Allan Kardec
Um dos nossos colegas, o Sr.
Canu, outrora muito imbuído dos princípios materialistas, e que o Espiritismo
levou a uma apreciação mais sadia das coisas, acusava-se de ter-se feito
propagandista de doutrinas que hoje considera subversivas da ordem social. No
intuito de reparar o que considera, com justa razão, uma falta, e esclarecer
aqueles a quem havia transviado, escreveu a um de seus amigos uma carta, sobre
a qual julgou por bem pedir a nossa opinião. Pareceu-nos que ela correspondia
tão bem ao objetivo que ele se propunha, que lhe pedimos permissão para
publicá-la, o que certamente agradará aos nossos leitores. Em vez de abordar
francamente a questão do Espiritismo, que teria sido repelido pelas pessoas que
não admitem ser a alma a sua base; sobretudo se em lugar de lhes expor sob os
olhos os estranhos fenômenos que teriam negado, ou atribuído a causas
ordinárias, ele remonta à sua origem. Procura, com razão, torná-las
espiritualistas, antes de torná-las espíritas. Por um encadeamento de ideias
perfeitamente lógico, chega à ideia espírita como consequência.
Esta marcha, evidentemente, é a
mais racional. A extensão desta carta obriga-nos a dividir a sua publicação.
Paris, 10 de novembro de 1860.
Meu caro amigo,
Desejas uma longa carta sobre o Espiritismo. Esforçar-me-ei por te
satisfazer como melhor puder, enquanto espero a remessa de uma importante obra
sobre a matéria, a qual deve aparecer no fim do ano.
Serei obrigado a começar por algumas considerações gerais, para o que
será necessário remontar à origem do homem.
Isto alongará um pouco a minha carta, mas é indispensável para a
compreensão do assunto.
Tudo passa! Diz-se geralmente.
Sim; tudo passa. Mas em geral também se dá a esta expressão uma
significação muito afastada da que lhe é própria.
Tudo passa, mas nada acaba, a não ser a forma.
Tudo passa, no sentido de que tudo marcha e segue o seu curso; mas não
um curso cego e sem objetivo, embora jamais deva acabar.
O movimento é a grande lei do Universo, assim na ordem moral como na
ordem física, e o fim do movimento é a progressão para o melhor. É um trabalho
ativo, incessante e universal; é o que chamamos o progresso.
Tudo está submetido a esta lei, exceto Deus. Deus é o seu autor; a
criatura lhe é instrumento e objeto.
A criação compõe-se de duas naturezas distintas: a natureza material e
a natureza intelectual. Esta é o instrumento ativo; aquela é o instrumento
passivo.
Esses dois instrumentos são complementos um do outro, isto é, um sem o
outro seria de emprego inteiramente nulo.
Sem a natureza intelectual, ou o espírito inteligente e ativo, a
natureza material, isto é, a matéria ininteligente e inerte, seria
perfeitamente inútil, nada podendo por si mesma. Sem a matéria inerte dar-se-ia
o mesmo com o espírito inteligente.
Mesmo o instrumento mais perfeito seria como se não existisse, caso não
houvesse alguém para dele se servir.
O mais hábil operário e o sábio da mais elevada ordem seriam tão
impotentes quanto o mais completo idiota, se não tivessem instrumentos para
desenvolver a sua ciência e fazê-la manifestar-se.
Eis aqui o momento e o lugar de fazer notar que o instrumento material
não consiste somente na plaina do marceneiro, no cinzel do escultor, na paleta
do pintor, no escalpelo do cirurgião, no compasso ou na luneta do astrônomo;
consiste também na mão, na língua, nos olhos, no cérebro, numa palavra, na
reunião de todos os órgãos materiais necessários à manifestação do pensamento,
o que naturalmente implica a denominação de instrumento passivo à própria
matéria sobre a qual a inteligência opera, por meio do instrumento propriamente
dito. É assim que uma mesa, uma casa e um quadro, considerados nos elementos
que os compõem, não são menos instrumentos que a serra, a plaina, o esquadro, a
colher de pedreiro e o pincel que os produziram, que a mão e os olhos que os
dirigiram; enfim, que o cérebro que presidiu a essa direção. Ora, tudo isto,
inclusive o cérebro, foi o instrumento complexo de que se serviu a inteligência
para manifestar o seu pensamento, sua vontade, que era produzir uma forma, e
essa forma ou era uma mesa, ou uma casa, ou um quadro etc.
