Jorge Hessen
Jackson Katz, mestre em educação
pela Universidade Harvard e doutor em estudos culturais pela Universidade da
Califórnia, foi um dos criadores, em 1993, do Mentors in Violence Prevention,
um programa de prevenção contra o assédio e o abuso sexual nos Estados Unidos.
Dedica praticamente todo o seu tempo ao combate à violência contra a mulher e a
promover a igualdade entre os gêneros. O método do treinamento Katz é focado
nalguns objetivos como conscientizar as pessoas sobre os males de o sexismo
mudar o conceito de masculinidade. O fato de homens serem educados para serem
dominantes sobre as mulheres, para serem abusivos na hora de conseguir o que
querem é inaceitável. Urge mudança dos métodos de educação e socialização dos
meninos para que no amanhã a violência contra a mulher desapareça.
Antecipando-se no tempo, Kardec
já protegia a mulher contra os desvarios de sua época. Teve a cautela de
deixa-las envoltas em uma capa de semianonimato, pois o preconceito contra elas
ainda era colossal. Basta notar que 129 operárias americanas foram queimadas
vivas dentro de uma fábrica, pelo “crime” de reivindicarem salários iguais aos
dos homens. O fato ocorreu a apenas 41 dias do lançamento de O Livro dos Espíritos. E, além de
mulheres, as médiuns estudadas por Kardec ainda eram jovens e paranormais
(bruxas?). Um “banquete” para a mentalidade vitoriana do século XIX.
Na França do fim do século XIX a
imprensa parisiense se agitava em um debate em torno da legalidade de diplomar
ou não uma jovem bacharela de 20 anos que acabara de se graduar academicamente,
tão-somente por causa da sua condição feminina. O Codificador explana o fato:
“Depois de terem reconhecido que ela tinha alma, lhe reconheceram o direito à conquista
dos graus de ciência, o que já é alguma coisa. E afirma que os direitos das
mulheres não são concessões dos homens, como atestavam alguns intelectuais, mas
resultado da própria Natureza, que não fez nenhum superior ao outro. É com o
mesmo objetivo que os Espíritos se encarnam nos sexos diferentes: aquele que
foi homem poderá renascer mulher e vice-versa, a fim de realizar os deveres de
cada uma dessas posições e sofrer-lhe as provas necessárias ao progresso [2]”.
Na questão 817 de O Livro dos Espíritos os Benfeitores
atestam que “Deus outorgou a ambos [homem e mulher] a inteligência do bem e do
mal e a faculdade de progredir, sendo esse o maior sinal da igualdade entre
ambos [3]”.
Não existem, portanto, diferenças entre o homem e a mulher senão no organismo
material (que se extingue com a morte), dando por lei natural a igualdade de
direitos, mas com funções diferentes, apropriadas às características
intrínsecas de cada sexo.
Noutro lado do debate,
observamos com pesar o movimento feminista onde a mulher moderna, de modo
geral, indiferente aos seus deveres de mulher, embrenha-se nas ilusões
políticas, na concorrência profissional, nas peçonhas filosóficas que invadiram
os seus ideais. Não são muitas as mulheres que se mantêm com humildade nos
postos de serviço com Jesus, convictas da transitoriedade das posições humanas.
“A ideologia feminista dos tempos modernos, com as diversas bandeiras políticas
e sociais, pode ser um veneno para a mulher desavisada dos seus grandes deveres
espirituais na face da Terra. Se existe um feminismo legítimo, esse deve ser o
da reeducação da mulher para o lar, nunca para uma ação contraproducente fora
dele. É que os problemas femininos não poderão ser solucionados pelos códigos
do homem, mas somente à luz generosa e divina do Evangelho [4]”.
A “era tecnológica pretende, na
essência, construir uma civilização sem as mães, e isso é um erro muito grande,
de modo que, criando dificuldades para a mulher e, especialmente, para a
maternidade, estamos condenando a nós mesmos a muitas perturbações, porque a
mulher sem apoio entra naturalmente em desespero, dando origem a determinadas
teorias que não são aquelas do feminismo autêntico, aquele feminismo correto
que prepara a mulher para a independência construtiva” [5].
A mulher deve reduzir o quanto
lhe for possível o tempo gasto no trabalho profissional e se esforçar mais na
tarefa da educação de seus filhos, preferindo ganhar um pouco menos em valores
materiais e potencializar seus tesouros espirituais. Sabemos que atualmente
isso não é tarefa fácil, pois a sociedade se curvou ante o consumismo, a
concorrência profissional, sequestrando a mulher do lar para enclausurá-la nas
funções hodiernas, às vezes subalternas à sua grandeza e quase sempre estranhas
à sua natureza.
No entanto, no desafio que se
impõe à mulher, pensamos que é sua principal missão sensibilizar o mundo com
uma atuação profissional mais humana, menos burocrática e mais efetiva em favor
do semelhante, sem porém nunca esquecer a ternura do lar, invertendo os valores
legítimos da alma. A mulher deve conciliar o papel de mãe e esposa, muitas
vezes deixado para segundo plano.
“Homem e mulher são iguais
perante Deus e têm os mesmos direitos porque a ambos foi outorgada a
inteligência do bem e do mal e a faculdade de progredir [6]”.
Não existem sexos opostos, mas complementares. “O homem e a mulher, no
instituto conjugal, são como o cérebro e o coração do organismo doméstico.
Ambos são portadores de uma responsabilidade igual no sagrado colégio da
família; e, se a alma feminina sempre apresentou um coeficiente mais avançado
de espiritualidade na vida, é que desde cedo o espírito masculino intoxicou as
fontes da sua liberdade, através de todos os abusos, prejudicando a sua posição
moral no decurso das existências numerosas, em múltiplas experiências seculares
[7]”.
[2] Kardec Allan. Revista
Espirita / Janeiro 1866/ RJ: Ed FEB, 1972
[3] Kardec, Allan. O
Livro dos Espíritos. Perg. 817 e seguintes, 9ª. ed. de bolso. RJ: Ed FEB,
2005
[4] Xavier Francisco Cândido. O Consolador, perg. 67, RJ:
Ed. FEB, 2000
[5] Xavier, Francisco Cândido. A Terra e o Semeador, ditado
pelo Espirito Emmanuel, SP: Ed. Ideal, 1975
[6] Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. Perg. 817 e seguintes,
9ª. ed. de bolso. RJ: Ed FEB, 2005
[7] Xavier Francisco Cândido. O Consolador, perg. 67, RJ:
Ed. FEB, 2000
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