sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

COMO USO DO CELULAR PODE ARRUINAR SEU RELACIONAMENTO[1]

 


Yasmin Rufo - Role,BBC News - 23 novembro 2025

 

Todos nós sabemos que o uso frequente do celular prejudica as relações pessoais, mas isso não nos impede de recorrer ao aparelho várias vezes por dia.

É assim que o phubbing (expressão em inglês para o ato de involuntariamente ignorar alguém em favor do celular) se infiltra em situações cotidianas.

A prática pode fazer com que parceiros se sintam ignorados e, no caso de pais, pode afetar crianças, do enfraquecimento de vínculos com as crianças mais novas à queda de autoestima entre as mais velhas.

Mas em vez de culpar a falta de autocontrole, focar o uso intencional do aparelho pode ser mais eficaz, afirma a psicóloga Kaitlyn Regehr, professora associada da University College London, no Reino Unido.

A cada vez que for usar o aparelho, explique à outra pessoa o motivo de estar fazendo isso e, ao terminar, guarde o celular e retome a conversa.

A recomendação parece básica, mas Regehr afirma ao programa Woman's Hour ("Hora da Mulher", em tradução livre), da BBC, que essa pequena mudança ajuda a ajustar comportamentos, já que muita gente checa mensagens, desliza notificações ou "dá só uma olhada rápida" sem se dar conta.

O importante é ser transparente. Portanto, se aparecer uma mensagem que você precisa checar, diga à pessoa ou pessoas com quem você está: "Só preciso responder isso; depois volto a prestar atenção".

Ao descrever a ação — "preciso ver o horário do trem" ou "estou respondendo minha mãe" —, se interrompe o hábito automático e sinaliza para a pessoa ao seu lado que ela ainda é importante.

"Isso impede que o outro se sinta ignorado", diz Regehr.

"E te mantém responsável, porque reduz a chance de se perder em outros aplicativos ou em rolagens intermináveis".

Fazer isso também pode ajudar a melhorar seus relacionamentos.

Outra pesquisa reforça o impacto dessas ações. A psicóloga Claire Hart, professora associada da University of Southampton, no Reino Unido, ouviu 196 pessoas sobre relações e uso do celular.

Segundo ela, quanto mais alguém sente que está sendo alvo de phubbing, pior tende a ser sua relação.

"Nem todos reagem da mesma forma", afirma. "Depende da personalidade, mas, quando alguém se sente ignorado, isso pode gerar reação".

O parceiro então pega o próprio celular, e a dinâmica vira um ciclo no qual cada um se sente rejeitado ou menos valorizado do que o que aparece na tela.

Cada episódio de phubbing interrompe a conexão. Depois de abandonar um momento compartilhado para olhar o aparelho, pode levar tempo até retomar o que estava acontecendo antes.

O que acontece no seu cérebro quando você usa o celular

Nossos cérebros buscam naturalmente ser recompensados. Temos certos centros neurais que reagem ao prazer — ao sexo, às drogas, a ganhar dinheiro em um cassino —, e esperam que isso se repita várias vezes.

Isso é conhecido como sistema ou circuito de recompensa do cérebro, e é exatamente o mesmo mecanismo pelo qual uma pessoa se torna dependente de uma substância como o álcool.

Mas há outra parte do cérebro que luta contra esses impulsos de busca por prazer e recompensa imediata: o córtex pré-frontal.

É a região do cérebro responsável por fazer você tomar decisões menos impulsivas e mais equilibradas — aquela que faz você, por exemplo, parar de rolar a tela, levantar do sofá e decidir arrumar a casa ou praticar exercício físico.

O que acontece com muita gente é que "a parte lógica do nosso cérebro que controla os nossos impulsos não está fazendo a sua parte, ou pelo menos não tão bem quanto poderia, está sobrecarregada pela busca por prazer", afirma Éilish Duke, professora de Psicologia na Universidade Leeds Beckett, no Reino Unido.

Duke diz que a primeira coisa que precisamos entender é que o impulso de pegar o celular e acionar a tela, que desencadeia a rolagem, é automático.

Não temos consciência disso porque construímos esse hábito ao longo do tempo — como fechar a porta ao sair de casa, por exemplo.

Em uma pesquisa que fizemos há alguns anos, descobrimos que os participantes achavam que verificavam seus telefones a cada 18 minutos, mas quando usamos gravadores de tela, percebemos que, na verdade, eles verificavam (o celular) com muito mais frequência.

