sexta-feira, 5 de julho de 2024

O PERISPÍRITO E OS NEUTRINOS[1]

 


Eurípedes Kühl

 

O perispírito é o laço que à matéria do corpo prende o Espírito, que o tira do meio ambiente, do fluido universal. Participa ao mesmo tempo da eletricidade, do fluido magnético e, até certo ponto, da matéria inerte.

O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 257, pg. 165, 81ªEd., 2001, Brasília/DF

 

Esse invólucro, semimaterial que tem a forma humana, constitui para o Espírito um corpo fluídico, vaporoso, mas que, pelo fato de nos ser invisível no seu estado normal, não deixa de ter algumas das propriedades da matéria.

O Livro dos Médiuns, cap. 1, item 3, pg. 23.

 

Conhecimento do princípio das coisas

O segundo capítulo de O Livro dos Espíritos (O L.E.), que trata Dos elementos gerais do Universo, engloba vinte perguntas e respostas: nº 17 a 36. Como já acontecera no capítulo anterior, nesse também há questões (17, 18 e 19) não respondidas pelos Espíritos, por tratarem da revelação do “princípio das coisas”, cujo mistério o homem ainda não tem faculdades para compreender, mesmo porque a ciência tem limites estabelecidos por Deus.

A seguir, sintetizarei algumas das questões citadas acima:

- Questão 21: Só Deus sabe se a matéria existe desde sempre — a eternidade;

- Questão 22: A matéria existe em estados que ignorais. Pode ser, por exemplo, tão etérea e sutil, que nenhuma impressão vos cause aos sentidos. Contudo, é sempre matéria. Para vós, porém, não o seria. (Grifei).

- Questão 22a: A matéria é o laço que prende o Espírito; é o instrumento de que este se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua ação;

- Questão 23: O espírito é o princípio inteligente do Universo;

- Questão 25: O Espírito independe da matéria e ambos são distintos um do outro, mas a união do Espírito e da matéria é necessária para intelectualizar a matéria;

- Questão 25a: Essa união é necessária a vós outros porque não tendes organização apta a perceber o Espírito sem a matéria. A isto não são apropriados os vossos sentidos;

Questão 27: Deus, Espírito e a matéria constituem a trindade universal, o princípio de tudo o que existe. Mas, ao elemento material se tem que juntar o fluido universal (ou primitivo, ou elementar), que tem propriedades especiais e age como intermediário entre o Espírito e a matéria propriamente dita, por demais grosseira para que o Espírito possa exercer ação sobre ela. O fluido universal está colocado entre o espírito e a matéria; é fluido como a matéria é matéria, e suscetível, pelas suas inumeráveis combinações com esta e sob a ação do Espírito, de produzir a infinita variedade das coisas de que conheceis apenas uma parte mínima. Esse fluido de que se utiliza o Espírito é o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisão e nunca adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá; (Grifei)

- Questão 27a: O fluido universal, que chamais fluido elétrico, fluido magnético, são modificações do fluido universal, que não é, propriamente falando, senão matéria mais perfeita, mais sutil e que se pode considerar independente. (Grifei)

 

Propriedades da matéria

São inúmeras as propriedades da matéria, que, por leis naturais e físicas, divinas, sábias, atende à manutenção saudável da organização física de todos os seres vivos.

Na Terra são tantos sons, cores, flores e florestas, e diversos climas, pelo que o homem deve sempre ser grato ao Supremo Criador.

Como exemplo das incontáveis utilizações da matéria terrena, cito a existência de inumeráveis possibilidades, tanto com o fogo, quanto com a água — abençoados ambos —, com potencial a serviço da vida.

A gama de transformações e combinações materiais possíveis, praticamente, para finalidades sem fim, vai ao infinito e é justamente isso que possibilita ao homem exercitar a inteligência e tornar seu viver mais confortável. O agudo e o grave (na música), tanto quanto o frio e o calor (nas geladeiras e nas vestimentas), são vertentes naturais domesticadas pelo homem, que deve ser grato à Providência Divina, que tudo oferta a ele para sobreviver na Terra.

