Juan Carlos Orozco
Ai do mundo, por
causa dos escândalos; porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele
homem por quem o escândalo vem! Portanto, se a tua mão - ou o teu pé - te
escandalizar, corta-o, e atira-o para longe de ti; melhor te é entrar na vida
coxo, ou aleijado, do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo
eterno. E, se o teu olho te escandalizar, arranca-o, e atira-o para longe de
ti; melhor te é entrar na vida com um só olho, do que, tendo dois olhos, seres
lançado no fogo do inferno.
(Mateus, 18:7-9)
Essa reflexão apoia-se no
Evangelho de Mateus, que trata dos escândalos que os seres humanos dão causas,
como consequência dos vícios, das imperfeições, do atraso moral, da
invigilância e da ignorância das leis de Deus, tendo como efeitos existências
educativas e corretivas em reencarnações mediante provas e expiações
relacionadas aos escândalos praticados.
De uma maneira geral, as pessoas
não compreendem certos sofrimentos na vida, atrelando-os às suas consequências,
sem conhecer as causas. Por outro lado, é importante identificar a origem dos
sofrimentos, descobrir por que eles acontecem e, somente assim, é possível
amenizá-los, neutralizá-los ou mesmo impedi-los.
Entendendo as causas dos
sofrimentos, pela lei de causa e efeito, o ser humano esforça-se pela
aceitação dos mesmos, resigna-se, não reclama, tampouco se revolta ou
desespera, porque sabe que esses males são necessários ao seu progresso moral e
espiritual.
Assim, os escândalos praticados
em vidas passadas e as reencarnações se relacionam e conectam, em que todo o
mal produzido tem de ser reparado.
Nesse sentido, extraímos alguns
textos da literatura espírita que trazem luzes a esse respeito, auxiliando-nos
na interpretação, na compreensão, nos esclarecimentos e nos ensinamentos dessa
passagem evangélica.
O Espírito Emmanuel, no livro “O
Consolador”, na psicografia de Francisco Cândido Xavier, na questão 307, “Por
que disse Jesus que ‘o escândalo é necessário, mas ai daquele por quem o
escândalo vier’?”, responde:
- Num plano de vida, onde quase todos se encontram pelo
escândalo que praticaram no pretérito, é justo que o mesmo ‘escândalo’ seja
necessário, como elemento de expiação, de prova ou de aprendizado, porque aos
homens falta ainda aquele ‘amor que cobre a multidão dos pecados’.
As palavras do ensinamento do Mestre ajustam‑se,
portanto, de maneira perfeita, à situação dos encarnados no mundo, sendo
lastimáveis os que não vigiam, por se tornarem, desse modo, instrumentos de
tentação nas suas quedas constantes, através dos longos caminhos.
Por esse texto, encontramo-nos
em nossas existências pelos escândalos praticados no passado, sendo eles
necessários como elemento de expiação, prova ou aprendizado, para desenvolver
nos homens o que lhes falta de amor a Deus e ao seu próximo.
Cairbar Schutel, no livro
“Parábolas e Ensinos de Jesus”, em “Parábola da ovelha perdida”, comenta:
O Pai não quer a morte do ímpio; não quer a condenação
do mau, do ingrato, do injusto, mas sim a sua regeneração, a sua salvação, a
sua vida, a sua felicidade.
Ainda que seja preciso, para a regeneração do Espírito,
nascer ele na Terra sem mão ou sem pé, entrar na vida manco ou aleijado; ainda
que lhe seja preciso renascer no mundo sem os olhos, por causa dos ‘tropeços’,
por causa dos ‘escândalos’, a sua salvação é tão certa como a da ovelha que se
havia perdido e lembrada na parábola, porque todos esses pobres que arrastam o
peso da dor, os seus guias e protetores os assistem para conduzi-los ao porto
seguro da eterna bonança.
O destino de todos é a busca da
perfeição relativa à Humanidade, tendo Jesus como modelo e guia, cujos
ensinamentos e exemplos servem como roteiro de vida para a evolução moral e
espiritual, mediante a regeneração e libertação para a conquista da felicidade
duradoura. Para tanto, temos os guias e protetores a auxiliar-nos na condução
para o porto seguro da eterna bonança.
Emmanuel, no livro “Caminho,
verdade e vida”, no Capítulo 108, em “Reencarnação”, esclarece:
Portanto, se a tua mão ou o teu pé te escandalizar,
corta-o e atira-o para longe de ti; melhor te é entrar na vida, coxo ou
aleijado, do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno.
Jesus. (Mateus, 18:8.)