Segundo a professora Ariane Ling, do departamento de psiquiatria do NYU Langone Health (EUA) , o hábito da rolagem de tela pode ser explicado pelo comportamento natural dos seres humanos, mas é agravado por fatores ambientais.

Ling explica que o ser humano está programado para querer saber o que está acontecendo. É por isso que lemos as notícias ou, por exemplo, paramos para olhar quando há um acidente na estrada. É algo que faz parte do desenvolvimento evolutivo que nos permitiu sobreviver.

E nosso celular foi projetado para nos alimentar continuamente com informações que nos interessam. É um casamento perfeito.

Segundo Duke, o que acontece quando rolamos a tela do celular é que entramos em um estado de fluxo.

O conceito de fluxo em psicologia se refere a um estado mental em que a dificuldade da tarefa que uma pessoa está realizando se ajusta muito bem ao nível de atenção e habilidade que ela tem para oferecer naquele determinado momento.

Aplicativos como o TikTok, em que o algoritmo muda constantemente e oferece coisas novas especialmente direcionadas a você, alimentam diretamente este estado de fluxo.

"Eles absorvem toda a sua atenção, e você entra em uma fase de distorção do tempo em que não percebe que duas horas se passaram, e você está sentado com a mão dormente, e perdeu todo esse tempo vendo vídeos de cachorrinhos", acrescenta Duke.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

SUBSTITUIÇÃO DO ESPÍRITO PROTETOR[1]

 


Miramez

 

Anjos de guarda. Espíritos protetores, familiares ou simpáticos

O Espírito protetor fica fatalmente preso à criatura confiada à sua guarda?

Frequentemente sucede que alguns Espíritos deixam suas posições de protetores para desempenhar diversas missões. Mas, nesse caso, outros os substituem.

Questão 494 / O Livro dos Espíritos

 

Assim como os homens de projeção na vida pública ou empresarial assumem variados cargos de responsabilidade quando chamados e, em muitos casos, os deixam para assumirem outros quando acham conveniente, os Espíritos protetores às vezes deixam seu protegido e assumem outros trabalhos; no entanto, outro de elevação equivalente assume sua posição, de maneira a não deixar o encarnado ficar sem a devida proteção na área espiritual.

O Espírito que se encontra na Terra movendo-se em um corpo, não percebe essa troca no campo da consciência ativa como encarnado, mas, é avisado durante o processo do sono e é apresentado ao seu novo protetor, quando com ele conversa, recebendo todo carinho da parte do anjo que o vai aconselhar pelos fios do pensamento.

Nada é estático no universo; tudo muda, no entanto o amor é o mesmo e somente recebemos o de que mais precisamos para o nosso crescer. É preciso que todos que se encontram nos laços da carne procurem entender melhor Jesus, e que saiam a semear. Que não se esqueçam de usar o pensamento no serviço da caridade, que não se esqueçam de usar a palavra na sua área de ação, semeando as coisas construtivas e, se têm o dom de escrever, que façam das letras estrelas para iluminar caminhos. Desta forma, os Céus aparecer-lhes-ão com todo o seu esplendor, indicando-lhes a esperança de um mundo feliz.

Ninguém, nem no céu, nem na Terra, fica órfão das bênçãos do Criador. Ele, por intermédio de Jesus, sente e vê todos os Seus filhos, ajudando-os a viver em todas as linhas do amor. Por isso, é preciso que sejas mais sensível aos que sofrem, que te faças protetor dos que carregam em seus ombros o peso do passado, porque se estás sendo ajudado, ajuda também, que a lei te recompensará.

A Doutrina Espírita apareceu no mundo para reviver Jesus nos teus dias, cumprindo a promessa do Senhor. Não te faças surdo aos apelos do Cristo em ti. A Terra já está sentindo se aproximar um porvir de luzes. Mesmo que vá custar caro, ela deverá ser em breve um paraíso, onde se encontrará em abundância tudo que o homem precisa para o seu bem-estar e a paz de consciência. Mas, a evolução pede que cada criatura lance as mãos ao arado sem olhar para trás, deixando que o amor domine seus corações porque, onde existe o amor, nada falta para a felicidade dos povos.

