Allan Kardec
(Joinville,
Haute-Marne, 10 de março de 1868 – Médium: Sra. P...)
Neste momento a instrução da
mulher é uma das mais graves questões, porque não contribuirá pouco para
realizar as grandes ideias de liberdade, que dormitam nos fundos dos corações.
Honra aos homens corajosos
que tomaram a sua iniciativa! Eles podem, de antemão, estar certos do sucesso
de seus trabalhos. Sim, soou a hora da libertação da mulher; ela quer ser livre
e para isto deve libertar a sua inteligência dos erros e dos preconceitos do
passado. É pelo estudo que ela alargará o círculo de seus conhecimentos
estreitos e mesquinhos. Livre, ela fundará a sua religião sobre a moral, que é
de todos os tempos e de todos os países. Ela quer ser, ela será a companheira
inteligente do homem, sua conselheira, sua amiga, a instrutora de seus filhos,
e não um joguete, do qual se servem como uma coisa, e que depois deixam de lado
para tomar uma outra.
Ela quer trazer a sua pedra
ao edifício social, que se ergue neste momento ao poderoso sopro do progresso.
É verdade que, uma vez
instruída, ela escapa das mãos daqueles que dela fazem um instrumento. Como um
pássaro cativo, ela quebra a sua gaiola e voa para os vastos campos do
infinito. É verdade que, pelo conhecimento das leis imutáveis que regem os
mundos, ela compreenderá Deus de modo diferente do que lhe ensinam; não
acreditará mais num Deus vingador, parcial e cruel, porque sua razão lhe dirá
que a vingança, a parcialidade e a crueldade não podem conciliar-se com a
justiça e a bondade; o seu Deus – dela – será todo amor, mansuetude e perdão.
Mais tarde ela conhecerá os
laços de solidariedade que unem os povos entre si, e os aplicará em seu redor,
espalhando com profusão tesouros de caridade, de amor e de benevolência para
todos. Seja qual for a seita a que pertença, saberá que todos os homens são
irmãos, e que o mais forte não recebeu a força senão para proteger o fraco e o
elevar na sociedade ao verdadeiro lugar que deve ocupar.
Sim, a mulher é um ser
perfectível como o homem, e suas aspirações são legítimas; seu pensamento é
livre e nenhum poder do mundo tem o direito de a escravizar ao sabor de seus
interesses ou de suas paixões. Ela reclama sua parte de atividade intelectual,
e a obterá, porque há uma lei mais poderosa que todas as leis humanas: a do
progresso, à qual toda a Criação está submetida.
Um Espírito
Observação – Temos dito e repetido muitas vezes: a
emancipação da mulher será a consequência da difusão do Espiritismo, porque ele
funda os seus direitos, não numa ideia filosófica generosa, mas sobre a própria
identidade do Espírito.
Provando que não há Espíritos homens e Espíritos mulheres,
que todos têm a mesma essência, a mesma origem e o mesmo destino, ele consagra
a igualdade dos direitos. A grande lei da reencarnação vem, além disso,
sancionar este princípio. Desde que os mesmos Espíritos podem encarnar, ora
como homens, ora como mulheres, disso resulta que o homem que escraviza a
mulher poderá ser escravizado por sua vez; que, assim, trabalhando pela
emancipação das mulheres, os homens trabalham pela emancipação geral e, por
conseguinte, em proveito próprio. As mulheres têm, pois, um interesse direto na
propagação do Espiritismo, porque ele fornece em apoio de sua causa os mais
poderosos argumentos que jamais foram invocados. (Vide a Revista Espírita,
janeiro de 1866; junho de 1867).
Allan Kardec
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