segunda-feira, 27 de março de 2023

JACI RÉGIS

 


 

Polêmico por natureza, personifica a contradição em toda sua essência. É, ao mesmo tempo, um homem sensível, culto, repleto de ternura, explosivo, ríspido e autoritário. Acessível às novas ideias, progressista, estimula e defende a adoção de comportamentos responsáveis e livres de preconceitos no que diz respeito à sexualidade e à liberdade, fundamentais para a construção da felicidade humana, que compreende como diretamente ligada à busca do prazer. Por outro lado, é conservador do ponto de vista político, um liberal clássico na acepção da palavra, que nutre exagerada antipatia ao socialismo e a esquerda em geral.

Filho de Octávio Regis e Izolina Adriano Regis, espíritas praticantes, nasceu em Florianópolis, em 30 de outubro de 1932, sendo o sexto filho de uma prole composta por oito irmãos: Otávio, Arnaldo, Francisco (falecido), Albertina, Ivon, Mariazinha (falecida), Luci e Egydio. Fez o curso primário nesta cidade catarinense, onde começou a frequentar o Catecismo Espírita e, mais tarde, a Mocidade Espírita.

No início de 1947 veio para Santos com a família e em novembro deste ano entrou para a Juventude Espírita de Santos, recém-fundada pelo Centro Espírita Manoel Gonçalves. A partir daí começa a sua exitosa trajetória de líder, divulgador e pensador espírita. Destaca-se pela sua inteligência, impulsividade e criatividade. Em 1949, quando a Juventude, já então denominada Mocidade Espírita Estudantes da Verdade (MEEV), mudou-se para o Centro Beneficente Evangélico, assume a liderança da mesma (tinha então 17 anos) com a transferência de Alexandre Soares Barbosa, fundador e grande polarizador dos jovens, para a cidade de Araraquara.

Em 1952 liderou o movimento que assumiu a direção do Centro Beneficente Evangélico. A partir daí esse centro tomaria um rumo diferenciado dos demais. Por sua sugestão, a casa mudou o nome para Centro Espírita Allan Kardec (CEAK).

Em 1962 liderou outro movimento composto por um grupo de jovens que assumiu a direção da Comunidade Assistencial Espírita Lar Veneranda, fundada em 1954, da qual foi presidente por 32 anos. Sua gestão foi marcada por grandes realizações, culminando com a construção de um belo prédio, sede da creche que atende hoje 130 crianças e 80 mães, e outro para a escola (posteriormente vendido) que continua atendendo 60 crianças.

Participou destacadamente do movimento juvenil no Estado de São Paulo, sempre combativo e inovador. Foi um dos fundadores da União Municipal Espírita de Santos (UMES), em 1951, sendo seu primeiro vice-presidente. Foi idealizador e presidente da Divulgação Cultural Espírita (Dicesp), órgão da UMES, desenvolvendo um grande trabalho de divulgação.

Jovens da MEEV, editavam o jornal Espiritismo, que posteriormente fundiu-se com o jornal Mensageiro da União, órgão da UMES, surgindo o "Espiritismo e Unificação", do qual foi diretor e editor por mais de 23 anos, em companhia de José Rodrigues.

A partir das divergências e disputas encetadas com o segmento religioso da UMES, fundou a Livraria Cultural Espírita (Licespe), vinculada ao Lar Veneranda. E o Jornal Abertura, em 1987, do qual até hoje é o diretor e editor.

Escreveu as seguintes obras: “A Mulher na Dimensão Espírita”, em parceria com Nancy Puhlmann Di Girolamo e Marlene Rossi Severino Nobre (1975), “Amor, Casamento & Família” (1977), “Comportamento Espírita” (1981), “O Poder no Movimento Espírita” (1981), “Uma Nova Visão do Homem e do Mundo” (1984), “Caminhos da Liberdade” (1990), o romance “As Muralhas do Passado” (1993), “Introdução À Doutrina Kardecista” (1997) e “A Delicada Questão do Sexo e do Amor” (1999).

Participa de atividades doutrinárias regulares no C. E. Allan Kardec, do qual foi presidente por 12 anos e é membro de seu Conselho Diretor.

Em 1999 fundou e assumiu a presidência do Instituto Cultural Kardecista de Santos (ICKS), entidade ligada ao Lar Veneranda, da qual também preside o Conselho Deliberativo desde 1994.