A lei é a mesma em todas as nações do mundo; as interpretações são de acordo com a elevação moral dos povos. Todos os sofrimentos são luzes desejando iluminar-lhes os caminhos, e isso em breve deverá acontecer, para o bem e a felicidade de todas as criaturas da Terra. Os Espíritos protetores, quando pensam nisso, entram em festa, por saberem que semearam boa semente na terra dos corações, e que elas vão produzir frutos na ordem das luzes espirituais, em nome d’Aquele que é a vida, o caminho e a verdade.

Todos os Espíritos protetores, quando se afastam do seu tutelado por motivo justo, mesmo que outro assuma seu cargo, de vez em quando o amor faz com que ele volte para saber como vai seu ex-protegido, deixando no seu coração a luminosidade, para que a luz algum dia se instale na consciência de quem caminha na Terra, em busca do céu.



[1] FILOSOFIA ESPÍRITA – Volume 10 – João Nunes Maia

quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

MEMÓRIA DE VIDAS PASSADAS E AMNÉSIA[1]

 

Filósofo cristão do século III, Tertuliano, um cético da reencarnação

 

K.M. Wehrstein

 

A quantidade de evidências de reencarnação coletadas pelos pesquisadores levanta algumas questões sobre as memórias de vidas passadas: por que, se a reencarnação é um fenômeno genuíno e todos são capazes disso, tão poucas pessoas aparentemente se lembram de vidas passadas? Se por algum motivo é comum esquecer vidas passadas, por que alguém se lembra delas? E por que a maioria desses lembradores, especialmente crianças pequenas, esquece suas vidas passadas à medida que envelhecem?

 

Fundo

Os céticos da reencarnação apontam para o fato de que as pessoas geralmente não se lembram de ter vivido uma ou mais vidas passadas. O ponto foi feito já no século III d.C., quando o filósofo cristão e cético da reencarnação Tertuliano o incluiu em sua crítica e, posteriormente, foi expresso repetidamente até os dias atuais[2].  Mas é confundido por evidências de que algumas pessoas se lembram de ter vivido antes.

Ian Stevenson e outros coletaram mais de 2.500 casos de crianças que se lembram de uma vida anterior; destes, cerca de 1.700 são resolvidos - o que significa que as memórias da criança foram suficientes para identificar as encarnações anteriores com certeza razoável, ou seja, com a exclusão de todas as outras identidades possíveis. Os pesquisadores continuam a encontrar e resolver novos casos. Além disso, há relatos de casos resolvidos do século XX antes do trabalho de Stevenson e até mesmo alguns de séculos anteriores.

Descobriu-se que os casos de reencarnação mostram certos padrões entre culturas e ao longo do tempo, como seria de esperar de um fenômeno natural. Um axioma na antropologia é que quanto mais difundida uma crença, mais ela remonta no tempo[3]. A crença na reencarnação acompanhada pela consciência de suas indicações - que são semelhantes e encontradas em todo o mundo - é muito antiga, provavelmente anterior às sociedades estaduais. Foi argumentado pela primeira vez pelo proeminente antropólogo do século 19, Sir Edward Burnett Tylor, que surgiu pela primeira vez devido a observações dos primeiros povos tribais de fenômenos indicativos de reencarnação, como memórias de vidas passadas na infância, marcas de nascença que se assemelham a feridas de vidas passadas, semelhanças comportamentais com uma pessoa recentemente falecida ou sonhos anunciados[4]. Consequentemente, embora a reencarnação não possa ser explicada com base na amnésia, explicações devem ser buscadas tanto para a memória de vidas passadas quanto para o esquecimento dela.

 

Prevalência e padrões de memória de vidas passadas

Nenhuma pesquisa ainda mediu a prevalência de alegações de memórias de vidas passadas globalmente. As pistas são fornecidas por pesquisas realizadas em 1974, que relataram incidências de 2% na Islândia e 8-9% em Charlottesville, Virgínia; em uma nova pesquisa na Islândia em 2007, o número foi de 10%[5].

O pesquisador de reencarnação Ohkado Masayuki conduziu uma pesquisa na Internet perguntando a milhares de mães japonesas se seus filhos se lembravam de ter nascido, estar no útero, do intervalo entre as vidas presentes e passadas e as próprias vidas passadas. Entre as mães que sabiam da existência de memórias de vidas passadas, 4% relataram que seus filhos falaram delas entre três e doze anos[6]. Nos Estados Unidos, a Divisão de Estudos Perceptivos da Universidade da Virgínia, em uma pesquisa piloto de 2014, descobriu que até 6% das famílias americanas com crianças de três a dez anos atualmente tinham uma criança falando sobre uma vida passada, correspondendo aproximadamente ao resultado de Ohkado.