Inerte por natureza, disforme por essência, a matéria não adquire
propriedades úteis senão pela forma que se lhe imprime, o que levou um célebre
fisiologista a dizer que a forma era mais necessária que a matéria, proposição
talvez um tanto paradoxal, mas que prova a superioridade do papel desempenhado
pela forma nas modificações da matéria. É conforme essa lei que o próprio Deus,
se assim me posso exprimir, dispôs e modificou incessantemente os mundos e as
criaturas que os habitam, de acordo com as formas que melhor convêm aos seus
propósitos para a harmonização do Universo. E é sempre segundo essa mesma lei
que as criaturas inteligentes, agindo incessantemente sobre a matéria, como o
próprio Deus, mas secundariamente, concorrem para a sua transformação contínua,
transformação em que cada grau, cada estágio é um passo no progresso, ao mesmo
tempo em que manifestação da inteligência que lhe deu origem.
É desse modo que tudo na criação está em movimento e sempre em
progresso; que a missão da criatura inteligente é ativar esse movimento no
sentido do progresso, o que realiza muitas vezes mesmo sem o saber; que o papel
da criatura material é obedecer a esse movimento e manifestar o progresso da
criatura inteligente; que a Criação, enfim, considerada em seu conjunto ou em
suas partes, realiza incessantemente os desígnios de Deus.
Quantas criaturas inteligentes (sem sair do nosso planeta) desempenham
uma missão da qual estão longe de suspeitar! E confesso que, de minha parte,
ainda há bem pouco tempo eu era desse número. Nem por isso me sentiria
constrangido em deixar aqui algumas palavras sobre a minha própria história.
Haverás de perdoar-me essa pequena digressão, que pode ter seu lado
útil.
Educado na escola do dogma católico, não tendo desenvolvido a reflexão
e o exame senão muito tarde, por muito tempo fui um crente fervoroso e cego;
por certo não o esqueceste.
Mas sabes, também, que mais tarde caí no excesso contrário: da negação
de certos princípios que minha razão não podia admitir, concluí pela negação
absoluta. Sobretudo me revoltava o dogma da eternidade das penas. Eu não podia
conciliar a ideia de um Deus, que me diziam infinitamente misericordioso, com a
de um castigo perpétuo para uma falta passageira. O quadro do inferno, suas
fornalhas, suas torturas materiais me parecia ridículo e uma paródia do Tártaro
dos pagãos. Recapitulei minhas impressões de infância e lembrei-me de que, por
ocasião da minha primeira comunhão, diziam-nos que não havia necessidade de
orar pelos danados, porque isso de nada lhes serviria; aquele que não tivesse
fé era votado às chamas, bastando uma dúvida sobre a infalibilidade da Igreja
para se ser condenado às penas eternas; que o próprio bem que fizéssemos aqui
não nos poderia salvar, considerando-se que Deus colocava a fé acima das
melhores ações humanas. Essa doutrina me tornara impiedoso, endurecendo-me o
coração. Olhava os homens com desconfiança e, à mais leve falta, eu cria ver ao
meu lado um condenado de quem devia fugir como da peste, e ao qual, em minha
indignação, eu teria recusado um copo de água, dizendo-me a mim mesmo que Deus
lhe recusaria ainda mais. Se ainda houvesse fogueiras, eu teria empurrado para elas
todos os que não tivessem a fé ortodoxa, fosse ainda o meu próprio pai. Nesse
estado de espírito eu não podia amar a Deus: tinha medo dele.
Mais tarde uma porção de circunstâncias demasiado longas para enumerar,
vieram abrir-me os olhos e eu rejeitei os dogmas que não se conciliavam com a
minha razão, porque ninguém me havia ensinado a pôr a moral acima da forma. Do fanatismo
religioso caí no fanatismo da incredulidade, a exemplo de tantos companheiros
de infância.
Não entrarei em detalhes, que nos levariam muito longe. Apenas
acrescentarei que, depois de haver perdido durante quinze anos a doce ilusão da
existência de um Deus infinitamente bom, poderoso e sábio, da existência e da
imortalidade da alma, enfim hoje encontro de novo, não uma ilusão, mas uma
certeza tão completa quanto à de minha existência atual, quanto a de te escrever
neste momento.
Eis, meu amigo, o grande acontecimento de nossa época, o grande
acontecimento que nos é dado ver realizar-se em nossos dias: a prova material
da existência e da imortalidade da alma.
Voltemos ao fato; mas para te fazer melhor compreender o Espiritismo,
vamos remontar à origem do homem, não nos detendo nesse assunto por muito
tempo.
É evidente que os globos que povoam a imensidão não foram feitos
unicamente tendo em vista a sua ornamentação. Têm também uma finalidade útil,
ao lado da agradável: a de produzir e alimentar os seres vivos materiais, que
são instrumentos apropriados e dóceis a essa multidão infinita de criaturas inteligentes
que povoam o espaço e que são, definitivamente, a obra-prima, ou melhor, o
objetivo da criação, pois que só elas têm a faculdade de conhecer, admirar e
adorar o seu autor.
