Vendo Jesus uma
multidão em redor de si, mandou passar para a outra margem do lago. E chegou um
escriba e disse-lhe: Mestre, seguir-te-ei para onde quer que fores.
Respondeu-lhe Jesus:
- As
raposas têm seus covis, e as aves do céu seus pousos, mas o Filho do Homem não
tem onde reclinar a cabeça.
E um outro discípulo
disse-lhe:
- Senhor,
deixa-me ir primeiro enterrar meu pai.
Porém Jesus
respondeu-lhe:
- Segue-me,
e deixa que os mortos enterrem os seus mortos.
(Mateus, VIII:18-22)
Existem duas vidas, devem consequentemente
existir duas mortes: a morte concreta e a morte abstrata.
Quando o homem morre, os membros
se lhe enrijecem, seu calor desaparece, suas células se multiplicam e se
avolumam; a putrefação anuncia a desagregação molecular e a personalidade
desfigurada desaparece nas voragens do túmulo.
Quando a alma morre, é o censo
moral que se enrijece; e o frio da descrença caracteriza o cadáver; são as más
paixões que denunciam a decomposição do indivíduo e ei-lo, sepulcro ambulante,
em trânsito pelas necrópoles dos vícios, ostentando suntuoso mausoléu!
Há alma morta em corpo vivo,
porque, assim como o corpo sem alma é morto, o Espírito sem a Fé que vivifica e
felicita é um ser inerte como um cadáver.
O corpo morto tem olhos e não
vê, tem ouvidos e não ouve, tem boca e não fala, tem cérebro e não raciocina,
tem braços e não se move, tem pernas e não anda, tem nariz e não cheira; o tato
desaparece e até o coração, o fígado, o estômago, os intestinos, que produzem
trabalho mecânico, jazem quedos, inertes, glaciais. A alma, quando morta,
também perde a sensação e a percepção: não pensa, não sente a Vida, não percebe
a Moral; nenhum som, nenhuma cor, nenhum perfume, nenhum ato generoso, nenhuma
ação Divina consegue despertar esse “Lázaro” encerrado em sepulcro de carne!
Como é terrível a morte da alma!
Mais estranha e penosa coisa é a morte da alma que a morte do corpo.
A morte do corpo é a libertação
do Espírito; a morte da alma é a sua escravidão ao serviço da carne.
Há morte do corpo e há morte da
alma.
Glorioso é o dia da morte do
corpo para os Espíritos que vivem; terrível é o dia da morte do corpo para os
Espíritos mortos. Entretanto para uns, como para outros, há ressurreição;
aqueles ressurgem para a glória e estes para a condenação; daí a proposição de
ficarem os mortos incumbidos do enterro dos seus mortos!
Existem duas mortes: a morte
concreta, que destrói a personalidade (o corpo — a figura aparente do Eu); e a
morte abstrata, que adormece, desfigura, deprime a individualidade, o ser que
prevalece na Vida Eterna.
A morte do corpo, para a alma
morta, é o arrebatamento do indivíduo que fica forçado a alhear-se de todos os
bens da Terra, de todos os gozos mundanos e até dos seres que o cercavam na
vida do mundo.
A morte da alma é a abstração de
tudo o que interessa à Vida Imortal, é a ausência de todos os bens
incorruptíveis, é o desconhecimento da Divindade, é a pobreza dos sentimentos
nobres, do caráter, da virtude.
Existem duas vidas, existem duas
mortes; existem duas estradas, duas portas; existem dois senhores, sigamos o
Senhor do Céu e deixemos que os mortos enterrem os seus mortos!
[1] Parábolas e
Ensinos de Jesus - Cairbar Schutel
Nenhum comentário:
Postar um comentário