Ismael Gobbo[2]
A Volta ao Mundo Corporal: o
Processo Reencarnatório foi o tema do primeiro painel do segundo dia do
Medinesp, o congresso internacional da Associação Médico-Espírita, ocorrido de
7 a 9 de junho, em São Paulo (SP). Sérgio Felipe de Oliveira, mestre em
Ciências pela USP, que realiza trabalhos para a Associação Médico-Espírita de
São Paulo (AME-SP) e é diretor clínico do Pineal Mind, onde faz seus
atendimentos e aplica suas pesquisas, abriu o painel, falando do momento exato
da reencarnação (https://www.youtube.com/watch?v=Z44wcM3j5-E), seguido depois
pela ginecologista e obstetra Cristiane Ribeiro Assis. Sobre o assunto, ele
falou à Folha Espírita:
Folha Espírita – Existem preparativos para a reencarnação?
Sérgio Felipe de
Oliveira – Os preparativos espirituais para a reencarnação são tratados de
forma muito clara nos livros ditados pelo espírito André Luiz através da
psicografia de Chico Xavier. A reencarnação, ou seja, o retorno do espírito a
um novo corpo, é um fenômeno que não ocorre ao acaso, ao contrário, é
cuidadosamente planejado. Podemos dizer que existem “obstetras” no mundo
espiritual que preparam o processo reencarnatório. O espírito Emmanuel, também
pela psicografia de Chico Xavier na obra “Pensamento e Vida”, um livro pequeno,
mas de grande conteúdo, refere-se a esses preparativos como uma cartilha que se
recebe antes de se escorregar para o berço.
FE – Como o espírito sabe se está pronto para
reencarnar? Há condições preestabelecidas para isso?
Sérgio Felipe –
Consoante nos assevera a Doutrina Espírita, nem todos os espíritos têm plena
consciência do processo reencarnatório, motivo pelo qual existem as chamadas
reencarnações compulsórias, casos que se assemelham a uma internação
psiquiátrica, quando o paciente violento e fora de si necessita ser tratado sob
os cuidados de um hospital. São os casos de internação psiquiátrica nas
condições de psicose, quando, quase sempre, ocorrem compulsoriamente. Nesta
linha de raciocínio, diria que há espíritos que se encontram em determinado
nível de sofrimento e comprometimento que somente numa encarnação compulsória
poderiam alcançar algum nível de consciência de si e da sua situação.
Entendemos que, fora esses casos pontuais, as encarnações são planejadas, e
nascemos com alguma missão a ser realizada. Deus é econômico e não colocaria
alguém no mundo se não tivesse alguma tarefa a cumprir, consigo próprio, com a
família e com a sociedade.
FE – O perispírito, ou corpo espiritual, passa
por alguma modificação em seu estado antes de reencarnar?
Sérgio Felipe –
Não resta dúvida de que passa, porque a lógica nos diz que o perispírito
precisa adaptar-se à crosta terrestre, tendo em vista que há uma relação entre
ele e a força gravitacional. Por exemplo, o espírito reencarnante precisa de
uma etapa intermediária no que diz respeito à força gravitacional. Não é por
acaso que o bebê fica mergulhado no líquido amniótico, que possibilita essa
adequação entre a força gravitacional do mundo espiritual e a do mundo físico.
Isso também ocorre com o cérebro dentro do líquido céfalo-raquidiano. A
explicação para esse mecanismo providencial é que o líquido possibilita
diminuir o empuxo gravitacional. Tanto isso é verdade que o desenvolvimento
psíquico, que tem seus registros no perispírito, depende igualmente da força
gravitacional. Por exemplo, o bebê precisa ser colocado no colo, ser ninado,
aprende a engatinhar, pular e escorregar numa autêntica brincadeira com a força
da gravidade. Allan Kardec fala sobre isso quando faz referência à necessidade
de mudança no perispírito, quando o espírito precisa mudar de um mundo para
outro. Há que se adaptar às peculiaridades de cada mundo.
FE – Podemos dizer que os elementos que
constituem o perispírito resultam de uma atração, em que cada espírito atrai
partículas inerentes ao seu estado evolutivo?
Sérgio Felipe –
Acho que é como se fosse uma sintonia, quando você liga o rádio em determinada
estação e com ela se conecta para ouvir uma música, um noticiário ou outra
coisa que queira. Acredito que o perispírito possa ser construído por algum
tipo de espectro do eletromagnetismo, que deve funcionar similarmente ao
mecanismo de sintonia, atraindo as partículas do meio onde é formado, segundo o
grau evolutivo de cada indivíduo.
FE – No livro Missionários da Luz, o espírito
André Luiz descreve que no processo reencarnatório, para a formação do novo
corpo, o perispírito se constitui no molde que atrai os elementos materiais
fornecidos pela mãe à semelhança de um ímã. Qual a explicação para as anomalias
físicas durante a formação do novo corpo?
