Miramez
Devemos, por respeito à liberdade de consciência, deixar
que se propaguem as doutrinas perniciosas, ou podemos, sem atentar contra essa
liberdade, procurar conduzir para o caminho da verdade os que se desviaram para
falsos princípios?
− Certamente se pode e mesmo se deve; mas ensinai, a
exemplo de Jesus, pela doçura e a persuasão, e não pela força, o que seria pior
que a crença daquele a quem desejásseis convencer. Se há alguma coisa que possa
ser imposta é o bem e a fraternidade; mas não acreditamos que o meio de fazê-lo
seja a violência: a convicção não se impõe.
Questão 841/O Livro dos Espíritos
Nunca aconselhamos a violência,
para impedir que se propaguem certas ideias. A brandura é sempre o melhor caminho.
Quando falamos em energia, não queremos dizer que se deve oprimir pela força,
os pensamentos e mesmo fatos que possam contaminar a massa humana.
O homem que ama, a pessoa branda
na sua vida, a alma honesta no seu viver com seriedade, o ser humano que
procura sempre a verdade, nunca encontram dificuldades para ensinar, e quem os
ouve acata seus pensamentos educativos.
Podemos respeitar as criaturas
e, no entanto, divergir delas no modo pelo qual pensam e fazem, sem que a
prepotência e o orgulho possam nos afetar. Ninguém é senhor de toda a verdade.
A vida, com todos os ensinamentos de Deus, se divide ao infinito, para instruir
as criaturas. Não fiquemos pensando que somente nós possuímos os direitos e a
verdade do Senhor, por pertencermos a uma religião. Todas as religiões se
modificam com o tempo e a força do progresso, bem assim os livros em que elas
alicerçam seus conceitos. Tudo muda com a força do tempo; somente Deus e Suas
leis são soberanamente eternos e perfeitos. Tudo o mais obedece à transitoriedade,
como se vê em todos os ângulos da criação.
Quando se trata de liberdade, é
certo que não devemos tolher os outros ao propagarem suas crenças, desde que
elas não firam a moral da sociedade. Quando isso acontecer, essa mesma
sociedade tem seus meios de defesa. Uma religião combater a outra é, pois
mostra de que já se encontra fraca e tem medo de desaparecer. Se ela teme, não
está com a verdade, porque a verdade não precisa de defesa dos homens.
Se se trata das coisas
espirituais, como combater com a força, violentando o modo pelo qual os outros
passaram a viver? Se tememos, não confiamos naquele cuja doutrina propagamos.
Se todas as religiões afirmam
que Deus é o Supremo Senhor de toda a vida, de toda a criação, Ele se encontra
à frente de todos os acontecimentos. Quando Ele deixa algo acontecer, por que
vamos querer impedir que aconteça? Andemos nas linhas do amor, que esse amor
nos defenderá e fortalecerá no bem onde quer que seja.
Vejamos o que Paulo escreveu aos
Romanos, no capítulo onze, versículo trinta e seis, de sua carta:
Porque dele e por meio dele e
para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente.
Por que nós, minúsculos seres,
queremos ou vamos querer impedir os pensamentos alheios aos nossos? Interferir
nos sentimentos do próximo é área em que não nos é permitido penetrar.
Gostaríamos que outros
intervissem nas nossas ideias? Então, não façamos aos outros o que não
desejamos que eles nos façam.
Se somos todos iguais, a justiça
nos policia todos os segundos e registra o que fazemos, para depois recebermos
o mesmo em troca. Nem mesmo o bem e a caridade que o amor puro impulsiona,
devem ser impostos; estas virtudes, por si mesmas crescem, por serem abençoadas
por Deus, quando criou o amor e achou bom que se irradiasse em toda a Sua
criação, dividindo-se em variadas leis que sustentam e garantem a vida.
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