Freddy Brandi
O Espiritismo não proíbe a
cremação de cadáveres, mesmo porque nada é proibitivo no Espiritismo, pois é
uma Doutrina de liberdade, mas, antes de tudo, uma Doutrina da conscientização.
Recomenda, todavia, muita cautela para aqueles que venham adotar o procedimento
da cremação de cadáveres, em substituição a inumação (sepultamento), pelos
motivos que vamos expor.
Perispírito o que é e
como fica
Nosso corpo material, que é
energia densificada, se liga ao Espírito, Ser Inteligente de essência
sublimada, através do perispírito elemento mediador entre os dois corpos de
naturezas extremamente diferentes. O perispírito é um envoltório semimaterial
do Espírito, constituído de substância etérea e sutil, mais fluídica do que
material, sendo que esta parte material é muito menos denso do que a matéria do
corpo de carne.
Para dar vida ao corpo carnal, o
perispírito se liga a ele, célula a célula, elemento a elemento, como se
existissem feixes de fios fluídicos, estabelecendo a conexão celular material
com o Espírito. É assim que tudo o que se passa no corpo material, o Espírito
toma conhecimento através da ligação existente e, no sentido inverso, todas as
decisões, ordens, desejos, vontades e até mesmo todos os sentimentos do
Espírito chegam à estrutura celular ou nela se refletem, através do mesmo canal
fluídico.
Quando, por exemplo, cortamos
acidentalmente um dedo, as células danificadas, desestruturadas, comunicam ao
Espírito o traumatismo ocorrido e o Espírito sente, como consequência, a dor,
pois não é a matéria que sente dor e sim o Espírito. Inversamente, quando o
Espírito delibera, por exemplo, erguer o braço direito do corpo material, este
obedece à ordem e se levanta, porque as instruções emitidas pelo Espírito (esta
é a sua vontade), são repassadas às células nervosas do cérebro material que
simplesmente obedecem, transmitindo o desejo do Espírito de levantar o braço
direito, neste caso. O cérebro funciona aqui como mero receptor da ordem do
Espírito e aciona a rede nervosa que atinge o órgão envolvido que é o braço
direito. Igualmente, pelo mesmo conduto fluídico o Espírito extravasa, também,
para o corpo carnal, todos os seus sentimentos, bons ou maus: sentimentos de
alegria ou tristeza, serenidade ou angústia, amor ou ódio e muitos outros, que
irão revitalizar as células materiais ou produzir nelas distúrbios que podem se
complicar, causando mal-estar e até doenças.
A Morte
O fenômeno da morte nada mais é
do que o desligamento de todos os fios fluídicos do perispírito, liberando o
Espírito do cárcere material. Uma vez ocorrido tal desligamento no processo da
morte, o Espírito não pode voltar a animar aquele que foi o seu veículo de
carne.
A Força do Pensamento
Se com a morte, como vimos, o
Espírito está totalmente desconectando do corpo material, poderíamos concluir,
de imediato, que tudo o que fosse feito com o cadáver, não deveria atingir o
Espírito, por falta de ligações reais. Assim, poderíamos cremar o cadáver. Mas
as coisas podem não ser bem assim, porque o Espírito, mesmo liberto da matéria,
continua a pensar e a ter desejos e sentimentos.
Podemos dizer, neste caso, que o
nosso corpo carnal seria o nosso tesouro e o coração, o nosso pensamento, o
nosso sentimento. Para as criaturas ainda não totalmente espiritualizadas, que
viveram na Terra muito apegadas aos bens materiais, inclusive ao próprio corpo
carnal, a morte não impede que o pensamento do Espírito esteja concentrado no
seu cadáver, até mesmo por uma espécie de saudade, devido o recente
acontecimento do decesso e por se reconhecer, daquele momento em diante,
impedido de usufruir um instrumento carnal para fazer as coisas que estavam
acostumadas a fazer. Se isto acontecer, e acontece com frequência, o Espírito
fica como que algemado à carne que vestiu na Terra, presenciando, de forma
angustiante, as labaredas a queimar as suas vísceras, durante a cremação,
porque, como sabiamente disse Jesus, o seu tesouro está ali, no corpo carnal,
sendo destruído pelo fogo, em poucos minutos, bruscamente.