Cada um dos globos espalhados no espaço teve o seu começo, em relação à
sua forma, num tempo mais ou menos recuado. Quanto à idade da matéria que o
compõe, é um segredo que não nos importa aqui conhecer, uma vez que a forma é
tudo para o objeto que nos ocupa. Com efeito, pouco nos importa que a matéria
seja eterna, ou apenas de criação anterior à formação do astro, ou, finalmente,
contemporânea a essa formação. O que é preciso saber é que o astro foi formado
para ser habitado. Talvez não seja um despropósito acrescentar que essas
formações não são feitas em um dia, como dizem as Escrituras; que um globo não
sai repentinamente do nada já coberto de florestas, de prados e de habitantes,
como Minerva saiu armada, dos pés à cabeça, da cabeça de Júpiter. Não; Deus
procede, certamente, com mais lentidão; tudo segue uma lei lenta e progressiva,
não porque Ele hesite ou tenha necessidade de lentidão, mas porque essas leis
são assim e são imutáveis. Aliás, aquilo a que nós, seres efêmeros, chamamos lentidão,
não o é para Deus, para quem o tempo nada representa.
Eis, pois, um globo em formação ou, se quiseres, já formado. Devem
transcorrer ainda muitos séculos ou milhares de séculos antes que ele seja
habitável, mas enfim chega o momento.
Depois de modificações numerosas e sucessivas em sua superfície, pouco
a pouco começa a se cobrir de vegetação (falo da Terra, não pretendendo fazer,
a não ser por analogia, a história dos outros globos, cujo fim, evidentemente,
é o mesmo, mas cujas modificações físicas podem variar). Ao lado da vegetação
aparece a vida animal, uma e outra na sua maior simplicidade, pois sendo esses
dois ramos do reino orgânico necessários um ao outro, fecundam-se mutuamente,
alimentam-se reciprocamente, elaborando de comum acordo a matéria inorgânica,
para torná-la cada vez mais apropriada à formação de seres sempre mais perfeitos,
até que ela tenha atingido o ponto de poder produzir e alimentar o corpo que
deve servir de habitação e de instrumento ao Ser por excelência, isto é, ao Ser
intelectual que dele deve servir-se; que, por assim dizer, o espera para
manifestar-se, pois, sem ele, não poderia fazê-lo.
Eis que chegamos ao homem! Como se formou ele?
Ainda aí não é o problema. Formou-se segundo a grande lei da formação
dos seres, eis tudo. Pelo fato de não ser conhecida, essa lei não deixa de
existir. Como se formaram os primeiros exemplares de cada espécie de plantas?
Os primeiros indivíduos de cada espécie de animal? Cada um deles se formou à
sua maneira, segundo a mesma lei. O que é certo é que Deus não teve necessidade
de se transformar em oleiro, nem de sujar as mãos no barro para formar o homem,
nem de lhe arrancar uma costela para formar a mulher. Esta fábula,
aparentemente absurda e ridícula, pode muito bem ser uma figura engenhosa,
ocultando um sentido penetrável por Espíritos mais perspicazes que o meu; mas
como disso nada entendo, vou me deter aqui.
Finalmente, eis o homem material habitando a Terra, ele próprio
habitado por um ser imaterial, do qual é apenas o instrumento. Incapaz de algo
por si mesmo, como a matéria em geral, não se torna apto para qualquer coisa
senão pela inteligência que o anima; mas essa mesma inteligência, criatura imperfeita
como tudo quanto é criatura, isto é, como tudo quanto não é Deus, tem necessidade
de aperfeiçoar-se, e é precisamente em vista desse aperfeiçoamento que o corpo
lhe foi dado, porquanto, sem a matéria, o Espírito não poderia manifestar-se,
nem, consequentemente, melhorar-se, esclarecer-se e progredir, enfim.
Considerada coletivamente, a Humanidade é comparável ao indivíduo.
Ignorante na infância, ela se esclarece à medida que os anos avançam, o que se
explica naturalmente pelo mesmo estado de imperfeição em que se achavam os
Espíritos, para cujo avanço a Humanidade foi feita. Mas quanto ao Espírito, considerado
individualmente, não será numa única existência que poderá adquirir a soma de
progresso que é chamado a realizar. Eis por que um número mais ou menos grande
de existências corpóreas lhe são necessárias, conforme o emprego que tiver
feito de cada uma delas. Quanto mais houver trabalhado para o seu adiantamento
em cada existência, menos existências terá de suportar; e como cada existência
corpórea é uma prova, uma expiação, um verdadeiro purgatório, tem interesse de
progredir o mais rapidamente possível, a fim de sofrer menor número de provas,
pois o Espírito não retrograda. Para ele cada progresso realizado é uma
conquista assegurada, que não lhe poderá ser retirada. De acordo com esse
princípio, hoje demonstrado, torna-se evidente que ele alcançará mais cedo o
objetivo, quanto mais depressa caminhar.
