Emma Young - Da BBC Future - 23 junho 2017
Até os 40 anos, Melanie Goodwin
não tinha qualquer memória de sua vida antes dos 16 anos. Então, uma tragédia
familiar desencadeou uma mudança psicológica gigantesca.
De repente, ela descobriu outras
identidades dentro de si e as barreiras entre elas começaram a ceder. As
diferentes identidades pertenciam a ela, sentia Melanie, mas "ela" em
diferentes idades, dos três aos 16 anos até a fase adulta.
Essas idades não eram
aleatórias. Entre as diferentes e assustadoras vozes chegaram à sua consciência
memórias de abuso infantil, sendo que o primeiro aconteceu quando ela tinha
três anos e o último quando ela tinha 16. "Eu não tenho provas", diz
ela. "Eu tenho que aceitar o que eu acredito que aconteceu, a minha
realidade".
Melanie tem o que se chamava de
"transtorno de múltiplas personalidades", que agora é mais conhecido
como Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI). A mudança no nome reflete um
entendimento de que há algo além de mudanças na personalidade. Memórias,
comportamentos, atitudes, percepção de idade ‒ tudo pode se alternar.
"Nós" ‒ ela geralmente
se refere a si mesma como "nós" ‒ "tínhamos várias partes
adultas". "No desenvolvimento deveria haver uma transferência, mas
como não crescemos naturalmente, adaptamos a nós mesmas. No fim, havia nove partes
adultas diferentes, cada uma administrando um estágio de nossa vida adulta sem
abusos".
Viver com TDI pode ser um
inferno, diz ela. É uma quebra em um aspecto da existência cotidiana que a
maioria de nós subestima ‒ nosso senso de ego autônomo. Para Melanie, a
consciência abrupta de que existiam várias identidades dentro dela foi
contundente. Como ela poderia acomodar todas elas?
Dividida em partes
Melanie fala de um sofá em uma
sala de consulta do Centro Pottergate para Dissociação e Trauma em Norwich, no
Reino Unido. O centro é administrado por Remy Aquarone, um psicoterapeuta
analítico e ex-diretor da Sociedade Internacional do Estudo de Trauma e
Dissociação.
Em 30 anos de carreira, Aquarone
trabalhou com centenas de pessoas com transtorno dissociativo. Na maioria dos
casos, diz ele, há um histórico de abuso infantil, muitas vezes iniciado antes
dos cinco anos de idade.
Em uma tentativa de lidar com as
experiências traumáticas, segundo a teoria da área, a criança "se
dissocia", divide-se em partes. Uma parte suporta o abuso e fica com os
terríveis impactos emocionais e físicos, outra parte continua sua existência.
Ou pode ser que uma parte lide
com o abuso enquanto outra consiga levar seu corpo de volta ao seu quarto em
segurança. Se há abusadores ou cenários diferentes envolvidos, muitas partes
diferentes podem surgir.
É a dissociação que permite que
a criança siga em frente. "É o sistema mais avançado de adaptação. Ela
está usando sua cognição inconsciente para adaptar sua maneira de pensar e seu
comportamento para conseguir se manter segura", diz Aquarone.
"Se você está em uma
situação completamente impossível, você se dissocia para se manter vivo. O
trauma pode congelar você no tempo. E porque o trauma continua com o passar dos
anos, há vários pequenos congelamentos acontecendo por toda parte", diz
Melanie.
Nem todo mundo que passa por
abuso infantil ‒ ou qualquer outro trauma de grande magnitude ‒ desenvolve TDI.
Com base nesse trabalho, Aquarone diz que há outro fator crítico envolvido: a ausência
de uma ligação afetiva normal e saudável com um adulto.
No campo da psicologia de
desenvolvimento, "ligação" tem um significado específico: é um laço
formado entre uma criança e um cuidador que apoia e cuida dessa criança
emocionalmente e na prática enquanto também ajuda a criança a aprender como
administrar suas reações.
Sem esse laço ‒ impedido por
negligência, abuso ou até morte ‒ uma criança passando por um trauma precisa se
defender sozinha.
