terça-feira, 28 de março de 2023

O VERDADEIRO RECOLHIMENTO[1]

 


Allan Kardec

 

(Sociedade de Paris, 16 de outubro de 1868 – Médium: Sr. Bertrand)

 

Se pudésseis ver o recolhimento dos Espíritos de todas as ordens que assistem às vossas sessões, durante a leitura de vossas preces, não só ficaríeis tocados, mas envergonhados de ver que o vosso recolhimento, que apenas qualifico de silêncio, está bem longe de aproximar-se do dos Espíritos, um bom número dos quais vos são inferiores.

O que chamais vos recolherdes durante a leitura de vossas belas preces, é observar um silêncio que ninguém perturba; mas se os vossos lábios não se mexem, se o vosso corpo está imóvel, vosso Espírito vagueia e deixa de lado as sublimes palavras que deveríeis pronunciar do mais profundo do vosso coração, a elas vos assimilando pelo pensamento.

Vossa matéria observa o silêncio; certamente, dizer o contrário, seria vos injuriar; mas o vosso Espírito tagarela não o observa e perturba, neste instante, por vossos pensamentos diversos, o recolhimento dos Espíritos que vos rodeiam. Ah! Se os vísseis prosternados diante do Eterno, pedindo a realização de cada uma das palavras que ledes, vossa alma ficaria comovida e, lamentando sua pouca atenção passada, faria um exame de consciência e pediria a Deus, de todo coração, a realização dessas mesmas palavras, que apenas pronunciava com os lábios. Pediríeis aos Espíritos que vos tornasse dóceis aos seus conselhos; e eu, Espírito que vos falo, após a leitura de vossas preces, e das palavras que acabo de repetir, poderia assinalar mais de um que daqui sairá muito pouco dócil aos conselhos que acabo de dar e com sentimentos muito pouco caridosos para com o próximo.

Talvez eu seja um pouco duro; mas creio não o ser senão para os que o merecem, e cujos mais secretos pensamentos não podem ser ocultos aos Espíritos. Assim, só me dirijo aos que aqui vêm pensando em qualquer outra coisa senão nas lições que aqui devem buscar e nos sentimentos que aqui devem trazer.

Mas os que oram do fundo da alma orarão também, após a leitura de minha comunicação, por aqueles que vêm aqui e daqui partem sem terem orado.

Seja como for, peço aos que tiverem a bondade de me escutar, que continuem a pôr em prática os ensinamentos e os conselhos dos Espíritos; a isto vos convido no seu interesse, pois não sabem tudo o que podem perder não o fazendo.

 

De Courson



[1] Revista Espírita – Novembro/1868 – Allan Kardec

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