quinta-feira, 15 de junho de 2023

DESEJO DE DEIXAR A TERRA[1]

 

Miramez

 

Quando o extático exprime o desejo de deixar a Terra, fala sinceramente e não o retém o instinto de conservação?

− Isso depende do grau de depuração do Espírito; se ele vê a sua posição futura melhor que a vida presente, faz esforços para romper os laços que o prendem à Terra.

Questão 441/O Livro dos Espíritos

 

O extático pode manifestar o desejo de desencarnar, no momento do transe, porque, às vezes, contempla mundos felizes. Se ele passa na Terra por certas provas, respirando o ambiente de duras consequências, pode deixar-se levar pelo desejo de romper os laços que o prendem ao corpo físico, porém, os que o cercam não deixam e usam de seus recursos para fazê-lo voltar ao domínio da matéria. Se ele está encarnado, tem uma tarefa a desempenhar, e partindo os laços antes do tempo, seria um suicida e
comparado como tal. A sua consciência o castigará, de sorte a pedir a sua volta ao mesmo mundo, reparando as faltas cometidas, em piores condições do que antes.

Desejar o melhor, todos desejam, não obstante, é preciso saber se merecemos o que almejamos. Procuremos, pois, somente a vontade de Deus e não a nossa, que o Senhor sabe o que faz, mais acertadamente. O êxtase é um caminho onde poder-se-á recolher ensinamentos valiosos para o extático e para os seus semelhantes, onde a fé, o amor e a caridade possam salientar-se como bênçãos de Deus. Convém a todos os seres procurar estudar, meditar e rever todos os ensinamentos que nos melhoram, direcionando o aperfeiçoamento e esquecendo totalmente o mal, que nunca merece discussões sobre ele.

Todos na Terra, desde o primitivo, até o Santo, devem se esforçar para ficar no mundo movendo o fardo físico o quanto puderem. Uma reencarnação não é fácil; para essa oportunidade, existem inúmeros candidatos. A volta ao corpo é bênção de luz entregue ao Espírito, como oportunidade grandiosa. Não devemos perder esse tesouro, e quanto mais nos demorarmos na carne, mais cresceremos para Deus, no sentido de despertarmos os talentos no escrínio da vida interna.

Notam-se muitas criaturas, movidas pela ignorância, querendo por todos os meios deixar a Terra, pensando que irão para um mundo de descanso. Quem procura descanso está atraído pela morte sem o saber. A vida feliz é movimento constante. Usemos dos poderes da oração e peçamos a Deus o trabalho, porque foi a primeira coisa de que Deus Se lembrou, se assim podemos dizer. Jesus não Se esqueceu de dizer que Deus opera sempre e que Ele laborava constantemente.

O homem dotado de sonambulismo e da faculdade de êxtase não deve largar essa oportunidade, buscando deixar a Terra quando queira. Que ele trabalhe onde estiver, para o bem da humanidade; que não se engane procurando o céu no exterior, pois ele se encontra dentro de cada um. Se ainda não o encontrou, que faça por onde ele possa surgir. Os caminhos estão aí, muito lembrados por muitas pessoas: chamam-se amor e caridade; fora dessas forças, não poderemos encontrar a felicidade. Buscá-las fora, é desperdiçar tempo e iludir-se a si mesmo. Esquecer compromissos, não é o certo. A razão apurada nos fala que devemos cumprir os nossos deveres, para que a consciência se tranquilize em uma dimensão de paz, onde não há desarmonia.

Às vezes, Deus deixa acontecer a desencarnação; quando o extático deseja e força a saída do corpo antes da hora, para que o Espírito aprenda com a violência o valor da obediência, o valor da honestidade consigo mesmo. A não violência é forma cristã que nos assegura a estabilidade do amor no coração. Não podemos repetir o que muitos já fizeram, arruinando a vida. Se não se está bem no corpo, pela inquietação consciencial, fora dele se continuará do mesmo modo, ou pior.

O corpo físico é uma esponja que absorve o magnetismo inferior de muitos deslizes do passado. Cuidemos dele e seremos felizes. O tempo é o alívio cósmico de todos nós, e a dor é a caridade de Deus manifestando-se desta forma, para que sejamos felizes por Sua ajuda na irradiação do amor.



[1] Filosofia Espírita – Volume 9 – João Nunes Maia

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