Estudo com base no livro terceiro, caps. III do O
Livro dos Espíritos (Allan Kardec)
O trabalho é uma lei da Natureza
e por isso mesmo é uma necessidade. A civilização obriga o homem a trabalhar
mais, porque aumenta as suas necessidades e satisfações[2].
Porém não se deve entender por trabalho somente as ocupações materiais, pois o
Espírito também trabalha como o corpo. Toda ocupação útil é trabalho[3].
O trabalho é uma consequência da
natureza corpórea do homem. A vida corpórea é necessária ao Espírito, para que
possa cumprir no mundo material as funções que lhe são designadas pela
Providência: é uma das engrenagens da harmonia universal. A atividade, através
do trabalho, lhe surge naturalmente, sem o suspeitar, e na função apropriada.
Acreditando agir por si mesmo, desenvolve sua inteligência e facilita o seu
adiantamento[4].
O trabalho pode ser uma prova ou
uma expiação, e ao mesmo tempo um meio de aperfeiçoar a sua inteligência. Sem o
trabalho, o homem permaneceria na infância intelectual. O homem busca a sua
alimentação, a sua segurança e o seu bem-estar pelo seu trabalho e à sua
atividade[5].
Tudo trabalha na Natureza, até
os animais, se bem que o trabalho dos animais, assim como a inteligência, é
limitado aos cuidados da conservação. Por isso, entre eles, o trabalho não
conduz a um progresso semelhante ao do homem. No homem o trabalho tem duplo
objetivo: a conservação do corpo e ao desenvolvimento do pensamento, cuja
necessidade, o eleva acima de si mesmo[6].
Quando se diz que o trabalho dos
animais é limitado aos cuidados de sua conservação, refere-se ao fim a que eles
se propõem, laborando, mesmo sem terem noção, eles se entregam inteiramente a
prover as suas necessidades materiais e ao mesmo tempo, se tornam agentes que
colaboram com os desígnios do Criador. Portanto, o trabalho dos animais
concorre com o objetivo final da Natureza, embora muitas vezes não se possa
observar o seu resultado imediato6.
A natureza do trabalho é
relativa à natureza das necessidades; quanto menos necessidades materiais,
menos material será o trabalho. Mas não se deve julgar, por isso, que o homem
permanecerá inativo e inútil, pois a ociosidade lhe seria um suplício, ao invés
de um benefício[7].
Ninguém esta livre do trabalho,
talvez aquele que possui bens suficientes esteja fora do labor material, mas
não da obrigação de se tornar útil na proporção dos seus meios e de aperfeiçoar
a sua inteligência ou a dos outros, o que também é um trabalho. Se o homem a
quem Deus concedeu bens suficientes para assegurar sua subsistência não está
obrigado a comer o pão com o suor da fronte, a obrigação de ser útil a seus
semelhantes é tanto maior para ele, quanto a parte que lhe coube por
adiantamento lhe der maior lazer para fazer o bem[8].
Diz Kardec na Revista Espírita de julho de 1862:
Considerando as coisas deste mundo do ponto de vista extracorpóreo, o homem,
longe de ser excitado pela negligência e pela ociosidade, compreende melhor a
necessidade do trabalho. Falando do ponto de vista terrestre, esta necessidade
é uma injustiça, aos seus olhos, quando se compara com aqueles que podem viver
sem fazer nada: tem-lhes ciúme, os inveja. Falando do ponto de vista
espiritual, esta necessidade tem sua razão de ser, sua utilidade, e a aceita
sem murmurar, porque compreende que, sem trabalho, ficaria indefinidamente na
inferioridade e privado da felicidade suprema a que aspira, e que não saberia
esperar se não se desenvolve intelectualmente e moralmente[9].
A lei natural prevê direitos e
deveres, assim, a solidariedade é sempre necessária. Os homens devem trabalhar
em prol de seu conjunto de relação. Faz parte do progresso geral. Eis porque
Deus fez do amor filial e do amor paterno um sentimento natural, a fim de que,
por essa afeição recíproca, os membros de uma mesma família sejam levados a se
auxiliarem mutuamente[10].
Porém, não basta dizer ao homem
que ele deve trabalhar, é necessário que ele encontre uma ocupação, e isso nem
sempre acontece. Então, quando a falta de trabalho se generaliza, toma as
proporções de um flagelo e surge a miséria. A humanidade procura uma solução
para que haja equilíbrio entre a produção e o consumo, mas esse equilíbrio,
supondo-se que seja possível, sempre terá intermitências e durante essas fases
o trabalhador tem necessidade de viver. Mas, há um elemento que é importante
analisar, e sem o qual a ciência econômica não passa de teoria: é a educação
moral, pois é nela que consiste a arte de formar os caracteres, aquela que cria
os hábitos, porque educação é conjunto de hábitos adquiridos.
Quando se analisa sobre a massa
de indivíduos que diariamente são lançados no meio da população, sem regras,
sem educação, entregue aos próprios instintos, pode-se prever as consequências
desastrosas desse fato. Contudo, quando essa arte for conhecida, compreendida e
praticada, o homem poderá melhorar os hábitos de ordem e previdência para si
mesmo e para os seus, com respeito. E estes novos costumes lhe permitirão
atravessar os inevitáveis maus dias de maneira menos dolorosa.
A desordem e a imprevidência são
duas chagas que somente uma educação bem compreendida pode curar. Nisso está o
ponto de partida, o elemento real do bem-estar, a garantia da segurança de
todos[11].
Se o homem necessita passar por
situações que lhe oferecem o aprendizado moral, ou seja, da boa conduta, pela
experiência precisa aprender o que é o bem e o mal. O trabalho como é sempre
uma atividade coletiva, fornece ao espírito as provas essenciais para este
aprendizado.
[2] Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, questão: 674.
[3] __________, O
Livro dos Espíritos, questão: 675.
[4] __________, Revista
Espírita, O Ponto de vista, julho de 1862.
[5] __________, O Livro dos Espíritos, questão: 676.
[6] __________, O Livro dos Espíritos, questão: 677.
[7] __________, O Livro dos Espíritos, questão: 678.
[8] __________, O Livro dos Espíritos, questão: 679.
[9] __________, Revista Espírita, O Ponto de vista, julho
de 1862.
[10] __________, O Livro dos Espíritos, questão: 681.
[11] Ver nota de Allan Kardec após a resposta à questão 685
de O Livro dos Espíritos.
Comentário somente com relação à imagem. Só tem profissional elitizado. Todos formados em faculdades federais e talvez até em Harvard, Sorbonne . . . Trabalhadores de primeira linha mesmo.
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