Resulta do que precede que cada um de nós não se acha, hoje, em nossa
primeira existência corporal, por muito que nos encontremos distanciados da
última, porque nossas existências primitivas devem ter-se passado em mundos
muito inferiores à Terra, à qual só chegamos quando nosso Espírito alcançou um estado
de perfeição compatível com esse astro. Do mesmo modo, à medida em que
progredimos passamos a mundos superiores, sob todos os aspectos muito mais
adiantados que a Terra, e isso de degrau em degrau, avançando sempre para o
melhor. Mas antes de deixar um globo, parece que nele passamos várias
existências, cujo número, todavia, não é limitado, mas subordinado à soma de progresso
que houvermos realizado.
Prevejo uma objeção em teus lábios. Dir-me-ás que tudo isto pode ser
verdadeiro, mas como não me lembro de nada, o mesmo ocorrendo com os outros,
tudo quanto se tiver passado em nossas precedentes existências é como se não se
tivesse passado. E, se acontece o mesmo em cada nova existência, ao meu Espírito
pouco importa ser imortal ou morrer com o corpo, se, conservando a sua individualidade,
não tem consciência de sua identidade. Com efeito, para nós seria a mesma
coisa, mas não é assim. Não perdemos a lembrança do passado senão durante a
vida corporal, para readquiri-la com a morte, isto é, quando o Espírito despertar
em sua verdadeira existência, a de Espírito livre, em relação à qual as
existências corpóreas podem ser comparadas ao que o sono representa para o
corpo.
Em que se tornam as almas dos mortos enquanto esperam uma nova
reencarnação?
As que não deixam a Terra ficam errantes em sua superfície, vão sem
dúvida aonde lhes apraz, ou, pelo menos, aonde podem, conforme o seu grau de
adiantamento, mas, em geral, pouco se afastam dos vivos, principalmente
daqueles a quem são afeiçoadas, quando têm afeição por alguém, a menos que lhes
sejam impostos deveres a cumprir alhures. Estamos, pois, em todos os momentos,
cercados por uma multidão de Espíritos conhecidos e desconhecidos, amigos e
inimigos, que nos veem, nos observam e nos ouvem; alguns participam de nossas
penas, bem como de nossas alegrias; outros sofrem com os nossos prazeres ou
gozam com as nossas dores, enquanto outros, finalmente, mostram-se indiferentes
a tudo, exatamente como acontece na Terra, entre os mortais, cujas afeições,
antipatias, vícios e virtudes são conservados no outro mundo. A diferença é que
os bons desfrutam na outra vida de uma felicidade desconhecida na Terra, o que
se compreende muito bem; não têm necessidades materiais a satisfazer, nem
obstáculos do mesmo gênero a ultrapassar. Se viveram bem, isto é, se nada têm
ou pouco têm a se censurar em sua última existência corporal, gozam em paz o
testemunho de sua consciência e do bem que fizeram. Se viveram mal, se foram
maus, como lá estão a descoberto não podem mais dissimular sob o envoltório
material, sofrendo a presença daqueles a quem ofenderam, desprezaram e
oprimiram, bem como a impossibilidade, em que se encontram, de subtrair-se aos
olhares de todos. Sofrem, finalmente, pelo remorso que os corrói, até que o arrependimento
os venha aliviar, o que acontece mais cedo ou mais tarde, ou que uma nova
encarnação os afaste, não às vistas de outros Espíritos, mas às próprias
vistas, tirando-lhes momentaneamente a consciência de sua identidade. Desse
modo, perdendo a lembrança do passado, sentem-se aliviados. Mas também é, para
eles, o momento em que começa uma nova prova.
Se dela tiverem a sorte de sair melhorados, gozarão o progresso realizado;
se não se melhorarem, reencontrarão os mesmos tormentos, até que, finalmente,
se arrependam ou aproveitem uma nova existência.
Há um outro gênero de sofrimento: o experimentado pelos piores e mais
perversos Espíritos. Inacessíveis à vergonha e ao remorso, estes não sentem os
seus tormentos, embora seus sofrimentos sejam ainda mais vivos, porquanto,
sempre inclinados ao mal, mas impotentes para o fazer, sofrem de inveja ao ver
os outros mais felizes ou melhores que eles próprios, ao mesmo tempo sofrendo a
raiva de não poderem saciar o seu ódio e entregar-se a todas as suas más
inclinações. Oh! Estes sofrem muito, mas, como te disse, sofrerão apenas
enquanto não se melhorarem, ou, em outros termos, até o dia em que melhorarem.
Muitas vezes não preveem esse termo; são tão maus, tão enceguecidos pelo mal, que
não suspeitam a existência, ou a possibilidade da existência de um melhor
estado de coisas, não imaginando, consequentemente, que seu sofrimento deve
acabar um dia. É isso que os torna insensíveis ao mal e lhes agrava os
tormentos. Como, porém, nem sempre podem fugir à sorte comum que Deus reserva,
sem exceção, a todas as criaturas, chega finalmente um momento em que lhes é
preciso seguir a rota ordinária; algumas vezes esse dia está mais próximo do
que se poderia supor ao observar a sua perversidade. Foram vistos alguns que se
converteram subitamente, e de repente seus sofrimentos cessaram; entretanto,
ainda lhes restam rudes provas a suportar na Terra, em sua próxima encarnação.
