Eder Andrade
Muitas pessoas acreditam que é
impossível a depressão ter relação com algum tipo de sentimento de culpa que
somos portadores. Acreditam em problemas físicos, emocionais ou até de herança
genética familiar, mas nunca que um quadro emocional de culpa tenha relação com
vidas passadas, até porque nem se lembram de acontecimentos da infância e
juventude, como vão se lembrar de vidas passadas?
Alguns chegam a acreditar que é
uma doença que faz parte do mundo moderno, onde a falta de acesso a melhores
condições de vida, bons empregos e igualdade social seja o gatilho para o
surgimento desta síndrome ou enfermidade, mas não acreditam que na essência,
ela venha a ter relação com vidas passadas mal resolvidas.
Existem terapias holísticas e
espiritualistas que afirmam, assim como a Doutrina Espírita, que a origem ou a
matriz do sentimento de tristeza profunda, melancolia, desconforto emocional e
até depressão estão relacionados a um sentimento de culpa que desenvolvemos ao
longo do tempo.
Pode ser dessa vida ou de vidas
passadas. A Doutrina Espírita vai procurar mostrar que existem situações
vividas que acabam estabelecendo um link entre o mal cometido e o momento
presente que estamos vivendo. Importante autores espirituais por intermédio de
confiáveis médiuns nos vão dando interessantes depoimentos.
Chico
Xavier, que nos deixou um interessante livro com algumas perguntas,
publicado após seu desencarne, nos relata:
O erro de uma encarnação passada pode influir na
encarnação presente, predispondo o corpo físico às doenças? De que modo?
A grande maioria das doenças tem a sua causa profunda
na estrutura semimaterial do corpo espiritual. Havendo o Espírito agido
erradamente, nesse ou naquele setor da experiência evolutiva, vinca o corpo
espiritual com desequilíbrios ou distonias que o predispõem à instalação de
determinadas enfermidades, conforme o órgão atingido[2].
(Emmanuel)
Uma dissociação inconsciente
onde o enfermo nega possíveis acontecimentos de vidas passadas. Poucos são
aqueles que param para refletir e admitir a possibilidade das dificuldades ou sofrimentos
da vida atual, terem uma vinculação ou relação com uma atitude imprudente do
passado distante.
Carl Gustav Jung psiquiatra,
psicoterapeuta e psicólogo suíço que fundou a escola de psicologia analítica,
afirmou em seus trabalhos que:
As pessoas farão de tudo, chegando ao limite do absurdo
para evitar enfrentar a sua alma.
Em outras palavras, é difícil
enfrentar a consciência culpada, enfrentar a si mesmo. Fazemos de tudo para
evitar o desconforto da verdade. Não conseguimos compreender como a dor pode
nos beneficiar para superar o sentimento de culpa que carregamos na nossa
mente. Como voltar a estar em paz com a nossa consciência?
Suely
Caldas faz um bonito trabalho, em sua obra “Transtornos Mentais”, quando
procura correlacionar os pensamentos do psicólogo existencialista Rollo May ao
Espiritismo, afirmando que o homem moderno se distanciou de si mesmo na medida
em que renunciou ao autoconhecimento.
A Justiça Divina é perfeita, portanto equânime,
conforme o próprio Mestre Jesus asseverou, a cada um segundo as suas obras.
Nos códigos divinos não existem imperfeições, privilégios, castigos,
perseguições ou vinganças - embora assim pense a maioria das criaturas, que
atribuem a Deus, como punição impiedosa, as provações que enfrentam na vida
terra[3].
As pessoas acreditam que negar a
possibilidade da relação do desconforto emocional e moral, as questões mal
resolvidas que estão vivendo, ajuda a melhor conviver com esses conflitos
interiores. Hoje sabemos que a busca do autoconhecimento e da Reforma Íntima
representam um grande passo para nosso crescimento. Agora fica a pergunta: Por
quê?
Em O Livro dos Espíritos,
Allan Kardec explica das perguntas 990 a 1002, o processo de arrependimento,
expiação e reparação. A compreensão desse processo realmente não é algo fácil,
implica no desejo sincero do indivíduo entender o que se passa com ele,
promover sua Reforma Íntima e aceitar com humildade a decisão de em numa nova
encarnação iniciar a reparação, de acordo com a lei de Deus, das faltas por ele
um dia cometidas[4].
Um estudo aprofundado da
Doutrina Espírita nos mostra que estar em paz com sua consciência implica em
uma mudança de conduta e atitudes que levem o indivíduo a reverter seus
comportamentos e se possível, iniciar essa mudança na mesma reencarnação,
através da prática do amor ao próximo e da caridade aos necessitados que passam
pelo nosso caminho.
Podemos citar os exemplos
bíblicos de Paulo de Tarso e Maria de Magdala. Ele era um sumo sacerdote hebreu
que passou de maior perseguidor dos cristãos ao maior defensor do Cristianismo.
Já a história de Maria de
Magdala representa a regeneração através do amor ao semelhante, como podemos
ver na obra de “Irmão X”, psicografado por Chico Xavier, nas conversas entre
ela e Jesus, quando o Mestre responde à colocação de Maria que diz:
No entanto, Senhor, tenho amado e tenho sede de amor!
...
Sim - redarguiu Jesus - tua sede é real, o mundo
viciou todas as fontes de redenção e é imprescindível, que compreenda em suas
sendas a virtude tem de marchar por uma porta muito estreita[5].
As palavras de Jesus para Maria
de Magdala foram melhor explicadas por Kardec no item Expiação e
Arrependimento. Precisamos perceber que muitos valores que nutrimos nesse
mundo estão viciados e corrompidos pelos interesses egoístas das pessoas. É
necessário rever valores e ressignificar nossa caminhada de vida para que os
erros do passado não nos afundem em um sentimento de culpa, lembrando:
Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com
os outros, porque o amor cobre muitos pecados.
I Pedro 4:8
[1] O CONSOLADOR - Ano 18 - N° 897 - 10 de Novembro
de 2024 - https://www.oconsolador.com.br/ano18/897/ca1.html
[2] Xavier, Francisco Cândido; Verdade e Amor (2015); Cap.
18: A Doença e a Justiça - it. 2; Ed. FEB/CEU
[3] Schubert, Suely Caldas; Transtornos Mentais; Cap. 2 -
Definindo Transtornos Mentais; Minas Editora.
[4] Kardec, Allan; O Livro dos Espíritos; 4ª Parte
- Cap. 2 - Expiação e Arrependimento; Ed. FEB.
[5] Xavier, Francisco Cândido. Boa Nova; Cap. 20 - Maria
de Magdala; Ed. FEB.
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