Rogério Miguez - abril 19, 2022
É sempre recomendado refletir um
pouco sobre os chamados ditos populares. Há tantas máximas lembradas em
situações específicas do nosso cotidiano que, pela repetição, acabamos julgando
serem frases feitas verdadeiras, expressões da realidade. Entre muitas,
lembramos de uma corriqueiramente dita quando há um falecimento: Passou
desta para melhor!
Esta expressão, ou suas
equivalentes, é recordada em muitas ocasiões e, ao ser pronunciada,
costumeiramente é confirmada por quem ouve com outros dizeres padrão tais como:
É, de fato, foi desta para melhor; ou Sim, ainda bem, estava sofrendo tanto,
partiu desta para melhor, agora vai descansar. São várias as opções de
confirmação ou de concordância, contudo, já nos preocupamos em ajuizar sobre
estas afirmações?
Conforme aprendemos com a
Doutrina Espírita, este ditado não se aplica à maioria dos falecidos,
porquanto, a vida após a morte só se caracteriza como melhor quando o Espírito
teve uma existência regularmente pautada na Lei de Deus, senão, podemos
afirmar: após a morte não haverá estado melhor, tampouco vida melhor, muito
menos lugar melhor, e mais, o falecido não irá para o céu, até porque este não
existe fisicamente.
Em um planeta de provas e
expiações, moradia de Espíritos perturbados e ainda perturbadores em sua grande
maioria, é de se esperar que as condutas não sejam aquelas sugeridas pelos
exemplos do Mestre da Galileia quando por aqui esteve reencarnado. Muito pelo
contrário. A tônica dos terráqueos, de modo geral, é viver segundo a lei de
Gérson, aquela antiga máxima que preconizava obter vantagem em tudo e,
principalmente, sobre todos.
Ao viver segundo os padrões do
egoísmo, orgulho e vaidade, não se pode construir valores necessários para uma
boa e acalorada recepção do lado de lá, muito menos teremos adquirido o direito
de ser encaminhados a uma cidade ou colônia espiritual equilibradas. Portanto,
não nos iludamos: a justiça divina é perfeita e não poderia isentar de
responsabilidade os que acumulam incontáveis transgressões aos princípios
divinos.
A grande massa dos chamados
“mortos” acaba ficando por aqui mesmo, nas camadas espirituais mais próximas da
Terra, por força das condutas materialistas frequentemente exercitadas quando
aqui estiveram reencarnados. Permanecem misturados aos ainda ditos “vivos”,
crendo-se também em muitos casos ainda “vivos”. A partir deste momento a
confusão se estabelece.
Ao portar, no exato momento da
passagem pela aduana da morte, escassas bagagens contendo vestimentas morais e
atributos intelectuais, descobrem-se perdidos em mil dúvidas, sem saber ao
certo o que houve e para onde devem ir. Veem-se num verdadeiro labirinto de
incertezas, construídas pela falta de uma base religiosa, ou pela ausência de
espiritualidade, quando ambas poderiam ter sido edificadas por continuados atos
concretos positivos em favor do próximo e de si mesmos.
No imediato momento em que
colocam os pés no lado de lá, ficam muitas vezes à mercê de antigos inimigos,
desafetos de outras eras e desta mesma existência corpórea a qual acabaram de
deixar, ou mesmo de Espíritos desencarnados desconhecidos, desocupados,
ociosos, viciados, tão ou mais ignorantes que os recém desencarnados, formando
bandos e comunidades, constituindo colônias estranhas, burgos exóticos,
agrupando-se conforme as preferências e costumes pessoais adquiridos na última
vida, quando por aqui ainda transitavam.
Outros tantos conservam-se
imantados a seus antigos lares, tentando dar continuidade ao convívio com a
parentela, participando das atividades rotineiras dos familiares. Chegam ao ponto
de sentar-se à mesa aguardando as refeições; muitos seguem para seus locais de
trabalho como de costume faziam diariamente, tentando terminar tarefas
inacabadas; alguns se preocupam com os bens deixados subitamente, afligindo-se
com moedas, cofres, ações, títulos, imóveis, abandonados sem uma destinação
adequada, uma vez que só se leva daqui para lá bens imateriais. Assim agem pois
estão prisioneiros da vida material privilegiada a todo o custo, embora todos,
sem exceção, tenham recebido oportunidades de se conduzir de forma mais
alinhada com os postulados cristãos.
Os suicidas, capítulo à parte,
podem permanecer por bom tempo ligados aos próprios corpos, decompondo-se
gradativamente nas criptas e jazigos, muitos suntuosos, contudo, sem qualquer
possibilidade de ajudá-los nesta hora crítica; alguns permanecem nos cemitérios
atabalhoados sem saber o que fazer, para onde se dirigir; outros são
imediatamente levados de roldão por contumazes Espíritos obsessores que
possivelmente podem tê-los incentivado ao suicídio, provisoriamente sem poder
para quem apelar, impedidos que estão de obter qualquer resposta a seus
desesperados gritos de socorro, pois relegaram ao descaso a maior dádiva de
Deus: a vida.
Esta é a realidade sobre este
preceito popular, contudo, perguntamo-nos agora: o que dizer então aos
familiares e mentalmente ao falecido?
Cremos que a melhor atitude
seria demonstrar o nosso apreço com sinceridade aos que ainda permanecem,
lembrando sobre o amor de Deus a todas as Suas criaturas. A ausência será
certamente temporária e não ficarão eternamente em desamparo. O Espírito
protetor que todos possuímos estará de prontidão aguardando o desencarnado
nesta hora grave, verificando o que pode ser feito na grande transição.
Em relação ao desencarnado,
endereçar pensamentos de tranquilidade e confiança; uma oração em silêncio, com
vibrações positivas encaminhadas ao “morto”, pode muito auxiliar, mesmo
considerando que em muitos casos o desencarnado não poderá ser atendido de
pronto, em função da vida assumida, única e exclusivamente por força do uso de
seu livre arbítrio. Entretanto, mesmo nestas situações, nada de desespero,
tampouco incerteza quanto ao futuro, manter a crença na bondade divina e na
incomensurável misericórdia do Criador.
Mantenhamos a fé, porquanto, de
acordo com a bondade e sabedoria do Magnânimo, outras oportunidades de
aprendizado serão oferecidas pela lei das reencarnações, tantas quantas forem
necessárias para repararmos os equívocos cometidos no passado.
Alguém já afirmou: a vida
continua. Desta forma, não vivamos a presente como se fosse a última.
Observando continuadamente e com zelo os preceitos cristãos, podemos evitar
estes tantos dissabores experimentados por muitos quando chegar o momento de
entregarmos o corpo físico às leis da natureza para ser reaproveitado,
retornando mais uma vez para a vida espiritual, a verdadeira.
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