sábado, 14 de janeiro de 2017

HOMOFOBIA: O QUE NOS MOVE?[1]


Adriana Machado
 

Para não haver dúvidas, uma pessoa homofóbica é aquela que tem rejeição ou aversão ao homossexual e à homossexualidade. Homossexual, por sua vez, é a pessoa que sente atração por pessoas do mesmo sexo[2].
Gostaria de deixar claro que a homossexualidade e a homofobia são uma realidade no mundo, mas precisamos entender o perigo de tudo se generalizar, porque nem toda opinião contrária à homossexualidade é contrária ao homossexual, bem como o fato de alguém não desejar ser homossexual, não significa que ele é contrário à homossexualidade. Temos a tendência de, generalizando, imputarmos ao próximo preconceitos que, talvez, ele não os possua. Podemos não gostar de verduras, mas não odiar os vegetarianos!
De qualquer forma, em nosso país, existem muitas pessoas que, declarada ou veladamente, são contra o sentimento/relacionamento homoafetivo. Precisamos relembrar que, para um país que até hoje vê com estranheza um casal inter-racial, não seria diferente com um casal homossexual!
Pensando nisso, podemos ter uma ideia do que “somos” hoje como seres humanos. Ainda temos dificuldade de enfrentar o que é novo, de perceber que o que antes poderia ser uma verdade, hoje, ela pode ter sido superada. Para alguns, tudo isso é errado. Algumas pessoas ainda estão vinculadas a ideias equivocadas de um país que foi, por muito tempo, escravocrata (e, por isso, a verdade propagada era que os negros não tinham alma) e que foi, por muito tempo, orientado que a homossexualidade era um pecado. Ainda hoje, existem pessoas que pregam essas vertentes como se pecaminosas fossem. Então, não será de uma hora para outra que essas ideias serão extirpadas de nosso consciente individual e coletivo. E quando digo nosso consciente, estou também englobando os próprios alvos de quem nos referimos, porque muitos deles não se aceitam como são. Mas, tal evolução consciencial acontecerá com cada um de nós, isso eu tenho certeza. Diante de tudo isso, podemos entender porque, em pleno século XXI, ainda há dificuldade de se aceitar um casal inter-racial ou homossexual.
Durante séculos, muitas foram (e ainda são) as pessoas alvo de preconceito vindo de terceiros que tinham (e ainda têm) dificuldade de entenderem as escolhas das primeiras, não as aceitando antes, não as aceitando agora. Quantos foram (e ainda são) expulsos de seus lares, por seus próprios pais, somente porque eles são o que são? É triste, mas, não vamos criticar imediatamente esses genitores. Pensem a que nível está a crença desses pais que, por acharem que isso é abominável ou pecaminoso, acreditam que não podem mais amar o seu próprio filho?
Em uma sociedade que pensava assim desde muitos séculos atrás, como esta poderia dar um salto e aceitar naturalmente aquilo que lhes é dito, somente agora, como certo e natural? Não há como exigirmos isso, mas podemos começar a orientar. Cada um de nós (que se importa) tem em seu cerne os aprendizados das vidas vividas. Cada um de nós já aprendeu alguma coisa e é com esse aprendizado que vamos nos flagrar preconceituosos (ou não) e nos lapidar para ajudarmos àqueles que ainda nada aprenderam.
Vemos estudos onde se comprova que as crianças tendem a não alimentar o preconceito que trazem dentro de si latente. Elas, se bem orientadas, não alimentarão aquilo que podem ter trazido de outras vidas (como no caso do preconceito) e ainda terão a oportunidade, numa sociedade mais conscientizada, de se verem trabalhando os seus próprios sentimentos menos nobres sobre as escolhas alheias.
O homem preconceituoso (homofóbico, racista etc.) é aquele ser que ainda não aprendeu a lidar com os seus próprios sentimentos em relação a si mesmo. Ele luta incansavelmente para lidar com as suas ideias deturpadas, porque entende que está certo num mundo que está se perdendo. Por isso, quando o homem preconceituoso se une a outro com o mesmo ideal, normalmente, eles se tornam violentos em defender as suas ideias porque, sem a razão, é a violência que impera para implantar uma “verdade” unilateral.
Mesmo que quiséssemos defender a homofobia baseada na ideia da programação antecipada da nossa vida terrena e, por causa dela, entendêssemos que viemos homem ou mulher com um propósito e que não devemos deturpar o gênero para aprendermos com ele e suas limitações, ainda assim, não podemos esquecer que somos portadores de livre arbítrio e, por isso, aprenderemos de uma forma ou de outra sobre como lidar com as nossas escolhas, emoções e sentimentos.
Amar é natural. E se é natural, estarei cometendo pecado se amamos incondicionalmente alguém que é do mesmo gênero que nós?
 
Fica a reflexão.




[2] Neste artigo, não gostaria de entrar na discussão sobre a programação de vida de cada um de nós como homens ou mulheres, mas sim sobre o amor que podemos sentir pelo nosso próximo.

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