 

Espaço universal

Dimensionar o espaço universal, estabelecendo-lhe fronteiras, bem como conceder-lhe certidão de nascimento, é absolutamente impossível ao homem, que pode, apenas, concebê-lo infinito — sem limites. Vácuo, por definição, seria o “espaço ocupado por coisa alguma”.

Kardec perguntou (questão n° 36 de O L.E.) e obteve como resposta:

— O vácuo absoluto existe em alguma parte do Espaço universal?

— Não, não há o vácuo. O que te parece vazio está ocupado por matéria que te escapa aos sentidos e aos instrumentos. (Grifei)

Estávamos em 1857...

A Ciência oficial tinha como verdade que entre os corpos celestes havia, sim, o vácuo absoluto. Então, eis que... Só nos fins do século XIX, início do XX, concorde com aquilo que Kardec registrou na já mencionada questão nº 22 de O Livro dos Espíritos, foi que a existência dos átomos e das moléculas foi definitivamente aceita pela Ciência. Aí, passou a ser “oficial” a suspeita da Ciência de que o vácuo — a imensa área escura do espaço — estava repleto de matéria, tanto quanto um copo vazio está sempre cheio de ar.

Mas, como prová-lo?!

O Espiritismo e a Ciência...

Em 1905 Albert Einstein (1879-1955), físico alemão, de paralelo com a física clássica, enuncia o conceito de fóton (quantum específico da luz) e diz que uma onda luminosa monocromática é formada de fótons, que têm massa de repouso nula, propagando-se no vácuo à velocidade da luz.

Após o reconhecimento da existência dos átomos, colocou-se a questão de sua estrutura. Um primeiro modelo, baseado nos quanta (dispositivo planetário: elétrons gravitando em torno de um núcleo), foi aperfeiçoado, com a descoberta do nêutron em 1930-1932.

Elétrons e nêutrons, em termos de física, passaram a ser considerados como partículas subatômicas fundamentais da família dos leptons (do grego = miúdos).

Vários são os leptons conhecidos: os elétrons, os múons, os neutrinos (nome dado a pequenos nêutrons por Enrico Fermi (1901-1954), físico italiano, e outros.

 

Os neutrinos

Desde então, muitos físicos se debruçaram na pesquisa dos neutrinos, talvez as partículas mais intrigantes do mundo subatômico. Intrigantes por possuírem propriedades misteriosas, fantasmagóricas até! Sim: são capazes de atravessar toda a Terra sem uma única colisão... Quais se fossem fantasmas... Atravessam objetos sólidos, inclusive o corpo humano, felizmente sem nenhum dano. Espantoso disso tudo é que trilhões (!) deles, a cada segundo, nos atravessam! No entanto, quando tudo, mas tudo mesmo, indicava que não possuíssem massa, eis o que aconteceu: dando um salto de Kardec aos nossos tempos, no início de junho de 1998, no Japão, um grupo de cento e vinte (!) cientistas, buscando entender o que pudesse ajudar a entender algo que eventualmente existisse na escuridão do Universo, e principalmente tentando comprovar que os neutrinos possuem massa, realizou um experimento no observatório japonês Super-Kamiokande[2]:

1.       num tanque de aço inoxidável com 12,5 milhões de galões de água ultrapurificada (!!!), colocado 1,6 quilômetro abaixo da superfície da Terra (um ambiente de estabilidade perfeita), foram instalados detectores de luz;

2.       observou-se que, às vezes, um neutrino colidia com uma molécula de água e produzia um lampejo azul;

3.       os cientistas verificaram que os lampejos variavam de intensidade, o que significa que os neutrinos mudavam de forma, logo devem possuir massa.

Criados a partir do processo de desagregação do núcleo do átomo, os neutrinos podem ser milhões de vezes menores do que um elétron, até hoje a partícula com menor massa conhecida. Quando visto por outra partícula em experiências de espalhamento parece como um disco de 10-38cm2.

