quinta-feira, 21 de novembro de 2024

PENAS E GOZOS[1]

 


Miramez

 

De acordo, então, com o que vindes de dizer, o inferno e o paraíso não existem, tais como o homem os imagina?

São simples alegorias: por toda parte há Espíritos ditosos e inditosos. Entretanto, conforme também há dissemos, os Espíritos de uma mesma ordem se reúnem por simpatia; mas podem reunir-se onde queiram, quando são perfeitos.

A localização absoluta das regiões das penas e das recompensas só na imaginação do homem existe. Provém da sua tendência a materializar e circunscrever as coisas, cuja essência infinita não lhe é possível compreender. (Allan Kardec)

Questão 1012 / O Livro dos Espíritos

 

Todo princípio da felicidade existe dentro de cada alma, por vezes em estado de sono ou começando a acordar, ou, ainda, em estado mais ou menos adiantado. Não deves pensar que o céu existe em lugar determinado, para os que têm condições de entrada livre nos lugares celestiais. Onde se reúnem os Espíritos puros, ali se forma o ambiente dos céus; onde se congregam os Espíritos inferiores, o inferno.

As penas e gozos principiam na nossa intimidade. É neste sentido que sempre falamos que, se queres a paz, constrói internamente a paz, que essa paz se irradiará por teu exterior. Os espíritas já conhecem essa verdade, pois já leram livros e mais livros que retratam as zonas onde existem as trevas compactas, com levas e mais levas de Espíritos obstinados no mal, presos nas suas maldades, e outros que circulam no espaço, sem rumo, espalhando as suas más intenções.

Os umbrais se encontram cheios de almas portadoras de sentimentos inferiores, arraigadas nas paixões, sem conhecerem ou sentirem as belezas imortais do amor e da caridade, do perdão e da fé em Jesus Cristo. Todos temos notícias de colônias espirituais igualmente repletas de Espíritos reformados e reformando-se à luz do Evangelho de Jesus. Não podemos dizer que são almas venturosas, por estarem ainda em processo de arrependimento, objetivando a perfeição, trabalhando para merecer outra reencarnação, na qual poderão refundir os sentimentos para que o amor cresça nos seus corações. Não é o ambiente que os torna felizes, mas o que despertam dentro de si.

Jesus já dizia com propriedade que o céu está dentro de cada um, esperando apenas que os valores despertem para que a luz comece a nascer no coração e a tranquilizar a consciência. Pode notar o estudioso do espiritualismo que, quando um pensamento fixa na sua mente, de que ele fez algo em desacordo com o bem, espraia-se sofrimento em todo o seu ser, surgindo a melancolia, o desespero, a revolta, e aí prossegue nesta linha de contradições. É a consciência em estado de alerta, para que ele possa sair dessa condição contrária à lei da harmonia.

O que se pode fazer? Buscar Jesus e o Seu Evangelho, meditar nele e buscar imediatamente o socorro nos seus valores, passando a viver o amor, exercitando a caridade. Devemos sempre nos lembrar da parábola das bodas, que nos diz:

Ide, pois, para as encruzilhadas dos caminhos e convidai para as bodas a quantos encontrardes.

Mateus, 22:9

Quando acertares o caminho e se dê o teu casamento com o bem, sai a procurar quem se interessa em casar-se igualmente com a verdade e convida essa alma para o banquete celestial do amor, de modo a te libertares da ignorância.

O inferno e o paraíso não têm a existência que certos homens imaginam, em lugar determinado. As suas raízes se encontram dentro do Espírito, de onde poderemos viver com um ou com outro. Todos os suplícios principiam na nossa intimidade. Os Espíritos puros, onde quer que estejam, vivem no céu, enquanto as almas inferiores podem acompanhar e viver com os Anjos, mas se encontrarão sempre no "inferno", sofrendo o guante da sua consciência.

Deus abençoe sempre o coração que ama e ajuda ao que desconhece o amor.



[1] FILOSOFIA ESPÍRITA – Volume 20 – João Nunes Maia

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