sábado, 2 de julho de 2022

QUANDO MORREMOS, PASSAMOS DESTA PARA MELHOR?[1]

 

Rogério Miguez - abril 19, 2022

 

É sempre recomendado refletir um pouco sobre os chamados ditos populares. Há tantas máximas lembradas em situações específicas do nosso cotidiano que, pela repetição, acabamos julgando serem frases feitas verdadeiras, expressões da realidade. Entre muitas, lembramos de uma corriqueiramente dita quando há um falecimento: Passou desta para melhor!

Esta expressão, ou suas equivalentes, é recordada em muitas ocasiões e, ao ser pronunciada, costumeiramente é confirmada por quem ouve com outros dizeres padrão tais como: É, de fato, foi desta para melhor; ou Sim, ainda bem, estava sofrendo tanto, partiu desta para melhor, agora vai descansar. São várias as opções de confirmação ou de concordância, contudo, já nos preocupamos em ajuizar sobre estas afirmações?

Conforme aprendemos com a Doutrina Espírita, este ditado não se aplica à maioria dos falecidos, porquanto, a vida após a morte só se caracteriza como melhor quando o Espírito teve uma existência regularmente pautada na Lei de Deus, senão, podemos afirmar: após a morte não haverá estado melhor, tampouco vida melhor, muito menos lugar melhor, e mais, o falecido não irá para o céu, até porque este não existe fisicamente.

Em um planeta de provas e expiações, moradia de Espíritos perturbados e ainda perturbadores em sua grande maioria, é de se esperar que as condutas não sejam aquelas sugeridas pelos exemplos do Mestre da Galileia quando por aqui esteve reencarnado. Muito pelo contrário. A tônica dos terráqueos, de modo geral, é viver segundo a lei de Gérson, aquela antiga máxima que preconizava obter vantagem em tudo e, principalmente, sobre todos.

Ao viver segundo os padrões do egoísmo, orgulho e vaidade, não se pode construir valores necessários para uma boa e acalorada recepção do lado de lá, muito menos teremos adquirido o direito de ser encaminhados a uma cidade ou colônia espiritual equilibradas. Portanto, não nos iludamos: a justiça divina é perfeita e não poderia isentar de responsabilidade os que acumulam incontáveis transgressões aos princípios divinos.

A grande massa dos chamados “mortos” acaba ficando por aqui mesmo, nas camadas espirituais mais próximas da Terra, por força das condutas materialistas frequentemente exercitadas quando aqui estiveram reencarnados. Permanecem misturados aos ainda ditos “vivos”, crendo-se também em muitos casos ainda “vivos”. A partir deste momento a confusão se estabelece.

Ao portar, no exato momento da passagem pela aduana da morte, escassas bagagens contendo vestimentas morais e atributos intelectuais, descobrem-se perdidos em mil dúvidas, sem saber ao certo o que houve e para onde devem ir. Veem-se num verdadeiro labirinto de incertezas, construídas pela falta de uma base religiosa, ou pela ausência de espiritualidade, quando ambas poderiam ter sido edificadas por continuados atos concretos positivos em favor do próximo e de si mesmos.

No imediato momento em que colocam os pés no lado de lá, ficam muitas vezes à mercê de antigos inimigos, desafetos de outras eras e desta mesma existência corpórea a qual acabaram de deixar, ou mesmo de Espíritos desencarnados desconhecidos, desocupados, ociosos, viciados, tão ou mais ignorantes que os recém desencarnados, formando bandos e comunidades, constituindo colônias estranhas, burgos exóticos, agrupando-se conforme as preferências e costumes pessoais adquiridos na última vida, quando por aqui ainda transitavam.

Outros tantos conservam-se imantados a seus antigos lares, tentando dar continuidade ao convívio com a parentela, participando das atividades rotineiras dos familiares. Chegam ao ponto de sentar-se à mesa aguardando as refeições; muitos seguem para seus locais de trabalho como de costume faziam diariamente, tentando terminar tarefas inacabadas; alguns se preocupam com os bens deixados subitamente, afligindo-se com moedas, cofres, ações, títulos, imóveis, abandonados sem uma destinação adequada, uma vez que só se leva daqui para lá bens imateriais. Assim agem pois estão prisioneiros da vida material privilegiada a todo o custo, embora todos, sem exceção, tenham recebido oportunidades de se conduzir de forma mais alinhada com os postulados cristãos.

Os suicidas, capítulo à parte, podem permanecer por bom tempo ligados aos próprios corpos, decompondo-se gradativamente nas criptas e jazigos, muitos suntuosos, contudo, sem qualquer possibilidade de ajudá-los nesta hora crítica; alguns permanecem nos cemitérios atabalhoados sem saber o que fazer, para onde se dirigir; outros são imediatamente levados de roldão por contumazes Espíritos obsessores que possivelmente podem tê-los incentivado ao suicídio, provisoriamente sem poder para quem apelar, impedidos que estão de obter qualquer resposta a seus desesperados gritos de socorro, pois relegaram ao descaso a maior dádiva de Deus: a vida.

Esta é a realidade sobre este preceito popular, contudo, perguntamo-nos agora: o que dizer então aos familiares e mentalmente ao falecido?

Cremos que a melhor atitude seria demonstrar o nosso apreço com sinceridade aos que ainda permanecem, lembrando sobre o amor de Deus a todas as Suas criaturas. A ausência será certamente temporária e não ficarão eternamente em desamparo. O Espírito protetor que todos possuímos estará de prontidão aguardando o desencarnado nesta hora grave, verificando o que pode ser feito na grande transição.

Em relação ao desencarnado, endereçar pensamentos de tranquilidade e confiança; uma oração em silêncio, com vibrações positivas encaminhadas ao “morto”, pode muito auxiliar, mesmo considerando que em muitos casos o desencarnado não poderá ser atendido de pronto, em função da vida assumida, única e exclusivamente por força do uso de seu livre arbítrio. Entretanto, mesmo nestas situações, nada de desespero, tampouco incerteza quanto ao futuro, manter a crença na bondade divina e na incomensurável misericórdia do Criador.

Mantenhamos a fé, porquanto, de acordo com a bondade e sabedoria do Magnânimo, outras oportunidades de aprendizado serão oferecidas pela lei das reencarnações, tantas quantas forem necessárias para repararmos os equívocos cometidos no passado.

Alguém já afirmou: a vida continua. Desta forma, não vivamos a presente como se fosse a última. Observando continuadamente e com zelo os preceitos cristãos, podemos evitar estes tantos dissabores experimentados por muitos quando chegar o momento de entregarmos o corpo físico às leis da natureza para ser reaproveitado, retornando mais uma vez para a vida espiritual, a verdadeira.

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