É preciso que se depurem, expiando as próprias faltas, e isto, definitivamente,
é mais que justo; pelo menos não temem mais a perda do progresso realizado,
pois não podem retroceder.
Eis aí, meu amigo, da mais clara e sucinta maneira, a exposição da
filosofia do Espiritismo, tal qual me era possível fazê-lo numa carta. Dela
encontrarás desenvolvimentos mais completos, até este momento, e os mais
satisfatórios, em O Livro dos Espíritos, fonte onde bebi aquilo que me
fez o que sou.
Passemos agora à prática.
Conclusão[2]
Desde que o homem existe na Terra, existem Espíritos; e também desde
então eles se manifestam aos homens. A História e a tradição estão repletas de
provas nesse sentido; porém, seja porque uns não compreendessem os fenômenos de
tais manifestações; seja porque outros não ousassem divulgá-los, por medo da
cadeia ou da fogueira; seja porque os fatos fossem postos à conta de
superstição ou de charlatanismo por pessoas preconceituosas, ou interessadas em
que a luz não se fizesse; seja, finalmente, porque fossem levados à conta do
demônio por uma outra classe de interessados, o certo é que, até estes últimos
tempos, embora bem constatados, esses fenômenos ainda não tinham sido explicados
de modo satisfatório ou, pelo menos, a verdadeira teoria ainda não havia caído
no domínio público, provavelmente porque a Humanidade não se encontrava madura
para isto, como para muitas outras coisas maravilhosas que se realizam em
nossos dias. Estava reservada para a nossa época a eclosão, no mesmo cinquentenário,
do vapor, da eletricidade, do magnetismo animal – pelo menos como ciências
aplicadas – e, finalmente, do Espiritismo, de todas a mais maravilhosa, não só
na constatação material de nossa existência imaterial e de nossa imortalidade,
mas ainda no estabelecimento de relações, por assim dizer, materiais e constantes,
entre nós e o mundo invisível.
Quantas consequências incalculáveis não brotarão de um acontecimento
tão prodigioso! Mas, para não falar senão daquilo que no momento mais
impressiona a generalidade dos homens, da morte, por exemplo, não a vemos
reduzida ao seu verdadeiro papel de acidente natural e necessário – diria quase
feliz – perdendo assim o seu caráter de acontecimento doloroso e terrível? Para
os que a sofrem, ela representa o momento do despertar; desde o dia seguinte ao
da morte de um ente querido, nós, que aqui ficamos, poderemos continuar nossas
relações íntimas como no passado! Apenas mudaram as nossas relações materiais!
Não o vemos mais, não o tocamos mais, não mais ouvimos a sua voz; mas
continuamos a trocar com ele os nossos pensamentos, como em vida, e muitas
vezes até, com mais proveito para nós. Depois disto, o que é que resta de tão
doloroso? E se acrescentarmos ao que precede a certeza de que não mais estamos separados
dele senão por alguns anos, alguns meses, talvez alguns dias, não será para
transformar num simples acontecimento útil aquilo que até hoje, com raras
exceções, os mais decididos não podiam encarar sem pavor, e que representa, por
certo, o tormento incessante da vida inteira de muitos homens? Mas eu me afasto
do assunto.
Antes de te explicar a prática muito simples das comunicações, tentarei
dar-te uma ideia da teoria fisiológica que elaborei para mim. Não a dou como
certa, porquanto ainda não a vi explicada pela Ciência; mas pelo menos me
parece que deve ser alguma coisa que se aproxima disso.
O Espírito age sobre a matéria tanto mais facilmente quanto mais esta
se dispuser de maneira apropriada a receber a sua ação; daí por que não age
diretamente sobre qualquer espécie de matéria, embora pudesse agir
indiretamente se encontrasse entre ele e essa matéria, certas substâncias de
uma organização graduada, que pusesse em contato os dois extremos, isto é, a
matéria mais bruta com o Espírito. É assim que o Espírito de um homem vivo desloca
pesados blocos de pedra, os trabalha, os combina com outros, com eles formando
um todo que chamamos casa, coluna, igreja, palácio etc. Foi o homem-corpo que
fez tudo isso? Quem ousaria dizê-lo?... Sim. Foi ele quem o fez, como é minha
pena que escreve esta carta. Mas voltemos ao assunto, porque ainda me sinto à
deriva.
Como se põe o Espírito em contato com o pesado bloco que quer deslocar?