Dirigente, orador, divulgador do Espiritismo, escritor, jornalista, há décadas dedica-se à causa espírita, desempenhando inúmeros e relevantes papéis. Poucos, entretanto, sabem que Jaci, muito embora tenha cedo iniciado seu contato com a mediunidade, dirigindo reuniões por muitos anos, tardiamente desenvolveu faculdades mediúnicas, tendo contribuído por muitos anos como médium em reuniões de desobsessão, assistência espiritual e de pesquisa mediúnica no CEAK. Há cerca de sete anos não tem mais se dedicado a tais atividades.

É casado com Palmyra há 46 anos, companheira dedicada que conheceu na época de mocidade espírita e com a qual teve 6 filhos: Valéria (pedagoga), Rosana (assistente social), Gisela (bióloga), Cláudia (psicóloga), Fernando Augusto (médico) e Marcelo (engenheiro). Seus genros, Junior da Costa Oliveira, Roberto Luiz Rufo e Silva e Alexandre Cardia Machado, inspirados em seu exemplo e dedicação, tornaram-se militantes espíritas muito valorosos. A maioria dos seus 10 netos participa ativamente das atividades da Infância e da Mocidade Espírita do CEAK. Atualmente o Lar Veneranda é dirigido por sua filha, Valéria Regis Silva, e sua numerosa e devotada família participa ativamente na gestão desta entidade, bem como da Licespe, do Jornal Abertura e do ICKS.

Trabalhou durante 30 anos, até aposentar-se, na Refinaria Presidente Bernardes − Petrobrás, chegando a cargos de chefia de departamentos. Formou-se em Economia, Jornalismo e Psicologia.

Freudiano assumido, é psicólogo clínico e exerce intensa atividade profissional na área, que sem dúvida influiu decisivamente para que se dedicasse a abordagem de temas relacionados ao comportamento humano, a sexualidade, a família, a personalidade humana e suas relações com os problemas afetivos e psíquicos. Vem procurando desenvolver, ao longo dos últimos anos, uma teoria a que denominou Espiritossomática, procurando estabelecer pontos de confluência e a construção de uma práxis terapêutica a partir das contribuições doutrinárias do Espiritismo e de outras áreas da Psicologia, em particular a psicanálise.

É um expositor e autor que fez e ainda faz muito sucesso entre os jovens e espíritas livres-pensadores, desprovidos de preconceitos, tocados pelos argumentos e pela abordagem moderna, aberta, fundamentada e consistente com quem lida com os mais diversos temas doutrinários e problemas humanos.

É um autor que possui um estilo peculiar, de reconhecida competência. Sua pena produz há décadas ensaios e crônicas, publicadas em jornais e livros, de rara sensibilidade e ternura, que tocam as mais profundas fímbrias de nossos corações e mentes. Um texto sensível e criativo, sem que recorra à mesmice que caracteriza a literatura espírita.

Ao mesmo tempo, é capaz de produzir artigos, trabalhos, textos e livros de cunho doutrinários que se constituem em verdadeiros clássicos da literatura espírita contemporânea, indispensáveis aos estudiosos da Doutrina Espírita. Desenvolve uma linha de raciocínio e argumentação extremamente fundamentada e consistente, a partir dos postulados de Kardec – que conhece como poucos.

É um líder nato e grande realizador. Não há dúvidas de que o Lar Veneranda é a grande obra de sua vida, pois embora tenha tido inúmeros e valorosos colaboradores, sua obstinação, competência e liderança foram fundamentais para erguer e consolidar esta instituição modelar, Prêmio Bem Eficiente, conferido por Kanitz e associados, em 1998.

Sua contribuição intelectual ao pensamento espírita, por outro lado, foi sendo desenvolvida e aperfeiçoada num processo no qual destacam-se três fatos de fundamental importância na definição de sua obra: a "descoberta" de Freud e sua formação psicanalítica, no curso de Psicologia; o acesso às informações contidas na Revista Espírita, o que lhe permitiu um aprofundamento e a contextualização do pensamento de Kardec; e, por fim, a elaboração de uma proposta de releitura de Kardec, uma reconceituação das atividades doutrinárias, de modo a adequá-las aos princípios e objetivos do Espiritismo, num movimento criado e difundido a partir de 1978, ao qual denominou "Espiritização", que alcançou grande repercussão no movimento espírita.

