Ivan Santos de Albuquerque
nasceu em Brotas, Estado de São Paulo, no dia 16 de janeiro de 1918, filho de
Romeu Vieira de Albuquerque e Laura Santos de Albuquerque.
Duma família de quatro filhos,
além de Ivan, contam Cyro Santos de Albuquerque, Sônia de Albuquerque Miller e
Laura Santos de Albuquerque Doretto.
Sendo uma família muito feliz e
extremamente unida, receberam os filhos os mais notáveis exemplos de grandeza e
de amor dos pais dedicados.
O mais velho dos filhos, Ivan
mostrou-se um Espírito terno, bondoso, solidário, transmitindo para todos a sua
envolvência afetuosa.
Preocupava-se demais com a
juventude. Onde ele podia, levava sua palavra, sua mensagem para que a
juventude não fumasse, não bebesse, que fosse dócil para com seus pais e digna
perante a vida.
Fez seus primeiros estudos em
Piracicaba, no Colégio Piracicabano. Mais tarde, em virtude de reveses
financeiros da família, foi para o Ginásio Estadual, cursando só até o quarto
ano ginasial, agora já em Bebedouro, para onde transladara-se toda a família,
numa época em que o curso ginasial se estendia até o quinto ano.
Desde o verdor dos anos, bem
menino, apresentava inúmeras habilidades manuais. Tinha pendores para construir
brinquedos de vários tipos, com os quais contemplava irmãos e amigos.
Confeccionava flores artificiais de farinha de trigo com tinta, como de papel,
presenteando sempre a sua mãe, por quem vibrava com grande afinidade.
Ivan nasceu num lar espírita.
Tanto sua mãe quanto seu pai
vieram de um lar católico. Seus bisavós maternos faziam parte da Ordem do
Carmo. O bisavô era homem de confessar-se e comungar diariamente.
Tendo D. Laurinha casado muito
jovem com o Sr. Romeu, este jamais se opôs a que ela lesse livros espíritas,
considerando que desde os seus treze anos tinha ideias espiritualistas bastante
acentuadas.
Certo dia, um primo que
administrava a fazenda do Sr. Romeu, uma vez que morava na fazenda, perguntou a
D. Laurinha o que ela queria que lhe fosse trazido de Brotas e ela respondeu
que queria um livro espírita, sugerindo que lhe fosse comprado O Livro dos
Espíritos ou O Evangelho Segundo
o Espiritismo. A partir daí, entrou decidida no estudo e na vivência do
Espiritismo. Os dois primeiros filhos, Ivan e Cyro, ainda foram batizados, mas
as duas filhas seguintes, já não o foram.
Quando Ivan e Cyro já se
encontravam no quarto ano do curso ginasial, o Sr. Romeu, seu pai, teve que
enfrentar seríssimo contratempo econômico, ficando impossibilitado até mesmo de
manter no estudo os dois filhos.
Ao serem participados das graves
dificuldades surgidas, Ivan tomou a iniciativa de, sendo o mais velho,
renunciar aos seus estudos, em favor do irmão. Ivan começou, então, a trabalhar
como enfermeiro, no Hospital Esperança, em São Paulo, na Rua dos Ingleses, de
propriedade do Dr. Bernardes que era conceituadíssimo médico de Campinas e
exerceu a direção desse Hospital durante muitos anos. Ali, Ivan conseguia os
recursos necessários para sua subsistência e enviava para o irmão, Cyro, então
em Piracicaba, parte dos seus vencimentos, a fim de que ele pudesse concluir
seu curso na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz.
No Hospital Esperança, ele
exercia a enfermagem com aquela mesma dedicação, servindo aos doentes e, sendo
solteiro e não afeito a festas ou teatros e mesmo cinemas, ficava todas as
noites no próprio Hospital, visitando os doentes, conversando com eles,
assistindo-os.