Deve-se notar que essas são alegações de lembrança de vidas passadas, não casos verificados. Casos fortes e confirmados, como os publicados por Stevenson e outros, devem ser muito mais raros.

Stevenson descobriu que as crianças pequenas que se lembram de vidas passadas normalmente param de falar sobre elas entre cinco e oito anos, com alguns valores discrepantes[7]. Algumas crianças retêm algum aspecto de suas memórias na idade adulta; Erlendur Haraldsson descobriu que esse era o caso de 38% das 42 crianças do Sri Lanka[8]; ele e Majd Abu-Izzeddin posteriormente encontraram isso também entre a maioria dos 28 libaneses (86%)[9].

Em outros casos, as pessoas se lembram de vidas passadas pela primeira vez na idade adulta ou recuperam memórias esquecidas na infância.

 

Hipóteses de amnésia de vidas passadas

Raridade da Reencarnação

Alguns argumentam que a ausência de memórias de vidas passadas simplesmente indica que a pessoa nunca reencarnou[10]. Contra isso, o filósofo e pesquisador de reencarnação Titus Rivas levanta três pontos:

§  As memórias de vidas passadas das crianças pequenas desaparecem, sugerindo que as vidas passadas estão pelo menos tão sujeitas à amnésia quanto quaisquer outras experiências.

§  "Se olharmos para a natureza, as coisas quase nunca ocorrem como meras exceções".

§  Memórias de vidas passadas às vezes surgem na idade adulta, indicando reencarnação, apesar da ausência de memórias dela durante a infância[11].

O pesquisador de reencarnação James G. Matlock aponta ainda a existência de casos de reencarnação convincentes que se baseiam apenas em sinais físicos e comportamentais, na completa ausência de quaisquer memórias[12].

 

Engajamento com o Novo Corpo

Matlock vê a consciência como independente do cérebro, citando a incapacidade da ciência médica de localizar fisicamente o armazenamento de memória, juntamente com evidências abundantes de reencarnação, experiências de quase morte, comunicações mediúnicas, aparições, sonhos anunciantes e memórias de intervalo. Ele imagina essa consciência independente do cérebro como composta de duas partes: supraliminar (a sede da consciência regular de vigília) e subliminar (ou subconsciente), e postula que a amnésia de vidas passadas afeta apenas a mente supraliminar. Enquanto isso, o subliminar retém memórias de experiências e fatos, bem como habilidades, hábitos, preferências, emoções e até resíduos de lesões físicas, que então se manifestam no novo corpo como marcas de nascença e outros sinais físicos[13].

Normalmente, Matlock propõe, a mente supraliminar ou "fluxo de experiência" sofre um tipo de redefinição quando o fluxo de consciência reencarnante se junta a um novo corpo durante o período de gestação:

Como eu imagino, um fluxo experiencial persiste com sua identidade intacta até sua reencarnação. Nesse ponto, no nível subliminar, o fluxo continua desimpedido, mas no nível supraliminar há uma ruptura decisiva provocada pelo envolvimento com o novo corpo e cérebro. Começamos cada vida com uma tabula rasa, uma lousa em branco, na qual o passado se imprime por meio de memórias involuntárias e influência inconsciente em nosso comportamento[14].

Claramente, no entanto, esse processo não é de todo infalível, caso contrário, não haveria casos de memória de vidas passadas, muito menos bem verificados.

 

Coerência

O pesquisador de memória Martin Conway mostra que a memória não apenas está inextricavelmente ligada ao eu, mas também é orientada para objetivos – em outras palavras, motivada. Ele se baseia em trabalhos copiosos de outros estudiosos para mostrar que a memória pode ser alterada, distorcida ou mesmo fabricada para apoiar o conceito existente de si mesmo, um fenômeno que ele chama de "coerência[15]". Ele escreve:

A coerência é uma força poderosa na memória humana que atua na codificação, pós-codificação, lembrança e recodificação, para moldar tanto a acessibilidade das memórias quanto a acessibilidade de seu conteúdo. Isso é feito de forma a tornar a memória consistente com os objetivos, autoimagens e autocrenças atuais de um indivíduo.  Assim, a memória e os aspectos centrais do self formam um sistema coerente no qual, no indivíduo saudável, as crenças e o conhecimento do self são confirmados e apoiados por memórias de experiências específicas[16].