Por meio da matéria escalonada entre ele e o bloco. A alavanca põe o bloco em
relação com a mão; a mão põe a alavanca em relação com os músculos; os músculos
põem a mão em relação com os nervos; os nervos põem os músculos em relação com
o cérebro, e o cérebro põe os nervos em relação com o Espírito, a menos que
haja uma matéria ainda mais delicada, um fluido que ponha o cérebro em relação
com o Espírito. Seja como for, um intermediário a mais ou a menos não infirma a
teoria. Quer aja o Espírito em primeira ou em segunda mão sobre o cérebro, age sempre
de muito perto, de sorte que, retomando os contatos em sentido contrário, ou,
antes, na sua ordem natural, eis o Espírito agindo sobre uma matéria
extremamente delicada, organizada pela sabedoria do Criador, de maneira
apropriada a receber diretamente, ou quase diretamente, a ação de sua vontade.
Esta matéria, que é o cérebro, atua por meio de suas ramificações, a que
chamamos nervos, sobre uma outra matéria menos delicada, mas que o é ainda bastante
para receber a ação destes: os músculos; os músculos imprimem movimento às
partes sólidas que são os ossos do braço e da mão, enquanto as outras partes da
estrutura óssea, recebendo a mesma ação, servem de ponto de apoio ou de
sustentação.
Quando, por si mesma, a parte óssea ainda não é suficientemente forte
ou suficientemente longa para agir diretamente, multiplica a sua força
utilizando-se da alavanca, e eis o pesado bloco inerte obedecendo docilmente à
vontade do Espírito que, sem essa hierarquia intermediária, não teria exercido
nenhuma ação sobre ele.
Procedendo do mais para o menos, eis que os menores feitos do Espírito
ficam explicados, assim como, em sentido contrário, vê-se como o Espírito pode
chegar a transportar montanhas, secar lagos etc. E em tudo isso o corpo quase desaparece
em meio à multidão de instrumentos necessários, entre os quais não representa
senão o primeiro papel.
Quero escrever uma carta. Que devo fazer? Pôr uma folha de papel em
relação com o meu Espírito, como pouco antes punha um bloco de pedra. Substituo
a alavanca pela pena e a coisa está feita. Eis a folha de papel a repetir o
pensamento do meu Espírito, como há pouco o movimento imprimido ao bloco manifestava
a sua vontade.
Se meu Espírito quer transmitir mais diretamente, mais instantaneamente
o seu pensamento ao teu, e desde que a isso nada se oponha, como a distância ou
a interposição dum corpo sólido, sempre por meio do cérebro e dos nervos, ele
põe em movimento o órgão da voz que, ferindo o ar de várias maneiras, produz
certos sons variados e combinados, representando o pensamento, os quais vão
repercutir sobre o teu órgão auditivo, que os transmite ao teu Espírito por
meio de teus nervos e de teu cérebro. E é sempre o pensamento manifestado e
transmitido por uma série de agentes materiais graduados e interpostos entre
seu princípio e seu objeto.
Se a teoria precedente é verdadeira, nada é mais fácil agora, parece,
que explicar o fenômeno das manifestações espíritas e, particularmente, da
escrita mediúnica, a única que nos ocupa no momento.
Sendo a substância psíquica idêntica em todos os Espíritos, seu modo de
ação sobre a matéria deve ser o mesmo para todos; só o seu poder pode variar em
graus. Sendo a matéria dos nervos organizada de modo a poder receber a ação de
um Espírito, não há razão para que não possa receber a ação de um outro, cuja natureza
não difira da do primeiro; e considerando-se que a substância de todos os
Espíritos é da mesma natureza, todos os Espíritos devem ser aptos a exercer,
não direi a mesma ação, mas o mesmo modo de ação sobre a mesma substância,
sempre que se acharem em condições de poder fazê-lo. Ora, é isto que acontece nas
evocações.
O que é a evocação?
É um ato pelo qual um Espírito, titular de um corpo, pede a outro
Espírito, ou, muito simplesmente, lhe permite servir-se de seu próprio órgão,
de seu próprio instrumento, para manifestar o seu pensamento ou a sua vontade.
Nem por isso o Espírito titular abandona o seu corpo, embora possa
muito bem neutralizar momentaneamente sua própria ação sobre o órgão da
transmissão, deixando-o à disposição do Espírito evocado; este, porém, não pode
servir-se dele senão enquanto o outro o permitir, em virtude do axioma de
direito natural, de que cada um é senhor em sua casa. Deve-se dizer, contudo,
que no Espiritismo, como nas sociedades humanas, acontece que o direito de
propriedade nem sempre é escrupulosamente respeitado pelos senhores Espíritos,
e que vários médiuns já foram surpreendidos mais de uma vez por terem dado hospedagem
a criaturas que não foram convidadas e, menos ainda, desejadas. Mas isto é um
dos mil insignificantes dissabores da vida, que devemos saber suportar, tanto
mais que, na espécie, eles sempre têm o seu lado útil, ainda que fosse para nos
experimentar, sendo, ao mesmo tempo, a prova mais patente da ação de um Espírito
estranho sobre o nosso organismo, fazendo-nos escrever coisas que estávamos
longe de imaginar, ou que não tínhamos a menor vontade de ouvir. Contudo, isso
só acontece aos médiuns incipientes; quando adestrados, já não lhes acontece
mais ou, pelo menos, já não se deixam surpreender.