Enquanto trabalhava no Hospital
Esperança, cuidando com muita atenção dos mais variados internos, nas suas
horas além das obrigatórias, Ivan teve ensejo de travar contato com o Dr. Júlio
Prestes de Albuquerque que se achava em tratamento. O Dr. Júlio Prestes, como
era conhecido, foi presidente do Estado de São Paulo, eleito presidente da
República e não empossado; foi acometido de uma infecção renal grave e ali fora
para submeter-se a uma cirurgia. E Ivan, como fazia, sistematicamente, com
todos os doentes, passou a assisti-lo também. Fê-lo de tal modo que numa certa
noite, quando o Dr. Prestes já estava quase por deixar o Hospital, indagou ao
jovem enfermeiro: "- Ivan,, você é Albuquerque?" "Sim!",
respondeu Ivan. E, prosseguiu Dr. Prestes: "- Quem sabe não sejamos
parentes, porque também eu sou Albuquerque, sou Júlio Prestes de
Albuquerque?" Então, respondeu-lhe Ivan: "- Olhe, Dr. Júlio, eu me
sentiria muito honrado se fosse seu parente, mas acho que não o sou porque o
meu Albuquerque é de Brotas e o seu é daquela região de Itapetininga. Para mim
seria muito gratificante." Nisto, retoma a palavra o velho político:
"- Ivan, se você, alguns anos atrás, tivesse a pretensão de ser meu
parente, naquela ocasião em que eu militava na política e me sentia como uma
árvore frondosa, onde os viajantes paravam para ter a sua sombra, onde os
pássaros faziam seu ninhos e onde os viandantes comiam os seus frutos, poderia
até fazer de você um juízo indevido, de uma pessoa político-interesseira,
porque eu vivia cercado de políticos interesseiros... Mas, hoje, quando eu já
me encontro no ocaso da vida, sentindo-me agora uma árvore seca, onde os pássaros
não fazem os seus ninhos, onde os viandantes não têm nem frutos, nem sombras,
eu é que ficaria muito envaidecido e muito honrado se fosse seu parente. No
conceito dos homens, Ivan, você é realmente uma criatura de profundo espírito
cristão; alguém desprendido de vaidades e de ambições, uma pessoa que se tem
conduzido por um afeto, por uma amizade, por um calor humano que jamais
conheci, durante toda a minha existência..."
Muitíssimo amigo de Cairbar
Schutel, mantinha com ele frequente correspondência, admirando-o muito por
suas qualidades de nobre vulto da divulgação espírita nas terras de Matão.
Admitia que, para ele, Ivan, fazia-se importante manter aquele grandioso
contato de amizade, como com outras criaturas que ele sabia poderiam enriquecer
o seu trabalho, pela experiência, pelos felizes empreendimentos dessas almas
pelo Espiritismo.
Além de Cairbar Schutel, foi
muito amigo do prof. José
Herculano Pires, junto com quem Ivan esteve, proferindo palestras em
Marília, poucas horas antes da sua desencarnação.
Pessoas como Dr. Costa Neto
(diretor de Departamento de uma das Secretarias de Estado do Estado de São
Paulo), Dr. Júlio Prestes, D. Benedita Fernandes (abnegada e veneranda lidadora
do Movimento Espírita na região de Araçatuba) e Jésus
Gonçalves (notável trabalhador da Seara Espírita, marcado pela hanseníase,
que muito atuou junto aos seus irmãos de infortúnio) estiveram banhados pela
enternecida e cara amizade de Ivan de Albuquerque.
Era alguém que fazia amigos com
muita facilidade, apesar de ser uma pessoa diferente, que não tinha muita
conversa em torno das coisas materiais, estando mais voltado para os interesses
espirituais, o que não o tornava antipático e fechado. Adaptava-se às
necessidades e possibilidades das pessoas que com ele conviviam.
Falava com muita firmeza, com
muita propriedade, sobre os assuntos espirituais, mas, também, sentia imensa
alegria em estar no meio dos pequeninos, dos sofredores, dos enfermos, dos que
necessitavam dele e, com isso, ele fez muitas amizades.
Desde pequeno, Ivan demonstrava
ser um Espírito com muitos predicados morais, muito desenvolvido. Através dos
anos foi-se sobressaindo cada vez mais. Quando chegou aos dezesseis anos,
mostrava um grande amor pelo Espiritismo. Começou a estudá-lo, profundamente,
e, nesta idade, detinha conhecimento da luminosa Doutrina. Parecia estar muitos
anos à frente, com a bagagem, formidável que levava.
Tudo o que se referia ao Cristo
e ao Espiritismo ele sabia na ponta da língua. Eminente doutrinador, desde
antes dos vinte anos proferia palestras em todos os lugares, onde era
convidado, tendo viajado em pregação por inumeráveis cidades do interior
paulista.