Ao mesmo tempo, observa Conway, a memória deve ser precisa para ser útil, portanto, deve satisfazer dois requisitos potencialmente conflitantes:

Uma é representar a realidade como experimentada, mas de maneiras cognitivamente eficientes, e outra é reter o conhecimento de forma a apoiar um eu coerente e eficaz. Conway, Meares et al. ... propõem que isso seja alcançado pelo que eles chamam de 'coerência adaptativa'. Ou seja, existe um nível ideal de retenção para qualquer experiência que maximize o condicionamento físico e a sobrevivência[17].

A partir dessa perspectiva, podemos ver por que a memória de vidas passadas – que sempre carrega consigo uma identidade diferente em termos de nome, relacionamentos e aparência externa, bem como, às vezes, ocupação, nacionalidade, etnia, religião, idioma, orientação sexual ou gênero – pode ter que ser abandonada por uma questão de coerência.

 

Prevenção de desajuste

Stevenson observou que algumas crianças pequenas com memórias de vidas passadas falam como se ainda estivessem vivendo suas vidas passadas, usando o tempo presente ao descrevê-las e parecendo confusas com a pequenez de seus corpos. Outros deixam claro que a vida estava no passado, usando expressões como 'quando eu era grande[18]'. A contínua confusão de identidade pode causar problemas em seus relacionamentos, carreiras e vidas, ressaltou.

Podem surgir problemas quando as crianças que se lembram de vidas passadas comparam desfavoravelmente suas famílias e circunstâncias atuais com as de suas vidas anteriores. A exigência de uma criança de ver sua "mãe verdadeira" ou "família real" pode aumentar o medo em sua família biológica de perder a criança para sua família anterior. Os sujeitos dos casos de Stevenson que queriam voltar para suas antigas casas incluem Prakash Varshnay, Gnanatilleka Baddewithana, Jagdish Chandra, Veer Singh, Shamlimie Prema, Gamani Jayasena, Indika Guneratne, Wijanam Kithsiri, Suleyman Zeytun, Rabih Elawar, Ratana Wongsombat e Bongkuch Promsin. A esta lista pode ser adicionado o caso de Tomo de Ohkado[19].

A birmanesa Ma Tin Aung Myo, que se lembrava de ter sido homem em sua vida anterior, abandonou a escola em vez de usar trajes femininos. Jasbir Lal Jat, um menino indiano de casta baixa que se lembrava de uma vida passada como um homem de casta alta, rejeitou a comida que lhe foi servida, considerando-a "poluída" - pela qual foi espancado por seu irmão mais velho; mais tarde, ele teve problemas para encontrar um emprego que considerasse apropriado para sua casta de vidas passadas[20].

Parmod Sharma estava tão preocupado com as brincadeiras de vidas passadas que perdeu um ano de escola, aparentemente prejudicando sua carreira futura[21]. Bir Sahai, também nascido em uma casta inferior após uma vida passada em uma casta superior, recusou-se a aceitar o status inferior; seus pais anteriores o aceitaram como a reencarnação de seu filho e o deixaram viver com eles, mas nenhuma outra família de sua casta permitiu que suas filhas se casassem com ele, então ele morreu solteiro[22]. Algumas crianças sofrem a dor de serem rejeitadas pelas pessoas de quem se lembram como suas famílias anteriores, como no caso de Dolon Champa Mitra[23].

 

Proteção contra memórias traumáticas

Em seus estudos psicológicos de crianças com memórias de vidas passadas, Erlendur Haraldsson descobriu que elas tendem a ser mais inteligentes e a ter um desempenho melhor na escola do que outras crianças. Mas ele também os achou - apesar da normalidade de suas famílias - mais tensos, argumentativos, perfeccionistas, nervosos, propensos a pesadelos, temperamentais, facilmente envergonhados, afligidos por medos específicos e propensos à dissociação, embora não em um grau patológico. Haraldsson reconheceu esses sintomas como típicos do transtorno de estresse pós-traumático e, como uma grande parte dessas crianças se lembrava de mortes violentas, ele levantou a hipótese de que as crianças que se lembram de tais eventos tendem a ter sido traumatizadas por eles[24].

Matlock postula:

Pode ser que nossa psique aja para impedir que memórias de vidas anteriores entrem em nossa consciência, a fim de nos proteger emocionalmente e nos permitir adaptar-nos mais facilmente às nossas circunstâncias atuais[25].

