quinta-feira, 11 de maio de 2023

VENDER A ALMA[1]

 

"Faust Selling His Soul To Mephistopheles" - Jan Jansz. Van Buesem


Miramez

 

Qual o sentido das lendas fantásticas, segundo as quais certos indivíduos teriam vendido sua alma a Satanás em troca de favores?

− Todas as fábulas encerram um ensinamento e um sentido moral, e o vosso erro é tomá-las ao pé da letra. Essa é uma alegoria que se pode explicar assim: aquele que chama em seu auxílio os Espíritos, para deles obter os dons da fortuna ou qualquer outro favor, rebela-se contra a Providência, renuncia à missão que recebeu e às provas que deve sofrer neste mundo e sofrerá as consequências disso na vida futura. Isso não quer dizer que sua alma esteja para sempre condenada ao sofrimento. Mas, porque em vez de se desligar da matéria ele se afunda cada vez mais, o gozo que preferiu na Terra não o terá no mundo dos Espíritos, até que resgate a sua falta através de novas provas, talvez maiores e mais penosas. Por seu amor aos gozos materiais coloca-se na dependência dos Espíritos impuros: estabelece-se entre eles um pacto tácito, que o conduz à perdição, mas que sempre lhe será fácil romper com a assistência dos bons Espíritos, desde que o queira com firmeza.

Questão 550 / O Livro dos Espíritos

 

Certamente que não podemos vender a alma, nem nos vender a ninguém. Esse não é o sentido real do assunto. Como podemos nos vender, se o Espírito que compra está destinado ao despertamento espiritual como todos os demais? As coisas espirituais não se compram, nem se vendem. Tudo pertence a Deus, que criou todas as coisas.

Somente o ignorante troca seus sentimentos por dinheiro. Se queres ter ouro em caixa, é bom e justo que trabalhes: "O trabalhador", diz o Evangelho, "é digno do seu salário". Quem vende o que não é seu, será marcado de modo a responder em outra vida pelas consequências nefandas do seu ato indigno.

Já foi citado em outra página o ensino de Jesus sobre isso, o qual podemos repetir:

Procurai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, que tudo o mais virá por acréscimo de misericórdia.

Querer tomar qualquer coisa que não é nossa, constitui infração, e respondemos por isso nas linhas das nossas vidas. Cumpre a todas as criaturas ascender para a luz com os próprios esforços. Lutar com meta definida é o nosso dever. Lutar não fora de nós, é a meta mais acertada na vida. Vejamos o que falou o apóstolo Paulo, referindo-se a este assunto:

Assim como também eu, não sem meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar.

(l Coríntios, 9:26)

 

Paulo, o apóstolo dos gentios, se referia às lutas internas, como era de seu costume, antes de encontrar o Cristo no caminho de Damasco. É a guerra que tanto dizemos, a guerra por dentro, as lutas com nós mesmos.

Todas as fábulas carregam em sua estrutura algo de verdade. A venda da alma deve ser o empenho que temos com o Pai, de conquistar a nós mesmos em todos os rumos da vida, nos comprar a nós mesmos pelo trabalho dedicado ao próximo, pela caridade e pelo amor sem distinção, empenhar a nossa vida no bem coletivo, ajuntar experiências no celeiro espiritual, onde não falte a força da fraternidade e da compreensão.

Alma alguma fica condenada à miséria moral. Ela é igual às outras. Ela cresce, despertando os valores que todas possuem. São atributos divinos colocados no imo de todas elas. O tempo tem o poder de acordá-los, e Jesus nos ensina como fazê-lo, para o grande despertamento da vida. As ilusões do passado vão ficando para trás, e a verdade do porvir vem chegando aos nossos corações, valorizando toda a nossa vida, em se ligando à vida de Deus, cada vez mais presente em nossos sentimentos pelo amor.

As coisas dos céus não se vendem; elas pertencem ao Criador. Devemos, sim, entregar a nossa vida a Deus, de maneira que ela seja útil às suas companheiras, nos moldes que Ele desejar que seja.

Se queres granjear a assistência dos Espíritos puros, procura a pureza em tua vida, ou pelo menos esforça-te para tal. Todos os esforços no bem serão assistidos pela luz de Deus. Seus agentes estão espalhados por toda a criação, fazendo vigorar todas as Suas leis de Justiça e de Amor.

Deves romper com o mal, se por acaso te encontras ligado a ele. Abraça a verdade, que esse trabalho será abençoado pelos benfeitores da eternidade e serás vencedor, ganhando a ti mesmo.



[1] Filosofia Espírita – Volume 11 − João Nunes Maia

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