José Passini - setembro/2022
Há pessoas que se declaram
avessas à política por serem religiosas e verem a política como algo
incompatível com o que se aprende nas religiões. Acusam os políticos de serem interesseiros,
egoístas e até desonestos, numa generalização incompatível com o que se aprende
nos ambientes religiosos, de modo geral. Outras, por interpretarem o não
julgueis, ao pé da letra, procuram não formar juízo sobre nada nem ninguém,
recusando-se a analisar, avaliar a atuação desses que, queiramos ou não,
representam o povo nas decisões legais e administrativas, em todos os níveis.
É bem verdade que a discussão
política em forma de bate-boca não produz bons frutos, mas a busca de
informações, a troca respeitosa, serena, de ideias são atitudes inteligentes e
básicas para quem deseje informar-se, a fim de não se omitir ou de elaborar
juízos errôneos que o levariam a tomar posições equivocadas que resultariam em
votos inconscientes ou até mesmo irresponsáveis.
O voto obrigatório é altamente
alienante, pois apaga no eleitor a noção do direito legítimo de escolher seu
representante, substituindo essa nobre noção de direito por uma imposição
legal. O voto obrigatório aprisiona, enquanto o voto facultativo liberta. O
voto obrigatório leva o eleitor inconsciente a votar não no mais capaz, naquele
que apresenta uma proposta de atuação séria, ponderada, honesta, baseada em
estudos e reflexões, no desejo de servir, mas sim no candidato mais sagaz, mais
ardiloso, mais capacitado a olhar o interesse próprio e não o da coletividade a
que se propõe representar.
Já o voto facultativo
possibilita uma conscientização maior. O eleitor, no regime de voto
facultativo, comparece conscientemente às urnas, visando a contribuir com o seu
voto para um aprimoramento no processo social da comunidade em que vive.
A responsabilidade do voto é
grande, mas, infelizmente, não faz parte dos alertamentos religiosos que,
comumente, separam a vida profana da vida religiosa como se fossem campos
distintos, como se Deus se fizesse presente num ambiente e ausente noutro.
Devido à desonestidade de alguns
políticos, há pessoas que, generalizando, consideram a política uma prática
abominável, incompatível com a prática religiosa. Isso não é verdade.
No meio espírita há exemplos
edificantes que demonstram a perfeita compatibilidade entre política e
religião. Bezerra
de Menezes foi vereador e deputado federal em vários mandatos, sem que a
sua condição de espírita sofresse qualquer restrição, fosse maculada, ou
denotasse qualquer desacordo com os preceitos do Evangelho. Também Francisco
Leite de Bittencourt Sampaio foi deputado e, um exemplo mais recente: José
Freitas Nobre, digno deputado federal. Todos com desempenho exemplar,
norteado nos preceitos do Evangelho.
Diante de exemplos de atuação
honesta, equilibrada de outros espíritas e de pessoas de outras religiões, que
se dedicaram e se dedicam à política, vê-se claramente que essa atividade não é
incompatível com os preceitos de conduta delineados pelo Evangelho e
recomendados pelo Espiritismo.
Vivemos em sociedade e a
participação na vida pública deve ser exercida por todo aquele que se sinta
capacitado a colaborar com eficiência nesse campo, às vezes difícil, é verdade.
Devemos nos lembrar de que a
vida de insulamento e de omissão não foi recomendada por Jesus. Pelo contrário,
tendo Ele próprio dado testemunho disso, tanto na sua vivência pessoal, quanto
em recomendações que fez: Ide; eis que vos mando como cordeiros ao meio de
lobos[2].
E Eis que vos envio como
ovelhas ao meio de lobos; portanto sede prudentes como as serpentes e simples
como as pombas[3].
Entretanto, com o mesmo cuidado
que tomamos ao separarmos nossas atividades profissionais do ambiente espírita,
devemos fazê-lo relativamente à atividade política.
Cada atividade a seu tempo e em
seu lugar.
[1] MUNDO ESPÍRITA – nº. 1658 – setembro/2022 - http://www.mundoespirita.com.br/?materia=politica-e-religiao
[2] BÍBLIA, N. T. Lucas. Português. O novo testamento.
Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica
Brasileira, 1966. cap. 10, vers. 3.
[3] Op. cit. Mateus. cap. 10, vers. 16.
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