 

Fatores sociais nas idades de cinco a oito anos

Stevenson e outros descobriram que crianças pequenas que se lembram de vidas passadas muitas vezes as esquecem entre as idades de cinco e oito anos[26]. Ele sugere que os fatores sociais são causais aqui:

A idade usual do esquecimento parece coincidir com o aumento da atividade de uma criança fora do ambiente físico e social de sua família imediata. Acredito que esse ajuste traz novas experiências, cujas memórias cobrem e parecem obliterar as da vida anterior[27].

Mas ele também postula um aspecto de desenvolvimento, embora de uma forma que parece um tanto desafiadora da experiência:

O início da amnésia coincide com o rápido desenvolvimento da linguagem verbal e a perda associada de imagens visuais na criança. Memórias de vidas anteriores parecem ocorrer principalmente (na mente da criança) na forma de imagens visuais. No entanto, o desenvolvimento da linguagem leva, na maioria das pessoas, a uma sobreposição de imagens visuais, que gradualmente se tornam cada vez menos acessíveis. Até mesmo a capacidade de ter imagens visuais fica muito prejudicada na maioria das pessoas à medida que saem da primeira infância[28].

 

Supressão dos pais

Stevenson observa que a supressão parental das memórias das crianças é mais comum nos lares ocidentais do que nas culturas reencarnacionistas, resultado da descrença dos pais. Mas ele observa ainda que os pais em culturas reencarnacionistas também suprimem as memórias de vidas passadas de seus filhos, influenciadas por várias crenças. No Camboja e em outros países budistas, as pessoas consideram a memória de vidas passadas adequada para pessoas que se aproximam da iluminação espiritual por meio da meditação, mas problemática em crianças pequenas[29]. Muitas pessoas na Índia e na Birmânia acreditam que as memórias de vidas passadas em crianças são prejudiciais e até possivelmente fatais; outros acham os relatos da criança desagradáveis ou insultuosos ou, como mencionado, temem perder o filho para a família anterior[30]. Satwant Pasricha descobriu que na Índia a supressão tende a aumentar depois que a encarnação anterior é identificada e as duas famílias se conhecem. Na sua opinião, tal deve-se a muitos fatores, incluindo os mencionados na secção «Prevenção de desajustamentos» supra[31].

Os pais costumam recorrer a espancamentos e abuso emocional para tentar suprimir as memórias de vidas passadas de uma criança[32]. Outros métodos incluem girar a criança em uma roda de oleiro para causar tontura, lavar a boca com água suja, colocar comida parcialmente mastigada na boca, colocar uma vassoura na cabeça duas vezes por semana, bater suavemente na cabeça com a sola de um sapato e aplicar amuletos no corpo. Reminiscente do mítico rio grego Lethe, cuja água causava amnésia naqueles que a bebiam, os pais cambojanos podiam fazer com que a criança comesse ovos de pássaros não fertilizados para fazê-los esquecer; no sul da China, a sopa de carpa é usada[33].

Stevenson descobriu que a supressão parece não funcionar tão bem quanto os pais gostariam. Em uma análise de casos indianos, as crianças em 29 dos 69 casos em que a supressão foi tentada (41%) continuaram a falar sobre suas vidas passadas por tanto tempo quanto as outras. Deve-se ter em mente, no entanto, que os casos em que os pais foram totalmente bem-sucedidos não são detectáveis pelos pesquisadores da reencarnação, portanto, não podemos saber o quão prevalentes eles são.

 

Amnésia de vidas passadas como disfunção

Titus Rivas argumenta que a amnésia de vidas passadas não é adaptativa, mas sim uma falha na mentalidade humana, seja qual for a causa. Ao esquecer, ele afirma, nos tornamos alienados de nós mesmos e também sofremos maior medo da morte, sem prova experiencial da reencarnação. Ele escreve:

Se soubéssemos mais sobre quem e o que fomos no passado, saberíamos melhor quem e o que realmente somos agora e onde estamos. Também pode aumentar nosso interesse pela vida, nossa paixão por ela no sentido positivo desta palavra, nosso amor por nós mesmos, nossa dignidade e nosso amor e respeito por todos os nossos semelhantes[34].

 

Hipóteses de memória de vidas passadas

A dificuldade que parece inerente à lembrança de vidas passadas levanta a questão: o que motiva as pessoas a se lembrarem delas?