Como sabemos, Espíritos muito
adiantados, altamente espiritualizados, existem reencarnados na Terra, mas são
raros. Aqui se encontram executando missões específicas, para ajudar a
Humanidade a acelerar o seu progresso evolutivo, em diferentes áreas do
conhecimento. Com a morte, os corpos materiais desses Espíritos, podem ser
cremados, porque em nada afetará a sua sensibilidade, visto que vivem mais
ligados à Espiritualidade do que à própria matéria. Não é o que se passa com a
esmagadora maioria, da qual fazemos parte, pois somos Espíritos em processo
evolutivo, mas muito fragilizados pelo acúmulo de imperfeições e, nestas
condições, o campo material ainda nos impressiona fortemente,
sensibilizando-nos de forma muito acentuada, mesmo para os que são espíritas ou
se dizem espíritas. Há sempre alguma circunstância maior ou menor, que nos
prende à matéria. Nestes casos, as labaredas da cremação podem chamuscar os
Espíritos que se ressentirão do evento, para ele dramático.
Algo semelhante acontece quando
nas sessões mediúnicas recebemos um Espírito sofredor como, por exemplo, um
Espírito que desencarnou através do assassinato, com um tiro no coração. Ele se
aproxima do médium sentindo ainda as dores no coração provocadas pelo tiro que
o vitimou e repassa para o médium, de forma amenizada, aquelas dores. Como ele
já desencarnou, não mais possui coração e, portanto, não deveria estar sentindo
dor alguma. Mas o quadro da sua desencarnação foi muito traumatizante, fazendo
com que o Espírito conserve, por muito tempo, o seu pensamento fixo,
concentrado, naquele acontecimento, e é por isso que ele sofre.
Nos casos em que o cadáver não é
cremado e sim sepultado, o Espírito, por estar muito apegado à matéria, pode
ficar no cemitério, próximo à sua sepultura, assistindo também, desesperado, a
decomposição gradativa do seu corpo, sentindo mesmo os vermes corroerem a sua
carne e com isso sofrendo muito. Há, porém, uma diferença capital entre a
cremação e a inumação. Na cremação tudo se processa rapidamente, em poucos
minutos e no sepultamento a decomposição do cadáver é lenta, oferecendo
oportunidade para que o Espírito possa ser devidamente socorrido, orientado e
esclarecido, no sentido de desviar, aos poucos, o seu pensamento para outras
coisas importantes.
O Irmão X nos adverte de que a
atitude crematória é um tanto precipitado, podendo vir a ter consequências
desagradáveis para o Espírito desencarnante: ... morrer não é libertar-se
facilmente. Para quem varou a existência na Terra entre abstinências e
sacrifícios, a arte de dizer adeus é alguma coisa da felicidade ansiosamente
saboreada pelo Espírito, mas para o comum dos mortais, afeitos aos comes e
bebes de cada dia, para os senhores da posse física, para os campeões do
conforto material e para os exemplares felizes do prazer humano, na mocidade ou
na madureza, a cadaverização não é serviço de algumas horas. Demanda tempo,
esforço, auxílio e boa vontade. Eis porque, se pudéssemos, pediríamos tempo
para os mortos. Se a lei divina fornece um prazo de nove meses para que a alma
possa nascer ou renascer no mundo com a dignidade necessária, e se a legislação
humana já favorece os empregados com o benefício do aviso prévio, por que razão
o morto deve ser reduzido a cinza com a carne ainda quente?
Leon Denis na obra “O Problema
do Ser, do Destino e da Dor”, comenta que, ao consultar os Espíritos sobre a
cremação de corpos, concluiu que em tese geral, a cremação provoca
desprendimento mais rápido, mas brusco e violento, doloroso mesmo para a alma
apegada à Terra por seus hábitos, gostos e paixões. É necessário certo
arrebatamento psíquico, certo desapego antecipado dos laços materiais, para
sofrer sem dilaceração a operação crematória. É o que se dá com a maior parte
dos orientais, entre os quais está em uso a cremação. Em nossos países do
Ocidente, em que o homem psíquico está pouco desenvolvido, pouco preparado para
a morte, à inumação deve ser preferida, posto que por vezes dê origem a erros
deploráveis, por exemplo, o enterramento de pessoas em estado de letargia. Deve
ser preferida, porque permite aos indivíduos apegados à matéria que o Espírito
lhes saia lenta e gradualmente do corpo; mas, precisa ser rodeada de grandes
precauções. As inumações são, entre nós, feitas com muita precipitação.
Emmanuel, em “O Consolador”,
questão 151, opina: Na cremação, faz-se mister exercer a piedade com os cadáveres,
procrastinando por mais horas o ato de destruição das vísceras materiais, pois,
de certo modo, existem sempre muitos ecos de sensibilidade entre o Espírito
desencarnado e o corpo onde se extinguiu o tônus vital, nas primeiras horas
sequentes ao desenlace, em vista dos fluidos orgânicos que ainda solicitam a
alma para as sensações da existência material.
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