A família acabava de fixar
residência em Sorocaba, tendo vindo de Araçatuba, onde morara. Lá ia o ano de
1942. Pouco depois de instalados, tinha lugar em São Paulo, o Congresso
Eucarístico. Ivan, tomado pelo entusiasmo e por seu destemor, quando se tratava
de falar do Cristo e do Espiritismo, saiu a distribuir, por entre o povo,
boletins e volantes de propaganda espiritista. Nessa faina, foi preso sem que
ninguém soubesse do seu paradeiro, o que provocou uma onda de ingentes
sofrimentos em toda a família. Os pais, particularmente sofreram muito mesmo.
Depois de dois dias tenebrosos,
a família logrou localizá-lo. Tinha sido levado para o Juqueri. (Hospital
Psiquiátrico do Governo do Estado de São Paulo, situado no município de Franco
da Rocha, na Grande São Paulo.)
Essa localização de Ivan
efetuou-se graças à interferência de um parente muito caro, o Sr. Luiz Duarte
da Costa, que mantinha boas relações de amizade com delegados e outras pessoas
influentes que saíram à procura do jovem desaparecido, uma vez que ele já tinha
sido procurado em hospitais e em delegacias, sem ser encontrado.
Preso e levado para o Juqueri,
não obstante encontrar-se em profundo abatimento físico, muitíssimo esgotado e
com a cabeça raspada, durante todo o tempo em que ali esteve, dedicou-se a
falar aos enfermos, pregando os ensinamentos de Jesus e do Espiritismo,
confortando e ajudando tanto quanto pôde. Nos seus bolsos foram achados, ainda,
vários boletins e volantes de divulgação espírita.
Jamais tal episódio o
desalentou, nem o fazer atuar menos ou medrosamente nas atividades do Movimento
Espírita, no qual aplicou o melhor dos seus recursos.
Junto aos irmãos portadores da
hanseníase, Ivan era simplesmente maravilhoso. Domingo sim, domingo não,
dedicava-se a visitar os doentes. Frequentava o Sanatório de Pirapitingui, onde
costumava almoçar com os internados, fazendo limpeza nas feridas daqueles
pobres corações.
Inúmeras vezes o diretor do
Sanatório, amigo da família, Dr. Francisco Arantes, chegava a visitar-lhe o lar
e conversar com o pai, dizendo:
Seu Romeu, seu filho não pode fazer o que ele faz.
Almoçar com os doentes, beber água do mesmo copo... Afinal de contas, o senhor
tem uma família, tem filhas. Não desejo proibir a entrada dele lá, mas ele não
pode continuar fazendo essas coisas.
Então, o Sr. Romeu, pessoa muito
bondosa, muito querida, homem que, também ele, dedicou grande parte da sua vida
ao próximo, pois foi devotadíssimo em conseguir empregos para os seus
semelhantes, em Sorocaba, costumava chamar Ivan e dizer-lhe:
Meu filho, não
faça isso. Você não pode fazer o que faz lá, no Sanatório. Lembre-se que você
tem uma família, tem irmãs... O Dr. Arantes veio aqui em casa e disse que, logo
mais, terá que suspender as suas entradas lá porque você não pode fazer como
vem fazendo.
Invariavelmente, o devotado
jovem respondia da mesma maneira:
Papai, não há perigo nenhum! Nós todos temos as nossas
provas. O que tivermos que passar, ninguém passará por nós. E, nesta
reencarnação, eu sei que não vou ser atingido por essa doença, nem vou
transmiti-la a ninguém de minha casa.
Continuava, assim, sua vivência
no meio dos doentes. Era amado pelos hansenianos. Jésus Gonçalves tinha por ele
imensa admiração, no que era retribuído por Ivan, assim como D. Ninita, esposa
do Jésus. Para todos era um dia de festa quando o jovem Ivan estava entre eles.
Ivan gostava de participar das
festividades do Sanatório, alegrando-se com os internos. Não obstante fosse um
Espírito sóbrio e enobrecido, tinha suas brincadeiras engraçadas, pois gostava
muito de brincar, particularmente com seus pais e suas irmãs. Manteve-se
visitante frequente do Sanatório de Pirapitingui até a sua desencarnação.
