa os dois mundos, pouco fazem nesse sentido,
porquanto limitam‐se a incursões pelo terreno da fantasia.
O Espiritismo é o "bico de
luz" que ilumina os caminhos misteriosos do retomo, afugentando temores
irracionais e constrangimentos perturbadores. Com a Doutrina Espírita podemos
encarar a morte com serenidade, preparando‐nos para enfrentá‐la. Isso é muito
importante, fundamental mesmo, já que se trata da única certeza da existência
humana: todos morreremos um dia!
A Terra é uma oficina de
trabalho para os que desenvolvem atividades edificantes, em favor da própria renovação;
um hospital para os que corrigem desajustes nascidos de viciações pretéritas;
uma prisão, em expiação dolorosa, para os que resgatam débitos relacionados com
crimes cometidos em existências anteriores; uma escola para os que já
compreendem que a vida não é mero acidente biológico, nem a existência humana
uma simples jornada recreativa; mas não é o nosso lar. Este está no plano
espiritual, onde podemos viver em plenitude, sem as limitações impostas pelo
corpo carnal.
Compreensível, pois, que nos
preparemos, superando temores e dúvidas, inquietações e enganos, a fim de que,
ao chegar nossa hora, estejamos habilitados a um retomo equilibrado e feliz.
O primeiro passo nesse sentido é
o de tirar da morte o aspecto fúnebre, mórbido, temível, sobrenatural... Há condicionamentos
milenares nesse sentido. Há pessoas que simplesmente recusam‐se a conceber o
falecimento de um familiar ou o seu próprio.
Transferem o assunto para um
futuro remoto.
Por isso se desajustam quando
chega o tempo da separação.
“Onde está, ó morte, o teu
aguilhão?" pergunta o apóstolo Paulo (I Coríntios, 15:55), a demonstrar
que a fé supera os temores e angústias da grande transição. O Espiritismo nos
oferece recursos para encarar a morte com idêntica fortaleza de ânimo,
inspirados, igualmente, na fé. Uma fé que não é arroubo de emoção. Uma fé
lógica, racional, consciente.
Uma fé inabalável de quem
conhece e sabe o que o espera, esforçando‐se para que o espere o melhor.
[1] Quem tem medo
da morte? – Richard Simonetti
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