Sérgio Felipe –
Quando nós temos um envolvimento muito grave com o passado e a nossa
consciência não se desliga desse passado no momento da reencarnação, a mente,
voltada para o passado, não permite a sustentação da força suficiente para a
formação perfeita do embrião. Então, os genes ficam sem o suporte que o
espírito deve dar. Com isso, o indivíduo vem com sequelas, seja pela
má-formação embrionária ou genética, seja pela interferência do espírito
reencarnante – e ele frequentemente interfere – na genética herdada. Assim, as
fortes ligações mentais arrastadas do passado, como remorsos, culpas, ódios,
mágoas, dentre outras, impossibilitam ao espírito concentrar-se naquele momento
e projetar suas energias para o devir, ou seja, o vir a ser, e, então, não
sustenta o desenvolvimento genético com a perfeição que deveria sustentar. No
entanto, e ao mesmo tempo, essa ligação com o passado pode ser necessária para
sua recuperação.
FE – É possível os encarnados detectarem o
momento exato da reencarnação? Quais são os sinais biomoleculares que sinalizam
esse momento?
Sérgio Felipe –
Sim, perfeitamente. Uma nova vida se inicia no exato momento em que o
espermatozoide beija a membrana do ovócito que a mulher produz a cada 28 dias.
É nesse momento que o espírito assume o comando do novo corpo em formação,
tendo o seu perispírito como molde organizador.
FE – Existe algum equipamento, hoje, que pode
detectar esses sinais biomoleculares?
Sérgio Felipe –
Sim, e podemos destacar o microscópio eletrônico e o microscópio de luz.
FE – Há pesquisas sobre esse assunto?
Sérgio Felipe –
Esse exato instante já foi fotografado pela Ciência.
FE – Quanto à Física, os seus avanços vêm
ajudando a entender mais as questões do espírito?
Sérgio Felipe –
Necessariamente, porque o espírito pensa e sente no mundo e só pensa e sente
pela interação com o mundo. E o mundo que nos envolve é material, e a nossa
comunicação de um para com o outro se dá através do som, que é matéria, pelo
eletromagnetismo, a visão. Então, a compreensão da Física nos permite entender
o meio no qual estamos submersos. É também uma forma de nos localizarmos do
ponto de vista existencial e na transcendência. Emmanuel, na introdução do
livro Nos Domínios da Mediunidade, de
autoria do espírito André Luiz, pela psicografia de Chico Xavier, deixa
evidente que os cientistas materialistas também são pesquisadores de Deus,
porque, ao estudarem a estrutura íntima da matéria, descobrirão que a matéria,
como a concebem, não existe e perderão o objeto de sua própria convicção.
FE – Com base no que expôs, como está enxergando
o projeto de lei que tramita no Congresso Nacional buscando descriminalizar o
aborto?
Sérgio Felipe –
Acho que essa questão da descriminalização do aborto envolve uma percepção
muito sutil da representação da vida. Só mesmo uma pessoa envolvida com a causa
do bem entende o valor da vida em todas as suas condições. Quando a pessoa tem
a sensibilidade de perceber que não pode pisar uma plantinha e estragar o
jardim, ela toma cuidado. Assim, temos de entender que o nascituro, ou
concepto, também é uma flor no jardim que nós não vamos pisar, porque ela é
vida. Então, para dar esse valor essencial, a pessoa precisa estar muito
envolvida com a bondade e o amor. Não é só uma questão de lógica, é uma
percepção de sentimento. E a humanidade está vivendo uma situação hedonista,
muito superficial. É difícil para a maioria das pessoas ter essa percepção,
sobretudo nos países onde o aborto é permitido. Nos Estados Unidos, por exemplo,
30% das gestações são abortadas. Mas muitas pessoas, mesmo aquelas que
abortaram, já admitem que cometeram algum atentado à vida.
FE – Não seria o caso de perguntar aos defensores
do aborto se eles não estão contentes com suas vidas e a de seus entes queridos?
Sérgio Felipe –
Temos muita gente trabalhando o assunto junto aos parlamentares. O que eu
entendo é que o Brasil precisa de gente. Na Itália já não nascem pessoas
suficientes. O Japão já tem a mesma população do Brasil. Veja a sua dimensão
territorial. Então, no Brasil, cabe muita gente ainda. E qual seria a força de
expressão de nosso país se não fossem as pessoas? Quem é que não sabe disso no
mundo? Quando se fala em brasileiro, os estrangeiros já sorriem. Então por que
não vamos deixar nascer mais brasileiros, se esta é a nossa riqueza?
FE - Novembro de 2007 - Edição número 399