O jovem Ivan de Albuquerque era
pessoa que tinha piedade de todo mundo. Se tinha dois ternos, doava um. O que
detinha, gostava de passar às mãos do seu próximo.
A sua bondade era sem tamanho.
Preocupava-se muito com os velhinhos. Frequentava o Asilo dos Velhos e ficava
empolgado. Fazia palestras para os idosos, atendia aqueles que portavam
doenças, achaques, aqueles que careciam de tratamento espiritual ou de uma
oração. Para ele não havia horário, nem obstáculo para levar uma mensagem de
esperança a toda essa gente.
Um domingo sim, outro não, em
companhia de sua mãe, D. Laurinha, Ivan visitava a cadeia pública de Sorocaba.
Os presos gostavam muito de sua visita, pelo seu jeito bom, sua atenção, suas
orientações gerais, ocasião em que lhes pedia para que lessem, sempre, O
Evangelho Segundo o Espiritismo, pois que costumava distribuí-lo com os
detentos.
Muito afinado com sua genitora,
Ivan conseguia manter com ela os exercícios de telepatia, seguindo sempre muito
juntos, muito unidos, entendendo-se, de modo formidável. Assim, os dois
envolviam-se notavelmente nessas tarefas, nas quais fortaleciam, mais e mais, a
espiritual vinculação.
Ainda relativamente ao seu
carinho pelos velhinhos, vale lembrar que, quando saía para o seu serviço
profissional, estava sempre atento para ver se algum idoso desejava atravessar
a rua, a fim de correr, pegar nos seus braços e atravessar junto.
A família tinha,
continuadamente, um ou dois doentes que ficavam meses e meses em sua casa. Ivan
os levava.
Durante a época em que existiu a
úlcera de Bauru (ferida provocada pelo protozoário do gênero Leishmania,
em razão da deficiência sanitária que se tornou muito comum nas regiões de
Bauru, quando, pelos anos 40, iniciou-se o avanço territorial, com o
desmatamento. A Úlcera de Bauru é a mesma Leishmaniose Tegumentar Americana),
o adorável Ivan, com todo carinho, banhava os doentes, diariamente, tratando
das suas feridas, fazendo os curativos, com grande amor. Dava comida na boca
dos doentes, penteava-lhes os cabelos e sentia efusiva alegria, dizendo para
sua mãe:
Mas, é tão pouco, mamãe!
"Filho, você não está
cansado?" perguntava-lhe D. Laurinha, percebendo o esforço e o devotamento
do seu filho. E ele voltava, afirmando:
Mãe, é tão pouco
o que estou fazendo! Isto não é nada, imagine, mamãe! Sou jovem, tenho bastante
energia..."
E assim foi todo o tempo em que
viveu na Terra, tendo sempre muita gente à sua volta; viandantes, pessoas que
nunca foram conhecidas da família, anteriormente. Além de tudo, ele as levava
para a Santa Casa, fazia-as passar pelos exames clínicos, radiográficos,
providenciando o necessário tratamento, para esses doentes.
Recolhendo em sua casa esses
enfermos, juntamente com sua mãe, Ivan os atendia com especial carinho, fossem
velhos ou jovens, sem jamais inquietá-los com perguntas quaisquer, chegando
muitos a desencarnar em seu lar, demonstrando a beleza da missão de amor ao
semelhante para a qual viera ao mundo.
Numa época em que exercia suas
atividades profissionais em Itaberá, em Itaporanga e em Coronel Macedo (cidades
do interior do Estado de São Paulo, ao sul), dadas as dificuldades com que
certos lavradores viviam, muito modestos, sem conseguirem garantir sua própria
subsistência, Ivan fundou com eles um verdadeiro mutirão, um trabalho coletivo,
por meio do qual explorariam a agricultura, dentro de certos modelos.
Conseguiu, dessa forma, a colaboração de alguns fazendeiros maiores, com
máquinas agrícolas, equipamentos, e o que mais fosse necessário.
Durante os dois anos em que ali,
naquela região, esteve, pôde assistir, diretamente, a essa comunidade, que
prosperou, evidentemente, graças aos resultados comunitários desse trabalho.