Unicamente a reencarnação
esclarece as questões do ser, do sofrimento e do destino. Em muitas ocasiões,
falou-nos Jesus de seus belos e sábios princípios.
Esta passagem de Mateus é
sumamente expressiva.
É indispensável considerar que o
Mestre se dirigia a uma sociedade estagnada, quase morta.
“No concerto das lições divinas que recebe, o cristão,
a rigor, apenas conhece, de fato, um gênero de morte, a que sobrevém à
consciência culpada pelo desvio da Lei; e os contemporâneos do Cristo, na
maioria, eram criaturas sem atividade espiritual edificante, de alma endurecida
e coração paralítico. A expressão ‘melhor te é entrar na vida’ representa
solução fundamental. Acaso, não eram os ouvintes pessoas humanas? Referia-se,
porém, o Senhor à existência contínua, à vida de sempre, dentro da qual todo
Espírito despertará para a sua gloriosa destinação de eternidade.
Na elevada simbologia de suas palavras, apresenta-nos
Jesus o motivo determinante dos renascimentos dolorosos, em que observamos
aleijados, cegos e paralíticos de berço, que pedem semelhantes provas como
períodos de refazimento e regeneração indispensáveis à felicidade porvindoura.
Quanto à imagem do ‘fogo eterno’, inserta nas letras
evangélicas, é recurso muito adequado à lição, porque, enquanto não se dispuser
a criatura a viver com o Cristo, será impelida a fazê-lo, através de mil meios
diferentes; se a rebeldia perdurar por infinidade de séculos, os processos
purificadores permanecerão igualmente como o fogo material, que existirá na
Terra enquanto seu concurso perdurar no tempo, como utilidade indispensável à
vida física.”
(Espírito Emmanuel, na
psicografia de Francisco Cândido Xavier. “Caminho, verdade e vida”. FEB
Editora. Cap. 108)
Por esses esclarecimentos,
destaca-se “o motivo determinante dos renascimentos dolorosos, em que
observamos aleijados, cegos e paralíticos de berço, que pedem semelhantes
provas como períodos de refazimento e regeneração indispensáveis à felicidade
porvindoura”.
Antônio Luiz Sayão, no livro
“Elucidações evangélicas”, esclarece:
No planeta atrasado em que habitamos, as encarnações,
em geral, são concedidas aos Espíritos que as pedem, para expiação e reparação
de faltas que anteriormente cometeram. Consistem as expiações em sofrimentos
físicos e morais, sofrimentos esses que, muitas vezes, são causados pelos maus
atos, maus conselhos, maus exemplos de outros que, obstinados no mal, se tornam
assim causas ou instrumentos de escândalo. Constitui este, para o que lhe
experimenta as consequências, uma como punição de suas culpas e, portanto, um
fator do seu progresso.
Necessário é, pois, que haja escândalo no mundo, visto
que só mediante eles muitas consciências despertam para o reconhecimento dos
erros praticados e para o arrependimento, e que, pelo contato com os vícios,
que as virtudes se fortalecem e deles triunfam. Ai, porém, dos que ocasionem o
escândalo, e ai também, ainda que menor lhes seja a culpa, dos que se deixem
levar até ao escândalo. Mais valerá não houvessem encarnado, antes de estarem
bastante amadurecidos para uma vida melhor.
Qualquer que seja o sacrifício que nos custe a
destruição, em nossas almas, de todas as causas do mal, preferível é que o
façamos a que nos tornemos causa de escândalo, com o que nos condenaremos a
sofrer, durante séculos talvez, na vida errante do Espírito culpado, uma
tortura de todos os momentos, sem que nos sorria a esperança de ver-lhe o fim,
enquanto o arrependimento não nos abrir o coração para aninhá-la, induzindo-nos
ao desejo de baixarmos de novo ao mundo, para, numa outra vida, expiar e reparar
o mal praticado. O fogo exprime emblematicamente a expiação, como meio de
purificação e, assim, de progresso, para o Espírito culpado.
O sal, entre os hebreus, era o emblema da purificação
de toda vítima oferecida em oblata ao Senhor.
Recorrendo sempre aos costumes, preconceitos e
tradições hebraicas, para compor a linguagem figurada de que necessitava usar,
Jesus ainda aqui apresentou a infância como emblema da pureza e da virtude.
O Filho do homem veio salvar o que estava perdido.