Atualmente (estamos em 2024) se sabe que existem ao menos três tipos de neutrinos: “neutrino do elétron”, “neutrino do múon” e “neutrino do tau”, cada um associado a uma partícula. Intrigante, de novo, que eles podem intercambiar, entre si, as formas. E isso ainda não é tudo: desde 1995, nos EUA, um experimento indicou, sem comprovante, ser possível existir um quarto neutrino, chamado de “neutrino estéril”, induzindo debate de parte da Ciência quanto à existência desse neutrino.

Neutrinos são forjados no centro de estrelas como o Sol, em desintegrações de núcleos radioativos e em raios cósmicos. Em consequência, todo o sistema solar e particularmente a psicosfera terrena estão saturados deles.

— Ora: isso não lembra o que o Espiritismo diz sobre o fluido cósmico, em uma das suas infinitas transformações, particularmente aquela que constitui o envoltório atmosférico dos corpos celestes?

Com efeito, lembramos as palavras de Kardec, em seu livro A Gênese, cap. XIV, item 2:

O fluido cósmico universal é a matéria elementar primitiva, cujas modificações e transformações constituem a inumerável variedade dos corpos da Natureza.

Em outras palavras: fluido cósmico universal é a matéria primitiva básica a partir da qual todas as outras se formam. No caso da Terra, vindo os neutrinos do Sol, isso não parece confirmar a informação do Espírito Emmanuel sobre a formação da Terra[3]?

E, em termos de envoltório sutil e etéreo da atmosfera dos corpos celestes, não é dali que os Espíritos retiram a “matéria-prima” com a qual organizam seu perispírito, para atuarem nesse corpo celeste específico, no qual irão estagiar, ora encarnados, ora desencarnados, na longa rota evolutiva?

Se neutrinos contêm massa, mas são tão infinitamente pequenos que podem, aos trilhões, atravessar todos os corpos sólidos, isso também não lembra uma das propriedades do perispírito, que, mesmo ainda sendo matéria (segundo as questões nº 93 e 94 de O L.E. e o item nº 23 do cap. XIV de A Gênese, também de Allan Kardec), atravessa corpos sólidos sem a menor dificuldade e se desloca instantaneamente a grandes distâncias?

A interatividade nas formas dos neutrinos também não nos lembram as diferentes constituições perispirituais a que Kardec se refere, quando registrou as diferentes classes de espíritos, com as respectivas densidades dos perispíritos que os recobrem?

Essa mesma interatividade dos neutrinos conhecidos não teria ação psicossomática naquilo que a Biologia denomina de “genoma humano” (o código da vida) — o DNA?

Termino por aqui meus comentários, rogando aos que me leem que relevem meu pretensioso voo rasante sobre a Ciência. Não tenho qualquer formação científica, não obstante, nem por isso me sinto impedido de ao menos conjecturar e, então, formular a hipótese — não mais que hipótese — de que talvez o perispírito seja formado com matéria solar, a partir dos neutrinos...

A propósito, rogo apenas que concedam o favor da lembrança das palavras proféticas de Kardec[4] e teçam suas deduções:

 Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará.

De minha parte, reflito que a humildade de Kardec bem que pode ser configurada de outra forma: o tempo permitirá à Ciência comprovar o que os Espíritos já sabem há muito tempo...



[1] O CONSOLADOR - Ano 18 - N° 878 - 30 de Junho de 2024 - https://www.oconsolador.com.br/ano18/878/especial.html

[2] Reportagem científica da Revista VEJA de 17.06.1998: O VAZIO ESTÁ CHEIO.

[3] Espírito EMMANUEL, em “O Caminho da Luz”, psicografia de F.C.Xavier, 24ª Ed., 1994, FEB, Rio/RJ, no capítulo I, “A gênese planetária”, registra que a Terra seria “um bloco de matéria informe deslocada do Sol”, fato que hoje a Ciência tem como a melhor de todas as probabilidades.

[4] KARDEC, Allan, in A Gênese, Cap I, n° 55, p. 44, 35ª Ed., 1992, FEB, Rio/RJ

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