Quando Ivan prestava serviço na
profilaxia da malária, no município de Itaporanga, ao sul do Estado de São
Paulo, serviço este que era dependência da Secretaria de Saúde naquela região
que, evidentemente, contava com a moléstia, em caráter epidêmico, deu-se um
episódio muito curioso e bonito, atestando o seu abnegado espírito de serviço e
o despojamento com relação a si mesmo.
Certo dia, durante suas
atividades, Ivan soube que havia, do outro lado de um rio, possivelmente o
denominado Rio Verde, uma senhora que estava sem assistência e em vias de dar à
luz uma criança.
Alguns caboclos o procuraram
apreensivos, no sentido de que ele, que tinha certa prática de enfermagem,
pudesse atendê-la. Imediatamente, graças ao seu espírito solidário, altamente
solidário, prontificou-se a ir. No entanto, como no momento as embarcações que
ali costumeiramente estavam a postos navegavam rio abaixo, não havia outra
forma de atender à mulher senão atravessando a nado esse rio. Incontinenti, o
fez. Sendo ele um bom nadador, pois que, desde a sua infância, acostumara-se às
águas do Rio Piracicaba, onde aprendeu a natação e a exercia frequentemente,
não lhe foi difícil o empreendimento.
Atravessou o rio, foi ao local e
fez o parto, tendo solicitado o material indispensável naquela conjuntura, como
uma bacia com água quente, panos e trapos etc. Estava feliz por ter sido útil.
Na semana seguinte, ele foi
acometido por uma gripe fortíssima com ameaça de pneumonia. Foi preciso
recorrer, naquele tempo, quando não existia a penicilina, a produtos químicos
para que se pudesse impedir o desenvolvimento da gripe a e a infecção pulmonar.
Nas conversas domésticas, todas as
vezes em que o velho Romeu abordava Ivan, em torno da importância da formação
de uma família, tendo-se em conta que o jovem filho era de compleição física
saudável, dono de suave harmonia de formas, com uma voz muito bonita e
invejada, sendo muito querido das jovens que o assediavam, à época,
naturalmente aguardando alguma chance, Ivan lhe respondia dizendo: Nesta
encarnação, não vim para constituir família porque vou partir muito cedo."
Dizia-o com tal tranquila certeza que sua mãe, tocada pela alusão, lhe
contestava: Meu filho, não repita isto, porque não sei se terei estrutura,
embora o meu conhecimento da Doutrina, para perder um filho...
A alma notável do jovem
pregador, no entanto, "sabia", do fundo d´alma, com aquela certeza
subjetiva dos Espíritos lúcidos, que não chegaria aos trinta anos de idade,
conforme o apregoou diversas vezes.
A família tinha em casa uma
cabra chamada Esmeralda. Era tratada com imenso carinho e cuidados por Ivan.
Diariamente, em torno das seis horas da manhã, Ivan costumava levar um copo de
leite de cabra para os seus pais e para cada uma das irmãs.
Certo dia, numa época em que
Ivan estava viajando, um dos seus amigos mais chegados, Waldemar Telles, muito
nervoso, muito preocupado, dirigiu-se ao Sr. Romeu e disse-lhe:
Seu Romeu, eu tenho uma
notícia horrível para lhe dar.
O que foi, Waldemar, diga? O
que foi que aconteceu?", atalhou o pai.
O Ivan morreu!" - respondeu Waldemar.
Como!? Não é possível uma
coisa dessa..."
Waldemar se recompôs e disse,
envolto num sorriso muito pálido: Estou brincando, foi a Esmeralda que
morreu; a cabra...
Passados três dias, o trem
pegou, de fato, a cabra Esmeralda e ela veio a falecer.
Nesse ínterim, retorna Ivan de
sua viagem e ficou muito triste com a notícia da morte de Esmeralda...e,
passado algum tempo, ele veio a perecer, como Esmeralda, num desastre de
trem...
Toda a vida de Ivan de
Albuquerque foi dedicada a uma causa: à Causa do Espiritismo, à pregação, à
solidariedade humana. A vida tem desígnios que quase nunca conseguimos
alcançar. Ninguém poderia esperar que uma criatura sempre preocupada com os
destinos e a vida não só de seus familiares, mas de todos aqueles que o
cercavam, tivesse em sua programação de saída da Terra, uma desencarnação tão
trágica como teve o nosso personagem.
