19/12/2015
Por mais que passem o dia todo
dormindo, algumas pessoas simplesmente continuam com sono. Elas se sentem
cansadas toda hora e não conseguem ficar "acordadas" durante o dia
sem ficar bocejando e lutando contra a exaustão.
Pessoas assim lutam contra um
distúrbio raro chamado hipersonia.
"Na maioria dos casos, elas
não têm dificuldade alguma para dormir. Mas o fato de dormirem não é algo que
acaba com o cansaço. Elas têm problemas para se levantar e se sentem confusas e
irritadas", afirmaram os pesquisadores da Associação Espanhola de
Narcolepsia e Hipersonia (AEN).
Alguns dos efeitos, segundo a
associação, são: fadiga, cansaço, perda de concentração e problemas de
movimento.
Para lidar com o problema, as
pessoas que sofrem com esse distúrbio costumam utilizar vários despertadores e
alarmes para conseguirem levantar da cama no horário – e, ao se levantarem,
acabam se sentindo desorientadas.
Segundo a AEN, todos esses
fatores podem acabar influenciando a autoestima, a vida social e a rotina de
trabalho de quem sofre desse transtorno.
Isso porque, durante o dia, as
pessoas com hipersonia têm uma sensação contínua de sonolência e, como
consequência disso, diminuem seus níveis de atenção, concentração e memória.
Segundo a Associação Americana
de Sono (ASA, na sigla em inglês), a hipersonia se assemelha à narcolepsia
(condição neurológica de sono incontrolável) pelos sintomas, mas, enquanto
muitos narcolépsicos têm problemas para dormir, quem sofre de hipersonia
consegue dormir tranquilamente e até melhor do que a maioria das pessoas.
De acordo com a ASA, a
hipersonia pode ser ocasionada por outros transtornos de sono e também por
fatores genéticos – ou também pelo uso de certos medicamentos ou drogas.
O distúrbio também pode aparecer
em pessoas que têm fibromialgia (síndrome que provoca dores em todo o corpo) ou
em pessoas que sofreram danos cerebrais.
"Higiene do
sono"
"É uma doença relativamente
rara e só afeta 1% da população. É ligeiramente mais comum em mulheres do que
em homens e normalmente só começa na idade adulta", afirma a ASA.
Normalmente, o distúrbio é
tratado com estimulantes e anfetaminas – e às vezes com antidepressivos.
"Uma 'higiene de sono'
adequada é a mudança de conduta mais importante que deve ser
implementada", acrescentam.
"Isso inclui o
estabelecimento de horários de sonos regulares, ter um ambiente adequado para
dormir e uma cama com travesseiros confortáveis, além de evitar a cafeína e
outros estimulantes perto da hora de dormir."
Sensação de cansaço
Mas esses conselhos não parecem
ter sido muito efetivos para Danielle Hulshizer.
Ela sofre de hipersonia
idiopática há anos e por isso está sempre cansada, ainda que durma a noite toda
e ainda tire sestas durante o dia – o cansaço nunca desaparece.
"Se me dessem um centavo
por cada vez que alguém me diz que está me achando cansada e que tenho que
dormir mais, eu ficaria milionária", brincou, em entrevista à CNN.
Hulshizer conta que acorda tão
cansada quanto quando foi dormir – mesmo depois de ter dormido 12 horas. Ela
atribuía o cansaço ao estresse e à agenda sempre lotada, desde quando era mais
nova.
Nunca pensou que pudesse ter um
problema real, até que foi diagnosticada, anos depois, com hipersonia.
Possível solução
A princípio, o tratamento foi
feito com estimulantes, mas depois Hulshizer começou a sofrer dores de cabeça e
tremores e se sentia cansada de novo.
Foi aí que David Rye,
neurologista da Emory University School of Medicine, de Atlanta, nos Estados
Unidos, começou a tratá-la com um medicamento que normalmente é utilizado para
acordar os pacientes de anestesias, chamado Flumazenil.
A droga teve efeito imediato - e
agora está sendo estudada pelos pesquisadores.
"Foi incrível, me fez
sentir que estava viva pela primeira vez. Eu me sinto como uma nova
pessoa", disse Hulshizer.
Segundo a Universidade, muitos
adultos que têm problemas de sonolência liberam uma substância no cérebro que
atua como uma "pílula para dormir".
"Nosso estudo será um
grande avanço para determinar a causa desses transtornos, ainda que seja
preciso investigar se os resultados se aplicarão à maioria dos pacientes",
explicou Merrill Mitler, diretora do programa no Instituto Nacional de
Transtornos Neurológicos e Acidente Neurovasculares, que apoia o projeto de
Rye.
"Os pacientes que têm
hipersonia sofrem grande incompreensão", completou.
Tipos de hipersonia
o
Hipersonia recorrente: pouco frequente (apenas
200 casos são conhecidos). Acontece entre 1 e 10 vezes ao ano.
o
Hipersonia idiopática (ou primária) com sono prolongado:
sonolência excessiva, constante e diária durante pelo menos três meses. O sono
noturno se prolonga durante umas 12 ou 14 horas. E há grande dificuldade para
acordar.
o
Hipersonia idiopática (ou primária) com sono
reduzido: o sono dura entre 6 e 10 horas. Os pacientes podem ter dificuldade
para acordar tanto do sono noturno, quanto para sestas.
o
Sono insuficiente induzido pelo comportamento:
voluntário, mas não buscado diretamente, derivado de comportamentos que não
permitem alcançar a quantidade de sono necessária para manter nível adequado de
vigília e alerta.
o
Outros tipos de hipersonia: devido a doenças
(doenças neurológicas ou transtornos metabólicos, entre outros); hipersonia
secundária ocasionada pelo consumo de medicamentos ou drogas.