Ao refletir sobre pessoas com
TDI como um todo, Melanie diz que "o que não tivemos quando criança é um
pai ou mãe metaforicamente segurando você e o ajudando a aprender como lidar
consigo mesmo".
Crianças que desenvolvem laços
seguros conseguem lidar melhor com a vida de maneira geral, diz Wendy Johnson, professora
de Psicologia da Universidade de Edimburgo.
"Em primeiro lugar, elas
são melhores em lidar com outros de uma forma bem-sucedida. Suas relações
tendem a ser mais tranquilas. Elas tendem a ganhar mais dinheiro, ser mais
apreciadas e reconhecidas pelos outros e se meter menos em brigas. Elas também
tendem a experienciar a vida com mais tranquilidade, então é mais agradável
para elas".
Isso não significa que nossas
personalidades são determinadas para sempre nos primeiros anos de vida. Um
ambiente relativamente estável em termos de relacionamento e trabalho ajuda a
manter uma personalidade relativamente estável.
"Eu acho que na verdade
nossos ambientes tendem a ter muita estabilidade, o que contribui à
consistência que tendemos a demonstrar", diz Johnson. Mas se essas
influências externas mudam, nós também mudamos.
Ter filhos, perder um emprego ‒
esses tipos de mudanças grandes na vida podem provocar comportamentos que nos
surpreendem, assim como mudanças em traços como nível de retidão e extroversão.
Não é surpresa que ser um jovem adulto geralmente envolve um grande
questionamento de identidade, diz Johnson, já que isso frequentemente ocorre
quando muitas coisas estão em fluxo ‒ lar, arredores, amizades.
Sem um senso unificado de si que
a estabilidade e as ligações afetivas trazem, identidades dissociadas podem dar
a impressão de que a personalidade de alguém se altera dramaticamente.
Melanie tem uma parte anoréxica
e uma parte que tentou suicídio duas vezes porque a dor das barreiras que
pareciam cair lhe pareciam insuportáveis. Sua parte de três anos de idade se
assusta facilmente com coisas que a fazem lembrar de seus traumas passados,
como um cheiro ou o jeito de andar de um homem, e nessas situações ela congela
ou até mesmo se esconde. Por outro lado, a parte de 16 anos pode até flertar.
Faz sentido que Melanie se
comporte de maneira diferente dependendo de quem estiver dirigindo sua mente.
Ela não age como seu ego de três anos ou nem sequer se lembra de como era ter
três anos. Ela é essa menina de três anos ‒ até que outra identidade tome a
direção.
Conectando com o
passado
Algumas pessoas com o transtorno
perdem períodos de tempo já que algumas memórias vividas em uma identidade nem
sempre são acessíveis a outras ‒ elas sentem como se estivessem sempre pulando
dias ou até mesmo semanas. "Algumas pessoas desenvolvem casos. Bem, não
são exatamente casos porque elas não tinham ideia de que eram casadas",
diz Melanie.
Para ela, o efeito é que ela não
tem noção da ordem dos acontecimento de sua vida. "Você nasce e tem uma
linha do tempo com toda sua vida. Se você ficar fragmentado, você não tem mais
essa linha".
Suas memórias são ainda mais
apagadas pelas reações emocionais normais, que são necessárias para ajudar
alguém a lidar com um trauma grave, dizem Aquarone e Melanie. Mas essa falta de
reação emocional não terminou com o fim do abuso: virou a forma como o cérebro
de Melanie trabalha. "Eu sei que me casei", diz ela citando um
exemplo. "Mas eu observei e assisti a ele em vez de participar inteiramente".
Pessoas com TDI frequentemente
dizem se sentir muito superficiais, diz Aquarone. "E de certa forma elas
são, porque a essência de quem você é fica presa do lado de dentro."
Para a maioria de nós, nossas
memórias, fortalecidas pelas emoções que sentimos no momento, dão uma corrente
pessoal que chega até a infância, dando um senso de autocontinuidade.
