sexta-feira, 19 de junho de 2015

Qual é o nosso maior adversário?[1]


 
Entrevistado por um canal de TV ligado à Globosat, conhecido poeta, referindo-se a seus colegas da atual geração, revelou ao repórter o que um deles, atualmente radicado em Minas Gerais, lhe declarou: “Os poetas se odeiam uns aos outros”.

A revelação não constitui nenhuma novidade porque algum tempo atrás, em entrevista publicada no jornal O Estado de São Paulo, outro importante poeta afirmou: “No Brasil, que é tão grande, os poetas ficam muito isolados – e ainda falam muito mal uns dos outros, aumentando ainda mais essa distância. Recentemente estive em Fortaleza, cidade onde os poetas brigam entre si, se odeiam. Há muitos lugares em que poetas de grupos diferentes jamais se falam, nem mesmo se cumprimentam! A circulação da poesia fica, em consequência, ainda mais difícil”.
Estamos falando de pessoas que fazem poesia e, em muitos casos, vivem de poesia – e não de marginais que cumprem pena em algumas de nossas penitenciárias!
A inferioridade do ser humano é algo que não deveria, obviamente, causar-nos surpresa alguma, embora seja difícil entender, excluída a possibilidade da pluralidade das existências, por que nosso mundo é assim tão complicado e imperfeito.
De fato, se a criatura humana surgisse no cenário do mundo e aqui vivesse uma única vez, não se compreenderia por que Deus teria produzido indivíduos tão problemáticos, que só pensam em si, que não têm limites em suas ambições e que buscam o sucesso a qualquer preço, ainda que à custa do próximo.
O Criador não tem, porém, responsabilidade alguma nas tolices, nas falcatruas, nas maldades que o ser humano, ao longo da história, tem perpetrado. Ele nos criou simples e ignorantes, e é justamente em face da pluralidade das existências que conseguimos, aos poucos, melhorar-nos, com vistas à meta que Ele assinalou a cada um de nós, ou seja, a perfeição.
Na principal obra escrita por Allan Kardec, o codificador da doutrina espírita escreveu:
“(...) as faltas que cometemos têm por fonte primária a imperfeição do nosso próprio Espírito, que ainda não conquistou a superioridade moral que um dia alcançará, mas que, nem por isso, carece de livre-arbítrio. A vida corpórea lhe é dada para se expungir de suas imperfeições, mediante as provas por que passa, imperfeições que, precisamente, o tornam mais fraco e mais acessível às sugestões de outros Espíritos imperfeitos, que delas se aproveitam para tentar fazê-lo sucumbir na luta em que se empenhou. Se dessa luta sai vencedor, ele se eleva; se fracassa, permanece o que era, nem pior, nem melhor. Será uma prova que lhe cumpre recomeçar, podendo suceder que longo tempo gaste nessa alternativa. Quanto mais se depura, tanto mais diminuem os seus pontos fracos e tanto menos acesso oferece aos que procurem atraí-lo para o mal. Na razão de sua elevação, cresce-lhe a força moral, fazendo que dele se afastem os maus Espíritos.”
Todos os Espíritos, mais ou menos bons, quando encarnados, constituem a espécie humana e, como o nosso mundo é um dos menos adiantados, nele se conta maior número de Espíritos maus do que de bons. Tal a razão por que aí vemos tanta perversidade.” (O Livro dos Espíritos, item 872, parte final.)
A informação de que há na Terra maior número de Espíritos maus do que bons pode ser conferida nas duas obras seguintes:
“Vivendo encarnados no Planeta quase dois bilhões de individualidades humanas, esclareceu o benfeitor que mais de um bilhão é constituído por Espíritos semicivilizados ou bárbaros e que as pessoas aptas à espiritualidade superior não passam de seiscentos milhões, divididas pelas várias famílias continentais.” (Voltei, de Irmão Jacob, obra psicografada por Chico Xavier. A informação, relativa ao ano de 1948, consta do capítulo “Recebendo explicações”.) (Negritamos.)
“A determinadas horas da noite, três quartas partes da população de cada um dos hemisférios da Crosta Terrestre se acham nas zonas de contato conosco e a maior percentagem desses semilibertos do corpo, pela influência natural do sono, permanecem detidos nos círculos de baixa vibração qual este em que nos movimentamos provisoriamente. Por aqui, muitas vezes se forjam dolorosos dramas que se desenrolam nos campos da carne. Grandes crimes têm nestes sítios as respectivas nascentes...” (Libertação, de André Luiz, cap. 6, Observações e novidades, obra psicografada por Chico Xavier. A região a que se refere o autor é chamada, na terminologia espírita, de trevas.) (Negritamos.)
A explicação do que lemos nos textos acima tem relação direta com a natureza do planeta em que vivemos e com sua atual destinação, que o Espiritismo nos revela no texto seguinte:
“Os Espíritos em expiação, se nos podemos exprimir dessa forma, são exóticos na Terra; já viveram noutros mundos, donde foram excluídos em consequência da sua obstinação no mal e por se haverem constituído, em tais mundos, causa de perturbação para os bons. Tiveram de ser degredados, por algum tempo, para o meio de Espíritos mais atrasados, com a missão de fazer que estes últimos avançassem, pois que levam consigo inteligências desenvolvidas e o gérmen dos conhecimentos que adquiriram. Daí vem que os Espíritos em punição se encontram no seio das raças mais inteligentes. Por isso mesmo, para essas raças é que de mais amargor se revestem os infortúnios da vida. É que há nelas mais sensibilidade, sendo, portanto, mais provadas pelas contrariedades e desgostos do que as raças primitivas, cujo senso moral se acha mais embotado.
A Terra, conseguintemente, oferece um dos tipos de mundos expiatórios, cuja variedade é infinita, mas revelando todos, como caráter comum, o servirem de lugar de exílio para Espíritos rebeldes à lei de Deus. Esses Espíritos têm aí de lutar, ao mesmo tempo, com a perversidade dos homens e com a inclemência da Natureza, duplo e árduo trabalho que simultaneamente desenvolve as qualidades do coração e as da inteligência. É assim que Deus, em sua bondade, faz que o próprio castigo redunde em proveito do progresso do Espírito.” (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. III, itens 14 a 15.)
Todos temos, como se vê, um árduo e longo caminho pela frente, mas nosso maior adversário somos nós mesmos, ou seja, o “homem velho” que reside em nós, como dizia o inolvidável Paulo de Tarso.

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