Cada um é apto a ser médium? Naturalmente assim deveria ser, embora em
graus diferentes, como sói acontecer com as mais diversas aptidões. É esta a opinião
do Sr. Kardec. Há médiuns escreventes; médiuns videntes; médiuns audientes; médiuns
intuitivos; isto é, médiuns que escrevem – os mais numerosos e os mais úteis;
médiuns que veem os Espíritos; que os ouvem e conversam com eles como com os
vivos – estes são raros; outros recebem em seu cérebro o pensamento do Espírito
evocado e o transmitem pela palavra. Raramente um médium possui todas essas
faculdades ao mesmo tempo. Existem ainda médiuns de outro gênero, cuja simples
presença num lugar qualquer permite a manifestação dos Espíritos, quer por meio
de golpes vibrados, quer pelo movimento dos corpos, tal como o deslocamento de
uma mesinha de três pés[3],
o levantamento de uma cadeira, de uma mesa ou de qualquer outro objeto. Foi por
esse meio que os Espíritos começaram a manifestar-se e a revelar a sua
existência. Ouviste falar das mesas girantes e da dança das mesas; como eu,
também riste delas. E daí? Foram os primeiros meios de que os Espíritos se serviram
para chamar a atenção; assim foi reconhecida a sua presença, depois do que, com
o auxílio da observação e do estudo, chegou-se a descobrir no homem faculdades
até então ignoradas, por intermédio das quais ele pode entrar em comunicação
direta com os Espíritos. Não é maravilhoso tudo isto? Entretanto é apenas
natural; somente repito que à nossa época estava reservada a descoberta e a
aplicação desta ciência, como de muitos outros segredos admiráveis da Natureza.
Agora, para nos pormos em relação com os Espíritos, ou, pelo menos,
para ver se estamos aptos a fazê-lo pela escrita, toma-se de uma folha de papel
e de um lápis em boas condições, posicionando-se para escrever. É sempre bom
começar por dirigir uma prece a Deus; em seguida evoca-se um Espírito, isto é,
pede-se que tenha a bondade de vir comunicar-se conosco e de nos fazer escrever;
por fim espera-se, sempre na mesma posição.
Há pessoas que têm a faculdade mediúnica de tal forma desenvolvida que
já começam a escrever logo de início; outras, ao contrário, só veem essa
faculdade desenvolver-se com o tempo e a perseverança. Neste último caso,
repete-se a sessão todos os dias, para o que basta um quarto de hora; é inútil
gastar mais tempo; mas, tanto quanto possível, deve-se repeti-la diariamente,
sendo a perseverança uma das primeiras condições de sucesso. Também é necessário
fazer sua prece e sua evocação com fervor; mesmo repeti-la durante o exercício;
ter vontade firme, um grande desejo de ser bem-sucedido e, sobretudo, nada de
distração. Uma vez obtida a escrita, essas últimas precauções tornam-se
inúteis.
Quando se está para escrever, sente-se em geral um ligeiro
estremecimento na mão, às vezes precedido de uma leve dormência na mão e no
braço e, até mesmo, de discreta dor nos músculos do braço e da mão; são sinais
precursores e, quase sempre, indicativos de que o momento do sucesso está
próximo.
Algumas vezes é imediato; outras, porém, se faz esperar ainda um ou
vários dias, mas nunca tarda em demasia. Apenas para chegar nesse ponto é
preciso mais ou menos tempo, que pode variar de um instante a seis meses; mas,
repito, basta um quarto de hora de exercício por dia.
Quanto aos Espíritos que podem ser evocados para tais tipos de
exercícios preparatórios, é preferível dirigir-se ao nosso Espírito familiar,
que sempre está próximo e jamais nos deixa, ao passo que os outros podem estar
ali apenas momentaneamente, ou não se encontrarem no instante em que os
evocamos, ou, ainda, estarem impossibilitados, por uma causa qualquer, de
atender ao nosso apelo, como por vezes acontece.
O Espírito familiar, que até certo ponto confirma a teoria católica do
anjo-da-guarda, não é, entretanto, exatamente aquilo que nos apresenta o dogma
católico. É simplesmente o Espírito de um mortal, que viveu como nós, mas que é
muito mais adiantado que nós e, consequentemente, nos é infinitamente superior
em bondade e em inteligência; que realiza uma missão meritória para si,
proveitosa para nós, desse modo nos acompanhando neste mundo e no outro, até
ser chamado a uma nova encarnação, ou até que nós mesmos, chegados a um certo grau
de superioridade, sejamos chamados a realizar, na outra vida, missão semelhante
junto a um mortal menos evoluído do que nós.
