quinta-feira, 25 de agosto de 2022

FORÇA PARA OS DOIS PLANOS[1]

 

Miramez

 

Que pensar da opinião que rejeita a prece pelos mortos, por não estar prescrita nos Evangelhos?

− O Cristo disse aos homens: amai-vos uns aos outros. Essa recomendação implica também a de empregar todos os meios possíveis de testemunhar afeição aos outros, sem entrar, entretanto, em nenhum detalhe sobre a maneira de atingir o objetivo. Se é verdade que nada pode desviar o Criador de aplicar a justiça, que é inerente a Ele mesmo, a todas as ações do Espírito, não é menos verdade que a prece que lhe dirigis, em favor daquele que vos inspira afeição, é para este um testemunho de recordação que não pode deixar de contribuir para aliviar os seus sofrimentos e o consolar. Desde que ele revele o mais leve arrependimento, e somente então, será socorrido: mas isso não o deixará jamais esquecer que uma alma simpática se ocupou dele e lhe dará a doce crença de que essa intercessão lhe foi útil. Disso resulta necessariamente, de sua parte, um sentimento de afeição por aquele que lhe deu essa prova de interesse e de piedade. Dessa maneira, o amor recomendado aos homens pelo Cristo desenvolveu-se e aumentou entre eles, e ambos obedeceram à lei de amor e de união de todos os seres, lei divina que deve conduzir à unidade, objetivo e fim do Espírito.

Questão 665/O Livro dos Espíritos

 

A filosofia religiosa que prega a não obrigação de orar pelos mortos, porquanto eles se encontram ligados aos corpos na sepultura, esperando o dia do juízo, alegando que a prece por eles nada acrescentará para a sua salvação e sua melhora, pois o que fizeram na Terra está feito, se esqueceu de aceitar Jesus. Do modo que eles pregam, uns irão para a direita, outros diretamente para a esquerda, ou seja, para o inferno eterno.

Como poderia Deus, que é amor, que fez Seus filhos todos iguais, e sendo onisciente, não saber que eles, ou alguns deles, iriam para o sofrimento eterno? A resposta à pergunta em estudo foi dada por um pastor protestante em O Livro dos Espíritos, que foi oportuna, mas se esqueceu de dizer que Jesus orava, sim, pelos mortos. Quantas vezes o Senhor subiu ao monte, para orar! Isso acontecia sempre e Ele chamava à Sua companhia alguns dos Seus discípulos. Ele, o Mestre dos mestres que conhecia tudo, toda a ciência e filosofia espiritual, não iria se esquecer dos mais necessitados, daqueles que vivem fora do corpo, em desespero.

Quem poderia dizer que o Cristo quando orava não incluía os mortos? Os vivos, principalmente os judeus, tinham muitos profetas e inúmeros sacerdotes que lhes ensinavam a orar e lhes ditavam as regras estabelecidas por Moisés, enquanto os mortos sofredores em regiões umbralinas precisavam disso tanto quanto os chamados vivos. Quem pensa que no Evangelho não aparece Jesus orando pelos mortos, está completamente enganado, porque Jesus orou, e muito, pelos desencarnados, e falanges desses Espíritos despertaram e acompanharam Jesus até o último momento da Sua gloriosa despedida da Terra, regressando para as regiões resplandecentes de onde veio.

A prece é tão divina que é usada em todos os planos da vida maior, como força de Deus em favor da harmonia. A oração é o canal através do qual poderemos nos comunicar com Deus, e d'Ele receber a vida e doar amor. Religião alguma pode negar a existência dos Espíritos, nem a certeza de que quando o corpo perece e vai para a sepultura, a alma continua a viver.

Jesus subiu ao monte Tabor para orar, e nesse exercício divino aparecem para ele Moisés e Elias, com os quais confabulou demoradamente, chegando a ponto de os discípulos os perceberem de tal forma visíveis, que queriam fazer tendas para eles. Os livros sagrados se encontram repletos de relatos de intervenções dos Espíritos na Terra, conversando com os homens. Se não fora essas intervenções, como surgiriam as religiões?

São valiosas as preces dos encarnados em favor dos desencarnados. Os "anjos de guarda" oram sempre para o melhor entendimento dos seus tutelados. Disse Jesus, anotado por Marcos, no capítulo doze, versículo dezessete:

Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.

E muitos se admiraram dele.

Com o dai a César, poderemos interpretar os cuidados que devemos ter na separação dos valores ante a sociedade, a família e Deus; são as obrigações morais. A oração é uma delas; orar pelos que sofrem e nos caluniam. Orar pelos mortos é nosso dever, porque a oração bem sentida e com amor alivia e dá esperança aos sofredores.

A oração é força de Deus que nasce no coração do Espírito, em todos os planos da vida.



[1] Filosofia Espírita – Volume 14 – João Nunes Maia

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