terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Mas é ela que não me deixa![1]


 
Antônio Carlos Navarro[2] – 29/12/2015

 
O trabalho mediúnico é, entre outras coisas, surpreendente.
Certa feita, em uma sessão mediúnica destinada à orientação de espíritos desencarnados, fomos surpreendidos com o desenrolar de uma das conversações estabelecidas.
Anteriormente, havíamos sido procurados por uma pessoa, que relatava estar sendo vítima de determinada influência espiritual menos feliz, e isso a incomodava muito.
Percebia-se, a “vítima”, sempre acompanhada mesmo quando sozinha e, corriqueiramente, sentia-se invadida por determinadas angústias inexplicáveis.
Direcionada ao tratamento fluído-terápico e ao fortalecimento da fé e da confiança por meio da prece, da leitura edificante e do esclarecimento proporcionado pelas palestras públicas, teve seu nome inserido nos círculos de oração do Centro Espírita.
Passadas algumas sessões mediúnicas, um determinado Espírito se fez presente, apresentando através de suas informações, relação com a condição daquela pessoa. De imediato, o médium orientador buscou envolvê-lo, respeitosamente, no sentido de rever seus posicionamentos, valores e atitudes, e ver que aquela situação não lhe permitia dar continuidade ao seu progresso no plano espiritual, e isso lhe traria muitos prejuízos, além do prejuízo causado ao encarnado, do qual seria responsável em parte.
Foi quando o Espírito comunicante exclamou:
– Eu quero seguir minha vida, mas é ela que não me deixa!
E acrescentou:
– Já estou saturado dessa situação, mas o vínculo que foi criado entre eu e esta pessoa deverá ser rompido por nós dois, e eu já fiz a minha parte, mas ela ainda insiste em manter os mesmos hábitos, e estes me “chamam” para junto dela em função de termos estabelecidos essa sintonia conjuntamente.
Orientado ao fortalecimento de sua própria vontade e a orar com sinceridade, para livrar-se daquela situação, também foi informado a ele que a sua presença ali significava que já estava sendo amparado pelos Espíritos Socorristas.
Ao analisarmos, para aprendizado, o ocorrido, de imediato nos lembramos de algumas questões de O Livro dos Espíritos, como segue:
 
Questão 467[3] – Pode o homem se libertar da influência dos Espíritos que procuram arrastá-lo ao mal?
– Sim, porque apenas se ligam àqueles que os solicitam por seus desejos ou os atraem pelos seus pensamentos.
Evidencia-se, com a resposta dos Espíritos Superiores que nossas companhias espirituais dependem de nossos desejos, e se estes forem no sentido da satisfação de viciação física, atrairemos espíritos que portam os mesmos vícios, mas também os atrairemos pela viciação mental resultante de nossos pensamentos negativos; porém, sempre será possível revertermos a situação, desde que assumamos novos hábitos, mentais e comportamentais, em relação às viciações causadas pelas paixões humanas, como nos esclarece O Livro dos Espíritos:
Questão 469 – Como se pode neutralizar a influência dos maus Espíritos?
Fazendo o bem e colocando toda a confiança em Deus, repelis a influência dos Espíritos inferiores e anulais o domínio que querem ter sobre vós. Evitai escutar as sugestões dos Espíritos que vos inspiram maus pensamentos, sopram a discórdia e excitam todas as más paixões. Desconfiai, especialmente, daqueles que exaltam o vosso orgulho, porque vos conquistam pela fraqueza. Eis por que Jesus nos ensinou a dizer na oração dominical: “Senhor, não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal!”.
Vai-te e não peques mais, orientou o Senhor Jesus[4], como solução para todos os nossos sofrimentos, ou seja, é preciso mudar, mas mudar a nós mesmos.
Querer livrar-se da influência ou perseguição dos espíritos através de um afastamento unilateral, acusando-os dos males que nos acometem é infantilidade espiritual, e não trará resultados favoráveis a nós outros.
Aquele Espírito saturou-se diante da situação e passou a desejar a liberdade, mas como era partícipe do conluio estabelecido, dependia também do encarnado, até o momento em que sua vontade de mudar tornou-se convincente a ponto de chamar a atenção dos Espíritos Socorristas, que representam a Misericórdia Divina, e que sem demora o socorreram.
E nós, o que temos feito para nos livrarmos de nossas viciações, sejam físicas ou mentais, para pleitearmos liberdade em relação aos espíritos inferiores?
 

Pensemos nisso.




[2] Estudioso e palestrante espírita. Trabalhador do Centro Espírita Francisco Cândido Xavier em São José do Rio Preto - SP
[3] Todos os grifos são nossos.
[4] João 8:11

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