Entre os espíritas atualmente encarnados, constitui-se sem dúvida no mais contundente e consistente crítico do Espiritismo evangélico/cristão e do não assumido roustanguismo da Federação Espírita Brasileira. Denuncia a concentração de poder nas mãos dos conservadores dirigentes das federativas e suas nefastas consequências. Impulsionou, a partir de meados da década de 80, a discussão em torno do caráter religioso do espiritismo, defendendo vigorosamente que o espiritismo não é uma religião, combatendo a incorporação de práticas e rituais religiosos pelo movimento e as distorções no uso e prática da mediunidade.

Foi um dos líderes, em 1986, da chapa de oposição à USE-SP, que terminou amplamente derrotada. A este processo seguiu-se uma verdadeira caça às bruxas, que objetivava isolar todos aqueles que de alguma forma estavam próximos ao "Grupo de Santos", ou seja, os influenciados e/ou liderados por Jaci Regis.

Foi deliberadamente satanizado, rotulado de obsidiado por seus "fraternos" inimigos. A divulgação do jornal por ele dirigido e de seus livros foram proibidos. Deixou de ser convidado para proferir palestras e conferências. As entidades do movimento de unificação do Espiritismo brasileiro procuraram isolá-lo, crentes que desta forma conseguiriam sufocar a crítica à deturpação do Espiritismo por eles transformado em uma religião conservadora e assim sufocar a retomada de um movimento genuinamente kardecista, progressista e não-religioso.

Buscando construir uma estratégia que pudesse romper o isolamento dos espíritas kardecistas que haviam sido excluídos e marginalizados (ou que se autoexcluíram por não suportarem mais as condições impostas pelo movimento oficial), idealizou e realizou em 1989 o I Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, que este ano atingiu sua sexta edição (bianual) ininterrupta, evento destinado a estimular a produção doutrinária de espíritas encarnados.

Sem que se constituísse em sua intenção inicial, Jaci Regis proporcionou com o Simpósio um reencontro de antigos líderes espíritas e o surgimento de uma nova e promissora geração de dirigentes espíritas. Com isto, houve um grande fortalecimento e a definitiva capitalização da CEPA no território nacional

Aos poucos aproximou-se da CEPA, proferindo palestras e conferências em vários eventos internacionais realizados por esta instituição. Tornou-se conhecido (e suas ideias reconhecidas) na Argentina, Venezuela, Colômbia etc., bem como seus livros e artigos traduzidos para o espanhol.

Apesar disso, vem mantendo uma posição de autonomia em relação à CEPA, muito embora participe ativamente de seus eventos e seja responsável por vasta contribuição intelectual ao debate de ideias no seio desta instituição.

É uma tarefa ingrata discorrer sobre a vida e a obra de uma personalidade que ainda está entre nós. Normalmente, a morte produz um apagamento dos defeitos, imperfeições e erros cometidos, por mais graves que sejam, tendendo-se a uma supervalorização dos predicados e virtudes do biografado. Jaci Regis não permitiria nunca isso. Daria um jeito de se comunicar através de um médium e desbancar, com seu estilo direto e agressivo, o autor de tal desatino.

É sem dúvida um espírito complexo e profundamente polêmico: íntegro, direto, inquieto, impulsivo, autoritário, muitas vezes ríspido. Ao mesmo tempo é um homem sensível, sereno, amável, carinhoso e profundamente benemerente.

Entre os adeptos do Espiritismo e dirigentes espíritas, é admirado por muitos, odiado por tantos outros, mas respeitado por todos. Um espírita que ousou romper a mediocridade reinante. Alguém que contribuiu como poucos (e ainda contribuirá por muito tempo) com o estudo e a divulgação do Espiritismo, comprometido de fato com o pensamento de Kardec, que permita a construção de uma nova visão do homem e do mundo. Um dirigente que nunca desejou constituir o "jacisismo", sua própria escola. Mas que forma e influencia a cada um dos que com ele convivem ou tem acesso a suas ideias e pensamentos. Um líder na essência da palavra, com seus erros e acertos, defeitos e virtudes. Uma vida dedicada com amor e paixão ao Espiritismo.

Inquestionavelmente, uma das grandes personalidades espíritas do Século.

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