Elisabeth de França – Havre, 1862
A verdadeira caridade é um dos
mais sublimes ensinamentos de Deus para o mundo. Entre os verdadeiros
discípulos da sua doutrina deve reinar perfeita fraternidade. Deveis amar os
infelizes, os criminosos, como criaturas de Deus, para as quais, desde que se
arrependam, serão concedidos o perdão e a misericórdia, como para vós mesmos,
pelas faltas que cometeis contra a sua lei. Pensai que sois mais repreensíveis,
mais culpados que aqueles aos quais recusais o perdão e a comiseração, porque
eles quase sempre não conhecem a Deus, como o conheceis, e lhes será pedido
menos do que a vós.
Não julgueis, oh! Não julgueis,
meus queridos amigos, porque o juízo com que julgardes vos será aplicado ainda
mais severamente, e tendes a necessidade de indulgência para os pecados que
cometeis sem cessar. Não sabeis que há muitas ações que são crimes aos olhos do
Deus de pureza, mas que o mundo não considera sequer como faltas leves?
A verdadeira caridade não
consiste apenas na esmola que dais, nem mesmo nas palavras de consolação com
que as acompanhais. Não, não é isso apenas que Deus exige de vós! A caridade
sublime, ensinada por Jesus, consiste também na benevolência constante, e em
todas as coisas, para com o vosso próximo. Podeis também praticar esta sublime
virtude para muitas criaturas que não necessitam de esmolas, e que palavras de
amor, de consolação e de encorajamento conduzirão ao Senhor.
Aproximam-se os tempos, ainda
uma vez vos digo, em que a grande fraternidade reinará sobre o globo. Será a
lei de Cristo a que regerá os homens: somente ela será freio e esperança, e
conduzirá as almas às moradas dos bem-aventurados. Amai-vos, pois, como os
filhos de um mesmo pai; não façais diferenças entre vós e os infelizes, porque
Deus deseja que todos sejam iguais; não desprezeis a ninguém. Deus permite que
os grandes criminosos estejam entre vós, para vos servirem de ensinamento.
Brevemente, quando os homens forem levados à prática das verdadeiras leis de
Deus, esses ensinamentos não serão mais necessários, e todos os Espíritos impuros serão dispersados pelos mundos inferiores,
de acordo com as suas tendências.
Deveis a esses de que vos falo o
socorro de vossas preces: eis a verdadeira caridade. Não deveis dizer de um criminoso:
“é um miserável; deve ser extirpado da Terra; a morte que se lhe inflige é
muita branda para uma criatura dessa espécie”. Não, não é assim que deveis
falar! Pensai no vosso modelo, que é Jesus. Que diria ele, se visse esse
infeliz ao seu lado? Havia de lastimá-lo, considera-lo como um doente muito
necessitado, e lhe estenderia a mão. Não podeis, na verdade, fazer o mesmo, mas
pelo menos podeis orar por ele, dar-lhe assistência espiritual durante os
instantes que ainda deve permanecer na Terra. O arrependimento pode tocar-lhe o
coração, se orardes com fé. É vosso próximo, como o melhor dentre os homens.
Sua alma, transviada e revoltada, foi criada, como a vossa, para se
aperfeiçoar. Ajudai-o, pois, a sair do lamaçal, e orai por ele!
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