Estavam perdidos os que se haviam desencaminhado, por não mais obedecerem aos
mandamentos, por os terem falseado, fazendo das tradições o fundamento de seus
dogmas. Esses, os que o Filho do Homem viera salvar, abrindo-lhes uma estrada
nova, em seguimento da de que se tinham afastado. Com o correr dos tempos,
entretanto, também essa nova estrada ficou atravancada de dogmas, de tradições,
de interpretações grosseiras, escombros confusos do edifício que Ele erguera a
tão grande altura, com extrema simplicidade e clareza, proclamando entre os
homens e para a Humanidade inteira que toda a lei e os profetas se contêm
nestes dois mandamentos: amar a Deus acima de todas as coisas e amar o
próximo como a si mesmo, abstração feita de todos os diversos cultos
exteriores, e prescrevendo que não adorassem o Pai nem de cima do monte, nem em
Jerusalém; que o adorassem, como Ele quer ser adorado, em Espírito e Verdade,
isto é, como servos e membros da Igreja universal do Cristo, cujo templo é o
nosso planeta e cujos fiéis são os que praticam aquele duplo amor, pelo exemplo
e pela palavra, para que se lhe cumpra a promessa, de haver um só rebanho
conduzido por um só pastor.
Assim tendo acontecido, volta Ele hoje a salvar, por
meio da Nova Revelação e por intermédio dos Espíritos seus servidores, os que
se perderam em meio daqueles escombros e reconduzi-los, em nome do Espírito da
Verdade, ao caminho que leva a Deus.
Em O Evangelho segundo o
Espiritismo, de Allan Kardec, no Capítulo VIII - Bem-aventurados os que têm
puro o coração, em “Escândalos. Se a vossa mão é motivo de escândalo,
cortai-a”, destacamos:
12. No sentido vulgar, escândalo se diz
de toda ação que de modo ostensivo vá de encontro à moral ou ao decoro. O
escândalo não está na ação em si mesma, mas na repercussão que possa ter. (...)
No sentido evangélico, a acepção da palavra escândalo,
tão amiúde empregada, é muito mais geral, pelo que, em certos casos, não se lhe
apreende o significado. Já não é somente o que afeta a consciência de outrem, é
tudo o que resulta dos vícios e das imperfeições humanas, toda reação má de um
indivíduo para outro, com ou sem repercussão. O escândalo, neste caso, é o
resultado efetivo do mal moral;
13. É preciso que haja escândalo no
mundo, disse Jesus, porque, imperfeitos como são na Terra, os homens se mostram
propensos a praticar o mal, e por que árvores más, só maus frutos dão. Deve-se,
pois, entender por essas palavras que o mal é uma consequência da imperfeição
dos homens, (...);
14. É necessário que o escândalo venha,
porque, estando em expiação na Terra, os homens se punem a si mesmos pelo
contato de seus vícios, cujas primeiras vítimas são eles próprios e cujos
inconvenientes acabam por compreender. Quando estiverem cansados de sofrer
devido ao mal, procurarão remédio no bem A reação desses vícios serve, pois, ao
mesmo tempo, de castigo para uns e de provas para outros. É assim que do mal
tira Deus o bem e que os próprios homens utilizam as coisas más ou as escórias.
(...);
17. Se vossa mão é causa de escândalo,
cortai-a. Figura enérgica esta, que seria absurda se tomada ao pé da letra, e
que apenas significa que cada um deve destruir em si toda causa de escândalo,
isto é, de mal; arrancar do coração todo sentimento impuro e toda tendência
viciosa. Quer dizer também que, para o homem, mais vale ter cortada uma das
mãos, antes que servir essa mão de instrumento para uma ação má; ficar privado
da vista, antes que lhe servirem os olhos para conceber maus pensamentos. Jesus
nada disse de absurdo, para quem quer que apreenda o sentido alegórico e
profundo de suas palavras. Muitas coisas, entretanto, não podem ser
compreendidas sem a chave que para as decifrar o Espiritismo faculta.
Bibliografia:
§
BÍBLIA.
§
KARDEC, Allan;
tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1ª
Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
§
EMMANUEL
(Espírito); na psicografia de Francisco Cândido Xavier. “Caminho, Verdade e Vida”. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita
Brasileira, 2021.
§
EMMANUEL
(Espírito); na psicografia de Francisco Cândido Xavier. “O Consolador”. 29ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita
Brasileira, 2019.
§
SAYÃO, Antônio
Luiz. “Elucidações evangélicas à luz da Doutrina Espírita”. 16ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita
Brasileira, 2019.
§
SCHUTEL, Cairbar.
“Parábolas e Ensinos de Jesus”. 28ª
Edição. Matão/SP: Casa Editora O Clarim, 2016.
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