"Eu posso me referir a um
comportamento que tinha quando adolescente, por exemplo, para ter uma visão
mais ampla de mim mesmo. O preço da dissociação é que não há como lembrar como
as coisas eram antes", afirma.
Conviver com pessoas com quem
você compartilha muitas memórias, como família e amigos, pode aumentar esse
senso de um ego persistente ao longo dos anos. Mas o problema com a dependência
de nossas conexões com pessoas do passado, claro, é que velhos amigos podem se
mudar e pessoas podem morrer.
Um benefício psicológico da
crença religiosa pode ser que, em tese, uma relação com Deus, com todas suas
memórias associadas, pode se estender da infância até a morte e, não importa
onde você esteja no mundo, ela estará lá. "Você não pode perdê-la ‒ e isso
transcende onde você está", diz Aquarone.
Há outras formas de ajudar
alguém a conectar seu "eu" presente com o passado. Psicólogos
costumavam pensar que a nostalgia ‒ o uso da memória para lembrar bons tempos
no passado ‒ era negativa e prejudicial. Mas agora há estudos apontando o
oposto. Aliás, a nostalgia parece nutrir um senso de ego contínuo e isso
aumenta nosso senso de pertencimento no mundo.
Esse senso de um eu unitário e
consistente através do tempo ajuda as pessoas a navegar pela vida, especialmente
no mundo social. Mas se isso pode ser fortalecido ‒ e enfraquecido ‒ por
vivências ou perdido completamente no TDI, será que reflete seu verdadeiro eu?
Conflito interno
"Pense no musical 'Grease -
Nos Tempos da Brilhantina', no qual Sandy usa sua personalidade de boazinha
para se tornar uma garota durona e que usa roupas de couro. Certamente toda
essa mudança e essa nebulosidade fazem parte de Sandy. Mas com certeza essa
performance também foi feita para conseguir aprovação de seus semelhantes, não
é a 'verdadeira Sandy".
O caso de Sandy é sublinhado em
um artigo de Nina Strohminger e colegas da Universidade de Yale sobre o
conceito do "verdadeiro eu", não apenas em relação a pessoas com a
desordem, mas a qualquer um.
Ou tome como exemplo o caso de um
homem que é muito religioso e tem impulsos homossexuais, sugere Strohminger.
"Sua religião o impede de fazer algo a respeito, então ele luta contra
isso todos os dias", explica. "Quem é essa pessoa de verdade? É a
pessoa que resiste os impulsos homossexuais os a que os tem"?
A resposta varia de pessoa para
pessoa, aponta a pesquisadora. "Quando você pergunta a liberais eles dizem
'Ah, é a pessoa com os impulsos homossexuais'. Mas se você perguntar a
conservadores eles dirão 'É a parte que quer resistir a esses impulsos'. Tudo
depende de quais são os seus valores. Se você achar que é ok ser gay, você não
verá nada de errado com esses impulsos".
Strohminger não conhece um
estudo que tenha perguntado a alguém com esse conflito específico como ela se
sente. "Mas com base em tudo que observei nos meus estudos a condição
seria que não importa o que você projete nos outros, os mesmos valores valem
para você também".
"Eu sou uma psicóloga, não
uma metafísica", diz ela. "Mas se você quer chegar a conclusões
metafísicas, você precisa entender que quando pessoas normais pensam sobre sua
própria identidade e as identidades dos outros isso é baseado em seus próprios
valores e circunstâncias". Ou seja, é tudo relativo.
Strohminger descobriu, no
entanto, que há um aspecto do padrão comportamental típico de uma pessoa que é
consistentemente considerado o mais fundamental sobre quem alguém é − ainda
mais do que suas memórias ou se a pessoa é introvertida ou extrovertida, calma
ou facilmente irritável.
Ela começou com experimentos de
pensamentos. Em um deles, ela pediu a voluntários que imaginassem outras
pessoas mudando de várias maneiras. E as alterações de seus traços morais − sua
honestidade ou desonestidade relativa ou lealdade e deslealdade e assim por
diante − foi o que os voluntários sentiram que as transformaram mais como
pessoas.