Começava o mês de abril de 1946,
em plena quadra outonal, quando o amorável Ivan, que a esse tempo vivia com
seus pais, em Sorocaba, viajou para Marília, também interior paulista, a fim de
proferir palestras, atendendo aos seus labores de pregador.
Atendidas as tarefas de Marília,
desenvolvidas com a mesma inspiração de sempre, com a mesma simpatia e com a
contínua objetividade e clareza de argumentação, um amigo seu, residente em
Tupã, instou para que ele fosse repetir a mesma palestra, realizada em Marília,
na sua cidade.
Embora ele tivesse compromissos
em Sorocaba, não resistiu aos insistentes apelos do seu amigo e partiu para
Tupã, numa composição ferroviária. Não poderia supor o nosso jovem sanitarista
que havia soado o momento da libertação, ultrapassada a porta estreita dos
deveres nobremente executados, numa juventude formosa e radiosa, vivida com
entusiasmo e extrema consciência da responsabilidade.
Quando estavam chegando nas
proximidades de Pompéia, cidade intermediária entre Marília e Tupã, conversando
com o companheiro que o convidara e o acompanhava, disse-lhe Ivan:
Veja só, nasci numa fazenda de café e nunca tive a
oportunidade de observar um cafezal tão bonito, tão vistoso, como este que
estamos observando pela janela do trem. Gostaria de observar mais de perto este
lindo cafezal...
E dirigiu-se à porta do último
vagão da composição férrea, no exato momento em que tal composição completava
uma curva e entrava numa reta para chegar à estação ferroviária de Pompéia,
cinco ou seis quilômetros depois. Desse modo, com um movimento de flexão desse
último vagão, Ivan, já à sua porta, perdeu o equilíbrio do corpo e caiu, caiu
batendo, ao que se supõe, no barranco da margem, tombando, em seguida, sem
sentidos, sobre os trilhos...
Em Pompéia, na estação, estava
parada uma outra composição que deveria dirigir-se a São Paulo. Tão logo chegou
a composição donde Ivan caíra, a outra partiu, em razão do necessário desvio de
linhas que se dera, liberando a passagem ao comboio de ferro.
O depoimento do maquinista,
quanto o do foguista, na delegacia de Pompéia, dava conta de que não houve
tempo para frear a composição, tendo, então, passado por cima do corpo.
Desprendido do corpo, em razão
do desmaio que sofrera, foi retirado dali, pelos Emissários da Luz, seus Amigos
e inspiradores, a fim de que não se aturdisse com as cenas, naturalmente
fortes, que se desenrolariam com o passar do trem sobre o fardo imobilizado, do
qual se despedia o impoluto servidor de Jesus.
Era o dia 5 de abril...
Cumpria-se a precognição do próprio Ivan, bem como a do seu amigo Waldemar
Telles.
Os espíritas de Pompéia, de
Marília e de Tupã, reuniram-se em Pompéia, tão logo ficaram sabendo do
acontecimento, e prestaram todas as homenagens póstumas ao querido confrade,
ali desencarnado, em pleno cumprimento do dever, disseminando as luzes do
Consolador.
Foi por intermédio da Sra.
Laurinha de Albuquerque, mãe de Ivan, que era médium escrevente, que,
aproximadamente trinta dias após o acontecimento, adveio uma comunicação do
filho sempre amado. Evidentemente, num estado de certa angústia, em face da
separação, pelas condições do desprendimento, mas explicando e esclarecendo as
circunstâncias todas que motivaram a desencarnação, o que logrou, não obstante
os compreensíveis sofrimentos dos afetos e dos amigos, confortar a todos,
acenando com as esperanças de abençoado reencontro, nos campos da perene Luz.
Do pretérito comprometido com as
Leis Divinas, Ivan consegue libertar-se, por meio do denodado trabalho em favor
do progresso e do bem, com excelente disposição.
Com seu trabalho incansável e
com sua disposição de servir e crescer para o Cristo, deixa-nos, o notável
Apóstolo do Bem, incontáveis e fulgurantes exemplos com os quais a Juventude
destes dias e a porvindoura encontrarão roteiro e apoio para a real conquista
da paz, multiplicando as ações do Mestre Nazareno pelo mundo, sem temores, sem
entrega aos torpores das paixões infelizes, avançando sempre para o Grande
Amanhã.
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