Como bem vês, meu caro amigo, tudo isto entra maravilhosamente nas
nossas ideias de solidariedade universal.
Tudo isto, mostrando-nos essa solidariedade estabelecida em todos os
tempos e funcionando constantemente entre nós e o mundo invisível, prova-nos
certamente que não é uma utopia de concepção humana, mas uma das leis da
Natureza; que os primeiros pensadores que a pregavam não a inventaram, mas
apenas a descobriram; que, enfim, estando nas leis da Natureza, será chamada
fatalmente a se desenvolver nas sociedades humanas, apesar das resistências e
dos obstáculos que ainda lhe possam contrapor seus cegos adversários[4].
Não me resta senão falar da maneira de evocar. É a coisa mais simples.
Para isso não há nenhuma fórmula cabalística ou obrigatória; tu te diriges ao
Espírito nos termos que te convêm: eis tudo.
Todavia, para fazer com que melhor compreendas a simplicidade da coisa,
dar-te-ei a fórmula que eu mesmo emprego:
“Deus, Todo-Poderoso!
Permiti a meu bom anjo (ou ao Espírito de fulano, caso se prefira evocar outro
Espírito) comunicar-se comigo e fazer-me escrever.” Ou então: “Em nome de Deus Todo-Poderoso,
rogo a meu bom anjo (ou o Espírito de...) que se comunique comigo.”
Agora queres saber o resultado de minha própria experiência. Ei-la:
Depois de mais ou menos seis semanas de exercícios infrutíferos, senti
um dia a mão tremer, agitar-se e de repente traçar com o lápis caracteres
informes. Nos exercícios seguintes esses caracteres, embora sempre
ininteligíveis, tornaram-se mais regulares; eu escrevia linhas e páginas com a
velocidade de minha escrita habitual, mas sempre ilegíveis. Outras vezes
traçava rubricas de toda sorte, grandes, por vezes em todo o papel. Algumas
vezes eram linhas retas, ora de alto a baixo, ora transversais. Outras vezes eram
círculos, ora grandes, ora pequenos e tão repetidos uns sobre os outros que a
folha de papel ficava completamente enegrecida pelo lápis.
Finalmente, depois de um mês de exercícios os mais variados, mas também
os mais insignificantes, comecei a me aborrecer e pedi ao meu Espírito familiar
que me fizesse pelo menos traçar letras, caso não pudesse fazer-me escrever
palavras.
Então obtive todas as letras do alfabeto, mas não consegui mais que isso.
Entrementes, minha mulher, que sempre tivera o pressentimento de não
possuir a faculdade mediúnica decidiu-se, mesmo assim, a fazer experiências. Ao
cabo de quinze dias de espera, pôs-se a escrever fluentemente e com grande
facilidade. Foi mais feliz do que eu, fazendo-o com grande correção e de modo bastante
legível.
Um dos nossos amigos conseguiu, desde o segundo exercício, rabiscar
como eu, mas foi tudo. Nem por isso desanimamos, convencidos de que era uma
prova e que, mais cedo ou mais tarde, escreveríamos. É fácil; só preciso ter
paciência.
Numa outra carta entreter-te-ei com as comunicações que obtivemos por
intermédio de minha mulher e que, por mais singulares pareçam, são muito
concludentes quanto à existência dos Espíritos. Mas por hoje já chega; eu devia
fazer-te uma exposição que, não obstante primária, pudesse abarcar o conjunto da
teoria espírita. Espero que isto baste para excitar a tua curiosidade e,
sobretudo, despertar o teu interesse. A leitura das obras especializadas a que
te irás entregar fará o resto.
Esperando a obra prática da qual te falei, remeterei brevemente a obra
filosófica intitulada: O Livro dos Espíritos.
Estuda, lê, relê, experimenta, trabalha e, sobretudo, não desanimes,
porque a coisa vale a pena.
Além disso, não ligues atenção aos que riem; há muitos que não riem
mais, embora ainda estejam de posse de todos os órgãos que até há pouco lhes
serviam.
A ti e até logo.
[1] Revista
Espírita – Janeiro/1861 – Allan Kardec
[2] Revista
Espírita – Fevereiro/1861 – Allan
Kardec
[3] N. do T.:
Guéridon, no original francês.
[4] Por pouco que os fatos mais naturais, mas ainda não
explicados, se prestem ao maravilhoso, cada um sabe com que habilidade a
astúcia se apodera deles, e com que audácia os explora. Talvez ainda esteja
nisso um dos maiores obstáculos à descoberta e, sobretudo, à vulgarização da
verdade.
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