Em seguida, Strohminger se
voltou a famílias de pessoas com demência, o que pode envolver não apenas perda
de memória, mas também mudanças de personalidade e senso moral (às vezes
mudanças negativas, como mentiras patológicas, ou positivas, como mais
bondade).
Os familiares disseram que não
foi ao perder a memória que eles se tornaram "outra pessoa", mas
quando seu senso moral foi alterado.
"Tradicionalmente, a
moralidade não recebeu muita atenção na academia quando falamos na natureza da
identidade pessoal. Em vez disso, pensava-se que a memória e características
distintivas, como sua personalidade, são o que fazem você ser você", diz
Strohminger. "Nossos resultados vão contra séculos de ideias de filósofos
e neuropsicólogos."
Melanie diz que algumas partes
dela não parecem ter um senso moral diferente. Mas ela relaciona isso com as
experiências de vida de cada parte e com a estabilidade de algumas delas em
décadas passadas, quando outras atitudes predominavam.
E o senso de moral das pessoas
pode mudar com o passar do tempo, lembra Wendy Johnson. "Eu acho que há
muitas pessoas que percebem onde erraram e decidem ser diferentes, e elas se
tornam diferentes", diz.
Portanto, a parte fundamental de
quem somos − ao menos até onde os outros percebem − pode mudar. Isso sugere que
o senso de si fixo e sólido que a maioria de nós mantemos é em parte uma ilusão
que nos permite evitar o estresse mental que vem com múltiplas identidades. E
como mostram as experiências de Melanie e de outras pessoas com TDI, essa
ilusão é vital.
Rompendo as barreiras
Há quatro anos, quando suas
partes começaram a emergir, Melanie, que trabalhava como bibliotecária, leu um
livro chamado The Flock ("O Bando", em tradução livre), de
Joan Frances Casey. Ela percebeu que, assim como Casey, ela tinha TDI.
Ela levantou a hipótese com o
marido com quem havia se casado há mais de 20 anos. "Ele disse 'Sabe de
uma coisa, isso faz sentido'.
"Porque ele disse ter me
perguntado se eu queria café um dia e eu disse 'Sim, adoraria um café'. No dia
seguinte ele me perguntaria 'Você quer um café? ' e eu responderia 'Você sabe
que eu não bebo café, sou alérgica a café! '.
A parte de 16 anos não consegue
beber café e eu amo café. Ele costumava dizer que nunca sabia o que encontraria
ao chegar em casa. Eu nunca entendi o que ele queria dizer com isso"!
Não é surpreendente ela ter
passado tanto tempo ao lado de alguém sem a pessoa perceber que existiam
diferentes partes dentro dela? "[Agora] ele acha maluco ele não ter
percebido antes... Mas ele me amava. E eu era uma boa mãe, no sentido prático.
Eu era boa em lidar com a forma como os outros se comportavam".
Diferentemente de outras pessoas
com TDI, Melanie sente que há uma parte dominante com uma idade compatível com
a de seu corpo.
É possível, então, dizer que a
"verdadeira" Melanie não é a de três anos, que se assusta com
facilidade, ou a de 16 anos que flerta com as pessoas ou a de 64 anos que está
sentada no sofá na sala de consulta de Aquarone, falando eloquentemente sobre
uma sensação de existência que ela sabe agora que é diferente daquela da
maioria das pessoas?
Um bom tratamento fez uma grande
diferença. O primeiro passo foi diagnosticar corretamente o transtorno, ainda
que o TDI possa parecer ser várias outras coisas.
Pessoas que ouvem vozes de
diferentes partes de si podem ser entendidas como esquizofrênicas, pessoas que
alternam entre partes animadas e depressivas podem ser diagnosticadas como
bipolares, pessoas que se escondem em um hospital porque sua identidade de três
anos de idade está com medo podem ser confundidas com alguém em um episódio
psicótico, pessoas cujos estados emocionais parecem mudar drasticamente podem
ser diagnosticadas com transtorno de personalidade borderline.