 

Incompletude ou negócios inacabados

Analisando que tipos de vidas têm maior probabilidade de serem lembradas, Stevenson identificou um tema de incompletude. Entre 725 casos de seis culturas diferentes, ele descobriu que 61% se lembravam de vidas anteriores que terminaram em morte violenta, uma proporção muito maior do que a incidência real de mortes violentas nessas culturas[35]. Mas ele foi capaz de dividir os casos de morte natural em quatro grupos que parecem igualmente desproporcionais:

§  mortes súbitas (aparente bem-estar até a morte em 24 horas ou menos, por exemplo, por ataque cardíaco)

§  morte por qualquer motivo menor de doze anos

§  morte deixando negócios inacabados (por exemplo, mães com filhos pequenos precisando de cuidados, pessoas com dívidas a pagar)

§  mortes que interromperam a continuidade dos negócios (por exemplo, um empresário interrompido pela morte enquanto estava absorto na construção de um negócio)[36]

Pode-se dizer que as pessoas nesses grupos tinham uma expectativa razoável de uma vida mais longa, talvez tendo feito planos futuros. A sensação de incompletude causada pela vida sendo interrompida, postula Stevenson, pode ter tornado essas vidas anteriores mais memoráveis[37].

 

Habilidade de Memória e Prática Espiritual

Stevenson observa a descoberta de Haraldsson de que as crianças que se lembravam de vidas passadas pareciam ter uma lembrança melhor do que seus pares, embora esse não possa ser o único fator na capacidade de se lembrar de vidas passadas. Ele também identifica a clareza mental alcançada por meio da prática espiritual como sendo propícia à memória de vidas passadas, não apenas nesta vida, mas também na próxima[38]. Essa observação é apoiada pela pesquisa da pesquisadora de reencarnação Iris Giesler no registro publicado de casos em que os sujeitos se lembravam de morrer naturalmente, de velhice; em seis dos dez casos que ela encontrou, as encarnações anteriores foram budistas devotos e meditadores dedicados[39].

 

Sinalização e gatilhos

James G. Matlock observa que, como na vida presente, uma memória de vida passada pode ser desencadeada por encontros casuais com pessoas, lugares, sons, cheiros, emoções e assim por diante. A visita de James Leininger a um museu de aeronaves da Segunda Guerra Mundial, por exemplo, parece ter desencadeado suas memórias de ter sido um piloto de caça americano abatido perto do Japão[40]. Enquanto as crianças parecem mais capazes de se lembrar espontaneamente no estado regular de vigília, as memórias dos adultos surgem com mais frequência como resultado de pistas ou em estados alterados, como meditação ou sonho[41].

 

Cura

Matlock argumenta que as memórias de vidas passadas lembradas em qualquer idade provavelmente expressam algum tipo de necessidade, escrevendo: "Com os adultos, isso pode ser uma necessidade de resolução de conflitos emocionais trazidos do passado, uma espécie de negócio inacabado da psique[42]". A experiência de James Leininger sugere que isso pode não ser verdade apenas para adultos, mas também para crianças: seus sentimentos sobre sua morte violenta em vidas passadas tornaram-se mais pacíficos e positivos após um ritual memorial no local onde aconteceu[43].

Matlock observa que, em um nível subliminar, as pessoas com vidas passadas podem sentir os efeitos de agir em suas personalidades e comportamentos. Mesmo que não se lembre de nada deles, ele escreve:

As influências, no entanto, nos ajudam a nos adaptar às condições de nossas novas vidas quando retornamos nos mesmos grupos étnicos, sociais e linguísticos[44]. Eles fornecem a base para o crescimento psicológico e talvez espiritual. A lembrança de vidas passadas não é necessária para receber esses benefícios e pode até interferir neles, portanto, quando ocorre, provavelmente tem algum propósito psicológico mais conhecido pela psique individual[45].

 

Literatura

§  Conway, M.A. (2005). Memory and the self. Journal of Memory and Language 53/4, 594-628.

§  Griffin, D.R. (1997). Parapsychology, Philosophy, and Spirituality: A Postmodern Exploration. Albany, New York, USA: State University of New York Press.

§  Haraldsson, E. (2011). Psychic experiences – third of a century apart: Two representative surveys in Iceland with an international comparison. Journal of the Society for Psychical Research 75/2, 76-90.

§  Haraldsson, E. (2008). Persistence of past-life memories: Study of adults who claimed in their childhood to remember a past life. Journal of Scientific Exploration 19, 385-93.

