sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

MÉDIUNS DESCONHECEDORES DA SUA MEDIUNIDADE[1]

 

Estênio Negreiros

 

É comum conhecermos pessoas dotadas do ostensivo dom da mediunidade e que são absolutamente ignorantes desse patrimônio divino sem sequer saber do que se trata.

Uma senhora dona de casa — a quem chamarei aqui de L... — que presta serviços de limpeza na minha residência, pessoa simplória e semianalfabeta, relata-me com frequência situações em que ela ouve vozes, sussurros, vê vultos e em algumas situações intui que algo está ocorrendo com um familiar seu que mora distante.

Meses atrás ela relatou-me a lamentável situação em que se encontrava um irmão seu, residente na capital paulista, preso por tráfico de drogas. Conta ela que, na noite do dia em que ele foi flagrado cometendo o crime, ela ouviu um grito desesperado dele. Na manhã seguinte, a esposa do seu desditoso irmão telefonou para sua família comunicando o triste episódio e pedindo-lhe ajuda.

Numa outra residência, aqui em Fortaleza, cuja família também se beneficia do mesmo trabalho dela de zeladora, as ocorrências de manifestações espirituais são costumeiras. Há uns dois anos, mais ou menos, desencarnaram dois dos moradores daquela casa, o cabeça do casal e a irmã da esposa dele. Tempos depois, a senhora L... começou a ver um vulto com os mesmos traços fisionômicos da falecida senhora; depois, passou a ouvir sussurros e uma voz chamando pelo seu nome, que ela garante ser a voz da dita senhorinha. Relata ainda a senhora L... que a viúva, uma mulher de idade avançada, constantemente lhe pergunta quem é aquela criança do sexo masculino que ela sempre vê brincando ou transitando pelo apartamento onde mora. Lá não mora nenhuma criança e somente vez ou outra uma garotinha sua aparentada vem visitá-la junto com seus pais.

D. L..., quinzenalmente desempenha o seu ofício numa casa situada num sítio localizado nos arredores da cidade de Aquiraz, na região metropolitana de Fortaleza, cuja família é constituída de um casal com duas filhas adultas e uma delas tem uma filhinha pequena. Conforme a nossa zeladora, ocorrências estranhas são frequentes naquela residência, um casarão muito antigo, e que parece se acentuarem nos dias em que ela passa por lá. Ela vê vultos, murmúrios de pessoas conversando, tudo isso quando não há ninguém no recinto do casarão. O que mais lhe intriga é o mal-estar que dela se apodera logo que adentra o perímetro do sítio: dor de cabeça, confusão mental, desarranjo intestinal, tudo isso sem nenhum fator provocador aparente. Conta ela que, dia desses, fazia uma tarefa na cozinha da casa quando viu nitidamente passar próxima a ela uma pessoa com os mesmos traços físicos e o mesmo vestido da dona da casa. Estranhando isso, ela indagou ao dono da casa, que se achava no recinto, onde se achava sua patroa e ele lhe respondeu que ela estava lá fora, no terreiro da casa, acompanhada da sua netinha. D. L... foi conferir e de fato lá se achavam avó e neta, numa distância considerável que não poderia ser percorrida entre o instante em que ela avistou o vulto e o momento em que ela deu poucos passos para ver as duas pessoas naquela área externa do casarão.

Em face do que D. L... me relatou, expliquei-lhe que certamente ela é dotada da mediunidade de audiência e vidência e que deveria procurar orientações num centro espírita sério onde, certamente, à luz do aprendizado, poderia compreender e potencializar o seu maravilhoso e ao mesmo tempo espinhoso dom mediúnico em favor do próximo.

À luz deste fato podemos imaginar quantos milhões de médiuns de grandes aptidões existem mundo afora, ignorantes de seus dons mediúnicos, sofrendo por não saberem explicar as estranhas percepções que impressionam os seus sentidos ao verem ou ouvirem pessoas ou vozes que não são materialmente palpáveis — para ficarmos somente com os dois tipos de parapercepções de audiência e de vidência. Não sabem esses milhões de médiuns deseducados o quanto também se beneficiariam por serem medianeiros a serviço de Jesus Cristo e, por consequência, burilando o seu próprio aprimoramento moral.



[1] O CONSOLADOR - Ano 16 - N° 811 - 19 de Fevereiro de 2023 - http://www.oconsolador.com.br/ano16/811/ca2.html

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