E, ao menos no Reino Unido, TDI
é um diagnóstico controverso. Está listado nos principais manuais psiquiátricos
usados ao redor do mundo (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais, feito pela Associação Psiquiátrica Americana, e a Classificação
Estatística Internacional de Doenças e Problemas de Saúde Relacionados, da
Organização Mundial de Saúde).
Mas, na prática, diz Aquarone,
ainda há relutância entre psiquiatras para aceitá-lo. Acredita-se que o TDI
afete 1% da população (praticamente a mesma taxa da esquizofrenia), ainda assim
há céticos que argumentam que talvez os pacientes estejam fingindo identidades
diferentes e que uma tendência à fantasia explicaria o transtorno como um todo.
Imagens de ressonância magnética
do cérebro apoiam a ideia de que as pessoas com TDI não estão fingindo − e há
outra pesquisa refutando esse argumento.
Em 2016, por exemplo, uma equipe
do King's College, em Londres, publicou um estudo com 65 mulheres, incluindo
algumas diagnosticadas com TDI. Eles concluíram que as mulheres com TDI não
tendiam mais à fantasia ou à criação de memórias falsas do que as sem esse
diagnóstico. De acordo com os autores do estudo, esse resultado questiona a
hipótese principal do "modelo de fantasia".
Melanie agora é diretora da
First Person Plural ("Primeira Pessoa do Plural", em tradução livre),
uma associação de transtorno de identidade dissociativa, e ela frequentemente
fala com psicólogos, psiquiatras e cuidadores, espalhando informações sobre
TDI.
Ela e Aquarone recentemente
ajudaram a organizar a primeira conferência sobre serviços para pessoas com
dissociação relacionada a traumas − e ela reuniu médicos do NHS (serviço
britânico de saúde semelhante ao SUS) e do sistema privado, além de
voluntários. Um dos principais desafios, eles notaram, é que um especialista em
TDI pode levar vários meses para ajudar um paciente, e isso geralmente só está
disponível no sistema privado de saúde.
Foi esse tipo de terapia que
mudou tudo para Melanie, diz ela. Quando as barreiras entre as partes começaram
a cair ela ficou sobrecarregada. Para começar a acalmar a guerra dentro de si,
ela precisou de um laço forte com um terapeuta que pôde ajudá-la a conversar
com suas diferentes partes e respeitá-las.
Melanie achou impossível
administrar qualquer coisa além do fundamental da vida durante dez anos depois
que as identidades começaram a explodir. Então, conforme ela aprendeu a ouvir
as partes e as histórias que elas tinham a contar, "aprendemos a
compartilhar essa vida em comum entre nós".
Quando ela sentiu que podia
viajar para longe com seu marido, as identidades infantis dentro dela ajudariam
a fazer o que era preciso. "Todos ajudariam a fazer as malas, assim
poderíamos levar coisas para a parte de três anos, como um ursinho de pelúcia,
e eu acabaria fazendo três ou quatro malas porque todo mundo precisava levar
suas coisas".
Ainda assim, se eles chegassem
ao destino final e ela descobrisse que não tinha as roupas certas para aquele
momento, ela não conseguia sair. A qualquer minuto, poderia ser a criança de
oito anos no fundo de sua consciência, ou a de 16 anos, elas simplesmente não
sairiam se não estivessem vestidas apropriadamente.
Em um certo momento, ela deixava
a identidade de 16 anos "vestir o corpo", como ela diz, e ir à
biblioteca onde ela trabalhava. "Faríamos rotas porque é claro que a de 16
anos não podia dirigir".
O combinado era que a parte
adulta passaria o dia no trabalho e as partes mais jovens ficariam com as
noites. "Elas fariam coisas que não poderiam durante o dia, como comer
besteira e assistir Teletubbies, até fazer coisas, brincar com ursos de
pelúcia, montar um quebra-cabeças".
"Com o passar do tempo,
começamos a entender o que acontecia como um todo", diz ela.
Agora, as partes ainda estão lá,
mas elas coexistem. "Nós não somos uma, mas todas concordamos em viver
juntas harmoniosamente", diz Melanie. "O que funciona na maior parte
do tempo".
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