terça-feira, 12 de abril de 2022

O CURA GASSNER – Médium Curador[1]

 

Allan Kardec

 

No jornal l’Exposition populaire illustrée, número 24, encontramos num artigo intitulado: Correspondência sobre os taumaturgos, uma interessante notícia sobre o cura Gassner, quase tão conhecido em seu tempo quanto o príncipe de Hohenlohe, por seu poder curador.

 

Gassner (Jean-Joseph) nasceu em 20 de agosto de 1727, em Bratz, perto de Bludens (Suábia); fez os primeiros estudos em Innsbruck e Praga, recebeu as ordens sacerdotais e, em 1758, foi nomeado cura de Kloesterle, na região dos Grisons.

Depois de quinze anos de vida retirada, revelou-se ao mundo como dotado de um poder excepcional, o de curar todas as doenças pela simples aposição das mãos, sem empregar nenhum remédio e sem exigir qualquer retribuição. Os doentes afluíam logo de toda parte, e em tão grande número que, para se pôr mais em condições de os socorrer, Gassner solicitou e obteve permissão para se ausentar do curato, e foi sucessivamente a Wolfegg, a Weingarten, a Ravensperg, a Detland, a Kirchberg, a Morspurg e a Constança. Os infelizes lhe faziam cortejo; o corpo médico levantou-se contra ele. Uns proclamavam curas maravilhosas, outros o contestavam.

O bispo de Constança o constrangeu a um inquérito, feito pelo diretor do seminário. Gassner declarou jamais ter tido o pensamento de fazer milagres e ter-se limitado a aplicar o poder que a ordenação confere a todos os padres de exorcizar, em nome de Jesus-Cristo, os demônios, que são uma das causas mais frequentes de nossas doenças. Declarou dividir todas as moléstias em doenças naturais ou lesões, em doenças de obsessões e em doenças complicadas de obsessões. Dizia que não tinha poder sobre as primeiras e fracassava nas da terceira categoria, quando a doença natural era superior à doença de obsessão.

O bispo não se convenceu e ordenou a Gassner que voltasse ao seu curato, mas pouco depois o autorizou a continuar seus exorcismos. O cura apressou-se em aproveitar a autorização e surpreendeu os habitantes de Elwangen, de Sulzbach e de Ratisbona, pela imensa multidão que sua fama atraía da Suíça, da Alemanha e da França. O duque de Wurtemberg declarou-se abertamente seu admirador e protetor; seus sucessos lhe atraíram poderosos adversários. O célebre Haen e o teatino Sterzinger o atacaram com perseverança e paixão; vários bispos prestaram seu apoio ao fogoso teatino e proibiram que Gassner exorcizasse em suas dioceses. Enfim, um decreto de Joseph II ordenava a Gassner deixar Ratisbona; mas, fortalecido pela proteção do príncipe-bispo dessa cidade, que lhe havia conferido o título de conselheiro eclesiástico, com a função de capelão da corte, perseverou. Tal resistência prolongou-se até 1777, época na qual Gassner foi nomeado para o curato de Bondorf, para onde se retirou e morreu em 4 de abril de 1779, com 52 anos de idade.

 

Observação – O Espiritismo protesta contra a qualificação de taumaturgo, dada aos curadores, por não admitir que algo se faça com exclusão das leis naturais. Os fenômenos que pertencem à ordem dos fatos espirituais não são mais miraculosos que os fatos materiais, uma vez que o elemento espiritual é uma das forças da Natureza, como o elemento material também o é. Assim, o cura Gassner não fazia mais milagres do que o príncipe de Hohenlohe e o zuavo Jacob, e pode-se ver singulares analogias entre o que se passava então a seu respeito e o que hoje se passa.



[1][1] Revista Espírita – Novembro/1867 – Allan Kardec

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