§  Haraldsson, E., & Abu-Izzedin, M. (2012). Persistence of ‘past-life’ memories in adults in Lebanon who, in their childhood, claimed memories of a past life. Journal of Nervous and Mental Disease 200, 985-89.

§  Haraldsson, E., & Matlock, J.G. (2016). I Saw a Light and Came Here: Children’s Experiences of Reincarnation. Hove, UK: White Crow Books.

§  Matlock, J.G. (2019). Signs of Reincarnation: Exploring Beliefs, Cases, and Theory. Lanham, Maryland, USA: Rowman & Littlefield.

§  Ohkado, M. (2013). A case of a Japanese child with past life memories. Journal of Scientific Exploration 27, 625-36.

§  Ohkado, M. (2015). Children’s birth, womb, prelife, and past-life memories: Results of an internet-based survey. Journal of Prenatal and Perinatal Psychology and Health 30/1, 3-16.

§  Pasricha, S.K. (2011). Do attitudes of families concerned influence features of children who claim to remember previous lives? Indian Journal of Psychiatry 53/1, 21-24.

§  Rivas, T. (2012). Amnesia: The universality of reincarnation and the preservation of psychological structure. [Translated and condensed version of Het geheugen en herinneringen aan vorigelevens: neuro-psychologische en psychologische factoren, Spiegel der Parapsychologie 37/2-3, 81-104 (1999).]

§  Stevenson, I. (1983). Cases of the Reincarnation Type. Volume IV: Twelve Cases in Thailand and Burma. Charlottesville, Virginia, USA: University Press of Virginia.

§  Stevenson, I. (1997). Reincarnation and Biology: A Contribution to the Etiology of Birthmarks and Birth Defects (2 vols.). Westport, Connecticut, USA: Praeger.

§  Stevenson, I. (2001). Children Who Remember Previous Lives: A Question of Reincarnation (rev. ed.). Jefferson, North Carolina, USA: McFarland.

§  Stevenson, I., & Chadha, N. (1990). Can children be stopped from speaking about previous lives? Some further analyses of features in cases of the reincarnation type. Journal of the Society for Psychical Research 56, 82-90.

 

Traduzido com Google Tradutor



[2] Haraldsson & Matlock (2016), 261.

[3] Matlock (2019), 62.

[4] Matlock (2019) 40-41.

[5] Haraldsson (2011), 80, Tabela 2.

[6] Ohkado (2015), 6, Tabela 4.

[7] Stevenson (2001), 108.

[8] Haraldsson (2008).

[9] Haraldsson & Abu-Izzeddin (2012). Matlock atribui a discrepância a fatores culturais: ver Matlock (2019), 195.

[10] Por exemplo, ver Griffin (1997), 197.

[11] Rivas (2012).

[12] Matlock (2019), 251.

[13] Matlock (2019), 251.13.Matlock (2019), 255.

[14] Matlock (2019), 255.

[15] Conway (2005), 595.

[16] Conway (2005), 595.

[17] Conway (2005), 596.

[18] Stevenson (2001), 107.

[19] Ohkado (2013).

[20] Stevenson (2001), 124.

[21] Stevenson (2001), 124.

[22] Stevenson (2001), 126.

[23] Matlock (2019), 197.

[24] Haraldsson & Matlock (2016), 113-18.

[25] Haraldsson & Matlock (2016), 263.

[26] Stevenson (2001), 108.

[27] Stevenson (2001), 108.

[28] Stevenson (2001), 109.

[29] Matlock (2019), 196.

[30] Stevenson (2001), 95-96. Ver também Pasricha (2011).

[31] Pasricha (2011).

[32] Stevenson (2001), 96 n2.

[33] Matlock (2019), 196-97.

[34] Rivas (2012).

[35] Stevenson (2001), 165.

[36] Stevenson (2001), 211-12.

[37] Stevenson (2001), 211-12.

[38] Stevenson (2001), 213.

[39] Citado em Matlock (2019), 208.

[40] Matlock (2019), 124-25.

[41] Matlock (2019), 201-2, 205-6.

[42] Matlock (2019), 209.

[43] O ritual e o resultado são mostrados visualmente neste clipe de TV.

[44] O que fazemos, geralmente: ver Haraldsson & Matlock (2015), 229-35.

[45] Haraldsson & Matlock (2016), 266.