Adriana Machado
Para não haver dúvidas, uma
pessoa homofóbica é aquela que tem rejeição ou aversão ao homossexual e à
homossexualidade. Homossexual, por sua vez, é a pessoa que sente atração por
pessoas do mesmo sexo[2].
Gostaria de deixar claro que a
homossexualidade e a homofobia são uma realidade no mundo, mas precisamos
entender o perigo de tudo se generalizar, porque nem toda opinião contrária à
homossexualidade é contrária ao homossexual, bem como o fato de alguém não desejar
ser homossexual, não significa que ele é contrário à homossexualidade. Temos a
tendência de, generalizando, imputarmos ao próximo preconceitos que, talvez,
ele não os possua. Podemos não gostar de verduras, mas não odiar os
vegetarianos!
De qualquer forma, em nosso
país, existem muitas pessoas que, declarada ou veladamente, são contra o
sentimento/relacionamento homoafetivo. Precisamos relembrar que, para um país
que até hoje vê com estranheza um casal inter-racial, não seria diferente com
um casal homossexual!
Pensando nisso, podemos ter uma
ideia do que “somos” hoje como seres humanos. Ainda temos dificuldade de
enfrentar o que é novo, de perceber que o que antes poderia ser uma verdade,
hoje, ela pode ter sido superada. Para alguns, tudo isso é errado. Algumas
pessoas ainda estão vinculadas a ideias equivocadas de um país que foi, por
muito tempo, escravocrata (e, por isso, a verdade propagada era que os negros
não tinham alma) e que foi, por muito tempo, orientado que a homossexualidade
era um pecado. Ainda hoje, existem pessoas que pregam essas vertentes como se
pecaminosas fossem. Então, não será de uma hora para outra que essas ideias
serão extirpadas de nosso consciente individual e coletivo. E quando digo nosso
consciente, estou também englobando os próprios alvos de quem nos referimos,
porque muitos deles não se aceitam como são. Mas, tal evolução consciencial
acontecerá com cada um de nós, isso eu tenho certeza. Diante de tudo isso,
podemos entender porque, em pleno século XXI, ainda há dificuldade de se
aceitar um casal inter-racial ou homossexual.
Durante séculos, muitas foram (e
ainda são) as pessoas alvo de preconceito vindo de terceiros que tinham (e
ainda têm) dificuldade de entenderem as escolhas das primeiras, não as
aceitando antes, não as aceitando agora. Quantos foram (e ainda são) expulsos
de seus lares, por seus próprios pais, somente porque eles são o que são? É
triste, mas, não vamos criticar imediatamente esses genitores. Pensem a que
nível está a crença desses pais que, por acharem que isso é abominável ou
pecaminoso, acreditam que não podem mais amar o seu próprio filho?
Em uma sociedade que pensava
assim desde muitos séculos atrás, como esta poderia dar um salto e aceitar
naturalmente aquilo que lhes é dito, somente agora, como certo e natural? Não
há como exigirmos isso, mas podemos começar a orientar. Cada um de nós (que se
importa) tem em seu cerne os aprendizados das vidas vividas. Cada um de nós já
aprendeu alguma coisa e é com esse aprendizado que vamos nos flagrar preconceituosos
(ou não) e nos lapidar para ajudarmos àqueles que ainda nada aprenderam.
Vemos estudos onde se comprova
que as crianças tendem a não alimentar o preconceito que trazem dentro de si
latente. Elas, se bem orientadas, não alimentarão aquilo que podem ter trazido
de outras vidas (como no caso do preconceito) e ainda terão a oportunidade,
numa sociedade mais conscientizada, de se verem trabalhando os seus próprios
sentimentos menos nobres sobre as escolhas alheias.
O homem preconceituoso
(homofóbico, racista etc.) é aquele ser que ainda não aprendeu a lidar com os
seus próprios sentimentos em relação a si mesmo. Ele luta incansavelmente para
lidar com as suas ideias deturpadas, porque entende que está certo num mundo
que está se perdendo. Por isso, quando o homem preconceituoso se une a outro
com o mesmo ideal, normalmente, eles se tornam violentos em defender as suas
ideias porque, sem a razão, é a violência que impera para implantar uma
“verdade” unilateral.
Mesmo que quiséssemos defender a
homofobia baseada na ideia da programação antecipada da nossa vida terrena e,
por causa dela, entendêssemos que viemos homem ou mulher com um propósito e que
não devemos deturpar o gênero para aprendermos com ele e suas limitações, ainda
assim, não podemos esquecer que somos portadores de livre arbítrio e, por isso,
aprenderemos de uma forma ou de outra sobre como lidar com as nossas escolhas,
emoções e sentimentos.
Amar é natural. E se é natural,
estarei cometendo pecado se amamos incondicionalmente alguém que é do mesmo
gênero que nós?
Fica a reflexão.
[2] Neste artigo, não gostaria de entrar na discussão sobre
a programação de vida de cada um de nós como homens ou mulheres, mas sim sobre
o amor que podemos sentir pelo nosso próximo.
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